Res Publica
1910 e 2010 face a face
Exposição CAM/FCG em parceria com
a Comissão Nacional para as Comemorações
do Centenário da República
Piso 0 e 01 do edifício central da sede da Fundação
e jardim.
8 de Outubro de 2010 a 16 de Janeiro de 2011
Curadoria: Helena de Freitas e Leonor Nazaré
a Comissão Nacional para as Comemorações
do Centenário da República
Piso 0 e 01 do edifício central da sede da Fundação
e jardim.
8 de Outubro de 2010 a 16 de Janeiro de 2011
Curadoria: Helena de Freitas e Leonor Nazaré
A EXPOSIÇÃO propõe o confronto entre obras do início do século XX e do início do século XXI, em função de problemáticas que discutem o contexto e a natureza da res publica e das heranças sociais da República no mundo globalizado actual.
Com incidência nacional, a exposição inclui obras de artistas estrangeiros que pontuam ou sublinham aspectos da abordagem desenvolvida.
As causas públicas, a sua emergência e vitalidade comunitárias estão necessariamente presentes no acto artístico, do mais íntimo ao mais político; e se o universo subjectivo dificilmente se isenta da sua inscrição colectiva, só por ilusão a intenção socialmente interventiva se subtrai ao determinismo individual.
As duas primeiras décadas do século XX em Portugal foram prolíferas em crítica satírica, em humor esclarecido e em desafios lançados à perspicácia social de uma elite.
A primeira década do século XXI tem sido igualmente prolífera em esbanjamento crítico, de muito diversas tipologias, dirigido à decifração multi-modal de um público alargado.
O primeiro modernismo português fixou tipos sociais e caracteriais estereotipados e, à excepção de Amadeo, restringiu a experimentação à liberdade cromática e “figurativa” do traço e da pincelada.
A arte dos anos 90 e 2000 no nosso país reflecte e projecta a possibilidade praticamente infinita de uso de todos os media e técnicas que o mundo entretanto globalmente desenvolveu.
No início do século XX, a cenografia, a decoração, as artes gráficas cruzam-se com o território da pintura no espaço não muito alargado da folha ou da tela.
No início do século XXI o design, a comunicação, a ciência são trazidos para dentro do espaço digital, imaterial e tecnológico. No início do século XX, aRes Publica é invocada com o sarcasmo ou o cinismo local de um olhar magoado mas sobrevivente.
No início do século XXI a Res Publica é sujeito e objecto de desorientação civilizacional, e já não apenas social.
Propomos o mapeamento destas realidades, com a exposição de obras destes dois momentos, que um século separa e que o próprio tema unifica.
As questões da instauração da República têm um âmbito manifestamente nacional, apesar de sempre generalizáveis num quadro sócio-antropológico geral. As questões de hoje são necessariamente globais e civilizacionais. É impossível pensar um país sem pensar o mundo ou pensar o mundo sem pensar cada povo.
Nesse sentido, o âmbito temático desta exposição pode alargar-se muito: a preservação do planeta, a revisitação ideológica e filosófica dos sistemas capitalista e socialista, as desigualdades de género, de classe e de raça, o terrorismo, os inúmeros avatares da violência, a distribuição da riqueza, a bioética, a (in)consciência, a economia mundial, o mundo digital, a exclusão, a perda do simbólico… etc.
A exposição tenta, por um lado, projectar no presente as grandes questões que o regime republicano tomou por suas, perscrutando as suas configurações actuais. Não pode deixar de as alargar, por outro lado, àquelas que entretanto se lhes acrescentaram no mundo globalizado actual. A abordagem de todas estas questões não poderia, no entanto, ser exaustiva.
O âmbito temático da exposição é organizado em sete grandes grupos, que a estruturam, apesar de não surgirem espacialmente demarcados:
I - IDEAL NACIONALISTA E REPUBLICANO
A queda da Monarquia, o patriotismo e os factos históricos da implantação da República são o ponto de partida.
Todas as iconografias e símbolos nacionais se tornam evocação obrigatória: a bandeira, o hino, a propaganda, os festejos e as comemorações, os comícios, e os eventos de autoconsagração.
O Império e as colónias ou a participação na guerra de 1914/18 definem também o nascimento do século XX português.
O mundo actual obriga-nos a revisitar culturas e continentes, modos desviantes e exacerbados de nacionalismo, vícios instalados dos modelos republicanos de hoje e a situação pós-colonial.
II - ATMOSFERA SOCIAL
No início do século XX, a emigração, o envelhecimento e a pobreza não dignificam o quadro geral. Por isso são tão pertinentes as representações do povo e de vários tipos sociais e profissionais, ou do associativismo numa classe burguesa que o despreza. As desigualdades de género, de classe e de raça, a distribuição da riqueza e a exclusão são áreas temáticas inevitáveis que o presente não esbateu.
III - O HOMEM NOVO
A educação nacional é erigida como uma prioridade, num contexto em que se fala acaloradamente na possibilidade de um Homem Novo.
A Pedagogia e a Psiquiatria são defendidas como suportes para a mudança das mentalidades e do vigor espiritual. A religião do progresso e a psicologia das multidões interessam os quadros dirigentes. O ensino primário é cuidadosamente revisto. Paralelamente, é dado um espaço novo ao culto da natureza e da ciência, do desporto, da saúde e da investigação médica.
Um século de progresso essencialmente tecnológico e de engenharia social neo-liberal tornou clara a falência dos modelos e lançou a humanidade numa desestruturação global sem precedentes.
IV – MUNDOS LAICO E RELIGIOSO
O mundo republicano e laico, que a constituição proclama até hoje, fez sempre alianças estratégicas com a Igreja, que sabe ser demasiado influente no tecido social.
A primeira república tentou subtrair poder à Igreja. O Estado do século XXI afastou-se de um modelo de colaboração concertada. Ambos disputam territórios de dominação e poder, de influência ética, ou de alienação subliminar.
A guerra das religiões, enquanto patologia social e civilizacional, tem raízes e história muito mais antigas. Continua a ser hoje um vórtice dos mais graves problemas.
V- FIGURAS DA LIBERDADE E AVATARES DA VIOLÊNCIA
A imprensa é uma instituição de absorção e projecção das grandes questões públicas e, supostamente, um espaço de liberdade. No início do século XX as revistas proliferam e o pequeno meio lisboeta mais esclarecido exercita a sua veia crítica nesses suportes, que são também veículo de uma clara propaganda.
Hoje a violência continua a multiplicar os seus modos de ressurgimento permanente, na imprensa e a todos os outros níveis de organização dos afectos e das razões, do trabalho e dos núcleos sociais.
VI- ESPAÇO PÚBLICO E PRIVADO
A Arte Pública, por instauração num espaço público de circulação, é uma prática secular. A dimensão pública da arte encontrou, na contemporaneidade, suportes muito diversos e deve ser perscrutada para lá da vocação panfletária que tinha na primeira república.
Será a imagem militante uma forma de solidariedade? A arte pode intervir? Deve realizar-se como vida?
Espaços interiores e espaços públicos, construção e ruína, política, economia e ecologia, protagonismo individual e destino colectivo – este é o pano de fundo das actuais aproximações Arte / Vida que nos permitem o escrutínio da integração da Res Publica no universo da arte.
VII- A AFIRMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA NUM MUNDO POR VIR
A paixão do real ou o seu aparente retorno têm favorecido, no território muito alargado da arte contemporânea, a miscigenação de linguagens que o registam, focalizam e recortam.
As utopias movem o mundo inconformado de uma minoria e o imaginário de quem não se reconhece no que existe.
O futuro começa sempre já hoje e exige um labor profundamente diligente. Exigiu da República que acabava de nascer instrumentos de consciência que ela não tinha; exige do mundo actual, questionamentos radicais ao nível das formas de conhecimento e da gestão das prioridades da vida.
ARTISTAS
Adriano de SOUSA LOPES Alves CARDOSO
Ana MATA Ana TELHADO
André CARRILHO André ROMÃO
Ângela FERREIRA António Jorge GONÇALVES
António Júlio DUARTE António MARQUES
Armanda DUARTE Arnaldo GARCÊS
Bruce NAUMAN Bruno PACHECO
Carlos CORREIA Carlos REIS COLUMBANO
Cristiano CRUZ Cristina LUCAS
Cristina SAMPAIO Daniel BARROCA
Eurico LINO DO VALE Eva BENSASSON
Francisco VIDAL Gabriel OROZCO
Gil Heitor CORTESÃO Guillermo KUITCA
Inês GONÇALVES Joana VASCONCELOS
Jorge PINHEIRO Joshua BENOLIEL
José ALVES DA CUNHA José Carlos TEIXEIRA
José de BRITO José Francisco de Sousa FILHO
José Luís NETO José MALHOA
Laurent GRASSO Leal da CÂMARA
Luísa FERREIRA Manuel BOTELHO
M. G. BORDALO PINHEIRO Manuel SANTOS MAIA
Maria LUSITANO MARÍN Martinho COSTA
Nelson d’AIRES Nikias SKAPINAKIS
Nuno MAYA Pamela GOLDEN
Paula REGO Paulo CATRICA
Pedro GOMES Pierre GONNORD
Rafael BORDALO PINHEIRO Rodrigo OLIVEIRA
Rui MOREIRA Sílvia MOREIRA
Susan PHILIPSZ Susana GAUDÊNCIO
Taryn SIMON Vasco ARAÚJO
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