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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A imprensa pós-Copenhague



 

Mídia

Vermelho - 26 de Dezembro de 2009 - 22h35

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Durou menos de uma semana o engajamento da imprensa brasileira na questão crucial – para a humanidade – das mudanças climáticas provocadas principalmente pela atividade humana. Na véspera de Natal, com a economia consolidando sinais de plena recuperação após a crise que eclodiu em 2008, os jornais voltam à rotina de todos os anos: números e mais números sobre vendas, notícias sobre investimentos e aquisições, e a repetição dos indicadores de sempre sobre a economia.

Por Luciano Martins Costa

Se a Conferência da ONU sobre Clima, realizada entre 7 e 18 de dezembro em Copenhague, sob intensas expectativas de todo o mundo, refletiu alguma mudança clara, essa mudança não está necessariamente exposta no documento final dos chefes de Estado, mas na aceitação geral da tese de que o mundo precisa adotar novos paradigmas para o desenvolvimento.
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Isso quer dizer, em miúdos, que os efeitos da atividade econômica não podem continuar sendo medidos pelos lucros das empresas e pelo crescimento do Produto Interno Bruto. Essa informação não está presente nos jornais pós-conferência.
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Papel velho
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Como se nada tivesse acontecido em dezembro de 2009, a imprensa brasileira retoma o padrão do noticiário de sempre, sem se dar conta de que, após Copenhague, muitos dos indicadores que utiliza para mensurar o desempenho da economia ou de uma empresa individualmente não fazem mais sentido.
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O observador que analisa as escolhas da imprensa no longo prazo fica com a impressão de que os jornalistas responsáveis pelo posicionamento de seus veículos entraram na "onda verde" de Copenhague sem entender o que estavam fazendo. E saem dela para voltar ao que sempre souberam fazer: repetir dados e mais dados, sem se dar conta de que, agora, mais do que antes, a atividade isolada de um empreendimento ou de um indivíduo tem que ser analisada em relação aos seus efeitos na coletividade. Tanto em termos ambientais como em termos sociais.
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O tema ambiental entrou na agenda da imprensa em fevereiro de 2007, quando foi divulgado o relatório do IPCC – o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas. Mas ele representa uma mudança mais profunda do que aquela que a imprensa quer admitir.
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As edições de quinta-feira (24) foram escritas para o mundo antes de Copenhague e já saem das máquinas como jornais velhos.
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Uma nova relação
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Uma das mudanças mais significativas foi explicitada na quarta-feira (23) pelo presidente do IPCC, o indiano Rajendra Pachauri. Em entrevista coletiva distribuída pelas agências internacionais, ele disse que o principal resultado do encontro em Copenhague foi a consolidação do grupo chamado Basic, formado por Brasil, África do Sul, Índia e China.
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A atuação desse grupo, segundo o cientista, foi fundamental para levar os países industrializados a concordar com a carta de intenções que irá orientar as decisões transnacionais no futuro, e evitar que as nações desenvolvidas enterrassem o Protocolo de Kioto, que tem força de lei e impõe metas de redução de emissão dos gases nocivos aos países ricos.
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A entrevista foi fartamente reproduzida nos sites noticiosos no final da tarde e na noite de quarta-feira, mas os jornais brasileiros de papel não lhe deram importância. Só o Globo a publicou.
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Apenas um detalhe já valeria a pena como notícia e como sinal do que deve mudar após a conferência de Copenhague: a sigla Basic passa a denominar os países em desenvolvimento que cobram a criação de um cenário mais favorável ao desenvolvimento sustentável no futuro. Ela deve substituir a sigla Bric, aplicada até então aos países em desenvolvimento apenas em sua identificação como forças econômicas emergentes.
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Note-se que a sigla Basic exclui a Rússia, que se aliou aos países industrializados na postura de fugir às responsabilidades diante das mudanças climáticas.
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Mundo real
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Ao deixar de lado essas evidências de que alguma coisa está mudando nas relações internacionais após a conferência da ONU, os jornais reforçam a sensação de que o encontro de Copenhague representou um fracasso total, o que é no mínimo controverso.
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Salvo uma ou outra reportagem sobre casos específicos de danos ambientais, o tema da sobrevivência do planeta vai se esvaindo do noticiário.
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Os jornais só enxergam a velha economia, enquanto o mundo real faz força para dar à luz um sistema que justifique as esperanças de um futuro melhor.
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Fonte: Observatório da Imprensa

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