Discurso de Lula da Silva (excerto)

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domingo, 12 de dezembro de 2010

Noel Rosa: o samba não tem tradução no idioma francês

Cultura

Vermelho - 11 de Dezembro de 2010 - 0h10


O Brasil conta com inúmeros sambistas e compositores de talento. Raros, porém, são os que podem ser considerados gênios. Noel Rosa provavelmente encabeça a lista.

Por Umberto Martins

O poeta da Vila, como ficou conhecido, nasceu no dia 11 de dezembro de 1910 e estaria completando 100 anos neste sábado. Mas viveu pouco, embora intensamente. Teve uma carreira artística meteórica e não sobreviveu à ação da tuberculose, que agiu em cumplicidade com a boemia. Morreu em 4 de maio de 1937, com apenas 26 anos.

Origem do samba

Sua trajetória como artista foi ainda mais breve. Fez sua primeira gravação em 1929 e a última no ano da morte, 1937. Oito anos no total. Pouco tempo, certamente. Mas o suficiente para que produzisse centenas de obras primas, canções de rara beleza que continuam encantando os amantes da música e parecem desmentir o caráter efêmero da arte popular.

Noel viveu a áurea do samba. Foram os anos em que o gênero, ainda na infância, adquiriu sua forma moderna. Era cultuado, tocado, cantado e composto principalmente por negros que habitavam os morros cariocas. Ele foi um dos primeiros sambistas brancos, com a sorte de ser contemporâneo e parceiro de gigantes como Ismael Silva, Cartola, Vadico, Ary Barroso,Orestes Barbosa e Wilson Batista, entre outros.

Para o célebre compositor carioca, a beleza na música não se resume a uma equação de sons, mais ou menos complexa, nem se prende necessariamente à geografia. Em Feitio de oração, composto em parceria com Vadico, ele associa a origem do samba aos dramas da alma humana, traduzindo a concepção de que os sons musicais não passam de emanações poéticas dos sentimentos d´alma.


“O samba na realidade
Não vem do morro
Nem lá da cidade
E quem suportar uma paixão
Saberá que o samba então
Nasce do coração”

Poesia e música

A identidade entre poesia e melodia é quase absoluta nas composições de Noel. As palavras, com sua fonética, se casam e se fundem com as notas musicais, costuradas por harmonias talentosas (algumas delas produzidas pelo paulista Oswaldo Gogliano, o Vadico) e compondo uma obra una de invulgar beleza.

Também se define o samba como uma crônica musical de uma época e de um povo. Trata-se de uma espécie de crônica que não se limita à descrição superficial de fatos e acontecimentos considerados relevantes ou dignos de registro, pois capta de uma forma mais profunda os sentimentos, dramas e sonhos humanos. Apesar de ser considerado um ritmo alegre, o samba quase sempre flerta com a tristeza, já que “é preciso um bocado de tristeza” para temperar o gênero, “senão não se faz um samba não”, como ensina Vinícius de Morais no Samba da benção. Tristeza, naturalmente, não era um sentimento estranho na vida atribulada de Noel. Foi o recheio de obras-primas como Último desejo ou Adeus, que compôs em parceria com Ismael Silva.

Defesa da cultura nacional

O poeta da Vila Isabel conhecia como poucos o ser humano e o seu próprio tempo. Prezava a boemia, amava o samba e apostava na força, originalidade e beleza da cultura nacional e popular. No samba intitulado “Não tem tradução”, ele critica com bom humor e lucidez a influência bizarra das potências coloniais e neocoloniais nos hábitos cariocas, que se insinuava então através do cinema. Na música, Noel revela convicção na força do samba para combater tais tendências e defender a cultura genuinamente brasileira.

No início dos anos 1930, o cinema falado estava alterando os costumes populares, induzindo gente de origem humilde, mas “que tem a mania da exibição”, a cantar e dançar o fox-trot, ritmo em moda nos EUA, assim como a tentar se comunicar em inglês. Comportamento pouco sábio, que nos remete ao instinto de vira-lata cultivado pelas nossas classes dominantes, e que também foi ridicularizado por outros compositores (caso de Assis Valente, com a música Tem francesa no morro). Naquela altura a influência francesa tinha mais relevância que hoje.

A crença na superioridade do samba e da cultura nacional sobre os novos hábitos é traduzida em vários versos: “Lá no morro, se eu fizer uma falseta a Risoleta desiste logo do francês e do inglês. A gíria que o nosso morro criou, bem cedo a cidade aceitou e usou”. O samba, diz Noel, “não tem tradução no idioma francês”, pois “tudo aquilo que o malandro pronuncia com voz macia é brasileiro, já passou de português. Amor lá no morro é amor pra chuchu. As rimas do samba não são I love you. E este negócio de alô, alô boy e alô Johnny, só pode ser conversa de telefone..

O centenário de Noel Rosa foi lembrado e comemorado em todo o Brasil ao longo deste ano. Merecidamente. O poeta da Vila Isabel não perdeu atualidade. É uma unanimidade, pelo menos entre quem não é ruim da cabeça nem doente do pé, ou seja, excluindo quem não gosta de samba. Sua obra, em certo sentido sem rival e objeto recorrente de regravações e novas interpretações, promete atravessar o século 21 ocupando um espaço privilegiado e único da memória popular.

Confira abaixo letra, áudio e vídeo de Feitio de oração (interpretado por Clara Nunes) e Não tem tradução (com João Nogueira)

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N2010R | 10 de Outubro de 2010 |
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Feitio de oração
Composição: Noel Rosa e Vadico

Quem acha vive se perdendo
Por isso agora eu vou me defendendo
Da dor tão cruel desta saudade
Que, por infelicidade,
Meu pobre peito invade
Batuque é um privilégio
Ninguém aprende samba no colégio
Sambar é chorar de alegria
É sorrir de nostalgia
Dentro da melodia
Por isso agora lá na Penha
Vou mandar minha morena
Pra cantar com satisfação
E com harmonia
Esta triste melodia
Que é meu samba em feito de oração
O samba na realidade não vem do morro
Nem lá da cidade
E quem suportar uma paixão
Sentirá que o samba então
Nasce do coração.

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000093747 | 28 de Janeiro de 2010

Não Tem Tradução
Composição: Noel Rosa 
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O cinema falado é o grande culpado da transformação
Dessa gente que sente que um barracão prende mais que o xadrez
Lá no morro, se eu fizer uma falseta
A Risoleta desiste logo do francês e do inglês
A gíria que o nosso morro criou
Bem cedo a cidade aceitou e usou
Mais tarde o malandro deixou de sambar, dando pinote
Na gafieira dançar o Fox-Trot
Essa gente hoje em dia que tem a mania da exibição
Não entende que o samba não tem tradução no idioma francês
Tudo aquilo que o malandro pronuncia
Com voz macia é brasileiro, já passou de português
Amor lá no morro é amor pra chuchu
As rimas do samba não são I love you
E esse negócio de alô, alô boy e alô Johnny
Só pode ser conversa de telefone..
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  • ERRATA

    11/12/2010 16h45 existe um pequeno erro na data de nescimento de Noel, pois no texto esta colocado 2010 pore,m se deu, cono todos sabemos, em 1910. vlw redo
    fellipe redo
    rio de janeiro - RJ
  • Outros Gênios

    11/12/2010 16h04 Mas como, raros são gênios ? E o Caimi, o Tom Jobim, o Lupicio Rodrigues, e o Ary Barroso, e o Ernesto Nazareth, o Zequinha de Abreu, e o imortal Pixinguinha, puxa, e quase esqueço o Gonzagão. Olha a injustiça...
    Ebrantino
    Passo Fundo - RS
  • Salve !

    11/12/2010 14h59
    Salve Noel parcerinho 100% como diria o poetinha.
    André Lemos
    São Paulo - SP
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