Discurso de Lula da Silva (excerto)

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domingo, 4 de dezembro de 2011

Eduardo Cintra Torres ~ Casa dos Segredos: fábrica das relações humanas


Correio da Manhã

Panóptico

Casa dos Segredos: fábrica das relações humanas

Aos domingos, mais de um milhão vê a Casa dos Segredos. Um êxito, não por ser um reality game show acentuando valores positivos, antes por procurar os piores: tem uma forte dimensão "chunga".
Por:Eduardo Cintra Torres (ectorres@cmjornal.pt)


Queixam-se espectadores do baixo nível, mas deixam-se ir pela curiosidade de quem não tem outros passatempos e prefere as relações humanas "verdadeiras" daquela "casa" às inventadas por argumentistas e actores nas novelas. Essas relações humanas estão ali em construção permanente. Praticar o Bem é difí-cil, pois estão lá alguns, e em especial a produção do programa, para os deixar a todos cair na tentação e lançá-los ao Mal. Cada um procura pela performance que a sua individualidade se sobreponha à força avassaladora da "Voz", isto é, da indústria cultural capitalista.
O grande investimento garante ao programa qualidades técnicas. O estúdio é fantástico. Teresa Guilherme é a apresentadora perfeita, não só pela experiência, mas pela empatia com a coscuvilhice e a "chungaria". As imagens escolhidas, os conteúdos parasitários durante o dia, em estúdio e na rua, no cabo e na internet, inscrevem o quotidiano do jogo no dos seus espectadores.
Como se fecham pessoas num estúdio parecido com uma casa para obter o máximo de audiência, escolhem-se jovens com mais corpo que cabeça, alguns despudorados, outros "puros". Não há ingenuidade: para todos a Casa é um "emprego" para "ganhar dinheiro". Arranjam-se-lhes uns segredos que promovam suspense e correspondam à necessidade fundamental do programa: narrativas. Quanto mais picantes, melhor. Quando os concorrentes não as criam, estimulam-nos com instruções do tipo "hoje dormes na cama de fulano". Ou faz-se uma montagem cirúrgica das imagens para favorecer cenas e concorrentes que originem mais narrativas e, logo, mais interesse.
Além da ignorância e vulgaridade, as principais narrativas da casa-estúdio jogam no equilíbrio entre o Bem e do Mal - e coscuvilhice, sensualidade, sexo e simulação de amor. Na "casa", "amor" é jogo para ganhar dinheiro. O programa está talhado para provocar cenas de sexo à vista de todos, como na Aldeia dos Macacos. Resultam imagens de edredons, tentativas e concretizações de actos sexuais. A TVI reserva para o "diário" das 24h00 cenas mais ousadas. O dispositivo narrativo e visual do programa aproxima um pouco mais a TV generalista da estética pornográfica. Em 2005, Fiel ou Infiel?, também da TVI, criava com amadores cenas de falsas traições, em estilo porno, cenas que eram interrompidas ao aproximarem-se do clímax. A Casa promete o mesmo, 24 horas por dia.
JÁ AGORA
TEATRINHOS TELEVISIVOS SEM FIM
A TV actual abomina o teatro. Na RTP, foi desaparecendo, apesar de uma tradição com trabalhos de grande qualidade (mais de 600 peças entre 1957 e 2002). E, em vinte anos, os canais privados apresentaram meia dúzia de comédias e quadros de revista.
Compreende-se: a TV criou os seus próprios conteúdos e linguagem. Mas a própria TV tem aspectos visuais e cénicos próximos do teatro. A maioria dos programas decorre num estúdio-palco, quase sem movimento. Muitos cenários de telenovelas recordam melodramas em teatros amadores. A Casa do Segredos decorre num único cenário durante quatro meses e os jogadores-actores têm de comportar-se como personagens à procura de um papel.
A VER VAMOS
TDT: QUANTOS A VÊEM?
A implantação da TDT serve a PT, a sua Meo e os outros operadores de cabo. Julgaram os generalistas que beneficiariam de a TDT só ter os seus quatro canais, mas enganaram-se, porque oito em dez lares nas zonas já sem TV analógico optaram por assinar cabo, pelo que diminuirá ainda mais a audiência dos generalistas. Falta saber quantos pobres ficarão sem analógico, cabo e TDT.

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