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sábado, 22 de março de 2008

José Gregório - 1908 - 2008 - militante do PCP


Evocação a José Gregório

Quarta, 19 Março 2008

João Dias Coelho, da Comissão Política do PCP, interveio na inauguração da exposição evocativa do centenário do nascimento de José Gregório, no Museu do Vidro da Marinha Grande, onde afirmou que «a exposição que inauguramos, dá-nos a dimensão do homem e do seu importante papel enquanto dirigente sindical e dirigente do Partido da classe operária e de todos os trabalhadores». José Gregório, foi um corajoso, perseverante e consequente lutador pela liberdade, contra a exploração e a opressão, pelo socialismo e o comunismo, causas às quais dedicou toda a sua vida.


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José Gregório - Destacado dirigente do Partido criar PDF versão para impressão enviar por e-mail
Escrito por João Dias Coelho
01-Mar-2008


Em 19 Março faz cem anos que nasceu José Gregório, operário, militante e destacado dirigente do Partido Comunista Português.

Filho da Marinha Grande, terra de operários, José Gregório deixou com o seu exemplo de comunista e revolucionário uma marca profunda que perdura até aos dias de hoje.

Temperado pelo trabalho, onde ingressou quando tinha apenas 8 anos, e pela luta pela melhoria das condições de vida dos trabalhadores, em que se destacou desde os 14 anos com a luta dos jovens trabalhadores vidreiros, a vida de José Gregório fica marcada pela luta contra o fascismo e pelo objectivo da construção de uma sociedade livre da exploração do homem pelo homem, pelo socialismo e comunismo.

O registo da sua actividade e do papel que teve nas lutas que se travaram na região onde nasceu, designadamente no Pinhal de Leiria, em 1931, onde trabalhou com outros operários vidreiros na construção da estrada da mata após ter regressado da tropa, nas greves dos operários de Pataias e Fontela entre 31e 34, que dirigiu enquanto membro da Comissão Sindical dos Roldões, revelam desde cedo um jovem operário com uma forte consciência de classe, que não aceitava a exploração e lutava incansavelmente pela melhoria das condições de vida dos seus companheiros de trabalho.

José Gregório participou activamente na constituição da que viria a ser uma das maiores construções do operariado vidreiro – a formação do Sindicato Nacional da Indústria do Vidro em 1931.

Obra colectiva dos operários vidreiros, o processo de unificação das várias organizações para a formação deste sindicato não é separável da acção e intervenção dos comunistas vidreiros, com particular destaque para José Gregório que é eleito para a sua direcção em 1933.

E é nessa qualidade que desempenha um papel de grande destaque na preparação e realização da heróica jornada do 18 de Janeiro de 1934 contra a fascização dos sindicatos, pela defesa da livre organização dos trabalhadores e dos seus direitos, contra a ofensiva patronal e do Estado fascista contra os salários de miséria, pelo horário de 8 horas, contra a repressão e a defesa das liberdades cívicas, que assumiu o carácter insurreccional na terra que o viu nascer, a Marinha Grande.

Num folheto da sua autoria sobre esse histórico acontecimento, José Gregório dá conta que «depois de os operários se apoderarem das armas e das munições do quartel da GNR e com elas formarem novas brigadas para reforçar a defesa a alegria foi indiscritível. Os vivas repetiam-se e os seus ecos atroavam como em dias de festa. Deram-se vivas à classe operária, ao povo da Marinha Grande, aos trabalhadores que por todo o país estavam lutando... Deram-se vivas ao sindicato, ao Partido Comunista Português...».

Esta descrição dá bem a dimensão do prestígio do Partido granjeado pela sua acção na defesa dos interesses dos trabalhadores, pela sua justa orientação e pela acção de dirigentes como José Gregório.

Na verdade, o operariado, os trabalhadores e o povo da Marinha Grande, sob a direcção do Partido e do sindicato, foram por algumas horas donos do seu próprio destino.

O fascismo derrotou, esmagando pela força das armas, esta heróica acção. A repressão abateu-se sobre o Partido, o sindicato, os operários e o povo da Marinha Grande. Muitos dos dirigentes foram presos e enviados para o Campo de Concentração do Tarrafal. Mas o aço tinha sido temperado pela luta e o exemplo de José Gregório e de outros dirigentes do movimento, a força e o prestígio do Partido deixaram raízes profundas que perduram até aos dias de hoje.

Em 1934, por decisão do Partido, José Gregório vai para Espanha. É preso em Orense, mas é libertado poucos dias depois devido à acção do Partido e do Socorro Vermelho Internacional e muito especialmente da classe operária de Orense que travou um importante luta pela sua libertação.

Após nova estadia em Espanha onde desempenha tarefas de retaguarda na guerra civil espanhola, José Gregório regressa a Portugal em 1938, faz parte do Socorro Vermelho Internacional, e desenvolve uma intensa actividade. Em Agosto desse mesmo ano é novamente preso, tendo sido barbaramente espancado. É libertado em Junho de 1940, restabelece o contacto com o Partido, começando a trabalhar com o camarada Alfredo Dinis (Alex). Participa na reorganização de 40/41 que, nos seus desenvolvimentos sob o impulso do camarada Álvaro Cunhal, levou ao reforço do Partido e ao ascenso da luta da classe operária e ao incremento duma ampla política de unidade antifascista. É, com Álvaro Cunhal, um dos principais protagonistas deste período de afirmação e consolidação do PCP. É justo afirmar que José Gregório faz parte do núcleo de construtores do Partido.

Em 1941 incumbido da montagem da tipografia do «Avante!», adopta na clandestinidade o peseudónimo «Alberto», tendo ulteriormente desenvolvido trabalho organizativo de grande importância no Algarve e no Norte, acompanhando as regiões do Porto, Vale do Vouga, Coimbra e Trás-os- Montes.

Em 1943, José Gregório participa no III Congresso (1.º na ilegalidade), tendo feito a alocução de abertura e apresentado o relatório do Secretariado do C.C. sobre «O Partido e as grandes greves de 1942 e 1943». É eleito para o Comité Central e para o Secretariado com Álvaro Cunhal e Manuel Guedes, responsabilidade que manteve até 1956.

No relatório sobre as grandes greves de 1942/43, enaltecendo e valorizando o poderoso movimento grevista que envolveu mais de 50 000 trabalhadores, José Gregório trata um conjunto de problemas – como o carácter do movimento, o seu significado na política nacional, a repercussão no plano internacional, o papel das mulheres trabalhadoras, o papel do Partido – avalia deficiências e erros, abre pistas e aponta as perspectivas criadas pelo movimento grevista para o prosseguimento da luta e o fortalecimento do Partido.

Para um Partido revolucionário como o nosso, a importância das questões colocadas evidencia-se ainda hoje como o nosso centrais para a luta.

Em 1945, o camarada «Alberto» é chamado ao entretanto criado Bureau Político do PCP.

Em 1946, José Gregório participa no IV Congresso (2.º ilegal), dando um importante contributo para o êxito desta realização histórica. Nele faz três intervenções: alocução de abertura, informe sobre a repressão fascista e o movimento popular de unidade nacional e sobre o trabalho sindical do Partido.

Na alocução de abertura coloca, entre outros aspectos, a questão de se saber e apurar no quadro do debate colectivo face ao quadro político, económico e social imposto pela ditadura fascista de Salazar, quais as tarefas imediatas e qual é a táctica a adoptar pelo nosso Partido nesta etapa da luta para que seja atingido o objectivo fundamental na actual situação que consiste no derrubamento do fascismo. Colocando também as questões da unidade nacional e da unidade da classe operária, levanta para a reflexão os problemas da defesa do Partido e de todas as forças democráticas face à repressão fascista, bem como as questões relativas ao reforço do Partido e do movimento sindical.

Do informe sobre o trabalho sindical relevamos algumas ideias por ainda hoje serem actuais e constituírem elementos de reflexão. Diz o camarada: «Para acertada e justamente avaliarmos a linha política do Partido em relação a todos os aspectos da vida nacional e referentes à luta pela defesa dos interesses da classe operária e do povo português, para que o nosso Partido possa assentar, de acordo com a hora que passa, nas futuras tarefas a realizar, correspondentes ao derrubamento do fascismo, torna-se necessário e imprescindível considerar, muito atentamente, a importância do movimento sindical bem como em relação a ele a posição do nosso Partido».

Quando hoje alguns dizem, como José Sócrates e seus apaniguados no movimento sindical, de que o que o «precisamos é de sindicatos completamente livres, com espírito de compromisso, com pragmatismo e humildade para analisar os resultados e que não actue em função de doutrinas e unicamente inspirados por uma visão de contestação», quando hoje tanto se fala em concertação de interesses este informe de José Gregório revela-se de uma grande actualidade.
Afirmando que os sindicatos não devem ser neutrais, José Gregório coloca que «há todavia quem no seio da classe operária quem aconselhe e defenda a neutralidade dos sindicatos em relação a importantes problemas referentes à vida dos trabalhadores e do nosso país. Isto é, há quem afirme e defenda que os sindicatos se devem abster de fazer quaisquer acções de carácter político limitando-se unicamente a uma actividade de carácter económico...». Rechaçando a tese da neutralidade e considerando-a como perniciosa ao movimento sindical, José Gregório considera que «Não combater uma tal concepção a respeito da orientação a imprimir ao movimento sindical representaria privar a classe trabalhadora duma potente arma que possui na luta contra o seu inimigo e para atingir o seu objectivo final...». E conclui: «Os sindicatos nunca deverão ser neutrais sempre e quando se trata da defesa dos interesses da classe operária. Nunca poderão pôr de lado a luta política sempre e quando se trata da defesa de quaisquer interesses da classe trabalhadora e do povo».

Confirmando-se como uma tese válida até aos dias de hoje, José Gregório afirma nesse informe que «Uma justa política sindical significa um dos melhores pilares da política do Partido... Isto quer dizer que os sindicatos são a melhor forma do Partido se ligar às massas de auscultar as suas necessidades e aspirações».

A experiência entretanto vivida revela de forma evidente esta afirmação. Os comunistas eleitos pelos seus companheiros de trabalho como seus representantes nas diversas estruturas do movimento sindical, agindo de acordo com o seu Partido e com os interesses dos trabalhadores, têm sido ao longo da história do movimento sindical o garante da sua natureza de classe, da sua independência, do seu carácter unitário, democrático e de massas.

Neste informe, José Gregório apontando erros e deficiências, quer do trabalho do Partido quer da Comissão Inter Sindical, avança em nome da direcção do Partido com um conjunto de propostas com vista ao fortalecimento da sua organização para esta frente e para o alargamento da acção e influência do próprio movimento sindical.

José Gregório, com base na sua experiência de sindicalista e comunista teve um importante papel na elaboração e aplicação da linha sindical do Partido, tendo dado um grande contributo para o fortalecimento do movimento sindical de classe.

Nas reuniões do Comité Central de Junho de 1947 e Agosto de 1949, José Gregório aborda algumas questões sobre a política de quadros, cuja actualidade ainda hoje se mantém. Valoriza o papel, acção e intervenção dos quadros quer na luta de massas, quer na unidade do movimento antifascista. Considera que a formação política e ideológica é um aspecto central para a sua evolução e para o cumprimento das exigentes tarefas que diariamente se lhes coloca. Nesse sentido, a reunião do CC de Junho de 47 lança um conjunto de cursos com vista à elevação do nível político e ideológico dos quadros.

Nessa mesma ocasião, José Gregório faz ressaltar outros aspectos da política de quadros: a ajuda aos quadros e aos problemas com que cada um se debate na concretização das suas tarefas; a atenção e o tratamento que devem merecer os problemas dos quadros.

Nesse informe José Gregório dedica algumas palavras aos quadros jovens que pela sua actualidade aqui transcrevemos «O nosso dever e a nossa preocupação devem ser no sentido de manter e alargar mais ainda as suas qualidades e possibilidades políticas, maior auxílio para que em todas as circunstâncias possam estes e outros quadros encontrar o caminho mais conveniente ao cumprimento dos seus deveres. E neste aspecto da nossa actividade devemos ir com a ideia não só de ensinar mas também de aprender com estes novos quadros».

Em 1956, José Gregório adoece gravemente. Vai para a Checoslováquia para ser tratado pois segundo o «Avante!» de 1961, em consequência da perseguição policial e dos prolongados e difíceis anos de luta contraiu uma grave doença do coração. Apesar do seu estado de saúde continua a dar a sua contribuição para o fortalecimento dos laços do PCP com Partido irmãos..

Em Maio de 1961 José Gregório morre na Checoslováquia, o nosso Partido perdia um quadro de grande dimensão humana, com fortes capacidades organizativas, com grande prestígio nacional e internacional, o revolucionário que tudo deu ao seu Partido e ao seu povo lutando incansavelmente pela liberdade e a democracia só conquistada 14 anos depois da sua morte e hoje tão ameaçada por aqueles que usufruindo dessa enorme conquista a ameaçam, atacam e vilipendiam todos os dias.

Como diz o «Avante!» de Julho de 1961 «Homem de carácter integro e dotado duma extraordinária força de vontade José Gregório é um exemplo para todos os militantes do Partido». Como Justamente declarou Álvaro Cunhal «José Gregório pertenceu ao numero dos homens que possuem a suprema virtude que é a dedicação ilimitada ao nosso povo e à nossa Pátria que são o orgulho do Partido e do Povo».

Em 25 de Abril de 1974, derrubado o fascismo, conquistadas as liberdades os restos mortais de José Gregório puderam finalmente regressar a Portugal e à Marinha Grande.


João Dias Coelho

Sobre o Autor:

Membro da Comissão Política do Comité Central do PCP
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in O Militante - 293 . Março-Abril 2008
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