Discurso de Lula da Silva (excerto)

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domingo, 7 de agosto de 2011

2009 World Press Cartoon


ma-schamba

"…cheguei a um acordo perfeito com o mundo: em troca do seu barulho dou-lhe o meu silêncio…" (R. Nassar)



World Press Cartoon

O Top 50 da World Press Cartoon 2009

  • Dezembro 6th, 2009
É uma arte simpática ainda que por definir – talvez mesmo por isso. “Cartoons”? Caricaturas? Cartões? Cartuns? Enfim, o problema das línguas recentemente fixadas, sem passado (nem antecedentes filológicos) de escrita – como é o caso do português -, é exactamente este, o da a incapacidade de encontrar no seu património palavras que possuam as capacidades descritivas e analíticas para anunciar os fenómenos actuais. Entenda-se, faltam conceitos a estas línguas que ascendem à modernidade para a esta descrever e compreender. Está pois de parabéns o Instituto Camões por este esforço para aprofundar o português, alargando-lhe os horizontes.
É uma arte simpática esta do “cartoonismo”, sempre apelando ao sorriso, quantas vezes crítico – isto se exceptuarmos a sensibilidade de alguns idolatras, por vezes mais excitáveis. Com efeito a quem desagradará a apresentação de uma exposição de “cartunes” (ou “cartuns”), ainda para mais uma selecção mundial, o Topo (perdão, Top) 50 do ano 2009?
wp 2009 cartoon cao gomez
Também por isso a minha visita a esta exposição (a secção 2009 no Instituto Camões, a secção de 2008 está na Mediateca do BCI e ainda não vi). Muito honestamente para me desiludir. Claro que há boas “caricaturas” (perdoe-se-me o estrangeirismo, são efeitos das estreitas masmorras de uma língua involuída). Mas nesta selecção há um grande conservadorismo formal no conjunto – esta obra de Cao Gomez será disso a excepção mais relevante. Porventura, e sendo uma selecção do que o ano ofereceu internacionalmente, será esse conservadorismo efeito da produção, mas é um pouco inquietante.
Por outro lado há um conservadorismo na atribuição de prémios, um “correctismo” explícito, muito alinhado, uma linha (ideológica, não fujamos à palavra) que está presente no conjunto apresentado. Digamos que esse correctismo (exponenciado no primeiro prémio, um moralismo cansativo, sem particular alcance estético-humorístico) é o conteúdo da exposição, tão unânime é ela na abordagem ao mundo de 2009. Propositado? Intentando desenhar um unanimismo na imprensa mundial, do olhar o mundo na época? Acredito que sim, e esse é a pior das características que tal exposição poderá apresentar, e a mais desaconselhável para que seja patrocinada e apoiada, entenda-se, apresentada.
Wp 2009 carton Kuczynski
Em regime pessoal tenho a notar que a visitei acompanhado pela minha filha (7 anos) presumindo que ela teria particular prazer com estes “robertos inanimados”. À entrada logo anunciou que iria escrever no livro da exposição – um direito cívico ao qual aderiu há já uns anos. E avançámos. Atrasei-me eu, e parei diante deste … “cartão” de Kuczinski (que sob todos os pontos de vista vale bem mais do que a peça de sacristia aldeã que ganhou o primeiro prémio). E ela, já bem lá à frente, algo desinteressada na sua rapidez, vendo-me parado voltou atrás e diz-me “este é o que eu prefiro, vou escrever isso, posso?”. Eu sorri, entre o agrado surpreendido com a nossa total concordância – para mais presumindo que aquela cloaca desenhada não estaria a lembrar à Carolina o “engenheiro” (em regime de “cartoon”, claro) Socrates e todos os bloguistas que, de modo colectivo ou pretensamente individual, se afadigam em tecer-lhe loas, ou por outra, em desinfectar-lhe o discurso – e cumpri-me pai (em regime “cartune”?) num “claro, mas primeiro acaba de ver a exposição, no fim escreves o que quiseres”. Ela seguiu em frente, eu fiquei um pouco ali ao “cartão” de Kuczinski a elencar o Rol d’Elos que se lhe justificaria associar.
wp 200o cartoon xadrez
E logo vem a correr, a chamar-me num “também gosto daquele, anda ver“. E lá fui eu ver esta “Revolução“, para comprovar que sim, que há obras que são correctas sem serem “correctas”, assim polissémicas, apropriáveis por quem não sabe jogar xadrez nem percebe exactamente o que é “revolução” nem suspeita que haja “revolucionários” que dizem haver um sentido exacto e obrigatório para essa palavra – que, aliás, só conhece disso das estrelas e planetas, andarem às voltas e revoltas uns relativamente aos outros. E aí sim, num sentido “correcto”, entenda-se astronomicamente necessário.
Saí deliciado. Mas não com a exposição. (Proveniente, com toda a certeza, de umas quaisquer igrejas luteranas, suas morais e expiações.)
jpt
http://ma-schamba.com/jpt/paternidade/o-top-50-da-world-press-cartoon-2009/
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O Instituto Camões apresenta esta deliciosa exposição – World Press Cartoon, ali colectadas obras dos últimos três anos (2004, 2005, 2006).
Lamento a ausência de elementos informativos, tanto sobre os autores como sobre as obras – e sabendo-se que o cartoon vive muito da compreensão do contexto é óbvio que em muitos casos a inteligibilidade fica amputada.
Mas ainda assim a mostra é mais do que recomendável. Apetecível. No local pode-se adquirir (e a preço bastante decente) o livro aqui mostrado, “Os Autores World Press Cartoon 2007“, uma edição Expresso. Neste surge uma colecção bem mais vasta de obras, correspondentes a trabalhos de 2006 – infelizmente de 2004 e 2005, os outros anos expostos, não há aqui registo bibliográfico. E digo infelizmente pois no livro surge um vasto número de obras que não estão expostas e que ombreiam em qualidade com as restantes.
O conjunto é, e tal não será de estranhar, muito dedicado à política da actualidade. Mas ultrapassa-a. Desde esta verdadeira pérola, realmente política
["Futebol", de Dalcio, publicado em Correio Popular (29.06.06), Brasil]
até à grande caricatura
["Fellini", de Luka, publicado em TV Mir (27.12.06), Ucrânia]
passando pela crítica social (e neste caso muito actual, pois obra belga)
["Discriminação + Exclusão", de Quack, publicado em Terzake (01.06.06), Bélgica]
A exposição encerra no próximo fim-de-semana, ainda há tempo.

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