Discurso de Lula da Silva (excerto)

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sábado, 30 de abril de 2011

Santo? Críticos de João Paulo II duvidam



30.04.2011 - 08:30 Por António Marujo, em Roma
"Santo súbito!", pediu o povo católico que esteve no funeral de João Paulo II, em Abril. "Santo? Duvido...", responde outra parte do mesmo povo, que tem reservas em relação à rapidez do processo e ao próprio papel do Papa polaco em relação a alguns temas da sua liderança de 26 anos e meio na Igreja Católica. Por contraste, esses mesmos sectores lançaram esta semana uma petição a pedir a imediata canonização de Oscar Romero, o arcebispo de El Salvador que, em 1980, foi assassinado por esquadrões da morte militares daquele país.
"A santidade é outra coisa", disse o teólogo James Carrol  
"A santidade é outra coisa", disse o teólogo James Carrol (Stefano Rellandini/Reuters)

Este acto deveria encorajar os cristãos do Ocidente a viver novas formas de cristianismo inspirada "no espírito de Romero", de apoio aos "mais pobres" e de busca de mais justiça.

Posta a circular esta semana pelo movimento Nós Somos Igreja (NSI), da Alemanha, a petição conta já com centenas de assinaturas. Entre elas estão as dos bispos Jacques Gaillot, de França, e Luís Flavio Cappio, do Brasil, a dos teólogos Hans Kung, Leonardo Boff, Eugen Drewermann, Carlos Mesters ou Elisabeth Schüssler Fiorenza.

Ao ter assumido a defesa dos pobres do seu país e ao ser sido assassinado por causa disso, Romero deveria já ter sido canonizado, diz ao PÚBLICO Ana Vicente, do NSI-Portugal. Ao contrário, o então arcebispo de El Salvador terá ficado desiludido com os dois encontros que teve com João Paulo II, logo em 1979, tendo sido objecto de críticas do Vaticano.

Já antes, o NSI e outros grupos tinham criticado a beatificação de João Paulo II. Está em causa, para estes críticos, o modo como o Papa polaco geriu várias questões. "A sua atitude perante as denúncias dos abusos sexuais do clero e a sua perseguição a teólogos e teólogas" são dois dos temas principais, diz Ana Vicente. "Mais de 100 teólogos" foram condenados ou chamados a Roma para explicações, recorda a responsável do NSI, um movimento católico que tem pedido uma série de reformas dentro da Igreja.

Não se pense, no entanto, que as críticas vêm apenas dos católicos "contestatários". Um importante clérigo do Vaticano dizia ao PÚBLICO que "a História ainda não teve tempo para fazer o seu julgamento".

Admitindo o gigantismo da figura humana de João Paulo II, este responsável olhava para o ecrã gigante colocado na Praça de São Pedro, mostrando imagens do pontificado de Wojtyla: "Quem vai ser canonizado é o Papa viajante", diz.

Também o papel de João Paulo II na gestão dos casos de abusos sexuais do clero é posto em causa por este eclesiástico: o apoio que ele deu ao padre Marcial Maciel, fundador dos Legionários de Cristo, e ele próprio um pederasta, consumidor de droga e adúltero condenado pelo Vaticano já sob Bento XVI, leva este padre a dizer que a liderança católica actual deveria ter usado mais da prudência - uma virtude que é apresentada como importante noutras situações.

Ontem mesmo, em declarações à AFP, a rede de vítimas de abusos de padres, dos Estados Unidos, recomenda que a eventual canonização de João Paulo II seja desacelerada, tendo em conta que a maior parte das denúncias de abusos vieram a público durante o pontificado do Papa polaco.

Os críticos recordam que nem tudo luziu no pontificado de 26 anos e meio. A Adista, agência de informação católica italiana, fez um levantamento dos casos mais polémicos. E recordou a chamada à ordem dos padres jesuítas, em 1981, os sucessivos inquéritos e condenações de teólogos por causa de afirmações que punham em causa a verdade institucional católica, as restrições à colegialidade dos bispos, o "não definitivo" ao sacerdócio feminino, a condenação do pluralismo religioso ou a equiparação entre o Holocausto e o aborto.

"Tenho muita consideração pela pessoa - a sua juventude heróica, a sua autenticidade, a sua coragem histórica perante o regime comunista da Polónia. Há muito a honrar por essas razões", dizia à Reuters o teólogo e ex-padre James Carrol. "Mas a santidade é outra coisa. Creio que ele fez muito mal à Igreja de diversas maneiras."

Ana Vicente acrescenta que a avaliação de uma vida e da santidade de uma pessoa são sempre subjectivas. "Quer Romero, quer João Paulo II tinham qualidade e defeitos." Mas "os que seguem Jesus Cristo fazem-no mais por aquilo que são capazes de concretizar ao longo da sua vida do que por causa de um milagre".

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito bom o artigo. Se não me engano a Dawn Ades tem um livro muito bacana sobre essa temática, uma pena que não estou em casa agora se não colocaria o link aqui, mas de qualquer forma parabéns pelo artigo!!