Discurso de Lula da Silva (excerto)

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quarta-feira, 11 de junho de 2008

Amazônia, índios & ignorância



por Eron Bezerra*

Problemas diversos me impediram de escrever a coluna na terça-feira. A frustração da quebra de regularidade – o que para mim é muito caro - foi compensada pela oportunidade de assistir uma entrevista que acabou servindo de base para esta coluna. A “compensação” não foi, lamentavelmente, por eventuais informações ou dados relevantes sobre a sempre polêmica questão indígena.


A entrevista foi no programa “Roda Viva”, 2ª feira, a noite, com Márcio Meira, presidente da Funai. Os entrevistadores, como sempre, eram “ilustres” jornalistas dos chamados grandes veículos de comunicação.

A pauta central da entrevista naturalmente foi sobre a demarcação da reserva indígena “Raposa Serra do Sol”. O grau de ignorância demonstrado pelos “notáveis” periodistas sobre o tema em particular e sobre a Amazônia como um todo beira a raia do grotesco.

A maioria dos “notáveis” periodistas chegou ao cúmulo de dividir o conflito que opõe defensores e contrários à demarcação da reserva como uma disputa entre índios e brancos. Num país predominante mestiço essa dicotomia soaria como uma piada se não carregasse um extremado preconceito.

Outros, com a arrogância que tem notabilizado os nossos veículos de comunicação, especulavam se era justo tratar por índios “seres” humanos que falam português, se vestem à moda ocidental e são até diplomados em faculdades.

Ainda bem que não colocaram em questionamento o caráter humano dos índios, tal qual um colega Deputado que no apogeu de um discurso de “defesa” de seu compromisso com a causa indígena concluiu afirmando que “índio era quase gente”. Lembrei, igualmente, de um antigo conhecido da década de 70, quando nós já defendíamos a demarcação das terras indígenas, que sempre se opunha às nossas teses bradando: “Eron, aqui não tem índios. Eles usam calça Lee, relógio Seiko e falam português melhor do que eu”. Isso dito por um “caboclo” promovido a autoridade é compreensível. Verbalizado por um “douto” jornalista revela a pobreza intelectual de nossos “doutores”.

Mas, para ser rigorosamente justo, uma ou outra intervenção sobre o tema se pode aproveitar. Em particular a que procurou lembrar que os índios que habitam as fronteiras já foram usados como trunfo pelo governo brasileiro para reinvidicar territórios em favor do Brasil precisamente porque esses “seres” residiam em território nacional.

Diante de tanta ignorância percebi que é necessário escrever coisas básicas sobre o tema.

Em primeiro lugar é preciso ficar patente que os índios não escolheram as fronteiras para viver. Eles foram expulsos para essas regiões em decorrência das sucessivas incursões dos “brancos” – segundo os periodistas – ou dos colonizadores (termo mais apropriado) nas sucessivas batalhas que foram obrigados a travar. Ajuricaba, o herói indígena que derrotou os portugueses em sucessivas batalhas, era líder dos Manaós, que como o próprio nome sugere habitavam a região de Manaus. Não restou um único sobrevivente. Os Barés e outros grupos liderados por Ajuricaba hoje se concentram basicamente no alto Rio Negro, na fronteira com a Colômbia.

Em segundo lugar, de uma vez por todas, entendam que índio é um povo e não um estágio cultural do desenvolvimento da sociedade. Os índios, segundo os mais renovados geneticistas, são eurasianos. Migraram, em sucessivas levas, até o continente americano e aqui esperaram, por séculos, os seus ancestrais africanos e os seus descendentes europeus. Esses vários povos formaram essa extraordinária nação brasileira. Não convêm cismas e nem antagonismos movidos pelo preconceito ou por interesses econômicos inconfessáveis.

Se a nação brasileira eventualmente lhes virar às costas eles certamente buscarão guarida em outro lugar. E é com isso, em certa medida, que contam os que defendem o separatismo e eventuais autonomismos. Mas, se ao contrário, predominar a pluralidade de nossa formação nacional nós teremos uma nação mais forte e mais coesa, onde a defesa de nossas fronteiras – uma justa preocupação de caráter estratégico – não apenas deixará de ser problema para ser solução.

Talvez alguns não saibam, mas precisam saber, que a maioria dos pelotões militares de nossas fronteiras com a Colômbia, Venezuela, Peru, Bolívia e Guiana são predominante composto por soldados Tukanos, Marubos, Yanomamis, Macuxis, Barés, Tikunas, etc. Todos são índios, alguns ainda falando a língua pátria com dificuldade e sem entender adequadamente a cultura ocidental. Mas são todos brasileiros. E é assim que nós precisamos entender e agir.





*Eron Bezerra, Engenheiro Agrônomo, Professor da UFAM, Deputado Estadual Licenciado, Secretário de Agricultura do Estado do Amazonas, Membro do CC do PCdoB.



* Opiniões aqui expressas não refletem, necessariamente, a opinião do site.
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in Vermelho -
10 DE JUNHO DE 2008 - 19h38
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