Companhia de Teatro de Almada
texto lido pelo actor Luís Vicente, esta tarde, no funeral.
Morreu o Joaquim. Morreu o nosso Mestre e o nosso Amigo.
Morreu a fazer
teatro, que era o que ele melhor fazia: e fez teatro até ao fim. Dirigiu-nos até
já não ter fôlego para puxar a fumaça dos cigarros que ia desfiando, um após o
outro, nos ensaios (nas últimas semanas, resignado a ter de deixar de fumar,
trazia para a sala um cigarro electrónico que alguém baptizou de Robocop).
Joaquim Benite
foi e será o que se dirá agora dele: um intelectual de acção, um artista
generoso, um Homem perseverante, com um aguçado olhar poético sobre o Mundo e
uma grande intolerância contra a injustiça – que nalguns momentos da sua vida
terá tentado beliscá-lo, mas que ele ignorou como quem dá um piparote numa beata
pela janela do carro fora, como ele tinha o mau hábito de fazer.
Joaquim Benite
foi e será muitas coisas. Para nós, os que temos vivido e aprendido com ele –
para as várias gerações de actores, técnicos, encenadores, directores de
teatros… – o Joaquim foi o Homem que nos revelou o segredo de que o teatro é um
vício (quem lá entra, nunca mais de lá sai), mas é também um bálsamo (nós, os
que temos esta profissão, somos uns privilegiados, porque nos momentos de dor
imensa, como este, podemos sempre fugir para o palco: e lá a dor é outra).
Ficámos com uma
peça nas mãos: o «Timão de Atenas», que de Atenas fala pouco, mas fala muito
sobre a hipocrisia e a falsidade dos homens. O nosso “patrão”, como o Joaquim
lhe chamou nos primeiros ensaios, tinha a mania de escrever para nós, e para “os
que vierem depois de nós” – e os que vierem depois deles.
E agora chega
de “palavras, palavras, palavras…” e vamos mas é trabalhar, que era talvez o que
ele diria neste momento, se pudesse. Vamos cuidar dos vivos. Confortar a sua
família – as suas irmãs, os seus filhos, os seus netos – e trazer a Teresa
«Coragem» de volta às tábuas.
“E já que
estamos em Shakespeare” (como tu próprio podias ter dito, meu querido Amigo…),
citemos as palavras que o nosso “patrão” põe na boca daquele que, desiludido do
caminho que a sociedade ia tomando, se afastou dos homens para morrer sozinho:
“Sol,
esconde os teus raios: o Joaquim chegou ao fim do seu destino”
Companhia de Teatro de Almada
texto lido pelo actor Luís Vicente, esta tarde, no funeral.
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