Discurso de Lula da Silva (excerto)

___diegophc

sábado, 29 de dezembro de 2012

Paulo Rocha: o realizador que "viveu" cinema




É um cineasta maior, uma das referências incontornáveis de um cinema livre e inconformista gerado num país sem indústria mas com uma força imagética em que muitas vezes não acreditamos.




***

Quando morre um grande cineasta – Paulo Rocha, esta manhã, aos 77 anos – alguém que mudou a paisagem representativa de uma cinematografia como a nossa, o pior a fazer é perder muito tempo com dados biográficos: nasceu no Porto em 22 de Dezembro de 1935, abandonou os estudos de Direito para ir estudar cinema no IDHEC, em Paris, foi assistente estagiário do grande Jean Renoir em O Cabo de Guerra (1962) e assistente de Manoel de Oliveira sobretudo em Acto de Primavera (1963).
Ou seja “viveu” cinema, desde a sua participação na fundação do Cine Clube Católico com Bénard da Costa ou Nuno Bragança até à sua estreia como realizador com Verdes Anos (1963), o filme que transformou tudo no cinema português: da forma de conceber o espaço urbano, integrando na estafada dicotomia cidade-campo uma nova e radical forma de exílio, até à direcção de actores – rostos marcantes de uma nova visualidade, como Isabel Ruth, ou a recuperação de uma irreconhecível teatralidade, como Paulo Renato – passando pelas condições de produção e de escrita – um cinema “pobre”, actuante, urgente e poético. Verdes Anos não representa apenas o início do Cinema Novo, é o manifesto de uma forma revolucionária de olhar para nós e para as nossas atávicas contradições, com poucos meios, muita imaginação e com um lirismo pungente: cerca de 50 anos depois permanece vivo e perturbante, como um retrato de família de um país e de uma sociedade em ruptura e em carne viva.
Segue-se-lhe, com a sequencialidade possível num cinema bissexto, outra obra-prima, desta vez rimando com as ruínas do neo-realismo, que Rocha recompõe com o mesmo rigor e petrificação com que o poeta Carlos de Oliveira, num território afim de dunas e ventos imemoriais, refaz o seu imaginário poético nos anos 60: Mudar de Vida (1966) toca na essência do nosso trágico atavismo, filmando o mar e as sombras de um passado atabafante com o desassombro de quem pensa em fotogramas um mundo que formalmente se reformula a cada olhar. Bastariam estas duas obras iniciais, às quais o cinema português que veio depois tudo deve, para que aqui e agora o estivéssemos a lembrar com aquele ar atónito de menino grande e desengonçado que a velhice e a doença não deixariam ocultar.
O resto (e é muito) tardou e foi-se espaçando ao sabor das muitas hesitações e dificuldades que se levantam a quem faz cinema neste Portugal de eternas crises feito: o belíssimo A Ilha dos Amores (1982), desmesurada homenagem ao cinema japonês que tanto amava, com luzes vindas de um Mizoguchi transfigurado e planos-sequência de um Ozu revisto sob pretexto de um Wenceslau de Moraes mais sonhado do que biografado; o desequilíbrio de O Desejado (1987), sempre em busca de desafiar a narratividade; o regresso à genialidade na perfeição irregular de O Rio do Ouro (1998), num território que tocava o de Oliveira, mas que se lhe contrapunha em delirante e quase surreal sinfonia de sons e cores com personagens que voam para, como na pintura de Marc Chagall, unir o real mais violento ao onirismo mais poético. E saltamos pequenas (mas importantes) incursões pelo modernismo em Máscara de Aço contra Abismo Azul (1989), para televisão, ou um dos melhores documentários sobre mestre Oliveira (1993), concebido como “arquitecto” de um mundo que Rocha recebera enquanto pedra angular.
Com a mudança de século, o realizador procurava, com a mesma ousadia de sempre, redescobrir-se em universos que, por vezes, lhe resistiam: A Raiz do Coração (2000), musical com travestis e transfigurações nocturnas, na busca de um cinema popular como o que descobrira, para espanto de muitos, em A Costureirinha da Sé (incursão colorida do “neo-realista” Manuel Guimarães, em 1959, pelos resquícios da opereta e da comédia à portuguesa), escolhida para uma retrospectiva própria com selecção de outros, causou nos que o admiravam grandes perplexidades que ainda se não resolveram e que Vanitas (2004) ajudou a agudizar.
Por descobrir fica Olhos Vermelhos [título de rodagem, entretanto mudado para Se eu fosse ladrão roubava], um canto do cisne de que pouco se sabe. De uma vida cheia e intensa, feita de sonhos concretizados e desfeitos, fica um cineasta maior, uma das referências incontornáveis deste cinema livre e inconformista, gerado num país sem indústria mas com uma força imagética em que muitas vezes não acreditamos: bastaria a fabulosa elipse da morte de Ilda, a frágil heroína de Verdes Anos para podermos afirmar que Paulo Rocha está vivo naquela arte estranha de projecções de realidades que nunca existiram.

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

"O Portugal rural de Salazar transforma-se nas colónias num Portugal urbano"


  

Como construir nos trópicos em ditadura? Há uma espécie de projecto megalómano em África, de que a arquitectura e o urbanismo são entidades catalisadoras, quando as independências já tinham começado nas outras potências colonizadoras. “Como é que um país pobre, atrasado desenvolve, em paralelo, um esforço de instalação num território fora do seu perímetro?”, é uma das perguntas que Ana Vaz Milheiro explorou no seu novo livro.


  • Nos Trópicos sem Le Corbusier, novo livro de Ana Vaz Milheiro, é retratada a arquitectura colonial pública, que junta técnicas essenciais às condições meteorológicas e elementos que remetem para a metrópole, conferindo aos edifícios uma certa portugalidade nos territórios ultramarinos.
    Ana Vaz Milheiro reúne, neste livro, textos resultantes das suas investigações que começam no seu doutoramento, na Universidade de São Paulo, e que escreveu entre 2007 e 2011, para encontros internacionais ou conferências onde era oradora. “Muitos ficavam lá nas actas brasileiras e, às vezes, aqui não tinham circulação. Isto foi também um pouco para as pessoas poderem consultá-los”, disse crítica de arquitectura do PÚBLICO.
    “É uma grande contribuição”, afirmou Mónica Junqueira de Camargo, sua amiga e professora na Universidade de São Paulo, na apresentação do livro que teve lugar no colóquio internacional "Portugal – Brasil – África: Urbanismo e Arquitectura", que decorreu na Universidade Autónoma de Lisboa: “Ana faz-nos aproximar dessa realidade [colónias ultramarinas] através da articulação entre os textos e as imagens”. Walter Rossa, autor do prefácio do livro, destacou a importância das colectâneas: para os autores que conseguem ordenar e até complementar algumas das suas ideias e para os universitários que têm uma base de estudo e textos que às vezes estão perdidos.
    Como surge o interesse pela arquitectura colonial neste período específico, no Estado Novo?
    Há muitos trabalhos na área da arquitectura moderna, tem-se valorizado a produção de matriz portuguesa, principalmente em África. E a arquitectura de representação nacional, aquela que está nos equipamentos públicos, nos hospitais, nos liceus, nas câmaras municipais, nos palácios do governo - por ser conotada com o poder colonial e com o poder político, tem-se olhado menos para ela.
    Quando comecei a pensar estudar arquitectura africana, pareceu-me que era muito interessante começarmos por essa arquitectura de promoção pública. Porque a relação aqui é estabelecer uma afectividade entre o espaço que passa a ser também Portugal - deixa de ser colonial e passa a ser ultramarino, um Portugal fora da Europa - e Lisboa. Há uma necessidade de recordar que estamos em Portugal e a arquitectura sempre foi de regime, mesmo a arquitectura moderna, porque a arquitectura é sempre promovida por um regime político e, portanto, serve-o.
    O outro ponto era perceber, mas só no decorrer do trabalho é que o compreendi, qual é que era a escala efectiva desta produção em termos de concretização, ou seja: Portugal nos anos 50 é um país subdesenvolvido, com imensos problemas internamente, basta ver o inquérito à arquitectura portuguesa que os arquitectos fazem em 54 para perceber que as imagens são de extrema pobreza, de miséria económica, social. E, como é que um país pobre, atrasado desenvolve, em paralelo, um esforço de instalação num território fora do seu perímetro, dentro de um quadro político internacional que lhe é hostil?
    Portugal rural de Salazar é um Portugal que nas colónias se transforma num Portugal urbano. Os planos, as avenidas, os equipamentos: há uma espécie de projecto megalómano de que a arquitectura e o urbanismo são entidades catalisadoras. Isto também é uma experiência única, porque em 50 começam os processos de independência dos outros países e nós mantemos o nosso império colonial até 74. Nós temos uma experiência que não há nos outros países e nas outras potências colonizadoras, também isso é uma história completamente única e invulgar, uma vez mais idiossincrática como é a história portuguesa.
    É muito difícil encontrar qualidades num edifício que tem um peso, que evoca um poder político e pouco favorável. Portanto, a história tinha passado completamente ao lado desses processos. Com isso, Angola e Moçambique eram muito estudados porque a arquitectura moderna é dominante. Os outros três países africanos ficavam de fora porque depois não têm essa produção moderna, só têm esta outra, ou têm-na em maior número.
    Este trabalho permitiu perceber também que a evolução das culturas arquitectónicas na África que também fala português – se em Angola e Moçambique é de facto no sentido desse projecto moderno – em S. Tomé e Príncipe, na Guiné-Bissau e em Cabo Verde vai ser no sentido de uma maior proximidade com a cultura metropolitana.
    Como se desenrolou o processo desta narrativa?
    A questão que me interessava era perceber como é que essa arquitectura surgia. Depois havia a felicidade de estes projectos estarem em Lisboa, porque estão no Arquivo Histórico Ultramarino, a maioria deles, outros no centro de documentação do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento (IPAD) e portanto eu podia ter um primeiro acesso aos desenhos e aos projectos. Comecei por aí, em 2008: a abrir caixas, a ver os desenhos e depois comecei a pesquisar bibliografia, a ver na net, se os edifícios que estavam naqueles desenhos tinham sido concretizados e se ainda estavam em uso.
    E depois é que começámos a estabelecer as autorias dos arquitectos. As pessoas diziam: “Palácio do governo de Bissau, quem fez?”, ninguém sabia. “Ah, é uma coisa do Gabinete de Urbanização Colonial”, mas quem efectivamente é que desenhou? O que nós chegámos à conclusão também é que este organismo que estava sediado em Lisboa e que fazia esta arquitectura de representação também tinha várias faces porque teve vários arquitectos e iam mudando, iam aplicando um pouco mais as suas ideias e não era uma produção tão homogénea como poderia parecer. Embora seja um sinal reconhecível, há uma familiaridade entre a produção que, depois com um olhar mais treinado, a gente já consegue, às vezes, reconhecer.
    Os elementos da arquitectura moderna surgem por influência da experiência brasileira?
    É inegável que o Brasil, ao fazer uma reconversão dos valores da arquitectura moderna de via corbusiana numa arquitectura adaptada aos trópicos, criou uma matriz que era muito fácil de reproduzir em ambientes de condições climatéricas idênticas. Mas a experiência não é só brasileira. Nós é que, como temos uma afectividade muito forte com o Brasil, tendemos a ler esses sinais brasileiros. Na verdade, quando se percorre um bocadinho mais a fundo, percebe-se que na cabeça destes arquitectos não é claro que seja brasileiro.
    Um arquitecto moderno nunca admite uma influência porque a arquitectura, para ele, é técnica, não é expressão plástica. Ao admitir uma influência, estaria a admitir a presença de uma artisticidade. Com excepção do Castro Rodrigues, no Lobito, é muito difícil encontrar um arquitecto que diga: “é brasileiro” ou é outra coisa qualquer. Temos que ter um certo cuidado. Por um lado, porque eles obviamente recebem as coisas muito mais difusas do que imaginamos. Cabe ao historiador tentar encontrar grandes linhas de enquadramento e, nesse sentido, a presença da forte cultura brasileira na cultura internacional, como potência que já prefiguravam ser e como potência do movimento e da arquitectura moderna que são, coloca os holofotes nela própria. Mas é muito mais difuso do que isso até porque, nos documentos da época, não é muito fácil encontrar, com algumas excepções, uma admissão desse brasileirismo. Agora, estão lá as palas, as grelhas, está lá o Lúcio Costa [pioneiro da arquitectura moderna no Brasil].
    Portugal estaria mais aberto a elementos da arquitectura moderna se não tivesse vivido o período do Estado Novo?
    Uma vez o Adriano Moreira, numa entrevista que lhe fiz, sintetizou isto muito bem. Não é que houvesse uma cartilha que dissesse “isto tem que ser assim” mas havia um certo sentido que um edifício de representação tinha que ter, uma certa solenidade. Não é nenhuma cartilha, mas é uma consciência. Quando eu falava com os arquitectos dizia: “Mas vocês os arquitectos eram tão modernos nos outros edifícios que faziam, tão modernos nas plantas, depois o que acontecia nos alçados?” Um deles disse-me: “Oh Ana, a fachada não interessa, o que interessa é que a planta funcione, que a ventilação cruzada se dê e que a fachada fique suficientemente protegida do sol e da chuva. É isto que é projectar para os trópicos. Agora, se ela tem lá mais uns elementos ou não, isso é secundário”.
    Eu hoje acredito que não [que a ditadura não limitou a arquitectura moderna]: havia arquitectos do regime que eram modernos e arquitectos anti-regime que eram conservadores. Penso que, eventualmente a partir dos anos 50, o regime era muito tolerante em relação às manifestações cá, em Portugal continental e menos lá, ao contrário do que se diz. Os edifícios que saíam daqui para lá eram menos historicistas do que os que eram feitos cá, nos organismos públicos. É comparar o Liceu D. Leonor com o antigo Liceu D. Guiomar de Lencastre, hoje Liceu Rainha Mingas, em Luanda. É ver estes dois edifícios - um produzido em 58, o outro em 56 - e perceber como o de cá é menos esquema mas é mais envidraçado, e não tem determinados elementos que o de lá vai ter.
    É muito difícil dizermos que Portugal poderia ser muito mais tolerante arquitectonicamente se não tivéssemos tido uma ditadura, o que nós podemos dizer é que para alguns arquitectos o moderno era um programa político, isso está inscrito no ADN da revista Arquitectura, a partir 47: “ser moderno é um discurso ideológico político por um Portugal mais progressista” e, portanto, um Portugal não ditatorial. O que não significa que não houvesse arquitectos mais simpatizantes do regime que não fossem igualmente modernos. Agora, se teríamos sido mais modernos se não houvesse ditadura, não sei, é muito difícil dizer o que é que a história poderia ser se tivéssemos outra coisa qualquer.
    As técnicas e materiais utilizados na arquitectura moderna, que eram adaptáveis ao clima dos trópicos, ainda são aplicadas hoje?
    As técnicas usadas nos edifícios oficiais, desenvolvidos pelos “homens do gabinete”, como eu lhes chamo, são técnicas correntes que ainda hoje se aplicam em toda a parte do mundo. Os outros edifícios eram mais experimentais, os edifícios dos arquitectos modernos, aqueles que são mais celebrados pela historiografia e mais difíceis de reproduzir. 
    O que é muito interessante notar, no caso africano, é que os edifícios modernos, como são mais experimentais são menos resistentes ao tempo. Uma das coisas que estes homens eram obrigados, nos gabinetes oficiais, era a trabalhar com materiais que tivessem uma certa resistência porque estes edifícios iam ter pouca manutenção. Tanto que hoje em dia, em Portugal e em qualquer sítio do mundo, é muito mais difícil recuperar um edifício moderno, do séc. XX, do que um edifício antigo construído no séc. XV. O edifício do séc. XV é pedra, tijolo, argamassa e pouco mais. O edifício moderno tem inclusivamente materiais industriais que já não existem disponíveis, porque já não são produzidos e é muito mais difícil mantê-los.
    Mas é necessário, quando se constrói nesses territórios, ter sempre em conta o clima...
    É evidente: o clima, a ventilação, a chuva, tudo isso eram princípios que eles aprendiam, a tal “arquitectura tropical”. Aliás, o Marcelo Caetano quando cria o Gabinete de Urbanização Colonial, em 1944, ele quer criar uma escola, um laboratório de arquitectura tropical, ele só não sabe exactamente o que será mas quer que haja um aprofundamento dessas técnicas arquitectónicas, para a construção ser mais eficaz.
    Por exemplo, eles não podiam usar o ar condicionado porque não lhes interessava: existia mas não lhes interessava porque era muito caro manter, os próprios edifícios tinham que ser autónomos em relação a ventilação. Essas eram técnicas com as quais eles trabalhavam permanentemente na execução desses edifícios, quer se fizesse moderno quer se fizesse menos moderno: a ventilação, o ensombramento das fachadas, o desaproximar o edifício do solo, etc.
    A nível arquitectónico, quais são as diferenças entre a “casa portuguesa” e a “casa portuguesa ultramarina”?
    O que se pretendia com essas casas desenhadas para os colonos (homens, mulheres, famílias), que vinham do meio rural português e que iam para um meio rural africano era dar referências que elas reconhecessem. Como Mário de Oliveira dizia: “não se podia desenraizar as pessoas totalmente de tudo”. O que os arquitectos nos anos 50 procuram é transformar aquilo que eram características que eles achavam que eram da arquitectura popular portuguesa - reconhecíveis por essas pessoas e comunidades - em características dos trópicos, que servissem as questões do clima: ventilação, ensombramento, etc. O alpendre ficava maior, as ventilações eram feitas mas o essencial da casa mantinha-se: uma casa portuguesa que eles chamavam 'casa portuguesa ultramarina'.
    Por exemplo, tudo o que é construído no Colonato da Cela [Angola], que é um empreendimento absolutamente incrível, para o Conene [também Angola] e para o Limpopo, em Moçambique, foram experiências de uma casa tradicional à portuguesa mas em que esses temas da portugalidade foram adaptados aos trópicos.
    É criticável, porque é que eles não trabalhavam com temas africanos? Porque as populações eram europeias. Porque quando estes mesmos arquitectos vão trabalhar para os africanos vão tentar incorporar elementos da arquitectura tradicional africana. Isso é que nós não sabíamos e este trabalho prova que isso é verdade.
    Como é feita essa adaptação à cultura africana?
    A casa é um elemento civilizador e, eles sabiam, não se pode passar de uma cobata [casa tradicional africana] para o apartamento, tem que haver uma transição. E quando eles vão trabalhar com estas populações africanas, procuram compreender: fazem levantamentos sobre as várias casas africanas, os materiais, a organização da família. Como os arquitectos modernos trabalham com os valores da localidade, estes arquitectos do Estado Novo também têm essa preocupação, porque sabiam que não havia outra maneira de fazer, até porque era impossível produzir habitação para toda a população africana.
    Eles tinham que, primeiro, mudar a planta, trabalhar com os sistemas construtivos que os africanos conheciam, para serem eles a construir em sistemas de auto-construção. Há alguns casos de empreendimentos para as populações africanas que são desenhados de raiz, mas depois acabam por não ser tantos quando se percebe que é impossível dar resposta a todas as necessidades.  
    Quais são essas características da casa tradicional africana que os arquitectos portugueses exploram?
    Há uma frase de Mário de Oliveira, num artigo escrito em 1965, que penso que elucida a questão:"O urbanista de hoje, para ser autêntico, deve partir do princípio profundamente humano de que uma cidade não são apenas as casas, ruas, avenidas, praças, etc., antes a comunidade que nela vive e convive, com os seus diversos grupos, suas instituições, seu modo de viver, suas tradições e seus costumes." 
    O mais importante era respeitar a organização social e familiar do habitante africano - melhorar a casa tradicional através de alterações funcionais da planta. As técnicas e materiais construtivos deveriam ser os conhecidos pelos povos africanos de modo a que estes pudessem construir - em sistema de auto-construção - as suas habitações. Respeitavam-se ainda os lugares dos assentamentos populares por serem considerados os melhores face ao clima, ventos, etc.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Guatemala Turistas danificaram templo maia no dia do 'Fim do Mundo'


Notícias ao Minuto

Turistas que rumaram para a Guatemala para as festividades do 'Fim do Mundo', danificaram um templo

Turistas danificaram templo maia no dia do 'Fim do Mundo'

22:26 - 23 de Dezembro de 2012 | Por Lusa

"Infelizmente, muitos turistas subiram ao Templo II e causaram estragos", lamentou, citado pela agência AFP, Osvaldo Gomez, técnico do sítio arqueológico, localizado cerca de 550 quilómetros a norte da capital guatemalteca, Cidade da Guatemala.
A fonte não especificou os danos, que avaliou como irreparáveis, mas lembrou que é proibido subir a escadaria do templo, que tem cerca de 38 metros de altura e está defronte da praça central de Tikal.
Na sexta-feira, dia do anunciado 'Fim do Mundo', o fim de um ciclo do calendário maia, mais de sete mil pessoas visitaram Tikal para assistir às festividades.~

Vozes críticas queixaram-se de que o evento foi feito para os turistas e que pouco tinha que ver com a cultura maia.

A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e Cultura) declarou em 1979 Tikal como Património Mundial.

sábado, 22 de dezembro de 2012

Região Norte abre dez fortalezas da costa a turistas


Fortalezas da Costa Norte de Portugal


Com esta brochura, o TPNP pretendeu organizar e diversificar a oferta turística do Porto e Norte de Portugal, proporcionando ao  visitante/turista informação sobre as potencialidades turísticas do território, contribuindo, também, para elevar a atractividade deste destino e diminuir a sazonalidade da permanência turística na Região



Público

Os monumentos ficam a cargo de diversas entidades, que determinam o tipo de visitas.
O Forte S.João Baptista, no Porto, está entre os monumentos abertos ao público PAULO RICCA

A partir desta terça-feira, são dez os fortes e fortalezas na região Norte que passam a estar abertos ao público, numa iniciativa promovida pelo Turismo do Porto e Norte. Como complemento, é lançada a brochura turística “Fortalezas da Costa Norte de Portugal”, que engloba informações sobre os monumentos e dicas turísticas sobre a zona em que se encontram.

“Pretendemos proporcionar uma visita aliciante ao território, dedicada à temática do mar, proporcionando actividades que conciliam, de forma harmoniosa, as potencialidades e a riqueza dos diferentes recursos turísticos”, resumiu ao PÚBLICO Melchior Moreira, o presidente da Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP).
Entre os locais que passam a estar acessíveis aos visitantes encontram-se fortes como o da Ínsua, no Moledo, ou da Lagarteira, na Vila Praia de Âncora, ou fortalezas como a de Santiago da Barra (Viana do Castelo) e a de São João Baptista (Porto). As modalidades e horários de visita variam conforme o monumento, já que, como esclarece Melchior Moreira, estão sob a gestão de diferentes entidades, que determinam quais estarão “permanentemente abertos ao público” e quais “carecem de autorização e de marcação prévia”.  
Segundo o responsável do TPNP, o papel do organismo consistiu em “organizar e estruturar a informação e a oferta turística, de forma a aumentar a notoriedade do destino turístico”. O resultado é uma brochura, de 46 páginas, já disponível em toda a rede interactiva de lojas e postos de turismo, nas fortalezas visitáveis ou no aeroporto Francisco Sá Carneiro.
Para além da informação sobre os fortes e fortalezas que abrem agora ao público, o documento inclui informações úteis para os turistas sobre outras atracções da região – entre outros dados, registam-se pontos de interesse; resume-se a paisagem, fauna e flora; destacam-se praias, eventos, desportos ou a gastronomia. O objectivo da brochura é contextualizar geograficamente os monumentos: “Procuramos proporcionar o aprofundamento e o conhecimento da sua história, enaltecer o seu valor cultural, valorizar e divulgar o conjunto da nossa oferta”, referiu Moreira.
O conjunto destas “Fortalezas da Costa Norte de Portugal”, com estruturas erigidas ou alvo de alterações significativas entre os séculos XIII e XVIII, completa-se com as fortalezas de Caminha, Nossa Senhora da Conceição (Póvoa de Varzim) e Nossa Senhora das Neves (Matosinhos); e os fortes de São João Baptista (Vila do Conde), de Esposende e de São Francisco Xavier (Porto).
Todos eles, exemplos de monumentos “muitíssimo importantes do ponto de vista patrimonial”, conforme disse ao PÚBLICO Alexandre Alves Costa. O arquitecto e historiador salienta que estas construções foram “um veículo para a entrada de tendências da arquitectura contemporânea e internacional em Portugal”, nomeadamente “a nível de construções, técnicas ou desenho”.

Padaria histórica em risco de destruição

20 de Dezembro, 2012
por Margarida Davim
As novas regras de Segurança Alimentar estão a pôr a perigo uma padaria Art Déco, que existe na Rua de Angola, em Lisboa, desde 1933. O balcão em pedra lioz e mármore pode ter de ser destruído por não ser refrigerado.O alerta é dado pelo Fórum Cidadania Lx, que faz um apelo ao presidente da Câmara de Lisboa, António Costa, para que classifique a antiga padaria e impeça a sua destruição.

«Este é um estabelecimento comercial que faz a diferença», sublinha o movimento, explicando que «esta padaria mantém, intacto e em óptimas condições, o balcão original todo em mármore e lioz desenhado especificamente para o local em 1933», que é já uma «autêntica raridade» tendo em conta o desaparecimento por toda a cidade de locais deste tipo.

Para os membros do Fórum Cidadania Lx, o velho balcão é uma peça que «pode perfeitamente ser adaptada aos novos tempos, mas com sensibilidade e bom senso».

Por isso, apelam a António Costa para que «a lei da Segurança Alimentar não seja cega e indiferente a esta jóia do Art Deco lisboeta».

A padaria dos Anjos, da autoria do engenheiro Pedro Nunes, está intacta desde que foi inaugurada em 1934 e está revestida a azulejos da famosa Fábrica Lusitânia, com motivos Art Déco, incluindo dois painéis ovalados retratando o fabrico de pão e criados especificamente para este estabelecimento.

Os mosaicos do pavimento, os estuques do tecto e a frente de loja com montras em caixilharias de ferro são outros elementos decorativos que representam o período Art Déco.

«Será muito provavelmente a única Padaria Art Déco que resta na capital com este nível de autenticidade e qualidade artística», sublinham os membros do movimento cívico, acrescentando que a loja «é propriedade da PRAGAL, Padarias Reunidas da Graça e Alfama, empresa que está consciente da sua beleza e do valor patrimonial, mas que se vê obrigada a fazer obras de alteração por força de uma Lei que ainda não considera as especificidades do património arquitectónico».


E 136 anos depois, o mapa-múndi das espécies animais foi actualizado



ANA GERSCHENFELD 21/12/2012 - 15:16

O mapa utilizado até aqui para estudar a biodiversidade dos vertebrados à face da Terra datava de 1876. Desde ontem, há um novo mapa, que integra a árvore genética das espécies.


Uma equipa internacional de investigadores, entre os quais um especialista português de biodiversidade, combinou os dados evolutivos e geográficos - coligidos ao longo de 20 anos sobre 21.037 espécies de vertebrados - e produziu um mapa "moderno" da distribuição geográfica de todos os mamíferos não-marinhos, dos anfíbios e das aves actualmente conhecidos.

O novo mapa, apresentado ontem ao fim da tarde na edição online da revista Science, actualiza e "corrige" o mapa utilizado até aqui pelos especialistas como base para os estudos da biodiversidade animal no nosso planeta. Um mapa que data de... 1876 e cujo autor foi o naturalista britânico Alfred Russel Wallace, co-descobridor, independentemente de Charles Darwin, da teoria da selecção natural das espécies.

Os autores da actualização confirmaram agora, no novo mapa, que existem muitas semelhanças com o mapa do século XIX. Mas, graças à massa de informação genética hoje disponível, revelaram também diferenças que podem ser essenciais para a concepção de futuros programas de conservação das espécies.

"Wallace era um naturalista extraordinário", disse ao PÚBLICO Miguel Araújo, professor da cátedra de Biodiversidade Rui Nabeiro do Centro de Investigação em Biodiversidade e Recursos Genéticos (CIBIO) na Universidade de Évora - e co-autor do trabalho. "Viajou pelo mundo inteiro e verificou que, em cada região, existiam espécies diferentes, de aspecto diferente."

Porém, Wallace apenas dispunha de informação sobre um número limitado de espécies, na maioria mamíferos, que tinha visto no terreno durante as suas viagens ou cuja existência conhecia através de amigos e colegas. Ora, essa situação é hoje radicalmente diferente: "Nos últimos anos, tem-se estado a reconstruir os mapas biogeográficos dos mamíferos, dos anfíbios e das aves", explica Miguel Araújo. "Toda esta informação [sobre a distribuição das espécies] é muito recente."

E por outro lado, Wallace também "não tinha a árvore da vida, embora ela já estivesse, de forma qualitativa, por trás da sua classificação", salienta o cientista. "Nós tivemos agora em conta as filogenias todas", incluindo uma nova árvore genética das aves, que a equipa publica online juntamente com o seu artigo.

Os reinos e a linha de Wallace
Com base nas suas observações, Wallace, considerado o "pai" da biogeografia, tinha dividido o mundo em seis grandes "reinos". O novo mapa vem acrescentar cinco novos reinos, que podem ainda ser subdivididos em 20 regiões mais pequenas. "Os reinos fornecem uma informação muito prática, muito clara, da origem evolutiva comum das espécies", diz ainda Miguel Araújo. Porém, conforme o tipo de aplicação, pode ser precisa a distribuição mais fina em regiões.

Novidades? "Wallace pensava que Madagáscar estava ligada à África", refere o cientista, "mas segundo nós é um reino perfeitamente independente". E mais: "A origem evolutiva de Madagáscar é mais próxima da Índia do que da África." O resultado bate certo com o que se sabe da tectónica das placas: Madagáscar separou-se da Índia e não de África.

Outra diferença em relação ao velho mapa é o facto de o Norte de África unir-se agora num único reino com a Península Arábica (num conjunto designado reino saro-arábico), quando até aqui estava incluído no reino paleárctico, que engloba a Eurásia. Também foi possível distinguir, a sul do paleárctico, um reino sino-japonês. E quanto à Nova Zelândia, passou a pertencer ao mesmo reino que a Austrália, o que não era o caso até aqui. Ao mesmo tempo, o reino australiano original ficou partido em dois: australiano e oceânico (este último incluindo a Nova Guiné e as ilhas do Pacífico).

"Madagáscar é um caso especial", explica ainda o cientista. "Se tivéssemos de atribuir medalhas, a de ouro iria para a Austrália, que é a região mais individualizada do planeta e a que tem a fauna mais diferente; a de prata iria para Madagáscar e a de bronze para a América Latina, que permaneceu muito isolada e longe dos grandes fluxos de migração."

As novas características biogeográficas agora reveladas deverão ter implicações importantes ao nível dos programas de conservação das espécies. "Se Madagáscar estivesse ligada à África, a sua prioridade em termos de conservação seria menor", exemplifica Miguel Araújo. Mas com uma fauna única no mundo, trata-se de algo "mais universal" e a sua prioridade no panorama da biodiversidade passa logo para outro patamar.

Uma outra questão que o novo mapa poderá agora vir resolver diz respeito àquilo que hoje é conhecido como "linha de Wallace" - um obstáculo à dispersão das espécies animais que, segundo teorizou aquele naturalista, marcaria uma separação entre as faunas do seu reino oriental (que inclui o subcontinente indiano e o Sudeste asiático) e o da Austrália. Wallace colocara essa fronteira natural no estreito de Macáçar, entre Bornéu e a ilha indonésia de Celebes. "Tem havido um grande debate sobre onde passa a linha", diz Miguel Araújo, acrescentando terem agora confirmado que está essencialmente muito perto da localização atribuída por Wallace.

Será que os especialistas de biodiversidade vão já passar a utilizar o novo mapa? Para Miguel Araújo, não há dúvidas de que, a partir de agora, "o mapa de Wallace está desactualizado". O novo mapa será, entretanto, colocado à disposição da comunidade internacional, em particular através do Google Earth.



segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

O homem (na verdade, a mulher) das Flores já tem um rosto



 

Espécie que viveu até há 12 mil anos, numa ilha da Indonésia, era tão pequena que os cientistas chamaramhobbits aos seus membros. Afinal, as criaturas imaginadas por Tolkien em O Senhor dos Anéis até existiram

Não é propriamente o que se chamaria uma mulher bonita, mas as suas feições eram, sem dúvida, distintivas. Palavras da antropóloga australiana Susan Hayes, depois de ter revelado ao mundo como era o rosto de uma mulher que viveu há 18 mil anos na ilha indonésia das Flores, naquela que é a primeira reconstrução facial de uma pessoa desta espécie de humanos.
A história da descoberta desta espécie, com quase uma década, lançou muita confusão na árvore evolutiva humana, já de si complexa. Em Agosto de 2003, uma equipa de cientistas australianos e indonésios encontrou o fóssil de uma mulher, incluindo o crânio, na gruta de Liang Bua. No ano seguinte, na revista Nature, a equipa anunciava a descoberta e defendia tratar-se de uma nova espécie de humanos. E eis que começava a controvérsia: antes de mais, porque até essa altura estávamos convencidos de que há muito mais tempo éramos os únicos humanos que restavam no planeta.
Na viagem evolutiva dos humanos, os neandertais eram até aí considerados os nossos últimos companheiros. Desapareceram há cerca de 28 mil anos, tendo a Península Ibérica como último refúgio, depois de terem vivido por toda a Europa.
Mas o fóssil da mulher com 18 mil anos, o primeiro exemplar descoberto, serviu de referência para identificar a nova espécie. O Homo floresiensis, ou homem das Flores, teria surgido há cerca de 95 mil anos e a sua existência ter-se-ia prolongado até há 12 mil anos, quando desapareceu e, aí sim, nos deixou sozinhos, como espécie humana, na Terra.
Como a mulher já era adulta, isso mostrava que aqueles humanos teriam apenas um metro de altura e 25 quilos. Por serem tão pequenos, os cientistas pensaram nas criaturas minúsculas do mundo imaginado por J. R. R. Tolkien em O Hobbit e na trilogia O Senhor dos Anéis, a ponto de considerarem chamar-lhe Homo hobbitus, em vez de Homo floresiensis.
Além da sua coexistência tardia com a nossa espécie, o Homo sapiens, oshobbits reais das Flores eram polémicos precisamente devido ao crânio muito pequeno. Isso implicava uma capacidade craniana de apenas 380 centímetros cúbicos, idêntica à dos chimpanzés.
Uma aproximação
Seriam então uma espécie nova ou apenas indivíduos doentes da nossa própria espécie? Referindo-se a esta última hipótese, houve cientistas que avançaram que o homem das Flores sofria de microcefalia, uma patologia caracterizada por um crânio e um cérebro muito pequenos e deficiências mentais. Outra hipótese considerava os hobbits como Homo sapiens pigmeus, pois ainda hoje vivem nas Flores populações de baixa estatura.
Mas, para a equipa que escavou e estudou os fósseis do Homo floresiensis, coordenada pelo arqueólogo Mike Morwood, da Universidade de Nova Inglaterra, na Austrália, uma das provas de que era uma espécie distinta estava na ausência de queixo. Só a nossa espécie tem queixo.
Vários estudos têm reforçado a tese de que o homem das Flores era uma espécie distinta, baseando-se, por exemplo, na comparação da forma do seu cérebro com o de indivíduos microcéfalos e saudáveis da nossa espécie e ainda na análise dos ossos do pulso. O seu lugar na árvore evolutiva e que relação tinha connosco é que continuam por determinar.
Só que, até agora, nunca tínhamos visto uma reconstrução da cara do homem das Flores – ou melhor, da mulher das Flores –, porque só o primeiro exemplar descoberto tem o crânio completo, embora tenham entretanto sido encontrados fragmentos de vários indivíduos.
Especialista em reconstrução facial, Susan Hayes, da Universidade de Wollongong, na Austrália, deu agora um rosto à mulher das Flores, moldando músculos e gordura sobre uma réplica do crânio. Assim, a cara foi ganhando "carne" e o resultado foi divulgado numa conferência de Arqueologia na Universidade de Wollongong, numa altura em que, por todo o mundo, também se tem estreado o filme O Hobbit: Uma Viagem Inesperada.
Maçãs do rosto proeminentes e um nariz largo são algumas surpresas, refere um comunicado da universidade australiana. Perante o resultado, Susan Hayes reconheceu então que a mulher não seria uma beldade. "Não diríamos que era bonita, mas era seguramente distintiva."
Como é que a antropóloga sabia que espessura de tecidos moles pôr no rosto dos hobbits, uma vez que não existem dados específicos para essa população desaparecida? Susan Hayes responde ao PÚBLICO que usou dados existentes para a população mundial com as espessuras médias dos tecidos moles: "São aplicáveis a todas as populações e baseiam-se num grande conjunto de dados, por isso são muito fidedignas. Para o Homo floresiensis, usei um subconjunto destes dados, uma vez que o crânio dela é muito pequeno."
E o que traz de novo a reconstrução do rosto desta mulher? Traz algumas provas sobre a aparência de outros humanos, diz Susan Hayes. "Mas, tal como toda a ciência, os resultados do trabalho baseiam-se no que sabemos hoje sobre o crânio, sobre a sua relação com os tecidos moles e a população em questão. Como todo o meu trabalho, é sempre uma aproximação."
Num comentário ao trabalho, Darren Curnoe, da Universidade de Nova Gales do Sul, na Austrália, disse que o rosto é mais moderno do que esperava. "Os ossos parecem-se um pouco como os dos pré-humanos que viveram há dois ou três milhões de anos, mas, com esta reconstrução, vê-se como são surpreendentemente modernos", disse o especialista em evolução humana. "É interessante ver uma nova abordagem baseada na ciência forense, que pode melhorar a compreensão de como era o aspecto do Homo floresiensis. Até agora, vimos interpretações artísticas, muito bonitas, mas esta dá-nos uma visão mais científica e rigorosa do aspecto do hobbit."