Discurso de Lula da Silva (excerto)

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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

A despedida pública de Victor Jara, 36 anos após sua morte



 

 

América Latina

Vermelho - 7 de Dezembro de 2009 - 14h28

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Nem a longa espera e o sol quente foram suficientes para afastar os milhares de chilenos que acompanharam, com um cravo vermelho na mão, a despedida ao cantor Victor Jara, 36 anos após seu assassinato. Jará foi torturado e morto no estádio Nacional, uma pequena instalação esportiva vizinha ao palácio presidencial de La Moneda, pouco depois do golpe militar de 11 de setembro de 1973.

Enterro victor jara Multidão acompanhou o cortejo
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Em 12 de setembro daquele ano, mais de 600 estudantes, professores, e funcionários da Universidade Técnica do Estado foram concentrados à força no estádio. Eles tinham permanecido na universidade com a intenção de defender o governo da Unidade Popular do presidente socialista Salvador Allende contra o golpe desencadeado pelo general Augusto Pinochet. Destacado militante comunista, Jará foi golpeado e submetido a varias sessões de tortura durante cinco dias, antes de falecer.
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Semana passada, a viúva, Joan e suas filhas Amanda e Manuela, junto com a fundação Victor Jara, decidiram organizar a despedida pública a qual ele não teve direito em 1973, quando seu corpo foi encontrado. Naquela época, Joan sepultou clandestinamente os restos mortais de seu companheiro acompanhada de apenas duas pessoas.
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O funeral público acontece após a exumação do corpo, em 4 de junho passado. A família quis aproveitar as novas tecnologias do Instituto Genético de Innsbruck, na Áustria, para saber o que tinha realmente acontecido. Os médicos concluíram que Jara morreu de múltiplas feridas e que tinha recebido mais de 30 tiros.
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Jovens em massa
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Um velório de três dias foi organizado, desde quinta-feira (3), na Praça Brasil, bairro ainda marcado pela presença da esquerda. Milhares de pessoas suportaram filas de várias horas para poder tocar o caixão do músico e, sobretudo, escrever algumas linhas nos três livros de condolências dispostos na calçada, enquanto grupos folclóricos dançavam e outros declamavam poesia ou cantavam.
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“Você representa o melhor da juventude”, escreveu Nicolas Valencia, 19 anos. O estudante de direito nem tinha nascido quando a democracia foi restabelecida em 1999, com a saída do general Pinochet da presidência, 17 anos após o golpe. Mas para ele, era fundamental acompanhar o funeral. “Victor era um grande lutador, ele soube falar da pobreza do povo em suas canções, é por isso que a ditadura o matou”, afirma, ao lado de vários colegas da universidade.
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Nicolas interrompe a conversa para gritar, junto à multidão “Victor Jara vive! Victor Jara presente!”. Emocionado, ele espera sua vez para entrar no velório. “Olha, colocaram o poncho que ele usava sempre!”, diz, antes de acariciar a madeira do caixão com solenidade.
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A dois metros de distância, Fedora Demsky Verdugo observa a cena com um sorriso. Ela tem 59 anos e, comunista convencida, lembra de cada minuto do golpe e da repercussão da morte do cantor. “É bom ver tantos jovens”, diz a funcionária do Ministério da Educação. De fato, a metade do público tem menos de 25 anos. “Não sei se os adolescentes sabem toda a história, mas a presença deles aqui é o sinal de que eles rejeitam a injustiça e a desigualdade que estão cada vez maiores no Chile. A mensagem de Victor é mais forte que nunca”, analisa.
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Fedora guarda, porém, um motivo de tristeza: “ninguém pagou pela morte de Victor, justiça não foi feita”. Em maio passado, um juiz decidiu processar o ex-oficial Jose Adolfo Paredes Márquez, considerando-o um dos autores do assassinato do cantor. O acusado negou e foi libertado pelo tribunal, que considerou que faltavam provas sólidas.
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Candidatos
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A uma semana da eleição presidencial, no domingo (13), vários políticos fizeram questão de aparecer no velório, começando pela própria presidente Michelle Bachelet. “Acredito que finalmente, trinta e seis anos após sua morte, Victor pode descansar”, declarou Bachelet, que termina seu mandato com uma popularidade de cerca de 80% - no Chile, a reeleição é proibida pela Constituição.
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O esquerdista Jorge Arrate foi o único dos quatro candidatos presidênciais – além dele também Eduardo Frei, Sebastian Piñera e Marco Enríquez-Ominami – a acompanhar o enterro desde o velório até o Memorial dos presos desaparecidos, no cemitério geral de Santiago. “Victor simboliza o triunfo da memória”, declarou o candidato, atualmente na quarta posição das intenções de voto dos eleitores, segundo as pesquisas.
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O autor de canções como El cigarrito e Te recuerdo Amanda, que os intérpretes Silvio Rodriguez, Joan Manuel Serra e Joaquim Sabina incorporaram aos seus repertórios, chegou finalmente à porta do memorial, onde sua família e um grupo de amigos se recolheram em uma cerimônia intima. Fora, a festa em sua homenagem continuou, com vários grupos preparando o palanque para cantar até a noite.
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Fonte: Opera Mundi

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