Discurso de Lula da Silva (excerto)

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domingo, 26 de junho de 2011

Traços Gerais - António de Oliveira Salazar, por Pedro Ribeiro Ferreira

QUARTA-FEIRA, 1 DE ABRIL DE 2009


António de Oliveira Salazar


O Ser Humano, como se sabe, não prima pela perfeição. É um produto defeituoso que veio ao mundo cheio de problemas por resolver. É uma criatura incompleta altamente vulnerável, é uma obra inacabada… enfim já perceberam. 

Uma das avarias mais evidentes no indivíduo é a questão da memória. Rapidamente nos esquecemos das desgraças que nos aconteceram. Pior do que isso, adulteramos o passado com paninhos quentes e transformamos a desventura numa história mais decorosa.Um bom exemplo de que o chip da memória está danificado é o fenómeno Salazar. De repente transformou-se numa figura simpática de quem toda a gente quer ser amiga. Ganhou o concurso do “Melhor Português de Todos os Tempos”, escrevem-se livros sobre ele como nunca (Enquanto Dormia, os Amores de Salazar, As Férias de Salazar, As Comidas Preferidas de Salazar, A Lingerie predilecta de Salazar, etc.), aparece em séries de televisão convertido em garanhão (por amor de Deus!) e até tem página no Facebook. Só faltam as t-shirts tipo Che Guevara para ser um icone pop à escala mundial!Este boneco saiu em 2007 na já extinta Magazine – Grande Informação juntamente com o texto que segue de seguida.SalazarAi Salazar... Salazar! Faz bem repetir este nome. Ajuda a ultrapassar o trauma. Já passaram mais de trinta anos e ainda há muita gente que acorda a meio da noite, a berrar: “Não! Salazar! Nãããããão! Conseguiremos algum dia livrar-nos deste fantasma?Ai Salazar... Salazar! Mais vale parar com esta brincadeira antes que algum ex-PIDE se lembre de me cortar o pio.Como é que este apelido, tão escasso na lista telefónica de Lisboa, ainda perturba tanta gente? Como é que este nome de ditador Sul Americano, ainda se tem de pronunciar baixinho? Apetece dizer calma! Morreu há muito tempo, já não vai fazer mal a ninguém. Mas este espectro que ainda nos afecta a todos deve-se ao facto de Salazar ter sido um pai para nós durante quarenta anos. Um pai à moda antiga, em que os filhos se tinham que vergar e beijar a mão. E como em todas as relações de filiação haviam os filhos cumpridores, bajuladores e preferidos, que dispunham de todas as regalias e os filhos rebeldes que eram desprezados, encarcerados, torturados e inclusivamente mortos.Este parentesco até começou muito bem. Ao princípio Salazar era o menino bonito do Vaticano e punha em prática a célebre máxima “Deus, Pátria e Família”. Estava genuínamente convencido saber o que era melhor para os seus fifis. Pôs o país na ordem, era admirado e respeitado. Se tivesse democratizado o regime na altura teria ganho as eleições nas calmas. Mas mesmo em ditadura, manteve-se anos e anos no poder com o consentimento da população. O problema foi não ter conseguido acompanhar os sinais dos tempos. O Mundo estava em mudança e este “brilhante” estadista não deu por isso. Aliás deu por isso, que de parvo não tinha nada, mas preferiu trancar o país a sete chaves. Ainda hoje estamos a pagar essa factura. Goste-se ou não do Salazar, temos de admitir que foi uma figura marcante. A verdade é que nenhum ser humano o derrubou. Esse papel coube a uma cadeira. E nem depois de se ter estatelado no chão tiveram coragem de lhe dizer que já não governava. Ainda hoje está muito presente na nossa vida. Basta-nos ir a uma repartição de finanças para sentirmos na pele a sua herança. A mesquinhez, o derrotismo, a nostalgia e o fatalismo que caracterizam o nosso povo também fazem parte do seu legado. Não nos livramos dele assim tão facilmente. É preciso mais tempo. O tempo cura tudo e esse mesmo tempo joga a favor de Salazar. A minha teoria é que todos estamos cheios de saudades dele. Os de direita por nostalgia dos bons velhos tempos e os de esquerda por falta de um bode expiatório à altura.Se estivéssemos no tempo do Estado Novo este texto seria obviamente censurado. Não tanto pela mensagem mas principalmente pela fraca qualidade literária. Nem tudo era mau naquele tempo.

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