Discurso de Lula da Silva (excerto)

___diegophc

sábado, 2 de julho de 2011

Tomar - A Festa dos Tabuleiros e os Templários



fugas-notícias





Festa dos Tabuleiros em Tomar começa no sábado e candidata-se a Património Imaterial

Por Fugas
De quatro em quatro anos, a cidade de Tomar enfeita-se a rigor para a Festa dos Tabuleiros, que tem origem no culto ao Espírito Santo e é uma das manifestações culturais e religiosas mais antigas do país. 2011 é ano de Tabuleiros, de 2 a 11 de Julho. E é uma edição especial: a autarquia de Tomar pretende candidatar a festa a Património Imaterial da Humanidade.
MAIS Os segredos dos Templários que Tomar Desvenda
O início da festa, que tem o ponto central nos quase 700 tabuleiros em desfile e em milhões de flores saídas das mãos dos tomarenses, é no sábado com uma exposição de automóveis antigos, uma das muitas mostras que serão inauguradas neste dia, composto ainda por vários eventos desportivos e pelo 27º Festival Nacional de Folclore. Mas o destaque do fim-de-semana vai para o Cortejo dos Rapazes, no domingo, às 10h00, com início e fim na Mata Nacional dos Sete Montes, e que é feito por crianças do primeiro ciclo e ensino pré-escolar. No dia 8 é a vez do Cortejo do Mordomo, às 17h30, e da abertura das ruas populares ornamentadas, às 20h00.
No sábado, dia 9, há cortejos parciais dos tabuleiros de manhã e a partir das 13h00 eles estarão em exposição na Mata Nacional dos Sete Montes. No domingo realiza-se pelas ruas da cidade o grande cortejo dos Tabuleiros que é o ponto alto destas festividades. 
A Festa dos Tabuleiros termina na segunda-feira, com a distribuição do Bodo às 10h00.
Tomar recebe também por estes dias, entre 3 e 6 de Julho, o 2.º Congresso Internacional sobre Património Imaterial, que juntará 150 especialistas - a autarquia vai candidatar a festa a Património Imaterial da Humanidade. O Green Lines Institute - Instituto para o Desenvolvimento Sustentável organiza este evento que irá analisar, entre outros temas, tradições e expressões orais, artes cénicas e práticas sociais. 


Tomar, onde as flores nascem nas mãos

Por António Marujo
A Festa dos Tabuleiros é preparada quase em segredo por centenas de pessoas que, durante meses, recortam milhares e milhares de flores e ornamentos em papel - para as ruas do centro histórico de Tomar e para os 700 tabuleiros que este ano desfilarão. A festa toma Tomar de 2 a 11 de Julho. Fomos espreitar os preparativos.
MAIS Os segredos dos Templários que Tomar Desvenda

A Festa dos Tabuleiros é preparada quase em segredo por centenas de pessoas que, durante meses, recortam milhares e milhares de flores e ornamentos em papel - para as ruas do centro histórico de Tomar e para os 700 tabuleiros que este ano desfilarão. A festa toma Tomar de 2 a 11 de Julho. Fomos espreitar como se prepara.
Quem disse que as flores só nascem na terra? As mãos de Céu Farinha, por exemplo, são raiz de um amarelo intenso que se tornará, em poucos segundos, o olho de um malmequer. Assim: dobra-se a folha de papel na esquina da mesa; volta a dobrar-se a meio, no comprimento; vai-se enrolando depois, até ficar feito o olho.

Fazer nascer uma flor parece simples aos olhos de quem vê.  Complicado mesmo é fazer. A própria Céu, "de início, não sabia fazer nada". Agora, já sabe que, em seguida, tem que cortar o que fica como um caule. E enrolar o arame em verde e, por fim, espetar na flor branca. Em dois minutos, nasceu um girassol.
Quando se sobe à sala de cima da Junta de Freguesia de Santa Maria dos Olivais, em Tomar, é que se percebe que um girassol é apenas uma gota num oceano. Estão aqui milhares de flores de papel, qual tesouro escondido no sótão, à espera de serem colocadas nos tabuleiros que dão o nome à festa ex-líbris de Tomar, que este ano culmina a 10 de Julho. Tesouro, sim, que as flores são, por enquanto, um pequeno segredo que se tenta manter o mais possível. "Para que o efeito seja maior no momento em que se vê o cortejo dos tabuleiros", diz o presidente da junta de São João Baptista, Augusto Barros.

Realizada de quatro em quatro anos, a Festa dos Tabuleiros, que este ano decorre entre 2 e 11 de Julho (com o cortejo principal no dia 10) é decidida, assumida e protagonizada por toda a população. Mesmo se, actualmente, quem mais flores faz são mulheres recrutadas entre beneficiários do subsídio de desemprego ou do Rendimento Social de Inserção.Sem elas, concordam os presidentes das juntas de Santa Maria e de São João Baptista, seria impossível ter os tabuleiros para a festa. Benditas prestações sociais, portanto, que permitem manter vivas tradições destas. Aqui, em Santa Maria dos Olivais, quem garante os tabuleiros deste ano são Anabela Amorim, Paula Cristina Pires, Céu Dinis, Júlia Pereira, Graça Ferreira, Lucília Silva e Luz Trindade. E ainda Manuela Filipe, a única voluntária do grupo (há outras que não estão agora e que vão passando ou fazem trabalho em casa), abelha-mestra na arte de fazer flores.Festival de corEntráramos na sala de cima. Mil hastes, cinco para cada um dos 200 tabuleiros, estão penduradas numa estrutura de arame montada para o efeito. Cada haste tem dezenas de arranjos - podem chegar a 100 flores de papel em cada uma: rosas de diferentes cores e géneros, orquídeas, papoilas, margaridas, brincos-de-princesa, tulipas, coroas imperiais, malmequeres, jarros, lírios, hortênsias, cerejas, antúrios, ibiscos, anémonas, amores-perfeitos e, claro, girassóis. Um festival de nomes, formas e cores a imitar a natureza. Ou não. "Como a natureza, não se consegue fazer. Mas vou vendo flores ou livros e também na Internet", conta Manuela Filipe. "Vejo também documentários, memorizo e vou fazer a seguir o modelo", conta, sobre o seu método de recolha de figurinos. Manuela sentiu pela primeira vez "o bichinho" há mais de 30 anos - tinha 13 quando levou o primeiro tabuleiro à cabeça, já que essa tarefa cabe às mulheres, no cortejo quadrianual, que este ano calha dia 10.A organização da festa começa, aliás, nesta sala - estamos ainda em Santa Maria. As hastes estão penduradas em grupos de dez, iguais entre si. O presidente da junta, António Rodrigues, explica: os dois tabuleiros que desfilam lado a lado são iguais entre si. Por isso, são necessárias dez hastes com flores semelhantes, cinco para cada um. No caso desta junta, as papoilas são dominantes: dois tabuleiros desta flor intercalam com dois de outra. Prontas as flores, como se prepara o tabuleiro? No total, entre flores e estrutura, são dois ou três dias, em média, para cada um. Mas se formos à freguesia de São João Baptista, onde a maior parte dos tabuleiros já estão prontos, percebe-se melhor o trabalho necessário.Aqui, o primeiro momento pode enganar. O odor a pão acabado de sair do forno faz pensar em padaria e forno. E faz crescer água na boca, mesmo que se tenha acabado de tomar o pequeno-almoço. Centenas de pães já estão colocados nos 110 tabuleiros atribuídos à freguesia - o número é definido tendo em conta a população, embora Santa Maria se tenha excedido. Diz o presidente que não é possível recusar tantos pedidos para levar tabuleiros, argumento que levanta pequenas críticas das outras quinze freguesias do concelho. Este ano, haverá um total de 700 tabuleiros, cabendo às duas freguesias urbanas a fatia maior.Vamos então ao processo: fixam-se cinco canas de vime ao cesto; espetam-se os pães nas diferentes canas (uma média de seis em cada); coloca-se a coroa, que é atada às canas; trava-se, finalmente, cada um dos pães, atravessando pequenos pedaços de cana entre duas hastes. Para as flores, colocam-se cinco arames desde a coroa até ao cesto. São eles que servirão de base às hastes em que foram colocadas as armações de flores. O cuidado, depois, está em fixar bem as hastes de flores aos arames, de modo a que estes fiquem completamente cobertos de vegetação ou flores - sempre de papel, claro. No final, coloca-se por cima a pomba, símbolo do Espírito Santo, ou a cruz de Cristo, símbolo da ordem que se ligou à cidade de Tomar pela sua presença no convento.
.
Ninguém dorme
Tudo somado, cada mulher leva à cabeça uma carga de 13 a 15 quilos, por vezes 17, durante as quatro ou cinco horas que dura o cortejo pelo centro histórico deTomar. No momento culminante, há ainda o esforço suplementar do levantar de todos os cestos ao mesmo tempo, na Praça da República, diante da Igreja de São João Baptista. Este é um trabalho de meses, minúcia e paciência. Rosa Sousa, voluntária em São João Baptista, é especialista em malmequeres. Este ano, a conta já ia em 6450, até final da semana passada.Na junta de São João Baptista, além de Rosa Sousa, estão Fernanda Vieira, Teresa Gaspar, Judite Félix, Paula Silva, Anabela Abreu, Rita Salvador e Lurdes Mendes. No meio de uma paleta de azuis, vermelhos, laranjas, brancos, amarelos, verdes, lilases, rosas. E as flores? Não se desvenda o segredo se soubermos que, também aqui, há algumas já referidas em Santa Maria, além de sardinheiras, buganvílias, magnólias, junquilhos, cravos, alcachofras, uvas ou aloés vera.O mesmo sucede com o centro histórico da cidade. No dia 8 de Julho, sexta-feira, serão inauguradas as várias ruas ornamentadas, para as quais também estão a ser feitas milhares e milhares de flores em papel. Na noite anterior, ninguém dorme: é preciso colocar no lugar as ornamentações que, entre vizinhas e moradores, se foram preparando.Este ano, explica o mordomo da festa, João Vital, foram incorporados muitos alunos das escolas secundárias. Mas há centenas de pessoas a trabalhar já desde Junho do ano passado.A Festa dos Tabuleiros culmina com o cortejo multicolor de dia 10. Prevêem o município e os responsáveis do Turismo que a iniciativa deverá atrair à cidade meio milhão de visitantes durante o fim-de-semana de 8 a 10 de Julho. Para a segunda-feira seguinte está reservada a distribuição da pêza ou vôdo: carne, pão e vinho são oferecidos aos mais carenciados.O vôdo já foi uma espécie de banquete colectivo da cidade, mas o aumento da população fez com que se fosse restringindo apenas a quem mais necessitava. Actualmente, é a comissão central que oferece o vôdo, popularmente designado por bodo. Não é a mesma coisa: vôdo tem origem em voto, ou promessa, explicava Pinharanda Gomes no II Congresso do Espírito Santo, em Junho de 1998. Actualmente, o vôdo é distribuído depois de analisadas as inscrições de candidatos.Um gesto que, ainda assim, está intimamente relacionado com a festa, uma celebração ligada ao culto do Espírito Santo. Pinharanda Gomes dizia, na mesma ocasião: "O vôdo significa um compromisso de partilha e de fraternidade, de despojamento de um bem a favor do outro, um dom, portanto gratuito. Significa ainda que há abundância, que é tempo de abundância." Abundância de cor, alegria, fraternidade.
.
A Rainha Santa e o turismo.
.
Terá sido Santa Isabel a promover as festas do Espírito Santo? Conta Aurélio Lopes (Devoção e Poder nas Festas do Espírito Santo, ed. Cosmos) que a tradição atribui à Rainha Santa a responsabilidade pela introdução do culto do Espírito Santo em Portugal. Mas o mesmo autor nota que, antes de Isabel de Aragão vir para Portugal e casar com Dom Dinis, em 1283, já em Benavente existia uma Confraria do Espírito Santo, que terá tido origem possivelmente em 1232, extinguindo-se em 1560 para dar lugar à Misericórdia. O compromisso da confraria incluía a obrigação de "dar aos pobres um convite ou bodo, em cada ano, à custa dos confrades".Assim, explica Aurélio Lopes, no dia de Pentecostes, os confrades distribuíam aos pobres, "num cortejo cerimonial, um bodo de pão e carne". O compromisso inseria-se num mais vasto conjunto de práticas caritativas próprias deste tipo de instituições, e que incluíam hospitais e albergarias, por exemplo.Como festa ligada ao culto do Espírito Santo, também os Tabuleiros terão nascido com este objectivo. No século XX, o turismo foi fazendo da festa um cartaz de promoção regional, mantendo a tradição da distribuição de comida (pão, carne e vinho) pelos mais necessitados. É isso que acontece na segunda-feira, dia 11 de Julho, com a distribuição da pêza a pessoas carenciadas previamente registadas.
.

Os segredos dos templários que Tomar desvenda

Por António Marujo
Uma santa atirada ao rio. Uma janela património mundial que fala de uma epopeia. Uma adega que poderia ter sido um lugar de iniciação. A mais antiga sinagoga de Sefarad. Uma mata dos sete montes. Mistérios templários escondidos nas pedras. Um magnífico tríptico fechado à chave. Ir do Paraíso ao inferno num único café. Uma albufeira mágica e um barco no cais. Com a Festa dos Tabuleiros no horizonte, fomos em busca dos segredos de Tomar e da sua região.

Esta sala é quase secreta. 
.
Tem que se ir buscar a chave, descer umas escadas meio escondidas e entrar numa ligeira penumbra que só a iluminação artificial pode quebrar. Ao fundo, abre-se um vão sobre a mata. Por ali sairiam cavaleiros, à procura de encontros secretos, lugares de fuga ou cerimónias ocultas. Para aceder à adega - seria aqui a adega do Convento de Cristo, em Tomar - descem-se sete degraus. Número mítico, símbolo da perfeição na linguagem bíblica. São degraus fora da proporção, que vão aumentando de altura de baixo para cima.

Também no tecto se podem ver símbolos relacionados com a figura da mãe de Jesus: rosas, conchas - antes de ser símbolo de Compostela, a concha era já símbolo de Nossa Senhora - remetem para Maria de Nazaré como vaso de vida, explica o arquitecto Álvaro José Barbosa, exdirector e actual conservador do Convento de Cristo.
Não se sabe a razão de, numa adega, encontrarmos esta decoração - que se repete na cozinha. Certo é que Nossa Senhora da Conceição foi invocada como padroeira da Ordem de Cristo quando, há sete séculos, esta herdou os membros e património dos Templários em Portugal.
A adega - que para alguns era, antes, uma sala de iniciação aos segredos templários - levava ao lado de fora. Ali estava a cerca do convento e a floresta, que já foi "tão densa" que estava vedada "não só aos olhos da vista mas também do espírito", como escrevia Fernão Álvares do Oriente na novela Lusitânia Transformada.
A Mata dos Sete Montes (que está a sofrer pequenas obras de beneficiação para reabrir a tempo da Festa dos Tabuleiros, no início de Julho) era o espaço rústico do convento, explica Álvaro Barbosa. Ali, os monges podiam isolar-se e o boticário podia também ir procurar as plantas para as mezinhas e outros remédios.
Voltamos a encontrar decoração noutro lugar simples como a cozinha. Flores, cálices, cruzes... "O símbolo destinava-se a exprimir conceitos", diz o ex-director do Convento. Provavelmente, acrescenta, seria um modo de levar os monges a recordar em permanência as razões da sua vida naquele lugar. Mas não há certezas. Sabe-se, no entanto, que o complexo constituído pelo Convento de Cristo e pelo Castelo de Tomar, incluindo a Mata dos Sete Montes, está ligado intimamente à História de Portugal.
Essa relação é dominada pela forte presença templária, já que os cavaleiros da Ordem do Templo são chamados a repovoar o território depois da sua conquista aos reinos muçulmanos. Gualdim Pais, mestre da ordem, é o promotor da construção do castelo de Tomar, em 1160. Mas também Almourol, Pombal, Atalaia, Langalhão, Dornes ou Cardiga são entregues aos templários.
Mais tarde, os templários dão lugar, em Portugal, à Ordem de Cristo, em 1319. E, um século depois, o seu grão-mestre será o Infante Dom Henrique, primeiro não-clérigo no cargo, que traz para a antiga casa militar do castelo, entretanto transformada em convento, um grupo de frades orantes. Mais 100 anos e o rei Dom Manuel faz do paço a sua residência favorita, promove o seu alargamento e manda fazer um corpo de igreja com coro alto e pintar a charola, além de outras obras. Com a rainha Catarina, mulher de Dom João III, o edifício torna-se palácio real.

Pedras mágicas
Da memória dos tempos vêm outros sinais, como uma pedra romana que indicia a presença remota no lugar. Ou, mais junto do rio Nabão e ainda perto da roda hidráulica, no centro da cidade, a escultura que representa Santa Iria - na lenda que vem do tempo da evangelização dos visigodos pelos beneditinos, a monja teria sido atirada ao rio por um príncipe apaixonado e não desejado. O seu corpo teria ido depois parar a Santarém, onde o rio se abriu para deixar ver a urna.
Pedras mágicas no convento são as da janela do capítulo, com quatro metros de altura. Estava incorporada na nave que Dom Manuel mandou fazer para ampliar a igreja templária, depois do descobrimento do caminho marítimo para a Índia, explica Álvaro Barbosa. Mais próxima de nós, hoje, do que a sua altura inicial (o claustro de onde a podemos olhar é posterior), traduz uma profusão de símbolos. Com o mar omnipresente, tendo em conta os Descobrimentos.
A janela é toda uma lição de simbologia. A coluna, cujo fuste faz a analogia ao tronco da árvore, remete para a simbologia bíblica da profecia do livro de Isaías, que no cristianismo é lida como antecipação do nascimento de Cristo: "Brotará um rebento do tronco de Jessé". Mas também ali se representam as armas dos reis portugueses (há uma fivela de cinto, como sinal da entronização real) e elementos de flora, de onde sobressaem as alcachofras e os ramos de vime.
Triste é ver a janela a ser comida por líquenes invasivos. Só terão aparecido depois da plantação de coníferas na Mata dos Sete Montes, diz Álvaro Barbosa. Procurava-se imitar as matas de Sintra que, por sua vez, reproduziam as florestas alemãs. Mas Tomar não é Sintra e o efeito foi encher de líquenes as pedras do convento.
De lado, numa das torres, nota-se já o efeito da limpeza: aplicaram-se pachos biológicos com nutrientes que promovem a emigração dos líquenes da pedra para uma calda biológica. A diferença é notória: a pedra foi devolvida à sua beleza na torre já limpa, continua sujeita à patine do tempo na janela e em grande parte das paredes do edifício. Os mais distraídos podem não reparar que há uma outra janela semelhante. Inicialmente, havia três: uma a Ocidente (a actual) e duas a Sul, uma das quais foi entaipada. A que ainda está visível está junto da charola, num dos corredores da casa do capítulo. Vê-se de cima para baixo.
Chegamos ao outro lugar encantado deste convento, a charola. Conta a lenda que os templários entravam montados nos seus cavalos pelo deambulatório. O responsável do convento diz que é impossível confirmar tal versão - provavelmente apenas uma lenda. Verdade é que, em 1640, vários conjurados foram ali sagrados cavaleiros, para lutar contra a ocupação filipina. Tomar sempre no centro da história.
"A mística do espaço tem a ver com a memória trazida do Oriente", diz Álvaro Barbosa. A igreja conventual era a de Santa Maria dos Olivais. A igreja da charola, do convento, era dedicada às cerimónias iniciáticas, aprendidas com os cristãos da Síria e os ortodoxos. Colocada no cimo do monte, a charola era a parte mais elevada do lugar.
"É um dos símbolos da mística fundadora de Portugal", diz o conservador do convento. Os edifícios de planta circular são trazidos para Ocidente depois da tomada de Jerusalém pelos cruzados e pelos templários. Na Cidade Santa, havia um templo circular à volta do Santo Sepulcro.
A charola alude, aliás, à morte e ressurreição de Jesus: estão ali representados os instrumentos da paixão e, na nave manuelina, a ressurreição - explica ainda Álvaro Barbosa. "O rei Dom Manuel nunca perdeu a ideia fundiária do espaço: imitar o lugar onde se deu a ressurreição de Cristo." A representação pictórica traduz também esse simbolismo, através de cenas e imagens ligados à vida de Cristo. No tambor central, uma coroa de espinhos esculpida circunda o anagrama de Cristo. Está, no entanto, escondida, mal se vê de baixo.

Do Paraíso ao inferno
Menos escondida, agora, está a Sinagoga de Tomar, depois de séculos destinada a outros fins. Está na Rua Dr. Joaquim Jacinto, antiga Rua Nova ou Rua da Judiaria. Hoje, o edifício de planta quadrangular é quase só um espaço de memória, a aguardar obras de recuperação.
Durante o seu consulado como grão-mestre da Ordem de Cristo e governador de Tomar, o Infante Dom Henrique chamou judeus para povoar a cidade e dinamizar a economia local. Deu-lhes um bairro e o direito a construir a sinagoga. Edificado entre 1430 e 1460, o lugar de oração seria desactivado décadas depois, após a expulsão dos judeus de Portugal - a Sefarad do judaísmo. Transformada em cadeia, capela e casa térrea, seria classificada como monumento nacional em 1921 e comprada, em 1923, por Samuel Schwarz, polaco e engenheiro de minas a trabalhar em Portugal, que estudou a comunidade de judeus escondidos de Belmonte. Em 1939, Schwarz doou a sinagoga ao Estado, mas para que nela fosse instalado um museu luso-hebraico.
Atravessando duas ruas, vamos descansar no Paraíso. O café completou um século a 20 de Maio. Situado na Rua Serpa Pinto (antiga Rua da Corredoura), é propriedade de Alexandra Vasconcelos, que o herdou dos pais, depois do avô e de um tio-bisavô. Um trocadilho local diz que, de manhã, o café é o paraíso, à tarde o purgatório e, à noite, o inferno. Alusão ao público predominante que o frequenta: reformados pela manhã e, progressivamente, um público cada vez mais jovem. Já mal se usam cafés assim: não há inox em sítio nenhum. Apenas madeira e ferro, espelhos, mesas em mármore, colunas e um pé direito altíssimo. Numa das paredes, recortes vários a falar do Paraíso. No tecto, duas ventoinhas. O conjunto tem, apesar da patine do tempo, um encanto especial.
Por aqui passa meia Tomar e Umberto Eco, o autor de "O Nome da Rosa", ia escrever numa das mesas, quando esteve na cidade há uns 15 anos. Com uma fachada em vidro (que transformou a fachada anterior, de quatro pórticos), o melhor do Paraíso, segundo a sua proprietária, é o facto de ser um espaço "arejado e ter um pé direito maravilhoso". "Intemporal."

Um tríptico escondido
Voltemos aos segredos que Tomar esconde. Por exemplo, o tríptico de origem flamenga, do século XVI, que está no baptistério da igreja de São João Baptista, logo à esquerda quando se entra. Tem que se pedir ao sacristão da igreja que faça o favor de abrir a porta do baptistério. Só assim se pode apreciar a obra - não haverá maneira de proteger o quadro sem ter que o esconder? Representando cenas da vida de Jesus - o baptismo no centro, as bodas de Caná e as tentações, além de São João e Santo André nas portas -, a obra é de uma delicadeza ímpar.
Há nesta igreja ainda outras sete telas a justificar a visita. São todas de Gregório Lopes, um dos nomes mais destacados do Renascimento português. Do lado direito, estão A Degolação de João Baptista, a Apresentação da Cabeça de João Baptista, Abraão e Melquisedeque, a Apanha do Maná, a Última Ceia e a Missa de S. Gregório. Na parede defronte, vemos uma Visitação. Gregório Lopes tem obra distribuída por Setúbal, Madeira e Tomar (há pinturas suas também no Convento de Cristo). Em Tomar, além de podermos pousar o olhar de cada vez que passamos junto do Nabão, ainda é possível dar um salto à ermida de Santa Iria. Destaca-se aqui um retábulo em calcário representando a paixão de Cristo, com a curiosidade de a cruz ser em T, ou Tau, representação iconográfica invulgar. Ou à igreja de Santa Maria dos Olivais, onde os templários eram armados cavaleiros.
Subindo de novo para as bandas do castelo e do Convento de Cristo, encontramos a ermida da Senhora da Conceição. Há quem diga que foi construída para capela funerária de D. João III. Álvaro Barbosa diz que isso não é verdade: "Não tem dimensão para ser mausoléu", assegura, foi mesmo edificada como espaço de culto.
Aviso aos visitantes: até Novembro, os acessos de automóvel ao convento e ao castelo estão condicionados por causa de obras de requalificação.

Densos mistérios
Saindo de Tomar, é obrigatório ver, ainda nas imediações da cidade, o monumental aqueduto de Pegões. Era por aqui que o convento se abastecia de água. O facto de atravessar vales acentuados confere ao monumento um carácter impressionante, em alguns pontos dos seus sete quilómetros de extensão. No vale de Pegões, a parte mais comovente do percurso, o aqueduto desenha uma curva, num pórtico com 58 arcos de volta inteira e 16 arcos quebrados. Uma obra a pedir reabilitação, de modo a que se possa passear pelo aqueduto.
Mais longe, espera-nos a torre templária de Dornes, a uma meia hora da cidade. Uma vez mais, estamos perante um monumento único. E, também aqui, fechado a visitas, neste caso pelo mau estado da escada de acesso. Uma pequena obra e uma bilheteira permitiriam dar outra visibilidade a esta construção, transformada no tempo de Dom Manuel em torre sineira da igreja matriz, situada ao lado.
A igreja terá sido fundada pela Rainha Santa Isabel e nela se pode ver uma assombrosa Pietá em pedra, do século XVI. Os 42 círios de Dornes, representando outras tantas povoações vizinhas, estão guardados na sacristia: saem em procissão desde segunda-feira de Páscoa até ao terceiro domingo de Setembro. Já houve alturas em que a rivalidade entre aldeias foi pretexto para ameaças de tiroteio. Construída sobranceira à albufeira, numa das curvas do Zêzere, o edifício é de planta pentagonal e teria servido como torre-atalaia dos templários. O mistério adensa-se pela serenidade conferida ao lugar pela confluência do rio, da torre, dos montes e vales em redor.
Há por aqui segredos que o tempo não desvendará nunca.
Onde ficar
Hotel dos Templários
.
Situado no centro da cidade, junto ao rio Nabão e a pouca distância dos principais pontos de interesse.
Largo Cândido dos Reis, 1- Tomar  | Tel.: 249 310 100; fax 249 322 191
geral@hoteldostemplarios.pt | www.hoteldostemplarios.com
Estalagem Santa Iria
.
No meio de uma pequena ilha-jardim do rio Nabão, em pleno centro da cidade, junto à roda hidráulica do Mouchão.

Tel.: 249 313 326; fax 249 321 238
Estalagem.Iria@sapo.pt www.estalagemsantairia.com/ 
Estalagem Lago Azul
.

Tem uma localização privilegiada, junto à albufeira de Castelo de Bode; a partir dela, pode também aceder aos passeios do barco São Cristóvão, ancorado nas proximidades.
Ferreira do Zêzere Tel.: 249361445; fax 249 361 664 www.estalagemlagoazul.com 

Onde comer
O Sabor da Pedra
.
Este é um restaurante localizado num lugar privilegiado para se almoçar ou jantar, com uma base de cozinha tradicional (um saboroso naco de carne mirandesa, por exemplo) e com vista para a albufeira de Castelo de Bode. Mas está ligado a um parque de campismo que é uma excelente alternativa para um alojamento mais barato e com as potencialidades que o campismo oferece.
Rua do Rio, 6 Alverangel - São Pedro de Tomar | Tel.: 249371750 / 918227432 (encerra à 2ª feira; de Inverno, à 3ª feira só funciona por marcação)
www.osabordapedra.com GPS (N) 39.548.564; (W) 8.308.545

Chico EliasUm dos mais conhecidos restaurantes do país, o Chico Elias tem na criatividade de dona Céu o seu principal segredo. Só servindo por encomenda, os sabores do Chico Elias começam pelas entradas: morcela de arroz, petingas no forno ou feijoada de caracóis. Os peixes incluem bacalhau à lagareiro, bacalhau com broa e presunto e um especialíssimo bacalhau com carne de porco, entre outros; nas carnes, pode-se optar por pato com migas, cabrito no forno, couves à D. Prior ou o delicioso coelho na abóbora; nas sobremesas, o leite-creme é de comer e chorar por mais.
Algarvias Rua Principal, 70 | Tel.: 249 311 067 (encerra domingo à noite e 3ª feira)
GPS (N) 39º35'43.06"; (W) 8º25'17.32"
Casa da Inveja
.
À beira da albufeira de Castelo de Bode, numa curva do Zêzere, a Casa da Inveja mantém a traça e características de uma casa rústica do século XIX; além dos quartos, tem um jardim e alpendre exterior, além do acesso directo ao rio. O café e restaurante ligados à casa servem refeições, que podem incluir petiscos como achigã frito e enchidos da região, ou pratos (criados por Domitília Cotrim, mãe da actual responsável) como queixadas de porco com batata assada e migas; ensopado de peixes do rio; grelhadas mistas com migas; ou enguias do rio fritas ou assadas; e ainda leite-creme ou pudim de café.

Dornes Tel.: 249 366 265/ 964 270739
geral@casadainveja.com www.casadainveja.com
A Fugas esteve em Tomar a convite da Entidade Regional de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo Delegação de Tomar

Sem comentários: