Discurso de Lula da Silva (excerto)

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segunda-feira, 28 de setembro de 2015

ESPLENDOR NA RELVA Um Filme de ELIA KAZAN



Com Natalie Wood, Warren Beatty, Pat Hingle, Audrey Christie, Barbara Loden, Zohra Lampert, Fred Stewart, Joanna Roos, John McGovern, Sandy Dennis, Gary Lockwood, Jan Norris, etc.

EUA / 124 min / COR /
16X9 (1.85:1)

Estreia nos EUA a 10/10/1961
Estreia em PORTUGAL a 9/2/1962
(Lisboa, cinema Éden)


«What though the radiance which was once so bright
be now for ever taken from my sight.
Though nothing can bring back the hour
of splendor in the grass, of glory in the flower,
we will grieve not, rathher find
strenght in what remains behind»
(William Wordsworth)

«Eu sei que Deannie Loomis não existe / mas entre as mais essa mulher caminha / e a sua evolução segue uma linha / que à imaginação pura resiste.» Começa assim o soneto intitulado “Esplendor na Relva”, que Ruy Belo inseriu em “O Homem de Palavra(s)”. O poema não está datado mas foi escrito nos anos 60 (a primeira ediição do livro é de 69) algures entre a estreia do filme em Portugal (62) e a publicação. Deanie Loomis (aliás Wilma Dean Loomis) é o nome da protagonista interpretada pela fabulosa Natalie Wood. O pretexto (em sentido literal) é o filme de Elia Kazan “Splendor in the Grass”, com argumento de William Inge. Hoje, o filme ganhou ressonâncias míticas, associado aos idos de  60 e aos Maios de tal década. Na altura, não as teve e foi mesmo, da América a Portugal, implacavelmente zurzido pela crítica (até por admiradores de Kazan) que o achou piegas e cabotino. O público também não ligou peva. As três primeiras vezes que o vi foi num Éden às moscas, onde, salvo erro, não aguentou mais de uma semana.


Mas para alguns - poucos, e certamente não felizes - foi paixão tão devastadora como a que, no filme, os adolescentes Deanie Loomis e Bud Stamper (Warren Beatty) tiveram um pelo outro. Ruy Belo foi desses. Aliás, não certamente por acaso, foi ele o único poeta que conheço a cantar as duas mulheres mais intensas dos late fifties e dos early sixties. Marilyn Monroe (esse assombroso poema chamado “Na Morte de Marilyn”, que vem no “Transporte do Tempo” e em que nos pede para em vez de Marilyn dizer mulher) - e Natalie Wood. Eu sei que Ruy Belo não cantou Natalie Wood mas Deanie Loomis. Mas também sei que Natalie Wood «não existe / mas entre as mais», etc. E há nesse verso um prodígio de adequação poética. É quando se diz que «a sua evolução segue uma linha / que à imaginação pura resiste.» Resiste à "imaginaçâo pura” (no sentido de "pura imaginação”) ou resiste, "pura”, à imaginação?


Ou seja, o adjectivo "pura" refere-se à imaginação ou a Deanie Loomis? Ou - pode ser também - à "linha que resiste”? Nestas três perguntas está o cerne de Deanie Loomis, de Natalie Wood e de “Splendor in the Grass”. São mulheres e filme da nossa imaginação? São mulheres e filme que resistem à nossa imaginaçào? Ou são mulheres e filme que resistem a uma linha evolutiva que só na nossa imaginação existe? Não sei, como provavelmente Ruy Belo nào saberia, mas, como também ele escreveu (na explicação preliminar à 2ª edição do livro): «Ninguém no futuro nos perdoará não termos sabido ver esse verbo que tão importante era já para os gregos.» E, em “Splendor in the Grass”, tudo está no ver, que traz a história dos meninos e moços de Kansas - meninos e moços dos anos 20, de antes da Depressão - à dimensão das mais belas histórias de amor e de morte jamais contadas.


Sirvo-me do exemplo mais conhecido, também ele poético, e que dá o título ao filme. No liceu de Natalie Wood (onde ela entrava sempre com três livros apertados ao peito, um deles de capa azul), a aula de literatura, nesse dia, não era sobre “Os Cavaleiros da Távola Redonda” mas sobre Wordsworth e a “Ode of Intimation to Immortality”. Deanie / Natalie chegava de vestido grenat muito escuro, gola de rendas. Todas as colegas sabiam - e ela também, embora ninguém lho tivesse dito - que Bud / Warren, incapaz de separar por mais tempo o desejo e o amor, tinha enganado, na véspera à noite, a fome do corpo dela, no corpo de Juanita (Jan Norris), única da turma que não se ficava pelos beijos. Nada seria mais, para eles, como antes fora. Como também se diz no filme (noutro contexto), Deanie trazia, debaixo do vestido, o primeiro golpe na sua própria carne.


E é quando todo o mundo vacila à roda dela que a professora a interpela para lhe perguntar o que é que o poeta quis dizer com os versos famosos: «No, nothing can bring back the hour / the splendor in the grass, the glory in the flower.» Para a estúpida e pedagógica pergunta não há resposta ou - a esse nível - só há a que Natalie Wood comoventemente tenta articular. Mas não é nada disso que o poeta quis dizer. O que conta, o que o poeta quis dizer, é o que Natalie só naquela altura sente e sabe, ou pressente e entrevê. Por isso, o que conta e o que o poeta quis dizer é o espantoso traveling que arranca Deanie ao lugar e a põe diante da professora atónita, depois aquele outro em que sai a correr da aula e nos atira com a porta na cara e, por fim, esse plano em que a vemos sózinha, na profundidade de campo do corredor do liceu, até ir parar à enfermaria. Nesse minuto de cinema, sabemos, para além das palavras que «that radiance that was once so bright / Is now forever taken from my síght.»


Irradiância que, no filme, foi entre o plano inicial (Deanie e Bud a namorar nas cataratas, e ela com tanto medo de não aguentar mais) e essa sequência, também nas cataratas, em que Bud fez com Juanita o que não fez com ela e de que essas cataratas são a mais poderosa das metáforas, O “esplendor na relva" é o que vimos até à aula: são os planos em que se deita de bruços na cama (Warren Beatty deita-se da mesma maneira); é o búzio encostado ao ouvido; são os ursos de peluche coexistindo com o retrato dele; é o dia em que entrou no liceu ao lado dele, tão orgulhosa, de blusa amarela e saia branca; é o plano do duche dos rapazes; é a noite de chuva no carro amarelo e Deanie a dizer a Bud que ficará para sempre à espera dele; é o olhar de Natalie Wood sobre a irmã "pecadora" de Bud, na noite a quatro; é uma saia cor-de-rosa que funde em negro; é, sobretudo, a estarrecedora sequência em que Bud a obriga a ajoelhar-se-lhe aos pés e ela desata a chorar. Aflitíssimo. Bud diz-lhe que era uma brincadeira. E ela a responder: «Nào posso brincar com estas coisas. Eu era capaz de fazer tudo o que tu me pedisses. Tudo. Juro que era.»


Mas é depois da sequência da aula que o filme atinge o máximo de beleza e tensão, desde o longo período em que Deanie se isola até à crise que a leva ao manicómio. E sobretudo na inadjectivável sequência da conversa com a mãe, no banho. Raras vezes o cinema terá dado uma carnalidade e um erotismo assim. Porque numa fabulosa elipse do corpo, o que existe é só o corpo nu de Natalie Wood na tina, esse corpo de que aí (na água) ela toma consciência e plenamente assume e que por essa consciência e essa assumpção dita a reacção da mãe e o histerismo dela («Pure...I'm as pure as the day I was born»). Tudo é elidido e presente e o fumo da água espelha o das cataratas e o da imensa oferta. É, depois (o longo retiro) que Natalie corta os cabelos ao espelho (iniciaticamente), se veste de encarnadíssimo (bandolette encarnada, colar encarnado) e se oferece a Bud na sequência da festa (nunca por demais celebrada), para ser recusada por ele e, depois, correr pelos rails até às cataratas (terceira e última presença delas no filme) e mergulhar nas águas, onde até a morte lhe frustram.


Mas nem Wordsworth nem Kazan terminam no desespero ou nesse desespero. Após os versos que dão título ao filme, Wordsworth diz: «We will grieve not, rather find / strenght in what remains behind» Nào estou nada certo que seja “força” o que Natalie Wood encontrou na relva da clínica, entre velhas catalépticas e enfermeiras de olhar estranho. Não estou nada certo que seja “força” o que Warren Beatty encontrou na universidade para onde o mandaram, ou na noite de Nova Iorque em que o pai, antes de se matar, lhe pagou uma rapariga parecida com Deanie. Mas «o que ficou para trás», isso, introduz-se a cada plano do lento desmoronar deles, das famílias deles, da América da crise de 29, ou, como diz o futuro marido de Deanie, «the first cut on other flesh of man.»


Elia Kazan disse preferir no filme a sequência em que Deanie regressa à casa paterna, ao que dizem "curada", e conversa com a màe que lhe diz que tudo o que fez foi para bem dela. Já está noiva do "rapaz de Cincinatti", que conheceu no hospital e Bud já está casado com Angelina, que nào tinha entrado na história e até já tem um bebé. Deanie vai visitá-los, com as amigas. Não há uma palavra sobre o passado e há só o passado. Depois do “esplendor na relva”, Bud fica com as capoeiras e ela com um companheiro das trevas. «Como numa tragédia grega: sabemos o que vai acontecer e só podemos ver o que acontece.» Estas palavras são de Kazan. Mas esta tragédia americana não acaba em mortes violentas. Só na morte que cada um de nós traz dentro de si, feita de tudo «what remains  behind». «We will grieve not» e, por isso mesmo, a nossa dor é muito maior. De Deanie Loomis e de Bud Stamper me despeço com outro poema de Ruy Belo: «Mas agora que cantei da tristeza / não observo já os mais leves traços / e a minha maneira de me matar / é deixar cair ambos os braços.» É isto que se chama "intimação à imortalidade"?
João Bénard da Costa

Aqui fica o soneto completo de Ruy Belo a que João Bénard da Costa faz referência no início do seu comentário:
Eu sei que Deanie Loomis não existe
mas entre as mais essa mulher caminha
e a sua evolução segue uma linha
que à imaginação pura resiste

A vida passa e em passar consiste
e embora eu não tenha a que tinha
ao começar há pouco esta minha
evocação de Deanie quem desiste

na flor que dentro em breve há-de murchar?
(e aquele que no auge a não olhar
que saiba que passou e que jamais

lhe será dado ver o que ela era)
Mas em Deanie prossegue a primavera
e vejo que caminha entre as mais


«A luz que brilhava tão intensamente
foi agora arrancada dos meus olhos.
E embora nada possa devolver os momentos
do esplendor na relva e da glória na flor,
não sofreremos, melhor
encontraremos força no que ficou para trás»

Uma tradução bastante fiel ao espírito do poema de Wordsworth (ver o original acima), que na sua essência traduz a perda do primeiro amor, aquele estado de alma único e irrepetível, que só os mais (des)afortunados tiveram a (des)ventura de experimentar. Conheci também essa sensação nos meus anos de brasa e por isso, se mais razão não houvesse, este é obrigatoriamente um dos filmes da minha vida, apesar de não ter tomado nas mãos os instantes decisivos de que falava Jean-Paul Sartre. Mas há mais do que essa razão, aliás, existe um bom punhado delas, destacando-se desde logo dois nomes à cabeça: Kazan, que atinge aqui a arte suprema de bem dirigir, evitando os habituais clichés do melodrama, e a maravilhosa Natalie Wood, que me fez perder de amores (a mim e a muito mais gente) com a sua Deanie Loomis, uma das criações mais espantosas de toda a história do cinema.


Produzido numa época de grandes mudanças (quer da sociedade – a norte-americana em particular – quer do próprio cinema), “Splendor In The Grass” é um olhar desapiedado sobre a juventude do final dos anos 20 do século passado: as suas aspirações, ansiedades, e desejos; e a repressão (sexual e não só) exercida sobre eles pela sociedade da época. Uma repressão que está em toda a parte, que se vai insinuando através de vários comportamentos, desde o mais grosseiro (a pressão asfixiante do pai de Bud) até ao mais sofisticado (a complacência do pai de Deanie, parcialmente redimida naquela pungente cena final, em que ele lhe indica o paradeiro de Bud e recebe em troca uma carícia e um beijo na testa); e que estabelece regras muito próprias, consoante o sexo das personagens sobre as quais se abate. Talvez por isso seja um filme que, tematicamente, diga muito pouco às novas gerações de agora, as quais, consumada que foi a revolução sexual iniciada nos anos 60, vivem abertamente uma liberdade que nada tem a ver com os tempos que emolduram este filme. Mas os amantes do cinema têm razões mais do que suficientes para poderem rejubilar com a visão de “Splendor In The Grass”, uma das obras mais emotivas de sempre (e da carreira de Kazan em particular), que continua actualmente tão bela e poética, profunda e poderosa, como o foi há 50 anos atrás.


O escritor e argumentista William Inge (o autor de “Picnic” e “Bus Stop”), baseou-se num poema extraído do livro “Ode: Intimations of Immortality From Recollections of Early Childwood”, de  Wiliam Wordsworth (1770 – 1850) - um poeta inglês que lançou juntamente com Samuel Coleridge, a chamada Era Romântica na literatura inglesa – para escrever o romance, primeiro, e mais tarde o argumento em que “Splendor In The Grass” se baseia. Segundo o próprio Inge, outra inspiração para a sua história, teriam sido algumas pessoas que ele próprio conheceu durante a adolescência na cidade do Kansas. Falou com Elia Kazan, que na altura trabalhava com ele na sua peça “The Dark at the Top of the Stairs” e o realizador mostrou-se desde logo interessado em passar a história para o grande ecrã, aproveitando o clima de mudança que se vivia na América para dar um maior ênfase à história de Deanie e Bud.



Quando se iniciou o casting do filme, Inge lembrou-se de um jovem actor de diversas séries televisivas, que seria perfeito para interpretar o personagem principal: Warren Beatty. Os dois conheceram-se na fracassada peça “A Loss of Roses”, mas a relação perdurou e os dois tornaram-se amigos. De início, a sugestão de Inge não foi bem recebida por Kazan, que não gostou da arrogância de Beatty, mas posteriormente viu nele presença e talento suficientes para lhe entregar o papel principal. “Splendor In The Grass” marcou, assim, a estreia de Beatty no grande ecrã (tinha 24 anos) e fez dele uma das grandes estrelas de Hollywood. A escolha de Natalie Wood foi uma imposição da Warner que tinha a actriz sob contrato e cujos últimos filmes não tinham tido o êxito esperado. Embora tivesse apenas 22 anos quando participou na rodagem de “Splendor In The Grass”, Natalie era já uma veterana de Hollywood, tendo começado a sua carreira com apenas 5 anos e conseguido fazer a transição para papéis mais adultos com sucesso.


Mas a actriz estava também interessada em participar no filme, a ponto de ter concordado filmar uma cena de nu, a primeira feita por uma estrela em Hollywood. No entanto Jack Warner (o patrão do estúdio) acedeu ao pedido da Catholic Legion of Decency e a cena foi excluída do filme. Refira-se que a sequência em questão surgia logo após Deanie Loomis discutir histericamente com a mãe enquanto toma banho. A câmara acompanhava o trajecto de Deanie a correr nua pelo corredor, entre a casa-de-banho e o seu quarto. Dada a exclusão da cena, o que se vê no filme é uma transição brusca entre a discussão na banheira e Loomis a soluçar, já deitada na cama, transição essa muito bem resolvida por Kazan ao introduzir entre as duas cenas um curto diálogo dos pais de Deanie.


Os dois actores entregaram-se tão intensamente aos seus personagens que a relação pessoal extravasou a vertente profissional e os dois viveram um tórrido romance durante as filmagens. Embora Natalie Wood fosse casada e Warren Beaty vivesse com outra actriz, a relação foi encorajada pelo próprio Kazan que viu no romance uma boa oportunidade para melhorar as cenas de amor do filme. Quando este estreou, em Outubro de 1961, os dois actores tinham abandonado os seus anteriores relacionamentos e viviam já juntos. “Splendor In The Grass”  foi nomeado para dois Óscares (melhor actriz e melhor argumento), com o trabalho de Inge a ser o único a ter direito à famosa estatueta.


CURIOSIDADES:

- Jane Fonda (24 anos) e Lee Remick (26 anos), chegaram a fazer testes para o papel de Deanie Loomis, mas foram consideradas demasiado maduras. Também Dennis Hoper chegou a ser equacionado para o papel de Bud Stamper.

- Pat Hingle, o actor que faz de pai de Bud, era apenas 13 anos mais velho do que Warren Beatty.


- Apesar de Kazan ter preferido rodar o filme no Kansas (onde decorre a história no romance de Inge), razões económicas forçaram-no a filmar unicamente no estado de Nova Iorque. As cataratas são as de High Falls de Catskills e o edifício de Yale é na verdade o City College de New York.

http://ratocine.blogspot.pt/2012/05/splendor-in-grass-1961.html

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Liceu Salvador Correia - recuperação 2015


aguarela IN https://www.facebook.com/groups/264551243582300/ (Luís Melita)





SOBRE AS OBRAS DE RECUPERAÇÃO 2015


Fernando Pereira
23/8 às 0:43
Escola Mutu-ya-Kevela será entregue a comunidade estudantil em 2017

A conclusão das obras de recuperação e ampliação da escola do I e II ciclo Mutu-ya-Kevela, encerrada ao público há mais de sete anos, está prevista para o primeiro trimestre de 2017. Recorda-se que os alunos da instituição estão acomodados em outras escolas, de acordo com as suas áreas de residência.

A informação foi avançada hoje, em Luanda, pela directora do Gabinete de Estudos e Planeamento e Estatística do Ministério da Educação (MED), Irene Figueiredo.

O projecto que está a ser executado pela empreiteira portuguesa Somague inclui também intervenção no Centro Pré-Universitário de Luanda (PUNIV), e está avaliado em 21 milhões de dólares.

A interlocutora esclareceu que numa primeira fase vão intervir apenas nas instalações do Mutu- Ya-Kevela e posteriormente no PUNIV, por pertencerem a mesma instalação.

A directora revelou que a obra, que arrancou em Março deste ano, consiste, fundamentalmente, em recuperar e não alterar, e ampliar o interior, mantendo por completo os traços anteriores da escola, ou seja aspectos como as paredes, as portas e até mesmo o mosaico.

Embora não especificando, Irene Figueiredo disse que vão aumentar o número de salas.
“A recuperação da escola Mutu-Ya-Kevela sempre foi uma preocupação do Executivo, pela sua história, pois representa uma das primeiras da cidade de Luanda no tempo colonial e de maior dimensão”, frisou.

Irene Figueiredo revelou ainda ser pretensão do Ministério da Educação manter a instituição escolar como do I e II ciclo, pelo facto de representar um nível de maior necessidade.
Por seu turno a engenheira civil, Rosina Araújo, fez saber que quando receberam a obra a escola tinha no seu todo 56 compartimentos, sendo que no modelo actual passará a ter 49 salas de aulas, incluindo laboratórios para aulas práticas, uma sala de professores, um secretariado, igual número para contabilidade e reprografia.

Apontou como novas divisões, uma enfermaria para primeiros socorros, uma cantina, uma sala de associação de alunos e uma de professores, duas salas de coordenação de pedagogia, vestiários para discentes, um wc para alunos com dificuldades de mobilidade, uma área de atendimento ao estudante e 4 campos desportivos
O Mutu-Ya-Kevela vai contar no seu corpo central com 2 pisos e uma cave, para a área técnica, sendo que o primeiro será para a área administrativa e de laboratórios, bem como para algumas salas de aulas, e segundo igualmente para salas de aulas e outros serviços adicionais.
O antigo Salvador Correia, baptizado com o nome de Mutu Ya Kevela desde 1975, com mais de 40 salas de aula.

Até ao seu encerramento definitivo, em 2008, em função do estado de degradação em que se encontrava, o maior liceu de Luanda acolhia cerca de 6 mil alunos do quinto ao oitavo ano de escolaridade.

Pelas salas de aula do Salvador Correia passaram alunos como Agostinho Neto, primeiro presidente de Angola, e José Eduardo dos Santos, actual Chefe de Estado, entre milhares de angolanos e portugueses que ali fizeram os seus estudos ao longo de várias décadas.

As origens do Salvador Correia remontam a 25 de Abril de 1890, quando cerca de três dezenas de cidadãos se reuniram em casa de Caetano Vieira Dias e decidiram solicitar ao governo português a criação de um liceu nacional em Luanda.

A ideia era criar um estabelecimento de ensino na capital angolana que ministrasse os programas em vigor nas escolas em Portugal, o que permitiria aos alunos transitar deste liceu para as escolas portuguesas.

A criação desse liceu só veio, no entanto, a ser decidida a 19 de Fevereiro de 1919, quando o Conselho de Instrução Pública aprovou por maioria uma proposta nesse sentido apresentada por António Joaquim Tavares Ferro.

Inicialmente denominado Liceu de Luanda, a escola começou por funcionar num edifício na baixa da capital angolana, assumindo em 1924 a designação de Liceu Nacional Salvador Correia de Sá e Benevides, numa homenagem ao homem que reconquistou Luanda para a coroa portuguesa em 1648 depois da cidade ter sido ocupada pelos holandeses.

O actual edifício, situado no cimo de uma encosta que desce para o mar, começou a ser construído em Novembro de 1938, tendo a inauguração ocorrido a 5 de Julho de 1942.

Em 1975, ano da independência de Angola, foi rebaptizado com o nome actual de Liceu Mutu Ya Kevela, em homenagem ao soba do Bailundo que liderou uma revolta contra as autoridades portuguesas em 1902 no planalto central de Angola.

Foi classificado como Monumento Nacional por despacho n.° 47, de 08.07.1992

Escrito pelo meu amigo VITOR SILVA
IN https://www.facebook.com/groups/264551243582300/permalink/884034761633942/

quarta-feira, 9 de setembro de 2015

Ossos de antiga prisão de Évora dão voz às vítimas da Inquisição

CATARINA ROCHA 

09/09/2015 - 07:41


Atiraram-nos para o lixo, sem qualquer respeito pelos corpos já sem vida. É o que contam os esqueletos de homens e mulheres presos pelo Tribunal do Santo Ofício de Évora. Tinham problemas nos dentes e nas articulações – mas a tortura a que eram submetidos não ficou registada no esqueleto.






O castigo era das almas, mas os corpos foram abandonados sem direito a cerimónias fúnebres ou compaixões de últimos instantes. Nos 20 metros quadrados do “quintal da limpeza dos cárceres”, a lixeira da prisão do Tribunal da Inquisição de Évora, 12 esqueletos e 980 ossos desarticulados são hoje a memória última que sobejou da vida de homens e mulheres perseguidos pelo Santo Ofício. Uma equipa de investigadores foi analisar essas ossadas, que datam dos séculos XVI e XVII, e recuperar os respectivos processos acusatórios e determinou que as vítimas terão sido acusadas de “judaísmo”, “heresia” e “apostasia”.

Os restos mortais foram encontrados por acaso, entre 2007 e 2008, durante as intervenções arqueológicas desenvolvidas para a recuperação do antigo Tribunal da Inquisição, edifício que hoje pertence à Fundação Eugénio de Almeida. Ao lado, o templo romano do século I d.C. ergue-se como símbolo da liberdade que teima em persistir. A empresa Crivarque Arqueologia e a Universidade de Évora foram responsáveis pelas escavações no “quintal da limpeza dos cárceres”, onde se encontravam dispersos, entre lixo doméstico, ossos que pertenceram a pelo menos 16 pessoas. Entre 2012 e 2013, o material osteológico foi estudado pela equipa de cientistas do Centro de Investigação em Antropologia e Saúde da Universidade de Coimbra e do Departamento de Biologia da Universidade de Évora, que publicou os resultados em Julho deste ano na revista Journal of Anthropological Archaeology.

“Encontrámos ossos de pelo menos 16 indivíduos [distinguidos pelo osso do fémur esquerdo]. Pelos relatórios arqueológicos de campo, sabemos que mais alguns esqueletos ficaram no local, porque a área onde se encontravam não iria ser afectada pelas obras”, diz Bruno M. Magalhães, da Universidade de Coimbra. A área escavada constitui apenas 11,5% do total do quintal, motivo que leva os investigadores a pensar ser possível encontrar mais restos mortais na área não explorada. “Uma vez que se escavou uma área pequena, é previsível que mais algumas dezenas de indivíduos falecidos nos cárceres de Évora tenham sido atirados para aquela lixeira.”

O que fez os investigadores concluírem que os corpos teriam sido para ali atirados foi a posição em que se encontravam. A disposição dos esqueletos era variável, o que revelou a ausência de cerimónia fúnebre. Uns estavam de barriga para baixo, outros de lado e outros virados para cima; nenhum apresentava qualquer orientação da cabeça relativamente aos pontos cardeais. Além disso, a sua posição relativamente à camada de terra indicava que os corpos não teriam sido sepultados.

“Dos 12 esqueletos recuperados sabemos que um elemento comum a quase todos é que não foi aberta sepultura para a sua colocação. Foram apenas descartados, atirados para aquele local”, diz Bruno Magalhães. “Se eram tapados ou não, não temos dados que nos digam isso, mas penso que seriam, principalmente pelos maus cheiros que existiram no local. Pelo menos uma pequena quantidade de terra seria colocada.”

Depois de analisarem fotografias do local tiradas durante as escavações – nas quais participou ainda Teresa Matos Fernandes, das universidades de Coimbra e Évora, e uma das autoras do segundo estudo –, os cientistas foram traçar o perfil biológico de cada um dos indivíduos encontrados. Os esqueletos pertenciam a 12 adultos, três homens e nove mulheres.

E o que contam os ossos sobre os indivíduos e a vida na prisão? “Sobre as condições de vida no cárcere, os ossos não contam muito. Sabemos que aqueles indivíduos morreram no cárcere, mas nem todas as doenças deixam provas nos ossos. E também não encontramos provas de torturas, como, por exemplo, membros superiores ou inferiores partidos”, diz Bruno Magalhães. “Provavelmente, se o local fosse todo escavado, teríamos outro tipo de provas. Essencialmente, as provas que temos indicam patologia oral, patologia degenerativa articular e não articular, vertebral, alguma patologia infecciosa e traumática, mas que não parecem estar associadas a tortura.”

Notícias do padre António Vieira

Mas neste caso, a literatura veio preencher as lacunas no que a biologia não pôde contar. Nas Notícias Recônditas do Modo de Proceder a Inquisição de Portugal com os Seus Presos, publicadas em 1821, o padre António Vieira ilustra as condições em que eram mantidos os presos no cárcere de Évora, enquanto aguardavam julgamento.

“Nestes cárceres estão de ordinário quatro, e cinco homens; e às vezes mais, conforme o número de presos que há; e a cada um se lhe dá seu cântaro de água para oito dias, (e se acaba antes, tem paciência) e outro mais para a urina, com um serviço para as necessidades, que também aos oito dias se despejam: e sendo tantos os em que conservam aquela imundícia, é incrível o que nele padecem estes miseráveis, e no Verão, são tantos os bichos, que andam os cárceres cheios, e os fedores tão excessivos, que é benefício de Deus sair dali homem vivo. E bem mostram os rostos de todos, quando saem nos Actos, o tratamento que lá tiveram, pois vêm em estado que ninguém os conhece.”

No cárcere de Évora, os presos estavam ainda sujeitos a tortura. Para confessarem os crimes de que eram acusados, os seus carrascos utilizavam a tortura da polé e do potro. “A tortura da polé foi preferencialmente utilizada pela Inquisição de Évora e era aplicada por ordem crescente de gravidade das acusações. O réu era colocado no banco com as mãos atadas com correias atrás do corpo e ligadas ao calabre que o içava. Era depois erguido até onde a gravidade da sua acusação o levava e largado lenta ou bruscamente”, explica Bruno Magalhães. “Na tortura do potro, que apenas foi pedida pela Inquisição de Évora em 1593, o réu era deitado com uma coleira em ferro no seu pescoço e era atado em várias partes nos braços e nas pernas. As cordas eram depois apertadas e giradas como um torniquete, pressionando de forma progressiva os membros do condenado e podendo chegar ao ponto de esmagar a sua carne e ossos.”

Numa outra fase do estudo, os investigadores foram explorar as fontes documentais que poderiam ajudar a reconstituir a identidade dos ossos. Os manuscritos do Arquivo Distrital de Évora e os registos dos encarcerados conservados na Torre do Tombo, em Lisboa, contribuíram em grande escala para conhecer melhor a história. Um dos manuscritos constatava que o “quintal de limpeza da prisão” não estaria associado à Inquisição pelo menos até 1568. Por outro lado, os planos de construção do edifício, projectado em 1634 pelo arquitecto da Inquisição Matheus de Couto, indicavam que nesta altura o quintal já não era usado como um local de depósito de lixo doméstico. Estes dados levaram os investigadores a concluir que os corpos teriam sido ali depositados entre 1568 e 1634.

Devolver a identidade

Delimitado o período de tempo, a equipa pôde recuperar 87 registos de indivíduos que teriam morrido na cadeia entre essas datas. Desses 87 registos, 11 referiam-se a presos que, depois de mortos, teriam sido depositados no quintal da prisão. Acusados de “judaísmo”, “heresia” e “apostasia”, os 11 indivíduos tinham profissões como tendeiro, ferreiro, trapeiro, rendeiro, ourives ou maceiro.

“Se eram ou não judeus, isso é impossível de afirmar. Aquela era uma época de medo e vários historiadores referem que as pessoas acusavam familiares, amigos, vizinhos com medo de eles próprios serem acusados primeiro por essas pessoas. Se eram realmente culpados daquele ‘crime’ ou não, isso nunca saberemos”, explica Bruno Magalhães. Isabel Vaz, Leonor Mendes, Gabriel Fernandes ou António Mendes são alguns dos nomes que não se perderam no tempo.

“Nem todos os processos dizem qual é o local onde a pessoa foi enterrada. E também não conseguimos acesso a uma boa parte dos processos na Torre do Tombo, porque estão em muito mau estado. Essencialmente, não nos é possível dizer que aquele processo pertence àquela pessoa”, diz Bruno Magalhães. “É possível, sim, estudarmos os indivíduos como um todo e percebermos aquilo por que passaram desde que entraram na prisão até à sua morte enquanto esperavam julgamento.”

Mas em grande parte dos casos o julgamento nunca chegava. “Estes, que mal se sabem benzer, e que, se lho perguntarem, não hão-de saber explicar que cousa é ser cristão, nem o que é ser judeu, vão logo pelos caminhos persuadindo aos presos que confessem, e tornem para suas casas”, lemos ainda nas Notícias de Vieira. “Porque os Senhores Inquisidores são de muita misericórdia, que a usarão com eles: e que se não confessarem, estarão lá muitos anos, e sairão a morrer.”

Os documentos analisados sugerem ainda que apenas pessoas acusadas de não seguir a religião católica eram depositadas no jardim, depois de mortas. Mas a lei da Inquisição portuguesa também o corrobora. O caso de Francisco Machado é exemplo que mostra as diferenças de tratamento consoante o “crime”. Acusado de poligamia, o réu recebeu em 1608 um funeral, tendo sido sepultado na Igreja de Santo Antão, junto ao Tribunal da Inquisição de Évora. “O propósito deste tratamento inapropriado aos mortos era não só para punir os seus corpos, mas mais ainda para enfraquecer e destruir as suas almas”, disse à revista Forbes, em Agosto, Bruno Magalhães.

A instituição do Tribunal do Santo Oficio em Portugal foi em 1532, no reinado de D. João III. O tribunal era simultaneamente régio e eclesiástico e a sua acção estendia-se a todo o país e territórios da Coroa portuguesa. Em 1821 a Inquisição portuguesa era finalmente extinta. Hoje, e desde Janeiro deste ano, é possível a descendentes de judeus sefarditas, expulsos de Portugal a partir do século XV, pedirem a nacionalidade portuguesa, por naturalização.

Se a equipa vai voltar ao “quintal da limpeza dos cárceres” para fazer mais escavações, ainda não há certezas. “Infelizmente, penso que o proprietário do local, a Fundação Eugénio de Almeida, não tem planos para escavar o resto do espaço nos próximos tempos. Quanto aos ossos agora estudados, também não está para já previsto outro tipo de trabalho.” Segundo refere o artigo científico, assinado ainda por Ana Luísa Santos, da Universidade de Coimbra, o estudo até agora realizado vem “manter viva a memória das vítimas” para que no futuro “actos ignóbeis como estes” não voltem a repetir-se.

“Quatro palmos de casa cabe a cada um. Aos mortos são concedidos sete pés de sepultura, e nem tantos de casa cabem a cada um destes desgraçados vivos”, assim testemunhava o padre António Vieira, cristão destemido na luta contra a Inquisição.

Texto editado por Teresa Firmino


sábado, 5 de setembro de 2015

festa do avante - os cartazes

a Festa em festa

* Victor Nogueira

Desde o Pavilhão da FIL (Feira Industrial de Lisboa), em 1976, na Junqueira, até à Quinta da Atalaia, no Seixal, longo tem sido o caminho da Festa do Avante, onde sempre se encontram amigos e conhecidos provenientes de Portugal, de lés-a-lés.

Desde então a Festa foi-se realizando sucessivamente no Alto da Ajuda (1977 e 1978) e no Vale do Jamor (1979 a 1986), no Município de Lisboa. Como resultado de impedimentos então levantados pela Câmara de Lisboa, não se realizou em 1987, reatando-se o evento em Loures nos dois anos subsequentes (1988 e 1989), fixando-se definitivamente e desde 1990 na Quinta da Atalaia (Seixal) em terrenos comprados pelo PCP,  alargados desde 2015 à Quinta do Cabo da Marinha, entretanto adquirida.

Fruto da militância e do empenhamento dos comunistas portugueses, a cidade da Festa e em festa é anualmente re-edificada, sempre diferente na sua arqitectura efémera e na diversidade de manifestações político-culturais.