Vermelho - 7 de Dezembro de 2009 - 14h28
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Nem a longa espera e o sol quente foram suficientes para afastar os milhares de chilenos que acompanharam, com um cravo vermelho na mão, a despedida ao cantor Victor Jara, 36 anos após seu assassinato. Jará foi torturado e morto no estádio Nacional, uma pequena instalação esportiva vizinha ao palácio presidencial de La Moneda, pouco depois do golpe militar de 11 de setembro de 1973.
Multidão acompanhou o cortejo
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Em 12 de setembro daquele ano, mais de 600 estudantes, professores, e funcionários da Universidade Técnica do Estado foram concentrados à força no estádio. Eles tinham permanecido na universidade com a intenção de defender o governo da Unidade Popular do presidente socialista Salvador Allende contra o golpe desencadeado pelo general Augusto Pinochet. Destacado militante comunista, Jará foi golpeado e submetido a varias sessões de tortura durante cinco dias, antes de falecer.
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Semana passada, a viúva, Joan e suas filhas Amanda e Manuela, junto com a fundação Victor Jara, decidiram organizar a despedida pública a qual ele não teve direito em 1973, quando seu corpo foi encontrado. Naquela época, Joan sepultou clandestinamente os restos mortais de seu companheiro acompanhada de apenas duas pessoas.
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O funeral público acontece após a exumação do corpo, em 4 de junho passado. A família quis aproveitar as novas tecnologias do Instituto Genético de Innsbruck, na Áustria, para saber o que tinha realmente acontecido. Os médicos concluíram que Jara morreu de múltiplas feridas e que tinha recebido mais de 30 tiros.
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Jovens em massa
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Um velório de três dias foi organizado, desde quinta-feira (3), na Praça Brasil, bairro ainda marcado pela presença da esquerda. Milhares de pessoas suportaram filas de várias horas para poder tocar o caixão do músico e, sobretudo, escrever algumas linhas nos três livros de condolências dispostos na calçada, enquanto grupos folclóricos dançavam e outros declamavam poesia ou cantavam.
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“Você representa o melhor da juventude”, escreveu Nicolas Valencia, 19 anos. O estudante de direito nem tinha nascido quando a democracia foi restabelecida em 1999, com a saída do general Pinochet da presidência, 17 anos após o golpe. Mas para ele, era fundamental acompanhar o funeral. “Victor era um grande lutador, ele soube falar da pobreza do povo em suas canções, é por isso que a ditadura o matou”, afirma, ao lado de vários colegas da universidade.
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Nicolas interrompe a conversa para gritar, junto à multidão “Victor Jara vive! Victor Jara presente!”. Emocionado, ele espera sua vez para entrar no velório. “Olha, colocaram o poncho que ele usava sempre!”, diz, antes de acariciar a madeira do caixão com solenidade.
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A dois metros de distância, Fedora Demsky Verdugo observa a cena com um sorriso. Ela tem 59 anos e, comunista convencida, lembra de cada minuto do golpe e da repercussão da morte do cantor. “É bom ver tantos jovens”, diz a funcionária do Ministério da Educação. De fato, a metade do público tem menos de 25 anos. “Não sei se os adolescentes sabem toda a história, mas a presença deles aqui é o sinal de que eles rejeitam a injustiça e a desigualdade que estão cada vez maiores no Chile. A mensagem de Victor é mais forte que nunca”, analisa.
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Fedora guarda, porém, um motivo de tristeza: “ninguém pagou pela morte de Victor, justiça não foi feita”. Em maio passado, um juiz decidiu processar o ex-oficial Jose Adolfo Paredes Márquez, considerando-o um dos autores do assassinato do cantor. O acusado negou e foi libertado pelo tribunal, que considerou que faltavam provas sólidas.
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Candidatos
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A uma semana da eleição presidencial, no domingo (13), vários políticos fizeram questão de aparecer no velório, começando pela própria presidente Michelle Bachelet. “Acredito que finalmente, trinta e seis anos após sua morte, Victor pode descansar”, declarou Bachelet, que termina seu mandato com uma popularidade de cerca de 80% - no Chile, a reeleição é proibida pela Constituição.
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O esquerdista Jorge Arrate foi o único dos quatro candidatos presidênciais – além dele também Eduardo Frei, Sebastian Piñera e Marco Enríquez-Ominami – a acompanhar o enterro desde o velório até o Memorial dos presos desaparecidos, no cemitério geral de Santiago. “Victor simboliza o triunfo da memória”, declarou o candidato, atualmente na quarta posição das intenções de voto dos eleitores, segundo as pesquisas.
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O autor de canções como El cigarrito e Te recuerdo Amanda, que os intérpretes Silvio Rodriguez, Joan Manuel Serra e Joaquim Sabina incorporaram aos seus repertórios, chegou finalmente à porta do memorial, onde sua família e um grupo de amigos se recolheram em uma cerimônia intima. Fora, a festa em sua homenagem continuou, com vários grupos preparando o palanque para cantar até a noite.
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Fonte: Opera Mundi
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Semana passada, a viúva, Joan e suas filhas Amanda e Manuela, junto com a fundação Victor Jara, decidiram organizar a despedida pública a qual ele não teve direito em 1973, quando seu corpo foi encontrado. Naquela época, Joan sepultou clandestinamente os restos mortais de seu companheiro acompanhada de apenas duas pessoas.
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O funeral público acontece após a exumação do corpo, em 4 de junho passado. A família quis aproveitar as novas tecnologias do Instituto Genético de Innsbruck, na Áustria, para saber o que tinha realmente acontecido. Os médicos concluíram que Jara morreu de múltiplas feridas e que tinha recebido mais de 30 tiros.
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Jovens em massa
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Um velório de três dias foi organizado, desde quinta-feira (3), na Praça Brasil, bairro ainda marcado pela presença da esquerda. Milhares de pessoas suportaram filas de várias horas para poder tocar o caixão do músico e, sobretudo, escrever algumas linhas nos três livros de condolências dispostos na calçada, enquanto grupos folclóricos dançavam e outros declamavam poesia ou cantavam.
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“Você representa o melhor da juventude”, escreveu Nicolas Valencia, 19 anos. O estudante de direito nem tinha nascido quando a democracia foi restabelecida em 1999, com a saída do general Pinochet da presidência, 17 anos após o golpe. Mas para ele, era fundamental acompanhar o funeral. “Victor era um grande lutador, ele soube falar da pobreza do povo em suas canções, é por isso que a ditadura o matou”, afirma, ao lado de vários colegas da universidade.
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Nicolas interrompe a conversa para gritar, junto à multidão “Victor Jara vive! Victor Jara presente!”. Emocionado, ele espera sua vez para entrar no velório. “Olha, colocaram o poncho que ele usava sempre!”, diz, antes de acariciar a madeira do caixão com solenidade.
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A dois metros de distância, Fedora Demsky Verdugo observa a cena com um sorriso. Ela tem 59 anos e, comunista convencida, lembra de cada minuto do golpe e da repercussão da morte do cantor. “É bom ver tantos jovens”, diz a funcionária do Ministério da Educação. De fato, a metade do público tem menos de 25 anos. “Não sei se os adolescentes sabem toda a história, mas a presença deles aqui é o sinal de que eles rejeitam a injustiça e a desigualdade que estão cada vez maiores no Chile. A mensagem de Victor é mais forte que nunca”, analisa.
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Fedora guarda, porém, um motivo de tristeza: “ninguém pagou pela morte de Victor, justiça não foi feita”. Em maio passado, um juiz decidiu processar o ex-oficial Jose Adolfo Paredes Márquez, considerando-o um dos autores do assassinato do cantor. O acusado negou e foi libertado pelo tribunal, que considerou que faltavam provas sólidas.
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Candidatos
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A uma semana da eleição presidencial, no domingo (13), vários políticos fizeram questão de aparecer no velório, começando pela própria presidente Michelle Bachelet. “Acredito que finalmente, trinta e seis anos após sua morte, Victor pode descansar”, declarou Bachelet, que termina seu mandato com uma popularidade de cerca de 80% - no Chile, a reeleição é proibida pela Constituição.
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O esquerdista Jorge Arrate foi o único dos quatro candidatos presidênciais – além dele também Eduardo Frei, Sebastian Piñera e Marco Enríquez-Ominami – a acompanhar o enterro desde o velório até o Memorial dos presos desaparecidos, no cemitério geral de Santiago. “Victor simboliza o triunfo da memória”, declarou o candidato, atualmente na quarta posição das intenções de voto dos eleitores, segundo as pesquisas.
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O autor de canções como El cigarrito e Te recuerdo Amanda, que os intérpretes Silvio Rodriguez, Joan Manuel Serra e Joaquim Sabina incorporaram aos seus repertórios, chegou finalmente à porta do memorial, onde sua família e um grupo de amigos se recolheram em uma cerimônia intima. Fora, a festa em sua homenagem continuou, com vários grupos preparando o palanque para cantar até a noite.
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Fonte: Opera Mundi
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