O Museu de Arte Antiga terá duas exposições no Colombo até final do Verão (Miguel Manso)
Exposição no Centro Comercial Colombo
30.03.2012 - 19:04 Por Lucinda Canelas
Dezenas de obras de arte medievais estão reunidas num módulo de madeira na arena central do Centro Comercial Colombo, em Lisboa. É a primeira vez que o Museu de Arte Antiga faz algo do género. Para seduzir.
Um pequeno museu dentro de um gigante comercial. Uma caixa de madeira de paredes vermelhas com um anjo músico por guardião e 31 obras de arte medievais no interior, como se de uma montra inusitada se tratasse, entre centenas de lojas e um hipermercado. Construir Portugal. Arte da Idade Média, a exposição que foi ontem inaugurada no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, leva o Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA) a um público que nem sempre se desloca à Rua das Janelas Verdes para ver a mais importante das colecções públicas portuguesas.
Profetas do século XV do Mosteiro da Batalha, pedaços de tecido com caracteres árabes, uma Adoração dos Magos em alabastro, pintura flamenga de evocação religiosa, uma cruz processional feita em Granada com mais de 600 anos e um arcanjo de pedra pintada contam a história da formação do reino, num período de encontro - e confronto - de culturas na Península Ibérica, de grande transformação política, religiosa, social.
A exposição, a primeira de duas que o MNAA fará no centro comercial, integra o projecto A Arte Chegou ao Colombo, lançado no ano passado com Quatro Elementos, Quatro Artistas (Museu Colecção Berardo). Para o director do Colombo, Paulo Gomes, é uma forma de apresentar arte em espaços não tradicionais, para o director de Arte Antiga, António Filipe Pimentel, uma maneira de "abrir uma janela" sobre o museu e de atrair visitantes.
"Estamos numa praça urbana por onde passam milhares de pessoas. Socialmente este é um espaço importante. Estar aqui aumenta a visibilidade do museu e a sua capacidade de sedução", disse Pimentel, lembrando que "é a primeira vez que o museu faz algo assim" e que, aos fins-de-semana, passam pelo Colombo mais de 70 mil pessoas (o MNAA teve no ano passado 129 mil visitantes).
Com esta exposição e com a que se segue, dedicada à Expansão - Desenhando o Mundo. Arte da Época dos Descobrimentos, de 5 de Julho a 30 de Setembro -, o director quer aumentar o reconhecimento nacional da colecção do museu. Por isso, explica, Pimentel e a sua equipa escolheram dois temas que falam ao imaginário de um público alargado. "A Idade Média, com as suas histórias de cavaleiros e reconquistas, e os Descobrimentos são eixos fortemente identitários.
Foi difícil seleccionar
Seleccionar as peças que hoje se podem ver no módulo desenhado por Manuela Fernandes, em vitrinas climatizadas que mantêm, garante José Alberto Seabra de Carvalho, director adjunto do museu, "todas as condições de dignidade e segurança de qualquer obra no MNAA", não foi tarefa fácil. As peças saíram todas das reservas do museu que tem um acervo com mais de 40 mil objectos, muitos deles tesouros nacionais. "A exposição permanente do MNAA não foi alterada", explica Pimentel, "mas o que temos aqui é um pequeno pólo - não quisemos trazer peças, quisemos trazer o museu."
Construir Portugal foi montada de madrugada para não perturbar as rotinas do centro, nem pôr em risco a segurança das peças. O programa expositivo começa com a cristianização do território e vai até ao final da Idade Média, com duas esculturas retiradas no séc. XIX do portal do Mosteiro de Santa Maria da Vitória (Batalha) a fazerem a ponte para a exposição dos Descobrimentos. "São duas peças de grande qualidade artística e que pertencem ao monumento simbólico da dinastia de Avis, intimamente ligada à Expansão. São elas que abrem a porta para o mundo que vamos mostrar a partir de Julho."
Nesta exposição merecem ainda destaque uma pintura da Virgem com o Menino - "exemplo de como este período medieval é também o da criação de uma arte transportável, sinónimo de disseminação cultural, de afirmação de uma certa elite e de um certo tipo de devoção, mais intimista" - e um quadro de S. Tomás de Aquino (oficina portuguesa, c.1530), em que aparecem representados os livros que, para evitar "riscos injustificáveis", não estão na exposição.
Para já, o Colombo não quer revelar os custos de montagem das duas exposições do MNAA. O seu director prefere chamar-lhe investimento e limita-se a dizer que envolveu nesta operação 15% do seu orçamento de marketing. O MNAA não recebe qualquer contrapartida financeira.
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