Cultura | 21.03.2009
Histórias em quadrinhos ainda vivem de referências europeias
No mundo das histórias em quadrinhos, a Europa pode até parecer ter perdido sua importância ao lado dos Estados Unidos e do Japão, considerados os gigantes do gênero. Porém, a história das bandas desenhadas – como também são chamadas – teve início no Velho Mundo e muitos dos personagens mais famosos foram criados no continente.
Um dos primeiros registros de histórias em quadrinho se deu na Suíça, em 1837, com o Histoire de Monsieur Vieux-Bois (Histórias do Sr. Pau Velho), de Rudolphe Töpffer, um dos precursores do gênero. Na Alemanha, o pintor, desenhista e poeta Wilhelm Busch também foi um dos pioneiros com os personagens Juca e Chico.
Os quadrinhos na Alemanha
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Juca e Chico: pioneiros dos quadrinhos
Conhecido na Alemanha como o “avô das histórias em quadrinho”, Busch se destacava por sua irreverência, seu humor negro e pelos seus personagens, os anti-heróis Juca e Chico. Nas histórias, traduzidas para o português por Olavo Bilac, os dois meninos sempre aprontam alguma travessura para depois serem tragicamente punidos pelos adultos.
Mas embora a Alemanha tenha sido um dos lugares de origem da história em quadrinhos, a tradição dos comics não se perpetuou. “A aceitação cultural dos quadrinhos na Alemanha foi menor que na Espanha ou na França”, afirmou o professor Dietrich Grünewald, especialista no assunto.
Segundo ele, o motivo não está na má qualidade das tiras, mas no reduzido interesse popular pelas bandas desenhadas. Ainda assim, ele ressalta que o interesse científico, educacional e histórico dos desenhos alemães prevalece, razão pela qual eles não caíram em esquecimento.
Bélgica: tradição em bandas desenhadas
A tradição gráfica em francês tem grande parte de sua origem na Bélgica. As tiras começaram as ser publicadas em jornais no início do século 20. Em 1929, o belga Georges Prosper Remi publicou pela primeira vez As Aventuras de Tintim, um dos clássicos das histórias em quadrinhos que mais tarde tornou-se desenho animado.
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Tintim: um dos maiores sucessos dos quadrinhos belgas
Os famosos Smurfs também têm origem belga. Criados em 1958 pelo desenhista Pierre Culliford, o Peyo, as pequenas criaturas azuis viviam em casas-cogumelo no meio de uma floresta e eram liderados pelo Papai Smurf, o mais sábio da aldeia.
A fama dos Smurfs no país é tão grande que, em 2008, o governo belga lançou 25 mil exemplares de uma moeda de 5 euros com a figura de um Smurf. Fabricadas para comemorar o 50º aniversário dos bichinhos azuis, elas custavam 25 euros.
Além do Tintim e dos Smurfs, a Bélgica ainda é o país de origem de dois quadrinhos mundialmente conhecidos: o Gaston Lagaffe e o Spirou e Fantasio. As duas histórias fizeram parte da edição de quadrinhos Journal de Spirou, lançada por Jean Depuis na Bélgica, em 1938.
No ano do lançamento, Depuis pediu a Robert Velter que desenhasse o personagem que dava nome à revista. Spirou era um jovem aventureiro que trabalhava em um hotel e sempre estava na companhia de um esquilo, o Spip.
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: O francês Asterix ainda atrai milhares de leitores
Em 1943, Velter passou o personagem para o desenhista Joseph Gillain, o Jijé, e no ano seguinte, Spirou ganhou o seu companheiro inseparável, Fantasio, um repórter fotógrafo que trabalhava no jornal Moustique.
Com o tempo, a tira foi desenhada por vários cartunistas: Andre Franquin (1946-1968), Jean-Claude Fournier (1969-1979), Nic & Cauvin (1980-1983) e Phillipe Vandevelde e Jean-Richard Geurts (1981-1998). Desde 2004, Morvan e Munuera são os novos desenhistas de Spirou e Fantasio, ainda em publicação na Bélgica.
Já Gaston Lagaffe, também de Andre Franquin, começou a ser publicado em 1957 na revista de Depuis. O personagem era um sujeito preguiçoso que fazia de tudo para não trabalhar e impedir o trabalho dos outros. Protetor da natureza e dos animais, Lagaffe vivia em um pequeno apartamento, cujo escritório servia de casa para um peixe vermelho, alguns ratos, um gato e uma gaivota.
Os personagens franceses
Na França, os desenhistas René Goschinny e Albert Uderzo se consagraram com as histórias de Asterix. Personagem principal dos quadrinhos, Asterix vive junto com seus amigos numa pequena aldeia na Armórica, no norte da antiga Gália, resistente ao domínio romano.
As tiras de Asterix fazem várias alusões ao século 20. Os godos são militaristas que remetem aos alemães no século 19 e 20. Os ingleses são retratados como bretões, personagens educados que conduzem do lado esquerdo da estrada, tomam cerveja quente e água quente com leite. Ao conhecerem Asterix, os bretões finalmente adquirem o hábito do chá.
A Hispânia é um lugar cheio de pessoas de sangue quente e turistas; os lusitanos são pequenos e educados, pois Uderzo dizia que todos portugueses que havia conhecido eram assim. Os próprios franceses também eram abordados com humor: os normandos comem tudo com creme e os corsos são preguiçosos e têm queijos ruins.
Autoras: Lydia Aranda Barandiain / Júlia Neves
Revisão: Simone de Mello
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in Deutsche Welle 2999.03.21
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Um dos primeiros registros de histórias em quadrinho se deu na Suíça, em 1837, com o Histoire de Monsieur Vieux-Bois (Histórias do Sr. Pau Velho), de Rudolphe Töpffer, um dos precursores do gênero. Na Alemanha, o pintor, desenhista e poeta Wilhelm Busch também foi um dos pioneiros com os personagens Juca e Chico.
Os quadrinhos na Alemanha
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Juca e Chico: pioneiros dos quadrinhos
Conhecido na Alemanha como o “avô das histórias em quadrinho”, Busch se destacava por sua irreverência, seu humor negro e pelos seus personagens, os anti-heróis Juca e Chico. Nas histórias, traduzidas para o português por Olavo Bilac, os dois meninos sempre aprontam alguma travessura para depois serem tragicamente punidos pelos adultos.
Mas embora a Alemanha tenha sido um dos lugares de origem da história em quadrinhos, a tradição dos comics não se perpetuou. “A aceitação cultural dos quadrinhos na Alemanha foi menor que na Espanha ou na França”, afirmou o professor Dietrich Grünewald, especialista no assunto.
Segundo ele, o motivo não está na má qualidade das tiras, mas no reduzido interesse popular pelas bandas desenhadas. Ainda assim, ele ressalta que o interesse científico, educacional e histórico dos desenhos alemães prevalece, razão pela qual eles não caíram em esquecimento.
Bélgica: tradição em bandas desenhadas
A tradição gráfica em francês tem grande parte de sua origem na Bélgica. As tiras começaram as ser publicadas em jornais no início do século 20. Em 1929, o belga Georges Prosper Remi publicou pela primeira vez As Aventuras de Tintim, um dos clássicos das histórias em quadrinhos que mais tarde tornou-se desenho animado.
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: Tintim: um dos maiores sucessos dos quadrinhos belgas
Os famosos Smurfs também têm origem belga. Criados em 1958 pelo desenhista Pierre Culliford, o Peyo, as pequenas criaturas azuis viviam em casas-cogumelo no meio de uma floresta e eram liderados pelo Papai Smurf, o mais sábio da aldeia.
A fama dos Smurfs no país é tão grande que, em 2008, o governo belga lançou 25 mil exemplares de uma moeda de 5 euros com a figura de um Smurf. Fabricadas para comemorar o 50º aniversário dos bichinhos azuis, elas custavam 25 euros.
Além do Tintim e dos Smurfs, a Bélgica ainda é o país de origem de dois quadrinhos mundialmente conhecidos: o Gaston Lagaffe e o Spirou e Fantasio. As duas histórias fizeram parte da edição de quadrinhos Journal de Spirou, lançada por Jean Depuis na Bélgica, em 1938.
No ano do lançamento, Depuis pediu a Robert Velter que desenhasse o personagem que dava nome à revista. Spirou era um jovem aventureiro que trabalhava em um hotel e sempre estava na companhia de um esquilo, o Spip.
Bildunterschrift: Großansicht des Bildes mit der Bildunterschrift: O francês Asterix ainda atrai milhares de leitores
Em 1943, Velter passou o personagem para o desenhista Joseph Gillain, o Jijé, e no ano seguinte, Spirou ganhou o seu companheiro inseparável, Fantasio, um repórter fotógrafo que trabalhava no jornal Moustique.
Com o tempo, a tira foi desenhada por vários cartunistas: Andre Franquin (1946-1968), Jean-Claude Fournier (1969-1979), Nic & Cauvin (1980-1983) e Phillipe Vandevelde e Jean-Richard Geurts (1981-1998). Desde 2004, Morvan e Munuera são os novos desenhistas de Spirou e Fantasio, ainda em publicação na Bélgica.
Já Gaston Lagaffe, também de Andre Franquin, começou a ser publicado em 1957 na revista de Depuis. O personagem era um sujeito preguiçoso que fazia de tudo para não trabalhar e impedir o trabalho dos outros. Protetor da natureza e dos animais, Lagaffe vivia em um pequeno apartamento, cujo escritório servia de casa para um peixe vermelho, alguns ratos, um gato e uma gaivota.
Os personagens franceses
Na França, os desenhistas René Goschinny e Albert Uderzo se consagraram com as histórias de Asterix. Personagem principal dos quadrinhos, Asterix vive junto com seus amigos numa pequena aldeia na Armórica, no norte da antiga Gália, resistente ao domínio romano.
As tiras de Asterix fazem várias alusões ao século 20. Os godos são militaristas que remetem aos alemães no século 19 e 20. Os ingleses são retratados como bretões, personagens educados que conduzem do lado esquerdo da estrada, tomam cerveja quente e água quente com leite. Ao conhecerem Asterix, os bretões finalmente adquirem o hábito do chá.
A Hispânia é um lugar cheio de pessoas de sangue quente e turistas; os lusitanos são pequenos e educados, pois Uderzo dizia que todos portugueses que havia conhecido eram assim. Os próprios franceses também eram abordados com humor: os normandos comem tudo com creme e os corsos são preguiçosos e têm queijos ruins.
Autoras: Lydia Aranda Barandiain / Júlia Neves
Revisão: Simone de Mello
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in Deutsche Welle 2999.03.21
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