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segunda-feira, 6 de junho de 2011

Res Publica 1910 e 2010 face a face

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1910 e 2010 face a face

Exposição CAM/FCG em parceria com
a Comissão Nacional para as Comemorações
do Centenário da República
Piso 0 e 01 do edifício central da sede da Fundação
e jardim.
8 de Outubro de 2010 a 16 de Janeiro de 2011
Curadoria: Helena de Freitas e Leonor Nazaré


Cristina Lucas - La liberté raisonnée, 2009

José Malhoa - O Fado, 1910

Leal da Câmara - Ilustração para A Velhice do Padre Eterno, 1911-1912

Rafael Bordalo Pinheiro - A Actualidade, 24-04-1901

Nikias Skapinakis - Paisagem – Bandeira Portuguesa, 2009

Paula Rego - The Old Republic, 2005

Ângela Ferreira - Portugal é Sensacional, 1999

António Júlio Duarte - S/título (série Investigação Científica), 2003, Instituto de Sistemas e Robótica/Pólo de I.S.T., Lisboa

Bruce Nauman - Pair of Hands, 1996

Pierre Gonnord - “P.G. Michel”, 2005

João Pedro Vale - Mar Salgado, 2006

Inês Gonçalves - Sem Título (Mercado Roque Santeiro, Luanda, Angola), 2006

Bruno Pacheco - From left to right, 2008/09

Eva Bensasson - Bury green, 2002

Xana, Assembleia (simulação), 2010








A EXPOSIÇÃO propõe o confronto entre obras do início do século XX e do início do século XXI, em função de problemáticas que discutem o contexto e a natureza da res publica e das heranças sociais da República no mundo globalizado actual.
Com incidência nacional, a exposição inclui obras de artistas estrangeiros que pontuam ou sublinham aspectos da abordagem desenvolvida.







As causas públicas, a sua emergência e vitalidade comunitárias estão necessariamente presentes no acto artístico, do mais íntimo ao mais político; e se o universo subjectivo dificilmente se isenta da sua inscrição colectiva, só por ilusão a intenção socialmente interventiva se subtrai ao determinismo individual.

As duas primeiras décadas do século XX em Portugal foram prolíferas em crítica satírica, em humor esclarecido e em desafios lançados à perspicácia social de uma elite.

A primeira década do século XXI tem sido igualmente prolífera em esbanjamento crítico, de muito diversas tipologias, dirigido à decifração multi-modal de um público alargado.

O primeiro modernismo português fixou tipos sociais e caracteriais estereotipados e, à excepção de Amadeo, restringiu a experimentação à liberdade cromática e “figurativa” do traço e da pincelada.

A arte dos anos 90 e 2000 no nosso país reflecte e projecta a possibilidade praticamente infinita de uso de todos os media e técnicas que o mundo entretanto globalmente desenvolveu.

No início do século XX, a cenografia, a decoração, as artes gráficas cruzam-se com o território da pintura no espaço não muito alargado da folha ou da tela.

No início do século XXI o design, a comunicação, a ciência são trazidos para dentro do espaço digital, imaterial e tecnológico. No início do século XX, aRes Publica é invocada com o sarcasmo ou o cinismo local de um olhar magoado mas sobrevivente.

No início do século XXI a Res Publica é sujeito e objecto de desorientação civilizacional, e já não apenas social.

Propomos o mapeamento destas realidades, com a exposição de obras destes dois momentos, que um século separa e que o próprio tema unifica.



As questões da instauração da República têm um âmbito manifestamente nacional, apesar de sempre generalizáveis num quadro sócio-antropológico geral. As questões de hoje são necessariamente globais e civilizacionais. É impossível pensar um país sem pensar o mundo ou pensar o mundo sem pensar cada povo.

Nesse sentido, o âmbito temático desta exposição pode alargar-se muito: a preservação do planeta, a revisitação ideológica e filosófica dos sistemas capitalista e socialista, as desigualdades de género, de classe e de raça, o terrorismo, os inúmeros avatares da violência, a distribuição da riqueza, a bioética, a (in)consciência, a economia mundial, o mundo digital, a exclusão, a perda do simbólico… etc.

A exposição tenta, por um lado, projectar no presente as grandes questões que o regime republicano tomou por suas, perscrutando as suas configurações actuais. Não pode deixar de as alargar, por outro lado, àquelas que entretanto se lhes acrescentaram no mundo globalizado actual. A abordagem de todas estas questões não poderia, no entanto, ser exaustiva.


O âmbito temático da exposição é organizado em sete grandes grupos, que a estruturam, apesar de não surgirem espacialmente demarcados:




I - IDEAL NACIONALISTA E REPUBLICANO


A queda da Monarquia, o patriotismo e os factos históricos da implantação da República são o ponto de partida.

Todas as iconografias e símbolos nacionais se tornam evocação obrigatória: a bandeira, o hino, a propaganda, os festejos e as comemorações, os comícios, e os eventos de autoconsagração.

O Império e as colónias ou a participação na guerra de 1914/18 definem também o nascimento do século XX português.

O mundo actual obriga-nos a revisitar culturas e continentes, modos desviantes e exacerbados de nacionalismo, vícios instalados dos modelos republicanos de hoje e a situação pós-colonial.



II - ATMOSFERA SOCIAL


No início do século XX, a emigração, o envelhecimento e a pobreza não dignificam o quadro geral. Por isso são tão pertinentes as representações do povo e de vários tipos sociais e profissionais, ou do associativismo numa classe burguesa que o despreza. As desigualdades de género, de classe e de raça, a distribuição da riqueza e a exclusão são áreas temáticas inevitáveis que o presente não esbateu.



III - O HOMEM NOVO


A educação nacional é erigida como uma prioridade, num contexto em que se fala acaloradamente na possibilidade de um Homem Novo.

A Pedagogia e a Psiquiatria são defendidas como suportes para a mudança das mentalidades e do vigor espiritual. A religião do progresso e a psicologia das multidões interessam os quadros dirigentes. O ensino primário é cuidadosamente revisto. Paralelamente, é dado um espaço novo ao culto da natureza e da ciência, do desporto, da saúde e da investigação médica.

Um século de progresso essencialmente tecnológico e de engenharia social neo-liberal tornou clara a falência dos modelos e lançou a humanidade numa desestruturação global sem precedentes. 



IV – MUNDOS LAICO E RELIGIOSO


O mundo republicano e laico, que a constituição proclama até hoje, fez sempre alianças estratégicas com a Igreja, que sabe ser demasiado influente no tecido social.

A primeira república tentou subtrair poder à Igreja. O Estado do século XXI afastou-se de um modelo de colaboração concertada. Ambos disputam territórios de dominação e poder, de influência ética, ou de alienação subliminar.

A guerra das religiões, enquanto patologia social e civilizacional, tem raízes e história muito mais antigas. Continua a ser hoje um vórtice dos mais graves problemas.



V- FIGURAS DA LIBERDADE E AVATARES DA VIOLÊNCIA


A imprensa é uma instituição de absorção e projecção das grandes questões públicas e, supostamente, um espaço de liberdade. No início do século XX as revistas proliferam e o pequeno meio lisboeta mais esclarecido exercita a sua veia crítica nesses suportes, que são também veículo de uma clara propaganda.

Hoje a violência continua a multiplicar os seus modos de ressurgimento permanente, na imprensa e a todos os outros níveis de organização dos afectos e das razões, do trabalho e dos núcleos sociais.



VI- ESPAÇO PÚBLICO E PRIVADO


A Arte Pública, por instauração num espaço público de circulação, é uma prática secular. A dimensão pública da arte encontrou, na contemporaneidade, suportes muito diversos e deve ser perscrutada para lá da vocação panfletária que tinha na primeira república.

Será a imagem militante uma forma de solidariedade? A arte pode intervir? Deve realizar-se como vida?

Espaços interiores e espaços públicos, construção e ruína, política, economia e ecologia, protagonismo individual e destino colectivo – este é o pano de fundo das actuais aproximações Arte / Vida que nos permitem o escrutínio da integração da Res Publica no universo da arte.



VII- A AFIRMAÇÃO DA CONSCIÊNCIA NUM MUNDO POR VIR


A paixão do real ou o seu aparente retorno têm favorecido, no território muito alargado da arte contemporânea, a miscigenação de linguagens que o registam, focalizam e recortam.

As utopias movem o mundo inconformado de uma minoria e o imaginário de quem não se reconhece no que existe.

O futuro começa sempre já hoje e exige um labor profundamente diligente. Exigiu da República que acabava de nascer instrumentos de consciência que ela não tinha; exige do mundo actual, questionamentos radicais ao nível das formas de conhecimento e da gestão das prioridades da vida.





ARTISTAS

Adriano de SOUSA LOPES         Alves CARDOSO
Ana MATA                                     Ana TELHADO
André CARRILHO                        André ROMÃO
Ângela FERREIRA                       António Jorge GONÇALVES
António Júlio DUARTE                 António MARQUES
Armanda DUARTE                       Arnaldo GARCÊS
Bruce NAUMAN                           Bruno PACHECO
Carlos CORREIA                          Carlos REIS COLUMBANO
Cristiano CRUZ                            Cristina LUCAS
Cristina SAMPAIO                       Daniel BARROCA
Dórdio GOMES                             Eduardo VIANA
Eurico LINO DO VALE                 Eva BENSASSON
Francisco VIDAL                          Gabriel OROZCO
Gil Heitor CORTESÃO                  Guillermo KUITCA
Inês GONÇALVES                        Joana VASCONCELOS
João FAZENDA                             João Pedro VALE
Jorge PINHEIRO                          Joshua BENOLIEL
José ALVES DA CUNHA              José Carlos TEIXEIRA
José de BRITO                          José Francisco de Sousa FILHO
José Luís NETO                            José MALHOA
Laurent GRASSO                          Leal da CÂMARA
Luísa FERREIRA                           Manuel BOTELHO
M. G. BORDALO PINHEIRO      Manuel SANTOS MAIA
Maria LUSITANO MARÍN          Martinho COSTA
Nelson d’AIRES                            Nikias SKAPINAKIS
Nuno MAYA                                  Pamela GOLDEN
Paula REGO                                   Paulo CATRICA
Pedro GOMES                               Pierre GONNORD
Rafael BORDALO PINHEIRO     Rodrigo OLIVEIRA
Rui MOREIRA                               Sílvia MOREIRA
Susan PHILIPSZ                           Susana GAUDÊNCIO
Taryn SIMON                                Vasco ARAÚJO
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