Discurso de Lula da Silva (excerto)

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quinta-feira, 3 de junho de 2010

Rosa Coutinho (1926 - 2010)




Rosa Coutinho ao lado de Vasco Gonçalves, também ele já falecido rui gaudêncio
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Rosa Coutinho teve uma carreira política breve mas que ainda hoje suscita polémica

Por Luís Miguel Queirós e Maria José Oliveira
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Integrou a Junta de Salvação Nacional e o Conselho da Revolução. Foi uma das figuras do 25 de Abril de 1974. Mas a sua acção política foi sobretudo marcante e controversa em Angola
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O 25 de Novembro

A identificação de Rosa Coutinho com o sector gonçalvista do MFA não o impediu de assumir um papel pacificador no 25 de Novembro. "A Marinha praticamente evitou a guerra civil", diz o contra-almirante Martins Guerreiro, que conta ter ido com Rosa Coutinho à base naval do Alfeite, na noite do dia 24, para "impedir que gente mais exaltada tomasse uma atitude menos responsável".

Na manhã de 25, dirigiram-se ambos a Belém para "manifestar todo o apoio ao Presidente da República [Costa Gomes]".

Também a historiadora Maria Inácia Rezola atribui a Rosa Coutinho e a Guerreiro o mérito de terem evitado a insurreição dos fuzileiros, que poderia ter tido consequências dramáticas.

Poucas figuras da política portuguesa do pós 25 de Abril suscitam ainda hoje tanta controvérsia como Rosa Coutinho. O "almirante vermelho", como lhe chamavam, morreu ontem, aos 84 anos, vítima de cancro, e as reacções ao seu falecimento mostram bem que os últimos 35 anos não bastaram para que se criasse consenso em torno do papel que desempenhou em Angola, onde foi alto-comissário nos meses que precederam a independência da ex-colónia.

Mal foi conhecida a notícia da sua morte - o funeral sai amanhã, às 15h00, da Capela de São Roque, nas instalações da Marinha, no Terreiro do Paço, para o cemitério dos Olivais, onde o corpo será cremado -, os sites dos jornais e a blogosfgera foram invadidos por comentários que o acusam de ter pactuado com o MPLA na perseguição e expulsão dos portugueses de Angola ou de ter negociado com os cubanos a intervenção militar no território. "Calúnias", disse ontem ao PÚBLICO Vasco Lourenço. "Os militares de Abril mais caluniados foram aqueles que se envolveram nos processos de descolonização", afirma o tenente-coronel na reserva, que não subscreve a tese de que Rosa Coutinho tenha privilegiado o MPLA em detrimento da UNITA e da FNLA, os outros dois movimentos angolanos de libertação.

Mas a posição mais consensual entre os historiadores não parece ser esta. Maria Inácia Rezola, que entrevistou o almirante no decurso dos seus estudos sobre os militares no pós 25 de Abril, conta que o próprio Rosa Coutinho "não escondia que favorecera o MPLA". É o que pensa também o historiador Pedro Aires Oliveira, que vê em Rosa Coutinho "um homem identificado com as estruturas do MFA em Angola" e que soube "estar à altura das circunstâncias". Não duvida de que o almirante tenha apostado no MPLA, que "era o movimento mais ocidentalizado e com elites mais aportuguesadas", mas acha que o seu papel fundamental não foi tanto esse, mas o facto de ter conseguido consolidar, naquele movimento, a liderança de Agostinho Neto, num momento em que esta estava seriamente ameaçada por facções internas, como a "Revolta Activa" dos irmãos Pinto Andrade, ligada aos sectores intelectuais, ou a "Revolta do Leste", dirigida por Daniel Chipenda. "Mesmo a URSS", diz Pedro Oliveira, "estava muito hesitante entre apoiar Neto, o seu interlocutor histórico, ou Chipenda, que dera boas provas de capacidade de liderança". O objectivo do almirante, defende, foi "dar tempo ao MPLA para chegar aos acordos de Alvor com um só líder e um só interlocutor".

Torturado no cativeiro

Como figura pública, Rosa Coutinho praticamente não existia antes do 25 de Abril. É quando surge como um dos nomes da Junta de Salvação Nacional que o país fica a conhecê-lo. Nascido a 14 de Fevereiro de 1926, em Celorico da Beira, iniciou-se na vida militar aos 18 anos, ingressando na Marinha, tendo-se depois formado em engenharia hidrográfica. O seu primeiro contacto com Angola aconteceu ainda nos anos 40, tendo depois integrado, em 1959, a Missão Hidrográfica de Angola e de São Tomé e Príncipe, informa a investigadora Leonor Figueiredo, No início da guerra colonial, em 1961, foi preso pela FNLA e terá sido torturado durante o cativeiro. A sua libertação, alegadamente feita por agentes da PIDE, nunca foi devidamente esclarecida. Com o 25 de Abril, o prestígio que granjeara "juntos dos seus camaradas mais novos da Armada", diz Vasco Lourenço, resultou no convite para integrar a Junta de Salvação Nacional. Em Julho de 1974, no primeiro governo de Vasco Gonçalves, foi nomeado presidente da Junta Governativa de Angola. Raimundo Narciso, presidente do movimento Não Apaguem a Memória, refere que Rosa Coutinho "estava praticamente ao lado do MPLA, na ala militar dos "gonçalvistas"". "Não foi uma figura consensual", diz o socialista Almeida Santos, antigo ministro da Coordenação Interterritorial: "Defendeu sempre ideias muito próximas do PCP e foi em Angola que conquistou mais adversários".

Rosa Coutinho conseguiu acordar um cessar-fogo com o MPLA, a UNITA e o FNLA, indispensável para as conversações sobre a independência. Ontem, Isaías Samakuva, presidente da UNITA, lembrou-o como alguém de "triste memória para Angola", e Ngola Kabango, da FNLA, disse que o almirante "influenciou negativamente o processo de descolonização, a favor do MPLA".

O PCP foi ontem o único partido a reagir à notícia da morte de Rosa Coutinho, lamentando o desaparecimento de um "aliado" e de um "amigo", e enaltecendo a sua "postura de total fidelidade aos valores e aos ideais da Revolução de Abril". O "almirante vermelho" regressou a Portugal em Janeiro de 1975, na sequência da assinatura do Acordo de Alvor. Após o 11 de Março, foi convidado a integrar o Conselho da Revolução (CR). Apesar da sua actuação pacificadora no 25 de Novembro, foi afastado do CR e, pouco depois, passado à reserva. Como figura pública, eclipsou-se, mas terá desempenhado um relevante papel nas décadas seguintes como mediador de negócios entre Portugal e o regime de José Eduardo dos Santos. Numa coisa, os historiadores estão todos de acordo. Rosa Coutinho continua a ser uma figura muito pouco estudada
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Arquivo CM

Rosa Coutinho em 2004
Almirante tinha 84 anos

Rosa Coutinho vai ser cremado amanhã

O almirante António Alva Rosa Coutinho morreu esta quarta-feira, aos 84 anos, de doença prolongada. O corpo de uma das figuras mais destacadas e polémicas do pós-25 de Abril já se encontra em câmara ardente na Capela de São Roque, nas instalações da Marinha, em Lisboa, de onde partirá às 15h00 de quinta-feira para o Cemitério dos Olivais, onde será cremado uma hora mais tarde.
  • 02 Junho 2010 - Correio da Manhã
Por:Paula Serra

Oficial da Armada, passou grande parte da sua carreira naval a bordo - e, a partir de um certo momento, no comando - de navios hidrográficos. Nos anos 60, uma missão de patrulhamento e pesquisa no rio Zaire valeu-lhe a captura por guerrilheiros da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA) e alguns meses de privação da liberdade. 
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Aquando do 25 de Abril de 1974,  era capitão-de-fragata e foi um dos elementos da Armada designados para integrar a Junta de Salvação Nacional (JSN); data de então a sua promoção a vice-almirante. Nos primeiros meses da nova situação a sua actuação foi discreta; chegou a coordenar o Serviço de Extinção da PIDE-DGS e da Legião Portuguesa.
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 Em finais de Julho, após a demissão do último governador-geral de Angola, general Silvino Silvério Marques, Rosa Coutinho foi chamado a substituí-lo, na qualidade de presidente da Junta Governativa de Angola.
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.Confirmado membro da JSN após os acontecimentos de 28 de Setembro de 1974, ganhando a qualidade de alto-comissário em Angola a partir de Outubro, Rosa Coutinho permaneceu no território até à assinatura dos Acordos de Alvor (Janeiro de 1975), entre o Estado Português e os três movimentos de libertação - FNLA, Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA) e União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA). A sua actuação em Angola é normalmente vista como favorável ao movimento que ainda hoje detém o poder no país africano.
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A sua actuação ao longo de 1975, num sentido próximo do Partido Comunista  (PCP), valeram-lhe o epíteto de "almirante vermelho". Nos primeiros meses do ano viu o seu nome ligado à preparação de "legislação revolucionária", num sentido de radicalização do processo político iniciado em Abril do ano anterior, o que se concretizou após os acontecimentos de 11 de Março. Após esta data ingressou no Conselho da Revolução (CR), então criado.
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Se a sua imagem 'esquerdista' não deixou de se acentuar, saliente-se que aquando da tentativa de golpe de 25 de Novembro do ano em causa cumpriu plenamente as instruções do Presidente da República e Chefe do Estado-Maior-General das Forças Armadas (CEMGFA), general Francisco Costa Gomes, no sentido de desmobilizar forças navais da Margem Sul, inicialmente favoráveis aos golpistas.
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Afastado do CR no novo quadro pós-25 de Novembro, passado à reserva pouco depois, o almirante Rosa Coutinho não mais voltaria à ribalta político-militar.


REACÇÕES
'Almirante foi saneado injustamente da Armada'
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Recordando o almirante António Alva Rosa Coutinho, falecido esta quarta-feira, aos 84 anos, o coronel Sousa e Castro, que o substituiu após o 25 de Novembro de 1975, na presidência do Serviço de Apoio ao Conselho de Revolução - órgão que geria todo o apoio logístico e outros dossiers - diz que "o almirante foi saneado muito injustamente da Armada, depois do 25 de Novembro, pelo então Chefe de Estado-Maior da Armada, almirante Souto Cruz". Segundo Sousa Castro, "o próprio conselho de disciplina da Armada votou unanimamente pelo não afastamento de Rosa Coutinho", acrescento que "na altura, nem o Conselho da Revolução (extinto em 1982), nem o Presidente da República (Ramalho Eanes), que acumulava as funções de Chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas (CEMGFA), poderiam ter feito alguma coisa par aimpedir o afastamento". Tratava-se, diz o capitão de Abril, de "uma decisão do chefe do ramo".
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Sousa e Castro frisa que "tem sido muito injusta a ligação estabelecida entre o almirante Rosa Coutinho e sectores mais esquerdizantes e Partido Comunista, depois do 25 de Abril" e que "essa colagem se deve ao papel que ele teve em Angola e no processo dos Acordos de Alvor", que segundo este militar "está mal interpretado, devido a uma falsa percepção passada por antigos residentes nas colónias, particularmente, em Angola".
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"O almirante deixou o SACR integro, e até para meu espanto na altura, quando assumi funções não encontrei nada que fosse, segundo os padrões da época, ilegal", revela este capitão de Abril.
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Sousa e Castro recorda que António Rosa Coutinho mantinha inclusive "boas relações com o antigo embaixador dos Estados Unidos em Lisboa, no período revolucionário, Frank Carlucci, com alguns empresários internacionais e até com jornalistas conotados com a direita, designadamente com Nuno Rocha director do jornal O Tempo" e que "não tinha qualquer ligação orgânica a nenhum partido". 
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O general Loureiro dos Santos, que foi secretário do Conselho da Revolução entre Abril e Agosto de 1975, afirma sobre António Rosa Coutinho "conheci-o muito pouco, mas o que constatei é que se tratava de um homem muito determinado, sabia o que queria, agia de acordo com as suas deliberações". Loureiro dos Santos adianta que "ele defendia com veemência as suas ideias".


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02-06-2010 17:21 - AngolaPress

Portugal
Morreu almirante Rosa Coutinho



  Lisboa, - O almirante Rosa Coutinho, um dos mais controversos militares do 25 de Abril, morreu, hoje, quarta-feira, aos 84 anos, vítima de cancro.

O corpo de Rosa Coutinho está em câmara ardente na Capela de São Roque, nas instalações da Marinha, realizando-se o funeral na quinta-feira, a partir das 15 horas.

Na reserva desde Novembro de 1975, Rosa Coutinho notabilizou-se no pós-25 de Abril de 1974, tendo ficado conhecido como o "almirante vermelho" pela sua proximidade ideológica com o PCP.

Após a revolução de 1974 integrou a Junta de Salvação Nacional e em Outubro de 1974 foi designado Alto Comissário em Angola até à assinatura do Acordo de Alvor  em janeiro de 1975.

No período pós-revolucionário, coordenou o Serviço de Extinção da PIDE-DGS e da Legião Portuguesa.

Na Marinha, Rosa Coutinho passou grande parte da sua carreira embarcado e capturado nos anos 1960 numa missão de patrulhamento e pesquisa no rio Zaire.

No 25 de Abril de 1974, era capitão-de-fragata e foi um dos elementos da Armada designados para integrar a Junta de Salvação Nacional
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Cremado no Cemitério dos Olivais
Miguel A. Lopes

Urna do almirante à saída da capela

Duzentos aplaudem urna de Rosa Coutinho

Cerca de 200 pessoas aplaudiram hoje a saída da urna com o corpo do almirante Rosa Coutinho da Capela de São Roque, nas instalações da Armada no Arsenal, para o Cemitério dos Olivais, em Lisboa.
  • 19h27 - Correio da Manhã
Por:Lusa
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Numa cerimónia discreta em que não foram feitos elogios fúnebres, não se realizou qualquer rito religioso, nem se prestaram honras militares, por pedido expresso do almirante, que morreu na quarta-feira vítima de cancro, explicaram à Lusa fontes militares e da família. 
O chefe do Estado-Maior da Armada, Melo Gomes, que na quarta-feira esteve presente na capela, fez-se hoje representar pelo almirante Oliveira Viegas.  
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O cortejo fúnebre seguiu para o Cemitério dos Olivais, onde o corpo do militar, que esteve envolvido na revolução do 25 de Abril de 1974, seria  cremado.   
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Hoje no pátio do Arsenal, entre cidadãos anónimos, amigos da família e do falecido militar, bem como antigos camaradas de armas, estavam presentes  o coronel Vasco Lourenço, um dos homens do 25 de Abril, e o ex-ministro da Cultura José António Pinto Ribeiro.   
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Rosa Coutinho com Vasco Gonçalves e Otelo Saraiva de Carvalho
Rosa Coutinho com Vasco Gonçalves e Otelo Saraiva de Carvalho

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