Vermelho - 25 de Novembro de 2009 - 13h03
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Num de seus depoimentos, no documentário em DVD que acompanha o disco "Cantora", Mercedes Sosa diz que, se não fosse a ideologia, ela seria apenas mais uma cantora. Verdade confirmada por seu trajeto e sua postura política, mas que também permite observação contrária: não fosse uma grande intérprete, com seu belo timbre de contralto, e a sensibilidade na escolha de repertório e acompanhantes, ela não passaria de mais uma artista engajada.
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Seu canto de cisne, reunindo 19 duetos com artistas hispano-americanos de diferentes gerações e estilos, "Cantora" foi produzido no ano passado, num estúdio de Buenos Aires - com eventuais gravações nos países de alguns de seus convidados -, e, mesmo que tenha conteúdo irregular, serve como um belo testamento dessa voz que tantas fronteiras derrubou.
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A voz estava fragilizada, sem atingir algumas notas, mas Mercedes, então com 73 anos e muitos quilos a mais, sempre sentada - seja nas entrevistas ou gravando -, tinha experiência e talento para driblar as dificuldades físicas. O DVD, dirigido por Rodrigo H. Vila, documenta passo a passo a gravação deste que acabou sendo o último disco em vida da cantora - e que, no início de novembro, um mês após a sua morte, ganhou o troféu de Álbum Folclórico na décima edição do Grammy Latino.
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É um conceito bem elástico de "folclórico" - mesmo que esse viesse sendo o campo habitual da intérprete, nascida em 9 de julho de 1935, em Tucumán, e que lançou seu primeiro LP em 1962, "La voz de la zafra" -, já que há em "Cantora" a presença de muitos representantes da música pop hispano-americana contemporânea. E as baladas de gente como os argentinos Charly Garcia ("Desarma y sangra") e Fito Paez ("Zamba del cielo") e o uruguaio Jorge Drexler ("Sea") soam monocórdias, com melodias por demais escravas de suas letras, um mal frequente na produção desses chamados cantautores.
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Sem ufanismo, um dos destaques é o encontro com Caetano Veloso em "Coração vagabundo", faixa gravada no Rio, aproveitando a passagem da argentina pelo Brasil em outubro de 2008, quando recebeu a insígnia da Ordem do Mérito Cultural, em cerimônia realizada no Teatro Municipal. Juntos no estúdio, eles saboreiam os desenhos melódicos da velha pérola de Caetano, que Mercedes canta num português com leve sotaque.
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O encontro, virtual, com Daniela Mercury - que gravou a sua parte sozinha, em Salvador - é outro bom momento, graças à força perene de "O que será", em versão, com arranjo do guitarrista Jorge Giuliano, que reforça o sotaque caribenho presente na composição de Chico Buarque.
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Há também a tentativa, bem-sucedida, por sinal, de aproximar Mercedes do rap, em "Canción para un niño en la calle" - ela cuida da melodia enquanto René Pérez, da dupla porto-riquenha Calle 13, da parte falada, com a habitual temática sociopolítica que caracteriza o estilo. Funciona. Bem melhor do que o encontro com o espanhol Joaquín Sabina em "Violetas para Violeta", balada sonolenta, com letra baseada em canção da chilena Violeta Parra, mas que patina nas boas intenções. Não basta ser engajado.
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Fonte: O Globo
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A voz estava fragilizada, sem atingir algumas notas, mas Mercedes, então com 73 anos e muitos quilos a mais, sempre sentada - seja nas entrevistas ou gravando -, tinha experiência e talento para driblar as dificuldades físicas. O DVD, dirigido por Rodrigo H. Vila, documenta passo a passo a gravação deste que acabou sendo o último disco em vida da cantora - e que, no início de novembro, um mês após a sua morte, ganhou o troféu de Álbum Folclórico na décima edição do Grammy Latino.
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É um conceito bem elástico de "folclórico" - mesmo que esse viesse sendo o campo habitual da intérprete, nascida em 9 de julho de 1935, em Tucumán, e que lançou seu primeiro LP em 1962, "La voz de la zafra" -, já que há em "Cantora" a presença de muitos representantes da música pop hispano-americana contemporânea. E as baladas de gente como os argentinos Charly Garcia ("Desarma y sangra") e Fito Paez ("Zamba del cielo") e o uruguaio Jorge Drexler ("Sea") soam monocórdias, com melodias por demais escravas de suas letras, um mal frequente na produção desses chamados cantautores.
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Sem ufanismo, um dos destaques é o encontro com Caetano Veloso em "Coração vagabundo", faixa gravada no Rio, aproveitando a passagem da argentina pelo Brasil em outubro de 2008, quando recebeu a insígnia da Ordem do Mérito Cultural, em cerimônia realizada no Teatro Municipal. Juntos no estúdio, eles saboreiam os desenhos melódicos da velha pérola de Caetano, que Mercedes canta num português com leve sotaque.
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O encontro, virtual, com Daniela Mercury - que gravou a sua parte sozinha, em Salvador - é outro bom momento, graças à força perene de "O que será", em versão, com arranjo do guitarrista Jorge Giuliano, que reforça o sotaque caribenho presente na composição de Chico Buarque.
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Há também a tentativa, bem-sucedida, por sinal, de aproximar Mercedes do rap, em "Canción para un niño en la calle" - ela cuida da melodia enquanto René Pérez, da dupla porto-riquenha Calle 13, da parte falada, com a habitual temática sociopolítica que caracteriza o estilo. Funciona. Bem melhor do que o encontro com o espanhol Joaquín Sabina em "Violetas para Violeta", balada sonolenta, com letra baseada em canção da chilena Violeta Parra, mas que patina nas boas intenções. Não basta ser engajado.
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Fonte: O Globo
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