Discurso de Lula da Silva (excerto)

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domingo, 6 de junho de 2010

"Ode à l"Hiver" ultrapassa a barreira-chave do milhão de euros em leilão internacional



Vieira da Silva

05.06.2010 - 07:43 Por Vanessa Rato, com A.P.C. e J.A.C.
É uma barreira-chave, a do milhão de euros em leilão, apontando um novo paradigma de mercado para os artistas que a ultrapassam: a pintura Ode à l"Hiver - ou Ode ao Inverno - de Maria Helena Vieira da Silva (1908-1992) ultrapassou essa barreira em noventa e cinco mil euros num leilão da Sotheby"s de Paris na quarta-feira.
Em causa está um óleo sobre tela datado de 1960 
Em causa está um óleo sobre tela datado de 1960 (DR)

A agência Lusa, que ontem avançou a notícia, não referia a identidade do comprador, mas, segundo a informação disponibilizada pela leiloeira, a obra, um óleo sobre tela datado de 1960, fazia parte da Colecção Rothschild onde terá chegado por aquisição directa à galeria que representou em vida e continua hoje a representar a artista - a parisiense Jeanne-Bucher, responsável por grande parte do trabalho de divulgação internacional do seu trabalho.

Precisamente, a proveniência de Ode à l"Hiver pode ser um dado a ter conta no valor atingido - 1.095.150 euros -, já que, para além de chegar ao mercado vinda de uma colecção de grande visibilidade, está bem documentada e foi exposta em mostras em diversos museus europeus depois de ser apresenta pela primeira vez na Jeanne-Bucher no ano da sua realização. Esteve, nomeadamente, na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, numa exposição de 1988 vinda do Museu de Arte Moderna de Paris. Faz parte, também, de um período de maturidade da artista, na sequência das suas pinturas brancas dos anos 1950, após a instalação definitiva em Paris e a obtenção, por fim, da nacionalidade francesa (1956), depois de anos como apátrida a viver entre Portugal e o Brasil.

É este percurso biográfico, incluindo os esforços vãos de Vieira da Silva, durante a década de 1940, para voltar a ser considerada cidadã portuguesa, direito que perdera ao casar em 1930 com o artista húngaro Arpad Szenes, que levam muitos comentadores a declarar que Portugal não pode querer agora vê-la como uma artista nacional nem apropriar-se da aura do seu sucesso.

No imaginário colectivo, estabelece-se, porém, um recorde para a arte portuguesa, depois das 558 mil libras atingidas em Londres, em 2008, por Baying, uma tela de Paula Rego, também num leilão da Sotheby"s (cerca de 740 mil euros ao câmbio da altura), e das 505 mil libras (573.964 euros) atingidas no ano passado por Marilyn, um conjunto de esculturas de Joana Vasconcelos que quintuplicou num leilão da Christie"s de Londres a expectativa de venda de entre 100 mil a 150 mil libras (115 mil a 172 mil euros).

Ontem, o crítico e comissário Alexandre Melo, referia-se a Vieira da Silva como uma artista portuguesa, "um dos poucos nomes portugueses ao longo do século XX a ter uma inscrição na História da arte na Europa, com uma ligação particular a França". Explicando o reconhecimento e a cotação da pintora, neste momento, referiu: "Foi a primeira artista portuguesa alvo de um trabalho específico em termos de mercado e de promoção e valorização da sua cotação em Portugal e França desde os anos 80. Foi o primeiro nome português a ser trabalhado de maneira sistemática e profissional nestes dois mercados."

Já Marina Bairrão Ruivo, directora da Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva, dedicada à obra da pintora e do seu marido, espera que esta venda faça Portugal redobrar atenção na gestão do legado que a artista deixou ao país e que está a cargo da fundação: "Espero que este leilão venha recordar a excepcionalidade da obra da Vieira da Silva e que ajude a dissipar a indefinição da fundação."

A conservadora refere-se à necessidade de nomeação de um administrador representante do Estado, lugar deixado vago pelo ex-ministro da Justiça António Vitorino quando em Fevereiro passou da Fundação Vieira da Silva para a administração da fundação que gere o Museu Berardo.

O Ministério da Cultura não indicou, até agora, um nome para a sua substituição.

Marina Bairrão Ruivo sublinha também a inversão de uma tendência verificada durante os anos em que as obras de Vieira da Silva atingiam valores mais elevados em Portugal do que no estrangeiro.

Ainda há dois anos, já fora desse período, a leiloeira Leiria e Nacimento anunciou ter vendido em Lisboa uma obra da artista por 1,1 milhões, a tela Lisbonne-Ville, datada de 1958 e que, segundo a leiloeira, terá sido adquirida por um coleccionador português a licitar via telefone do Brasil.

O trabalho em questão, com 65 por 90 centímetros, era de dimensões muito inferiores ao agora vendido pela Sotheby"s, uma obra de 1, 62 por 1,46 metros (uma grande escala no contexto da obra desta artista).

Vieira da Silva, neta de Silva Graça, fundador do jornal "O Século", nasceu em Lisboa e morreu em Paris, onde estudou e conheceu o marido. 
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