Todas as cartas de amor...
Fernando Pessoa
(Poesias de Álvaro de Campos)
.(Poesias de Álvaro de Campos)
Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.
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Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.
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As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.
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Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.
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Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.
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A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.
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(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)
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Álvaro de Campos, 21/10/1935
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Titulo da Música: Cartas De Amor
Artistas; Francisco José/ Toni de Matos
Artistas; Francisco José/ Toni de Matos
Música e Letra: Alves Coelho Filho
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Letra:
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Como jurei,
Com verdade o amor que senti
Quantas noites em claro passei
A escrever para ti
Cartas banais
Que eram toda a razão do meu ser
Cartas grandes extensas iguais
Ao meu grande sofrer
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Cartas de amor
Quem as não tem
Cartas de amor
Pedaços de dor
Sentidas de alguém
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Cartas de amor, andorinhas
Que num vai e vem, levam bem
Saudades minhas
Cartas de amor, quem as não tem
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Porém de ti
Nem sequer uma carta de amor
Uma carta vulgar recebi
Pra acalmar minha dor
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Mas mesmo assim
Eu para ti não deixei de escrever
Pois bem sabes que tu para mim
És todo o meu viver
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Cartas de amor
Quem as não tem
Cartas de amor
Pedaços de dor
Sentidas de alguém
.
Cartas de amor, andorinhas
Que num vai e vem, levam bem
Saudades minhas
Cartas de amor, quem as não tem.
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Wednesday, April 20, 2005
Cartas de amor
As cartas de amor já não se usam. Digo isto sem rancor ou saudosismo. Foram substituídas por SMS palpitantes e conversas de Messenger agitadoras. Nada de mal com isso. As cartas de amor são ridículas. Até o incontestavelmente brilhante Fernando Pessoa teve momentos muito pouco dignos ao escrever à sua Ofélia coisas como: “ Mando um meiguinho chinez (sic). E adeus até amanhã, meu anjo. Um quarteirão de milhares de beijos do teu, sempre teu, Fernando” (não, não sou eu que estou a inventar isto). Depois desta explicação destrutiva das cartas de amor, resta acrescentar a esta nota prévia que o post que se segue é sobre uma das várias cartas de amor que eu já escrevi na vida. E sim, eu devia ter vergonha.
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A carta em questão foi escrita pura e simplesmente por falta de coragem de fazer as coisas de outra maneira. Porque o rapazinho em questão me deixava em pânico descontrolado e a hipótese de lhe tentar dar um beijo levaria por certo a que eu lhe vazasse um olho com o meu nariz. Porque falar com ele em pessoa seria ter de lidar cara a cara com um "não" mais que provável. Porque não aguentava mais aquela onda pateta do “eu sei que tu sabes que eu sei que tu sabes”.
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Então, escrevi uma carta onde despejei o que me ia na alma. Nunca tive resposta. A carta foi escrita faz agora um ano. E soube ontem, numa confissão a medo de uma amiga comum, que aquela carta foi lida por meio mundo. Passou de mão em mão com um sorriso e um “olha lá o que ela me escreveu”.
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Esta revelação poderia ter-me custado muito, mas a verdade é que até nem custou. Primeiro, porque serviu como prova de que o amor nos tolda mesmo os juízos de valor (e deu um novo significado à alcunha do rapaz em questão, conhecido devido à sua profissão como “Palhaço”). Mas sobretudo porque a partir do momento em que se tem um blog, partilhar o que fervilha cá dentro com amigos, conhecidos ou completos estranhos já não me mete grande confusão. E, modéstia à parte, aquela carta foi dos melhores posts que já escrevi.
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posted by SR | 12:59 PM
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