Discurso de Lula da Silva (excerto)

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terça-feira, 27 de novembro de 2012

Fado optimista no primeiro aniversário da classificação como património da humanidade

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Fado optimista no primeiro aniversário da classificação como património da humanidade

Concertos no estrangeiro cresceram 20%, obras para uma nova oficina da guitarra portuguesa arrancam no próximo ano e vão começar a sair as gravações histórica
A candidatura do fado a património mundial implicou seis anos de trabalho FERNANDO VELUDO*
Foi há um ano. A sessão do comité do património mundial ia longa e já poucos acreditavam que a candidatura do fado fosse a votação naquele dia. O debate à volta dos dossiers de outros países tinha-se complicado em questões de fundo e pormenores burocráticos. Mas, quando finalmente chegou o momento de analisar a proposta portuguesa, bastaram cinco minutos para que se chegasse a uma decisão – os 23 delegados presentes naquela reunião da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco) em Bali, na Indonésia, votaram a favor da inclusão do fado na lista do Património Cultural Imaterial da Humanidade. Às 20h30 (12h30 em Lisboa), a canção de Lisboa passou a ser (ainda mais) do mundo.
Sara Pereira estava em Bali nesse dia e lembra-se bem da ansiedade que antecedeu a votação. Para a directora do Museu do Fado e membro da comissão científica que em 2005 começou a trabalhar na candidatura, este primeiro aniversário do fado património mundial é feito num clima de grande optimismo em relação ao cumprimento dos objectivos do plano de salvaguarda previsto, um dos pontos fortes da proposta portuguesa.
Este plano, explica a directora do museu lisboeta onde hoje às 20h30 há festa com um pequeno concerto de Camané e Ana Moura, é visto pela Unesco como condição essencial para a preservação e divulgação do bem classificado. No caso do fado, inclui um programa editorial (livros e discos), a constituição de um arquivo digital, o reforço e melhoria da oferta turística (roteiros e casas de fado), e o trabalho com as escolas públicas e privadas de todos os graus de ensino, sobretudo as especializadas em música.

“Progredimos muitíssimo neste último ano”, diz Sara Pereira, que dividiu o comissariado científico da candidatura com os musicólogos Rui Vieira Nery e Salwa Castelo-Branco, ambos envolvidos no desenho e execução do referido plano de salvaguarda. “As edições estão em curso e algumas vão ser já lançadas até ao fim do mês, outras na Primavera. O trabalho com as escolas também tem vindo a ser feito. Temos o projecto de arquitectura da oficina da guitarra portuguesa quase pronto e contamos abrir concurso para a construção dentro de pouco tempo.”
Esta oficina, que será criada no Largo da Achada, na Mouraria, vai juntar as escolas de dois mestres da construção da guitarra, Óscar Cardoso e Gilberto Grácio, e deverá estar concluída em 2014. Mas o trabalho com as escolas não passa apenas pelos instrumentos. Dar formação aos professores do ensino regular para que aprendam a introduzir o fado nas disciplinas que o currículo inclui é outras das prioridades. E chamar a atenção dos alunos pode passar por pôr fadistas a aparecer nas escolas, como aconteceu já com Mariza, que foi dar uma aula na secundária Dona Luísa de Gusmão. “O importante é que alunos a professores percebam que o fado é um tema transversal. Não tem de ficar fechado nas aulas de música – também é história, língua portuguesa, desenho…”
O programa editorial é mais visível nos protocolos estabelecidos com a Imprensa Nacional – Casa da Moeda (INCM) e com o Instituto de Etnomusicologia da Universidade Nova. O primeiro prevê uma colecção dedicada ao fado com 20 títulos, uns inéditos, outros esgotados no mercado. O segundo implica o lançamento de uma série de gravações históricas – o primeiro CD, com temas que vão de 1904 ao início dos anos 1950 e a voz de fadistas como Isabel Costa, Hermínia Silva, Armandinho e a célebre Júlia Florista, sai até ao fim do ano.
“Os livros e os discos são muito importantes porque tornam este património acessível”, sublinha Sara Pereira. Na colecção da INCM, que abriu com a reedição de Para uma História do Fado, de Nery, serão publicados Fado Canção de Vencidos, de Luiz Moita, e Os Ídolos do Fado, de A. Victor Machado, ambos de meados da década de 30 e compreensivelmente fora de circulação há muito tempo.
No plano dos discos, e segundo a agência Lusa, a classificação do fado como património mundial deu dinâmica ao mercado, embora neste último ano as vendas não tivessem um crescimento tão significativo com o esperado. Isso explica-se, diz João Teixeira da EMI, porque já havia uma “vitalidade fantástica, que vinha de trás e que se tem traduzido no aparecimento de novos e óptimos intérpretes, na renovação de reportório, de arranjos, de mais edições a conquistarem novos mercados”.
Onde a marca-Unesco parece ter mais peso é no circuito dos espectáculos ao vivo. Vítor Macedo, da Movieplay chama-lhe um “carimbo de qualidade” capaz de atrair os promotores de concertos internacionais. “Abriram-se novas portas nos canais de comunicação e promoção, quebraram-se algumas barreiras de preconceitos”, acrescentou à agência Pedro Matias, da Ovação, reconhecendo que agora a procura de edições de fado é maior, assim como “o respeito e interesse pela música nacional”.
Esse interesse, explica ao PÚBLICO Sara Pereira, tendo por referência dados recolhidos pela associação Musica.pt, reflecte-se sobretudo nos espectáculos internacionais. Em 2006, diz a directora, 40% dos concertos de portugueses no estrangeiro eram de fadistas, ao passo que os números de 2011 e do primeiro semestre deste ano apontam para os 60%. “É claro que isto se deve a um caminho de renovação que o fado vinha já fazendo, mas a Unesco também ajudou na promoção.”
É para divulgar e promover melhor o fado e as casas onde ele se canta que o museu tem disponível a partir desta terça-feira um roteiro virtual que passa também pela Fundação Amália Rodrigues e pelas colectividades em que muitos começam a interpretá-lo, seja na voz, seja na guitarra. O museu municipal que Sara Pereira dirige criou também, em colaboração com a Associação de Turismo de Lisboa, um grupo de consultoria que está a trabalhar com os donos das casas de fado. O objectivo é levar esses especialistas em gastronomia, restauração e comunicação a melhorar, “sempre que isso é necessário, a oferta de cada estabelecimento: nas refeições que serve, na imagem que passa para o exterior e na forma como transmite as suas actividades e tenta cativar os turistas portugueses e estrangeiros”.
Esta terça-feira, o aniversário é marcado pela câmara de Lisboa com a entrega da medalha municipal de mérito a personalidades e instituições ligadas ao fado e à guitarra portuguesa, de Beatriz da Conceição a António Chainho, passando por Ada de Castro, Fernando Alvim e Pedro Caldeira Cabral. O Turismo de Lisboa prolonga a festa até 2 de Dezembro, propondo um roteiro por sete casas de fado com menus e preços especiais (www.visitlisboa.com).

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