Discurso de Lula da Silva (excerto)

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sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

Morreu o Joaquim. [Benite]


  Companhia de Teatro de Almada

texto lido pelo actor Luís Vicente, esta tarde, no funeral.


Morreu o Joaquim. Morreu o nosso Mestre e o nosso Amigo.

Morreu a fazer teatro, que era o que ele melhor fazia: e fez teatro até ao fim. Dirigiu-nos até já não ter fôlego para puxar a fumaça dos cigarros que ia desfiando, um após o outro, nos ensaios (nas últimas semanas, resignado a ter de deixar de fumar, trazia para a sala um cigarro electrónico que alguém baptizou de Robocop).

Joaquim Benite foi e será o que se dirá agora dele: um intelectual de acção, um artista generoso, um Homem perseverante, com um aguçado olhar poético sobre o Mundo e uma grande intolerância contra a injustiça – que nalguns momentos da sua vida terá tentado beliscá-lo, mas que ele ignorou como quem dá um piparote numa beata pela janela do carro fora, como ele tinha o mau hábito de fazer.

Joaquim Benite foi e será muitas coisas. Para nós, os que temos vivido e aprendido com ele – para as várias gerações de actores, técnicos, encenadores, directores de teatros… – o Joaquim foi o Homem que nos revelou o segredo de que o teatro é um vício (quem lá entra, nunca mais de lá sai), mas é também um bálsamo (nós, os que temos esta profissão, somos uns privilegiados, porque nos momentos de dor imensa, como este, podemos sempre fugir para o palco: e lá a dor é outra).

Ficámos com uma peça nas mãos: o «Timão de Atenas», que de Atenas fala pouco, mas fala muito sobre a hipocrisia e a falsidade dos homens. O nosso “patrão”, como o Joaquim lhe chamou nos primeiros ensaios, tinha a mania de escrever para nós, e para “os que vierem depois de nós” – e os que vierem depois deles.

E agora chega de “palavras, palavras, palavras…” e vamos mas é trabalhar, que era talvez o que ele diria neste momento, se pudesse. Vamos cuidar dos vivos. Confortar a sua família – as suas irmãs, os seus filhos, os seus netos – e trazer a Teresa «Coragem» de volta às tábuas.

“E já que estamos em Shakespeare” (como tu próprio podias ter dito, meu querido Amigo…), citemos as palavras que o nosso “patrão” põe na boca daquele que, desiludido do caminho que a sociedade ia tomando, se afastou dos homens para morrer sozinho:

“Sol, esconde os teus raios: o Joaquim chegou ao fim do seu destino”

Companhia de Teatro de Almada
texto lido pelo actor Luís Vicente, esta tarde, no funeral.



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