Capoeira, batuque, samba, brasilidade, negritude
teimosia
Joined: June 06, 2006
As mãos sobem e descem; o couro cede e retorna; o som é feito agudo e grave, conforme o tocador se mexe. Mas quem toca quem ? O atabaque move o homem ? Ou o homem faz o atabaque falar ? Não seriam os dois apenas um ?
Name: Teimosia
Age: 31
É quando se retesa o arco e se estica o arame; é quando a baqueta corta o ar e faz vibrar a cabaça; é quando se esquenta o couro com a palma da mão, e o suor corre em bicas. É quando o gunga grita e a função se desenrola; é quando no campo de mandinga, dois viram um. É quando a boca canta sozinha e quando o corpo vai sem rumo, cavalo sem cavaleiro que se veja - é justo nesse momento que estou vivo, uno com todos e ao mesmo tempo só. Vivo quando a perna passa e o tronco esquiva, quando os braços negaceiam. Vivo quando a tesoura derruba, quando rasteira de fraco põe forte no chão. E nesse balanço, nesse remelexo, nesse pega-não-pega, vou vendo siri dar em caranguejo, gavião apanhar de bem-te-vi. E quando o samba mexe meus joelhos, também estou vivo - escorregando, caindo, tretando, presepando, levantando, de banda, de lado, entortado, de viés. E aí, sacudido, balançado, tremelicado, pulsado, febril de jogar o jogo, de brincar a brincadeira, descanso. Uma pequena morte, diria - até que a vadiagem me faça viver de novo.
Dobro esquinas, subo e desço ladeiras, fluo pelas ruas. Serpenteio por avenidas paralelas e ruas oblíquas e praças circulares. De volta ao meu lugar, ao meu canto - minha cidade, que me escolheu. Com seus defeitos de cidade, com sua má-educação de cidade, mas também com suas pessoas de alma doce, mineira. Deixo o vento me gingar, escuto suas ladainhas nas arestas de cimento, observo os fios vibrando em arcos-postes que não se dobram. Ouço a música da cidade - embala eu, BH. Vejo as mazelas, os caídos no chão, e as árvores no parque, e os cães e os meninos sem dono, e os girassóis na praça que renasceu, e o rio que foi poluído e depois escondido, e a feira grátis sob o viaduto, e os que roubam para viver, e os que roubam para fumar, e o trem que me acorda a cada manhã. Embala eu, BH. Respiro a fumaça das descargas e o cheiro das azaléias e a urina dos cantos e os queijos do mercado. Vejo o cinza dos prédios e o roxo dos ipês, e o burburinho da feira e as nuvens que descem da serra. Embala eu, BH.
Jogo o jogo da vida, vivo na roda do mundo. Sou discípulo que aprende, e todo dia a vida me dá lição. Aprendo a ler um novo ABC a cada manhã, sinto o sangue correr nas palmas das mãos. Às vezes escorrego, e ouço da vida que "roupa de homem não serve em menino" - aprendo com os tropeços, tento não bulir mais com marimbondo. Mas a curiosidade que mata os gatos é a mesma que nos manda para a frente. Se buraco velho tem cobra dentro, às vezes também tem saco de dinheiro - é questão de saber em qual cumbuca meter a mão. Ando devagar, que sei como me doem os calos. E falo devagar, que me doem os dentes da queixada. Não tenho pressa, deixo o corpo dar o jeito que o corpo sempre dá. Enquanto a vida passa, sigo evitando siris que derrubam gameleira, facas de furar e ondas que viram canoas. Se no fundo do mar tem dinheiro, esse eu deixo às sereias. Continuo apanhando a areia branca do mar, continuo bebendo a água de beber. Volta de mundo, camará.
Eu canto para afastar nuvens. Canto para me manter acordado. Canto para aprender mais. Para deixar para trás o mal. Eu canto para não criar teias, para desembaçar a visão. Canto para ter notícias, canto para matar saudades. Eu canto e transmito sorte, canto e envio força. O canto é quente nas noites úmidas, e ecoa nas madrugadas frias. Meu canto é curioso, quer descobrir coisas. Levanta pedras e sacode árvores. Espalha papéis, e os lê em pleno ar. Prende aves no chão, seca pimenteiras, fecha corpos, carrega mandinga. É um canto forte, que sai da goela como se me tocassem tambores no peito - um canto que herdei, que corre no meu sangue negro. É canto vivo, que faz correr a tristeza e revira a mágoa pelo avesso. Canto do violeiro sem viola, de andarilho errante. Canto repentes e espanto inimigos, canto louvações e construo amizades e amores. Andando faço minhas loas, deixo meus marcos. Cantando, me defino e esboço meu mundo. O canto me mantém na trilha, me ensina a jogar. Meu canto me faz, e cantando eu sou.
Ando de banda pela vida, torto como a natureza não me fez, de lado feito caranguejo que sou. Olho obliquamente, enviesado, mas nunca pelas esquerdas - ando torto por linhas certas, mas tenho destino conhecido. Caranguejo que sou, vez por outra vejo a maré invadir minha praia, destruir o que construí. Mas tão logo ela recua, eu testo a areia com meus pés finos e canelas secas - e começo a caranguejar de novo. Torto, de lado - mas com rumo certo.
Age: 31
É quando se retesa o arco e se estica o arame; é quando a baqueta corta o ar e faz vibrar a cabaça; é quando se esquenta o couro com a palma da mão, e o suor corre em bicas. É quando o gunga grita e a função se desenrola; é quando no campo de mandinga, dois viram um. É quando a boca canta sozinha e quando o corpo vai sem rumo, cavalo sem cavaleiro que se veja - é justo nesse momento que estou vivo, uno com todos e ao mesmo tempo só. Vivo quando a perna passa e o tronco esquiva, quando os braços negaceiam. Vivo quando a tesoura derruba, quando rasteira de fraco põe forte no chão. E nesse balanço, nesse remelexo, nesse pega-não-pega, vou vendo siri dar em caranguejo, gavião apanhar de bem-te-vi. E quando o samba mexe meus joelhos, também estou vivo - escorregando, caindo, tretando, presepando, levantando, de banda, de lado, entortado, de viés. E aí, sacudido, balançado, tremelicado, pulsado, febril de jogar o jogo, de brincar a brincadeira, descanso. Uma pequena morte, diria - até que a vadiagem me faça viver de novo.
Dobro esquinas, subo e desço ladeiras, fluo pelas ruas. Serpenteio por avenidas paralelas e ruas oblíquas e praças circulares. De volta ao meu lugar, ao meu canto - minha cidade, que me escolheu. Com seus defeitos de cidade, com sua má-educação de cidade, mas também com suas pessoas de alma doce, mineira. Deixo o vento me gingar, escuto suas ladainhas nas arestas de cimento, observo os fios vibrando em arcos-postes que não se dobram. Ouço a música da cidade - embala eu, BH. Vejo as mazelas, os caídos no chão, e as árvores no parque, e os cães e os meninos sem dono, e os girassóis na praça que renasceu, e o rio que foi poluído e depois escondido, e a feira grátis sob o viaduto, e os que roubam para viver, e os que roubam para fumar, e o trem que me acorda a cada manhã. Embala eu, BH. Respiro a fumaça das descargas e o cheiro das azaléias e a urina dos cantos e os queijos do mercado. Vejo o cinza dos prédios e o roxo dos ipês, e o burburinho da feira e as nuvens que descem da serra. Embala eu, BH.
Jogo o jogo da vida, vivo na roda do mundo. Sou discípulo que aprende, e todo dia a vida me dá lição. Aprendo a ler um novo ABC a cada manhã, sinto o sangue correr nas palmas das mãos. Às vezes escorrego, e ouço da vida que "roupa de homem não serve em menino" - aprendo com os tropeços, tento não bulir mais com marimbondo. Mas a curiosidade que mata os gatos é a mesma que nos manda para a frente. Se buraco velho tem cobra dentro, às vezes também tem saco de dinheiro - é questão de saber em qual cumbuca meter a mão. Ando devagar, que sei como me doem os calos. E falo devagar, que me doem os dentes da queixada. Não tenho pressa, deixo o corpo dar o jeito que o corpo sempre dá. Enquanto a vida passa, sigo evitando siris que derrubam gameleira, facas de furar e ondas que viram canoas. Se no fundo do mar tem dinheiro, esse eu deixo às sereias. Continuo apanhando a areia branca do mar, continuo bebendo a água de beber. Volta de mundo, camará.
Eu canto para afastar nuvens. Canto para me manter acordado. Canto para aprender mais. Para deixar para trás o mal. Eu canto para não criar teias, para desembaçar a visão. Canto para ter notícias, canto para matar saudades. Eu canto e transmito sorte, canto e envio força. O canto é quente nas noites úmidas, e ecoa nas madrugadas frias. Meu canto é curioso, quer descobrir coisas. Levanta pedras e sacode árvores. Espalha papéis, e os lê em pleno ar. Prende aves no chão, seca pimenteiras, fecha corpos, carrega mandinga. É um canto forte, que sai da goela como se me tocassem tambores no peito - um canto que herdei, que corre no meu sangue negro. É canto vivo, que faz correr a tristeza e revira a mágoa pelo avesso. Canto do violeiro sem viola, de andarilho errante. Canto repentes e espanto inimigos, canto louvações e construo amizades e amores. Andando faço minhas loas, deixo meus marcos. Cantando, me defino e esboço meu mundo. O canto me mantém na trilha, me ensina a jogar. Meu canto me faz, e cantando eu sou.
Ando de banda pela vida, torto como a natureza não me fez, de lado feito caranguejo que sou. Olho obliquamente, enviesado, mas nunca pelas esquerdas - ando torto por linhas certas, mas tenho destino conhecido. Caranguejo que sou, vez por outra vejo a maré invadir minha praia, destruir o que construí. Mas tão logo ela recua, eu testo a areia com meus pés finos e canelas secas - e começo a caranguejar de novo. Torto, de lado - mas com rumo certo.
http://planeta.terra.com.br/es porte/capoeiradabahia
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http://www.orkut.com/Home.aspx ?xid=5797370188209637532
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