Comissão de credores dita, na quarta-feira, o destino da Fábrica do Inglês, onde existe um dos melhores museus industriais da Europa. Câmara tenta travar a especulação imobiliária
12 milhões perdidos
.A Fábrica do Inglês foi um projecto que nasceu de "um sonho", há uma década. José António Silva reconheceu que houve "algum lirismo" na iniciativa, na medida em que pretendia puxar o turismo para o interior, contrariando a tendência dominante. O capital da empresa está repartido por mais de 300 accionistas, com participações de 500 a 25 mil euros. O plano inicial previa um investimento de seis milhões mas deslizou para o dobro. O principal problema, explicou o administrador, foram os apoios públicos que falharam depois de terem sido aprovados
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O principal museu da cortiça existente em Portugal - vencedor do prémio Luigi Micheletti para o melhor museu industrial europeu em 2001 - encerrou no mês passado arrastado pela falência do grupo de distribuição alimentar Alicoop.
"Dá dó" ver o estado a que chegou a Fabrica do Inglês, um empreendimento de animação turística composto sobretudo por espaços de restauração e de espectáculos onde se integra aquela unidade museológica. O desabafo partiu do director do museu, Manuel Ramos, lembrando que os edifícios já estão a degradar-se e nem as laranjas do jardim são aproveitadas. "Custa ver o mais importante museu português na área da cortiça de portas fechadas".
Este fim-de-semana teve lugar uma "jornada de reflexão" destinada a discutir o futuro deste empreedimento, onde foram investidos cerca de 12 milhões de euros. Os oradores repetiram lamentos e foi decidido criar uma comissão para abalar consciências e tentar encontrar "uma resposta da sociedade". O administrador da Alicoop, José António Silva, afirmou: "O custo de estar encerrado é maior do que o de estar a funcionar", mas o impasse instalou-se.
No próximo dia 30 reúne-se a Comissão de Insolvência do grupo Alicoop/Alisuper, accionista maioritário da Fábrica do Inglês, que detém 28 por cento do capital da sociedade, prevendo-se a entrada no processo de falência. O director-geral da Associação Portuguesa de Cortiça, Joaquim Lima, considerou, referindo-se ao museu, que se trata de um "projecto de interesse nacional" que deve ser preservado, mas logo a seguir acrescentou: "Não trago nenhum cheque". Portugal está a investir 21 milhões de euros na promoção da cortiça nos mercados externos. "Se se souber que há em Portugal um museu da cortiça que faliu, vai ser usado desfavoravelmente para denegrir a cortiça", sublinhou. José António Silva, por seu lado, lembrou que, na prática, "os bancos [Caixa Geral de Depósitos e Millennium BCP] são os donos da Fábrica do Inglês".
A Câmara de Silves pediu entretanto "a solidariedade" do Presidente da República e de todas as forças políticas e entidades regionais para se encontrar uma solução para a Alicoop. A reunião dos credores, na próxima quarta-feira no Tribunal de Silves, é considerada decisiva. O município diz que foi informado de que se irá "tomar uma decisão final e tudo aponta para que mais um plano apresentado para viabilizar a empresa seja rejeitado, sendo o passo seguinte a abertura do processo de falência".
Em relação à Fábrica do Inglês, a câmara classificou o empreendimento de interesse municipal, e propôs ao Igespar que reconhecesse essa figura para travar uma eventual venda para fins imobiliários. "Não acredito que seja possível construir ali apartamentos", advertiu o administrador, pedindo "um compromisso da sociedade" para defender um espaço que durante um década valorizou a oferta cultural do concelho de Silves.
O museu, que encerrou oficialmente a 18 de Maio - Dia Internacional dos Museu-, registou nos últimos três anos uma média de 90 mil visitantes anuais e em 2001 atingiu 103 mil entradas. "Houve momentos em que este museu foi o mais visitado do Sul do país", recordou Manuel Ramos, salientando a mágoa que sente ao ver os turistas, desiludidos, quando se deparam com as portas do empreendimento encerradas.
A indústria corticeira, outrora próspera, está reduzida em Silves a uma unidade fabril do grupo Amorim. O Museu da Cortiça, além de um conjunto de máquinas e outros equipamentos, reúne um importante espólio documental que remonta a 1870. "Temos aqui, talvez, o mais importante museu do mundo nesta área, com mais de cem anos de história da exportação da cortiça". Deslocalizar o museu para outra parte do país, disse Joaquim Lima, "seria desviar a sua verdadeira natureza". A sua preservação projecta a imagem de um país que é "líder a nível mundial na cortiça". Porém, a perspectiva museológica, em Portugal, admitiu, só é encarada "quando a industria está moribunda, o que não é o caso". "Estamos a dar a volta à crise", disse, acrescentando que o sector registou um crescimento de cinco por cento, no primeiro trimestre de 2010.
Manuel Ramos alertou para a possibilidade de se acentuar a degradação do imóvel, solicitando à câmara para intervir, zelando pela segurança dos edifícios e manutenção dos jardins. "Não é fácil", respondeu a presidente da câmara, Isabel Soares, salientando que se trata de uma propriedade privada. "Mas não podemos ir para casa descansados", enfatizou, reivindicando o empenho de todas as forças políticas para desbloquear o caso da Alicoop/Alisuper. O presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve - Amal, Macário Correia, e o presidente do Turismo do Algarve, Nuno Aires, foram convidados para o debate mas não compareceram.
O principal museu da cortiça existente em Portugal - vencedor do prémio Luigi Micheletti para o melhor museu industrial europeu em 2001 - encerrou no mês passado arrastado pela falência do grupo de distribuição alimentar Alicoop.
"Dá dó" ver o estado a que chegou a Fabrica do Inglês, um empreendimento de animação turística composto sobretudo por espaços de restauração e de espectáculos onde se integra aquela unidade museológica. O desabafo partiu do director do museu, Manuel Ramos, lembrando que os edifícios já estão a degradar-se e nem as laranjas do jardim são aproveitadas. "Custa ver o mais importante museu português na área da cortiça de portas fechadas".
Este fim-de-semana teve lugar uma "jornada de reflexão" destinada a discutir o futuro deste empreedimento, onde foram investidos cerca de 12 milhões de euros. Os oradores repetiram lamentos e foi decidido criar uma comissão para abalar consciências e tentar encontrar "uma resposta da sociedade". O administrador da Alicoop, José António Silva, afirmou: "O custo de estar encerrado é maior do que o de estar a funcionar", mas o impasse instalou-se.
No próximo dia 30 reúne-se a Comissão de Insolvência do grupo Alicoop/Alisuper, accionista maioritário da Fábrica do Inglês, que detém 28 por cento do capital da sociedade, prevendo-se a entrada no processo de falência. O director-geral da Associação Portuguesa de Cortiça, Joaquim Lima, considerou, referindo-se ao museu, que se trata de um "projecto de interesse nacional" que deve ser preservado, mas logo a seguir acrescentou: "Não trago nenhum cheque". Portugal está a investir 21 milhões de euros na promoção da cortiça nos mercados externos. "Se se souber que há em Portugal um museu da cortiça que faliu, vai ser usado desfavoravelmente para denegrir a cortiça", sublinhou. José António Silva, por seu lado, lembrou que, na prática, "os bancos [Caixa Geral de Depósitos e Millennium BCP] são os donos da Fábrica do Inglês".
A Câmara de Silves pediu entretanto "a solidariedade" do Presidente da República e de todas as forças políticas e entidades regionais para se encontrar uma solução para a Alicoop. A reunião dos credores, na próxima quarta-feira no Tribunal de Silves, é considerada decisiva. O município diz que foi informado de que se irá "tomar uma decisão final e tudo aponta para que mais um plano apresentado para viabilizar a empresa seja rejeitado, sendo o passo seguinte a abertura do processo de falência".
Em relação à Fábrica do Inglês, a câmara classificou o empreendimento de interesse municipal, e propôs ao Igespar que reconhecesse essa figura para travar uma eventual venda para fins imobiliários. "Não acredito que seja possível construir ali apartamentos", advertiu o administrador, pedindo "um compromisso da sociedade" para defender um espaço que durante um década valorizou a oferta cultural do concelho de Silves.
O museu, que encerrou oficialmente a 18 de Maio - Dia Internacional dos Museu-, registou nos últimos três anos uma média de 90 mil visitantes anuais e em 2001 atingiu 103 mil entradas. "Houve momentos em que este museu foi o mais visitado do Sul do país", recordou Manuel Ramos, salientando a mágoa que sente ao ver os turistas, desiludidos, quando se deparam com as portas do empreendimento encerradas.
A indústria corticeira, outrora próspera, está reduzida em Silves a uma unidade fabril do grupo Amorim. O Museu da Cortiça, além de um conjunto de máquinas e outros equipamentos, reúne um importante espólio documental que remonta a 1870. "Temos aqui, talvez, o mais importante museu do mundo nesta área, com mais de cem anos de história da exportação da cortiça". Deslocalizar o museu para outra parte do país, disse Joaquim Lima, "seria desviar a sua verdadeira natureza". A sua preservação projecta a imagem de um país que é "líder a nível mundial na cortiça". Porém, a perspectiva museológica, em Portugal, admitiu, só é encarada "quando a industria está moribunda, o que não é o caso". "Estamos a dar a volta à crise", disse, acrescentando que o sector registou um crescimento de cinco por cento, no primeiro trimestre de 2010.
Manuel Ramos alertou para a possibilidade de se acentuar a degradação do imóvel, solicitando à câmara para intervir, zelando pela segurança dos edifícios e manutenção dos jardins. "Não é fácil", respondeu a presidente da câmara, Isabel Soares, salientando que se trata de uma propriedade privada. "Mas não podemos ir para casa descansados", enfatizou, reivindicando o empenho de todas as forças políticas para desbloquear o caso da Alicoop/Alisuper. O presidente da Comunidade Intermunicipal do Algarve - Amal, Macário Correia, e o presidente do Turismo do Algarve, Nuno Aires, foram convidados para o debate mas não compareceram.
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