27 DE JULHO DE 2008 - 15h39
Vermelho
Herói ou bandido? Definir Lampião ainda é um assunto controverso passados 70 anos da morte do rei do cangaço, completados neste mês. A neta do Rei do Cangaço com Maria Bonita, Vera Ferreira, de 55 anos de idade, dedica-se a preservar a memória dos avós legendários e se empenha no movimento para criar um Museu do Cangaço.
Lampião e Maria Bonita, em foto de Benjamin Abrahão
Traído por um de seus companheiros, Virgolino Ferreira da Silva, sua mulher Maria Bonita - que largou o primeiro casamento para segui-lo - e nove de seus cangaceiros foram apanhados em 1938 numa emboscada na Gruta de Angico, em Sergipe. Todos eles foram decapitados pela polícia de Alagoas, com o aval do governo Getúlio Vargas, e suas cabeças, expostas em praça pública.
Desde muito pequena, a jornalista Vera Ferreira, de 55 anos de idade, soube do fim cruel de seus avós e da curta e intensa história deles, vivida no Nordeste do Brasil. Eles foram perseguidos sem trégua por 16 anos (1922-1938) por militares de oito estados da região. Por isso, a mãe de Vera, dona Expedita Ferreira - única filha do casal - foi criada por coiteiros, como eram conhecidos os protetores do bando.
''Quando criança, não era fácil ser identificada como neta deles. Havia muita ignorância em torno do assunto'', comenta. Mas, aos 13 anos de idade, durante o lançamento de um livro que reuniu ex-integrantes do grupo (Dadá, Labareda, Balão Criança, Dulce, Zé Sereno e Sila), Vera se deu conta que sua família havia deixado marcas indeléveis no Brasil. Na adolescência, ela decidiu que iria preservar a memória do cangaço no país.
Uma de suas missões foi a de explicar o movimento dentro da história de um sertão pobre, em decorrência da seca extremada, dos conflitos de terra e da rivalidade entre famílias que travavam verdadeiras guerras. O escritor Sérgio Dantas, do Rio Grande do Norte, pesquisa o assunto há dez anos e define o aparecimento do cangaço como um poder paralelo, em conseqüência de um Estado que não cumpria sua função de manter a estabilidade. ''Foi uma espécie de convulsão social, mas sem nenhuma visão revolucionária'', explica.
Portanto, o lema de fazer justiça com as próprias mãos transformou Virgolino, o mercador nascido em Serra Talhada, Pernambuco, em Lampião, o cangaceiro, que começou o ofício vingando a morte do pai ao lado de dois irmãos. Mas sua habilidade e valentia logo o colocaram na posição de líder de um bando que dominou várias cidades, saqueou comércios, devastou fazendas e sacrificou vidas.
Para muitos pesquisadores, Lampião e seu grupo eram o reflexo de uma sociedade arcaica e metáfora do isolamento de uma região - o sertão. ''No entanto, essa é a nossa história e, por isso, devemos conhecê-la sem preconceitos'', analisa Vera.
Na visão da neta, a criação de um museu - o Museu do Cangaço - poderia reunir peças, imagens, livros e depoimentos para formar um acervo representativo daquela época. Por enquanto, alguns objetos estão guardados em uma pequena sala no Museu do Sertão, em Alagoas.
Se os pertences e as histórias estivessem abertas ao público, muita gente teria a oportunidade de conhecer certas particularidades do homem que semeou terror e morte em seu caminho. Ele era vaidoso - só usava perfume francês -, adornava os dedos com anéis, vestia-se de maneira extravagante, com cores berrantes, e usava chapéus imensos enfeitados com medalhas, colares e broches. As roupas dele e do bando eram costuradas por Maria Bonita e outras mulheres que apareceram no cangaço depois dela.
O gosto pela ostentação era tamanho que Lampião distribuía fotografias suas nos povoados por onde passava. Foi a extrema preocupação com a imagem, inclusive, que o levou a contratar o mascate e fotógrafo libanês Benjamin Abrahão para documentar as atividades do grupo. Por isso, o movimento conseguiu ser registrado com seu líder, que morreu aos 41 anos de idade, desafiando autoridades policiais e políticas.
As andanças para recompor a História e as próprias raízes fizeram com que Vera Ferreira se aproximasse de lugares por onde os avós tinham passado. Ela percebeu que muita coisa mudou no sertão. Grande parte dos habitantes de Serra Talhada, antes envergonhados por tê-lo como conterrâneo, agora sente orgulho. Nas festas juninas recém-encerradas, dezenas de pessoas se esbaldaram a valer trajadas de cangaceiros.
No entanto, a exclusão social e geográfica ainda residem no sertão. Por essa razão, ela teve a idéia de criar uma Oscip - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, a Sociedade do Cangaço, para desenvolver projetos com comunidades sergipanas. Um deles recebeu o nome de Linhas da Vida, cujo objetivo é gerar emprego e renda a partir da confecção de bolsas e bornais com aplicações dos elementos usados pelos cangaceiros em suas indumentárias. Os materiais são criados pela desenhista Germana de Araújo, que pretende implantar um curso de serigrafia para a confecção de camisetas.
No mês passado, Lampião, Maria Bonita e seu bando tiveram a vida revisitada durante a Primeira Semana do Cangaço, que ocorreu em Aracaju, SE. Quem esteve por lá entendeu como eles se tornaram o mito que, tempos depois, gerou novelas, livros, músicas e filmes.
Com informações do Globo Rural
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Desde muito pequena, a jornalista Vera Ferreira, de 55 anos de idade, soube do fim cruel de seus avós e da curta e intensa história deles, vivida no Nordeste do Brasil. Eles foram perseguidos sem trégua por 16 anos (1922-1938) por militares de oito estados da região. Por isso, a mãe de Vera, dona Expedita Ferreira - única filha do casal - foi criada por coiteiros, como eram conhecidos os protetores do bando.
''Quando criança, não era fácil ser identificada como neta deles. Havia muita ignorância em torno do assunto'', comenta. Mas, aos 13 anos de idade, durante o lançamento de um livro que reuniu ex-integrantes do grupo (Dadá, Labareda, Balão Criança, Dulce, Zé Sereno e Sila), Vera se deu conta que sua família havia deixado marcas indeléveis no Brasil. Na adolescência, ela decidiu que iria preservar a memória do cangaço no país.
Uma de suas missões foi a de explicar o movimento dentro da história de um sertão pobre, em decorrência da seca extremada, dos conflitos de terra e da rivalidade entre famílias que travavam verdadeiras guerras. O escritor Sérgio Dantas, do Rio Grande do Norte, pesquisa o assunto há dez anos e define o aparecimento do cangaço como um poder paralelo, em conseqüência de um Estado que não cumpria sua função de manter a estabilidade. ''Foi uma espécie de convulsão social, mas sem nenhuma visão revolucionária'', explica.
Portanto, o lema de fazer justiça com as próprias mãos transformou Virgolino, o mercador nascido em Serra Talhada, Pernambuco, em Lampião, o cangaceiro, que começou o ofício vingando a morte do pai ao lado de dois irmãos. Mas sua habilidade e valentia logo o colocaram na posição de líder de um bando que dominou várias cidades, saqueou comércios, devastou fazendas e sacrificou vidas.
Para muitos pesquisadores, Lampião e seu grupo eram o reflexo de uma sociedade arcaica e metáfora do isolamento de uma região - o sertão. ''No entanto, essa é a nossa história e, por isso, devemos conhecê-la sem preconceitos'', analisa Vera.
Na visão da neta, a criação de um museu - o Museu do Cangaço - poderia reunir peças, imagens, livros e depoimentos para formar um acervo representativo daquela época. Por enquanto, alguns objetos estão guardados em uma pequena sala no Museu do Sertão, em Alagoas.
Se os pertences e as histórias estivessem abertas ao público, muita gente teria a oportunidade de conhecer certas particularidades do homem que semeou terror e morte em seu caminho. Ele era vaidoso - só usava perfume francês -, adornava os dedos com anéis, vestia-se de maneira extravagante, com cores berrantes, e usava chapéus imensos enfeitados com medalhas, colares e broches. As roupas dele e do bando eram costuradas por Maria Bonita e outras mulheres que apareceram no cangaço depois dela.
O gosto pela ostentação era tamanho que Lampião distribuía fotografias suas nos povoados por onde passava. Foi a extrema preocupação com a imagem, inclusive, que o levou a contratar o mascate e fotógrafo libanês Benjamin Abrahão para documentar as atividades do grupo. Por isso, o movimento conseguiu ser registrado com seu líder, que morreu aos 41 anos de idade, desafiando autoridades policiais e políticas.
As andanças para recompor a História e as próprias raízes fizeram com que Vera Ferreira se aproximasse de lugares por onde os avós tinham passado. Ela percebeu que muita coisa mudou no sertão. Grande parte dos habitantes de Serra Talhada, antes envergonhados por tê-lo como conterrâneo, agora sente orgulho. Nas festas juninas recém-encerradas, dezenas de pessoas se esbaldaram a valer trajadas de cangaceiros.
No entanto, a exclusão social e geográfica ainda residem no sertão. Por essa razão, ela teve a idéia de criar uma Oscip - Organização da Sociedade Civil de Interesse Público, a Sociedade do Cangaço, para desenvolver projetos com comunidades sergipanas. Um deles recebeu o nome de Linhas da Vida, cujo objetivo é gerar emprego e renda a partir da confecção de bolsas e bornais com aplicações dos elementos usados pelos cangaceiros em suas indumentárias. Os materiais são criados pela desenhista Germana de Araújo, que pretende implantar um curso de serigrafia para a confecção de camisetas.
No mês passado, Lampião, Maria Bonita e seu bando tiveram a vida revisitada durante a Primeira Semana do Cangaço, que ocorreu em Aracaju, SE. Quem esteve por lá entendeu como eles se tornaram o mito que, tempos depois, gerou novelas, livros, músicas e filmes.
Com informações do Globo Rural
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