Mídia
Todas as sociedades, todas as épocas, todas as décadas se orgulham de ter dado abrigo a alguma crise, termo que pode ser a outra face de uma revolução. Qual é, portanto, a grande crise revolucionária do século 21?
Por Miguel Ángel Bastenier
Será a chegada de um político negro à Casa Branca? O desencadeamento do terrorismo internacional, cujo estandarte diz ser a Al Qaeda? O começo do declínio do império americano, derrotado ou a caminho disso em duas guerras na Ásia Central? A emergência da China como potência global? A invenção de um socialismo chamado exatamente "do século 21" na Venezuela? A progressiva instalação do fator indígena na política da América Latina? O paulatino naufrágio do Titanic europeu, na debacle do capitalismo financeiro?
Embora todas as comoções anteriores apresentem sérios méritos para merecer tão alta consideração, não competem com uma de maior categoria porque é transversal e afeta a cada uma delas. É a revolução das comunicações, com seu epifenômeno de crise nos meios informativos já clássicos ou convencionais. Dir-se-á que essa revolução começou nos anos 90, mas seus efeitos mais deletérios só chegaram à Europa com toda a sua crueza nesta primeira década do século 21, e o Wikileaks é apenas um subproduto da mesma.
Pela primeira vez na história, e de forma especialmente maciça neste século, o cidadão pode se comunicar instantaneamente por áudio, imagem e texto ao mesmo tempo, com qualquer outro cidadão, de um extremo a outro do globo. Embora haja zonas do planeta menos beneficiadas, o mundo, para efeitos de comunicação, já é um só. E isso significa que os que haviam sido até data recente gestores exclusivos da informação - não só nos jornais impressos, mas hoje também nas fórmulas digitais - têm de enfrentar uma nova concorrência: a informação - a qual certamente seria melhor chamar apenas comunicação - que é livre de circular porta a porta, de consumidor a consumidor, ou fazendo que se confundam em uma só figura o produtor e o consumidor.
E se é verdade que a utilização do meio digital aumenta a ponto de nunca se ter consumido tanta informação como hoje, tudo indica que essa versão pessoa a pessoa cresce tão rapidamente ou mais que a oferecida pelas organizações, também digitais, que se dedicam profissionalmente à distribuição de conteúdos. É esta uma revolução da qual apenas vislumbramos as consequências e que obriga a se perguntar: qual será a natureza da informação, a quê chamaremos de jornalismo e jornalistas em um futuro provavelmente não muito distante?
A campanha do presidente americano Barack Obama não teria sido a mesma sem o concurso de um exército de jovens medianamente revoltados que reuniram partidários, transmitiram slogans, organizaram equipes para que ganhasse o autor do "Yes, we can"; e a contraofensiva ultra do movimento do Tea Party se organizou e difundiu inicialmente também no meio eletromagnético; se nos anos 60 o transistor se transformou no meio natural de comunicação de movimentos revolucionários do Terceiro Mundo, como a FLN na Argélia, nos 2000 a última Intifada palestina utilizava a rede para coordenar a resistência ao ocupante, e é também nesse meio que debatem os defensores de um islamismo moderado e os corifeus de Osama bin Laden, que, caso exista, consegue a ubiquidade perfeita graças à rede; e até a própria China define em parte sua revelação como potência mundial em uma homenagem involuntária à Internet, tentando controlar o funcionamento das mensagens globalizadas em seu espaço elétrico.
Se o jornalismo de papel ou digital só pode ser já de investigação, ou capaz de desenvolver uma "agenda própria", a grande exclusiva é obtida, no entanto, por alguns hackers por suas habilidades tecnológicas. Com esse material, cinco grandes jornais - entre eles este - hão de realizar, é claro, um esmerado e prolixo trabalho de desobstrução e refinamento, mas o decisivo foi a capacidade de arrancar os segredos da rede.
O grande jornalista investigativo americano I. F. Stone - morto em 1989 - escreveu há quase meio século o comentário mais apto ao caos de reações interessadas nos vazamentos do Wikileaks: "Suprimir a verdade em nome da segurança nacional é a forma mais segura de solapar o que pretendemos que seja nosso objetivo". O ataque à falta de transparência do poder é o arremate de uma revolução.
Fonte: El Pais
.Embora todas as comoções anteriores apresentem sérios méritos para merecer tão alta consideração, não competem com uma de maior categoria porque é transversal e afeta a cada uma delas. É a revolução das comunicações, com seu epifenômeno de crise nos meios informativos já clássicos ou convencionais. Dir-se-á que essa revolução começou nos anos 90, mas seus efeitos mais deletérios só chegaram à Europa com toda a sua crueza nesta primeira década do século 21, e o Wikileaks é apenas um subproduto da mesma.
Pela primeira vez na história, e de forma especialmente maciça neste século, o cidadão pode se comunicar instantaneamente por áudio, imagem e texto ao mesmo tempo, com qualquer outro cidadão, de um extremo a outro do globo. Embora haja zonas do planeta menos beneficiadas, o mundo, para efeitos de comunicação, já é um só. E isso significa que os que haviam sido até data recente gestores exclusivos da informação - não só nos jornais impressos, mas hoje também nas fórmulas digitais - têm de enfrentar uma nova concorrência: a informação - a qual certamente seria melhor chamar apenas comunicação - que é livre de circular porta a porta, de consumidor a consumidor, ou fazendo que se confundam em uma só figura o produtor e o consumidor.
E se é verdade que a utilização do meio digital aumenta a ponto de nunca se ter consumido tanta informação como hoje, tudo indica que essa versão pessoa a pessoa cresce tão rapidamente ou mais que a oferecida pelas organizações, também digitais, que se dedicam profissionalmente à distribuição de conteúdos. É esta uma revolução da qual apenas vislumbramos as consequências e que obriga a se perguntar: qual será a natureza da informação, a quê chamaremos de jornalismo e jornalistas em um futuro provavelmente não muito distante?
A campanha do presidente americano Barack Obama não teria sido a mesma sem o concurso de um exército de jovens medianamente revoltados que reuniram partidários, transmitiram slogans, organizaram equipes para que ganhasse o autor do "Yes, we can"; e a contraofensiva ultra do movimento do Tea Party se organizou e difundiu inicialmente também no meio eletromagnético; se nos anos 60 o transistor se transformou no meio natural de comunicação de movimentos revolucionários do Terceiro Mundo, como a FLN na Argélia, nos 2000 a última Intifada palestina utilizava a rede para coordenar a resistência ao ocupante, e é também nesse meio que debatem os defensores de um islamismo moderado e os corifeus de Osama bin Laden, que, caso exista, consegue a ubiquidade perfeita graças à rede; e até a própria China define em parte sua revelação como potência mundial em uma homenagem involuntária à Internet, tentando controlar o funcionamento das mensagens globalizadas em seu espaço elétrico.
Se o jornalismo de papel ou digital só pode ser já de investigação, ou capaz de desenvolver uma "agenda própria", a grande exclusiva é obtida, no entanto, por alguns hackers por suas habilidades tecnológicas. Com esse material, cinco grandes jornais - entre eles este - hão de realizar, é claro, um esmerado e prolixo trabalho de desobstrução e refinamento, mas o decisivo foi a capacidade de arrancar os segredos da rede.
O grande jornalista investigativo americano I. F. Stone - morto em 1989 - escreveu há quase meio século o comentário mais apto ao caos de reações interessadas nos vazamentos do Wikileaks: "Suprimir a verdade em nome da segurança nacional é a forma mais segura de solapar o que pretendemos que seja nosso objetivo". O ataque à falta de transparência do poder é o arremate de uma revolução.
Fonte: El Pais
Revoluções das novíssimas tecnologias digitais e a inclusão social de milhões de pessoas
18/12/2010 17h41Tão revolucionário quanto as novíssimas tecnologias digitais de comunicação – principalmente internet e telefonia celular, na qual a convergência de mídias como o videofone é um bom exemplo, tão revolucionário quanto isso, que gera crises e oportunidades, é o rápido processo de inclusão social de milhões de pessoas ora em curso em países como Brasil e China. Dos outros países que formam o BRIC, Rússia e Índia, tenho poucas notícias sobre esse processo de incorporar ao mercado populações antes marginalizadas pelas muitas injustiças do capital ... Na Índia a mobilidade social, devido ao sistema de castas, é muito mais difícil do que em sociedade de classes ... Assim, lá, a inclusão social de multidões passa por inovador programa de empreendedorismo e micro-crédito para população de baixa renda. Inovações em várias partes do mundo ocorrem também na polêmica área de alimentos produzidos com ajuda da biotecnologia; na agricultura familiar; e na crescente produção de alimentos orgânicos.Jóis Alberto Natal - RN..
Sem comentários:
Enviar um comentário