Discurso de Lula da Silva (excerto)

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segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A internacionalização do Novo Cinema Português (1949-1980)


Novo Cinema Português (1949-80)

Este pretende ser um espaço de divulgação, estudo e discussão sobre o período de renovação estética da história do cinema português entre 1949 e 1980. 
Publicado por: paulomfcunha | Julho 4, 2011





Notas da minha apresentação no III Encontro de Jovens Investigadores do CEIS20, 1 e 2 de Julho de 2011, Casa da Cultura de Coimbra.
Título da comunicação: A INTERNACIONALIZAÇÃO DO NOVO CINEMA PORTUGUÊS (1949-1980)
Nome do autor: PAULO CUNHA
E-mail: paulomfcunha@gmail.com
Profissão: Investigador/ Bolseiro FCT
Instituição ou instituições em que está afiliado: CEIS20
Orientador (es): António Pedro Pita
Instituição de inscrição da tese: Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra
Resumo:
O que pretendo nesta breve apresentação é tecer algumas considerações sobre a internacionalização do cinema português entre 1949 e 1980, particularmente de um grupo de jovens cineastas que pugnava por uma renovação estética do cinema feito em Portugal. Procuro identificar projectos, protagonistas, métodos de intercâmbio ou cooperação com parceiros estrangeiros, e reflectir sobre a circulação e apropriação de ideias e estímulos entre a sociedade tradicional portuguesa e a sociedade moderna europeia e a forma como isso contribui para uma mudança de paradigma cultural e estético no cinema português desse período.
Tópicos:
1. Para além de uma renovação técnica e humana, o Novo Cinema Português promoveu também uma mudança de paradigma na criação cinematográfica em Portugal: se durante a direcção do SPN/SNI por António Ferro tentou promover um cinema nacional, com temáticas e a “psicologia” portuguesas, a geração do Novo Cinema promoveu uma ruptura com esse projecto nacional, ainda que não abdicasse de reflectir sobre a situação da sociedade portuguesa no contexto europeu e sobre a situação política interna.
2. As tentativas de internacionalização mais consistentes tentadas antes dos anos 60 não foram promovidas por questões estéticas: a) no caso da produtora Invicta Film (1918-24), a importação de recursos técnicos e humanos visava apenas intuitos comerciais de colagem a um modelo de produção de sucesso na Europa mas adaptando “temas portugueses”; b) o relativo sucesso de alguns dos primeiros filmes sonoros portugueses no Brasil convenceu alguns responsáveis políticos da possibilidade de criação de um mercado cinematográfico lusófono mas, mais uma vez, os filmes exportados baseavam-se essencialmente em clássicos da literatura portuguesa; c) a concretização de 12 filmes em regime de co-produção com produtoras espanholas (1945-51) visava explorar as eventuais potencialidades do mercado latino-americano.
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Em suma, estas tentativas não se afastavam muito do “conceito fechado de produção portuguesa” de António Ferro nem da categoria de “filme português” cristalizada na lei de protecção de 1948.
3. Ao reclamar uma ruptura com o passado, afirmando-se como “a primeira geração de cineastas cultos do cinema português” (João César Monteiro), a generalidade dos jovens queria trazer para Portugal as referências estéticas que contactaram nas escolas e cinematecas estrangeiras. Constatado o fracasso comercial das Produções António da Cunha Telles – que procurava um equilíbrio entre qualidade e popularidade –, a acção da censura e a hegemonia do cinema americano no mercado interno – que negavam ao público português o acesso a parte significativa das novas referências cinéfilas internacionais, nomeadamente as novas vagas –, no final da década de 60 assiste-se a uma radicalização do discurso e da prática fílmica que afasta o Novo Cinema ainda mais do público português. Por outro lado, a criação do CPC e a garantia do apoio da Fundação Gulbenkian permitiram uma independência financeira inédita que acentuou esse radicalismo e reorientou a política de promoção internacional do cinema português.
4. Desde finais dos anos 50 – inspirados pelo inesperado e relativo sucesso internacional de Manoel de Oliveira –, os jovens cineastas portugueses começam a apostar na participação em festivais de cinema internacionais, em géneros marginais e específicos como o cinema publicitário, turístico, religioso ou industrial, e reconhecem a esse circuito alguma importância na afirmação e reconhecimento internacionais. Os dados que consultei nos processos de participação em festivais de cinema geridos pelo próprio SNI/SEIT demonstram uma nova estratégia de promoção internacional tentada por jovens produtores, nomeadamente António da Cunha Telles. Dos filmes que integram o corpus do Novo Cinema Português foram diversos os seleccionados ou premiados em diversos certames cinematográficos internacionais: Veneza, Berlim, Cannes, Siena, Locarno, Valladolid, Benaldena, Lecce, Biarritz, Manheim, San Remo, Leipzig, Lille e Sitges.
A esses     juntam-se também os significativos dados da Alfândega de Lisboa, os relatórios regulares do CPC, IPC, Grémio dos Espectáculos, e a cobertura da imprensa generalista e especializada. Em conjunto, estes dados demonstram, quantificados por cronologias e geografias, a exportação de cinema português, desde as presenças nos festivais, as vendas para exibições comerciais ou a circulação dos filmes em contextos culturais ou propagandísticos (por exemplo, nas Casas de Portugal).
5. Sem perder as referências sociológicas e culturais da sociedade portuguesa, as propostas fílmicas do Novo Cinema Português reflectem as influências das novas vagas e da cinefilia moderna. A selecção de filmes para importantes certames internacionais e o destaque dados por influentes publicações cinematográficas são bons indicadores da receptividade externa do Novo Cinema Português. Segundo testemunhos dos próprios realizadores, os filmes estariam mais próximos de um público cinéfilo internacional do que do público português porque esses filmes desafiavam o cânone dominante norte-americano e usavam referências cinéfilas e estéticas que o público português desconhecia ou desvalorizava.
6. Em suma, o Novo Cinema Português operou uma mudança de paradigma no cinema português ao propor uma ruptura com os projectos anteriores de um cinema nacional para um público português (ou luso falante) e uma aproximação estética ao cinema moderno das novas vagas europeias e ao seu crescente circuito de divulgação que passava pelos festivais de cinema e pela exibição em contextos culturais. O imperativo da internacionalização deixou de ter motivações meramente comerciais, financeiras, políticas ou ideológicas, passando a ser necessário por razões estéticas e cinéfilas.





http://ncinport.wordpress.com/2011/07/04/a-internacionalizacao-do-novo-cinema-portugues-1949-1980/

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