Havemos de lá Chegar…
Rui Bexiga
Somos levados a subestimar ou a desculpabilizar o poder e a força de um bom cartoon, pois inconscientemente, ou de forma simplista, se vê neles, apenas, simples desenhos, muitas vezes pouco rigorosos do ponto de vista académico, que parodiam situações ou nos fazem sorrir. O cartoonista coloca a verdade na boca dos bonecos e põe a nu as fragilidades da sociedade. Em bom rigor, o cartoon está para além dos traços que o definem.
Os seus efeitos “colaterais”, ou as ondas de choque dele emanadas, nem sempre são mensuráveis ou previsíveis, por isso o contexto e oportunidade dos temas deverá, à partida, ser sempre tido em (boa) conta. À cautela, devemos avaliar o cartoon com a importância que ele merece e ver nele a voz do inconformismo, da inconveniência política e da rebeldia do “politicamente incorreto”, da ironia, do pragmatismo, ver nele a voz dos desenquadrados, dos excluídos da sociedade, ou dos que pugnam pela liberdade, mas também o humor, mesmo que negro, mesmo que corrosivo.
As palavras de destaque de Georges Wolinski, presidente do júri do Porto Cartoon deste ano, foram para o facto de nos últimos anos este concurso contar com “a grande diferença entre desenhos de países democráticos e ditaduras”, considerando que humoristas de países como o Irão e a Turquia “falam, através do desenho, em liberdade e na liberdade das mulheres”, tal como acontecia, entre nós, antes da Revolução dos Cravos.
Wolinski diz que “os humoristas são amantes da liberdade”, congratulando-se com “a luta pela democracia” em países como a Tunísia, onde nasceu. Ainda segundo ele, com a contribuição do humor dos cartoonistas “o futuro parece mais democrático do que o passado”.
Por tudo isso, na imprensa escrita atual – o cartoon – continua a ser publicado nos mais importantes jornais do mundo, como o “New York Times”, o “Washington Post”, o “Daily Mail”, o “Le Monde”, o “Corriere de La Sera”, o “Der Spiegel”, “O Globo”, o alemão “Die Welt”, o “El Pais” ou o nosso “Expresso”, de entre muitos outros, dando enfoque aos males da sociedade contemporânea.
Acerca do World Press Cartoon|2011, Ricardo Costa – Diretor do jornal Expresso – dizia, sobre o “Poder da Imagem”, (…) não estou a falar do traço ou do estilo, sobre os quais não arrisco juízos. Apenas me refiro àabordagem jornalística: o rasgo, o humor, a simplicidade ou a profundidade de muitos destes cartoons dizem mais do que muitos editoriais, textos de análise ou opinião. E ainda bem que assim é.”
No editorial desta publicação do Expresso – “Os Autores, World Press Cartoon | Sintra 2011” – , pode ainda ler-se (…) o cartoon editorial retratando os factos, a caricatura retratando os protagonistas e o desenho de humor desmontando os mitos das nossas (in)culturas são as três categorias do nossos salão. Mas podem agregar-se, bem como todos os outros géneros jornalísticos, na corrente geral que busca a explicação para o que nos acontece e acontece aos outros.
(…) Na busca permanente de equilíbrio entre a harmonia e o caos, (como nos diz McLuhan) seja ele local ou global, os jornais cumprem uma função dual nem sempre devidamente ponderada: são sísmicos destrutivos, porque abalam pessoas e instituições; mas é neles (jornais) que os cidadãos encontram o manancial de informações e o contraditório de opiniões indispensáveis à reconstrução e à mudança.
Os cartoons estão no epicentro deste sismo. Com uma extraordinária virtude: nas horas mais difíceis praticam a caridade do sorriso.” ©2011 Expresso/WPC
A sua importância é tal, que continuam ainda hoje a ser parte integrante, mesmo nas publicações on-line.
O que se entende por cartoon – definições:
“cartoon, palavra inglesa, que representa um pedaço de papel ( do italiano cartone, usado como base de um projeto – seregeicartoons.blogs) que significa banda ilustrada de carácter humorístico” (Priberam)
“cartoon, representação grotesca de pessoas ou acontecimento” (Priberam, dic. On-line)
“um cartoon é um desenho humorístico acompanhado, ou não de legenda, de carácter extremamente crítico retratando de uma forma bastante sintetizada algo que envolve o dia-a-dia de uma sociedade” – (wikipédia)
“(…) As caricaturas e os cartoons publicados na Imprensa são hinos à liberdade de expressão naquilo que ela tem de mais relevante, a crítica (…) (Henrique Monteiro, Diretor do Jornal Expresso – “Os Autores – World Press Cartoon – Sintra 2010)
“O cartoon não é a simples ilustração de um acontecimento, antes dum desenho executado com certa habilidade profissional, onde o artista procura dirigira a visão do leitor para o ponto focal da ideia que tenta transmitir”.(Rodrigues, Paulo Madeira, “Tesouros da Caricatura Portuguesa 1856/1928, Circulo de Leitores)
“(…) Assim, o primeiro dever de todos aqueles que têm a possibilidade de retratar o mundo através das imagens que a sua criatividade gera é o de denunciar o que está mal” (…). (Henrique Monteiro, Diretor do Jornal Expresso – “Os Autores – World Press Cartoon – Sintra 2010)
“O cartoon é intemporal, universal e nem sempre se foca nos acontecimentos do momento. Este pode ter tanto de história de banda desenhada, com balões de fala, onomatopeia e subtítulos, e pode dividir-se em vários quadradinhos, ou numa só imagem. O termo é universal, por isso não existe tradução para outros idiomas. (http://abrapinheiros.wordpreess.com/ 2010/06/01/o que é cartoon)
(…) “Nem sempre é fácil distinguir o cartoon da caricatura, uma vez que qualquer dos géneros utiliza os mesmos meios e processos artísticos. Ambos proporcionam ao leitor uma sensação de “apanhar mais” das essências das pessoas, tipos ou ações fixadas.”
2. A HISTÓRIA DO CARTOON
O cartoon deriva da caricatura. No séc. XVIII, caricatura significava uma semelhança de desenho onde qualquer característica ou particularidade de rosto, figura ou traje é exagerada. «(…) Posteriormente a caricatura consistiria em retirar dos originais retratados uma ou mais características salientes e substituí-las por membros de animais, aves e vegetais ou estabelecer uma analogia com ações desses animais.»
Nos fins do séc. XVIII e no séc. XIX, a caricatura, alcança em França e Inglaterra um sentido mais lato. A paródia ilustrada baseada no cartão que servia de matriz para a produção de tapeçaria e mosaico, adquiriu esse novo significado, popular, político ou social a que se viria a chamar, cartoon.
A história do cartoon está intimamente ligada a um concurso de pintura. Reporta-se à época vitoriana, aquando da publicação do semanário “Punsh” – 1845, época do Príncipe Alberto – que satirizou, numa série de 6 cartões, do caricaturista John Leech, as pinturas de um concurso destinadas à decoração de frescos do Palácio Westminster, que acabam por receber o nome de “punch’s cartoons”.
Desde essa data, o cartoon, tal como o concebemos hoje, passa a depender da imprensa periódica semanária e diária. A popularidade baseia-se na grande familiaridade do público com o assunto representado. Com frequência, pagina-se junto ao editorial e a maioria das vezes amplia o ponto de vista ou a opinião do editorial que acompanha.
3. A LINGUAGEM DO CARTOON
Para o cartoonista o seu trabalho é comunicação pura. Dele se exige, para além da criatividade e virtuosismo, um conhecimento e uma curiosidade sobre tudo o que o rodeia. Este deve ter em atenção o seu público-alvo e compreender que as suas ações podem colidir com factores de incompreensão ou intolerância religiosa ou cultural e que, estes podem impossibilitar a descodificação da mensagem, mesmo que subliminar.
O cartoon provoca-nos sempre emoções e nem sempre a cinésica do riso é a mais comum delas. Outras vezes essas emoções deixam transparecer repulsa e apreensão convidando-nos à reflexão.
Nem sempre a leitura é imediata, por isso, em muitos casos, somos convidados a percorrer a imagem com atenção para perceber, este ou aquele pormenor, que faz toda a diferença.
O cartoon serve-se de signos (“make peace, not war”, “radioctivo”, “visa”, “UE”….,) mas é também ele próprio objecto de uma semântica própria.
O cartoon recorre com frequência ao non sense, aos “balões” e às onomatopeias para complementar a sua mensagem. As fontes usadas nos balões, ou mesmo os sinais gráficos, são, quase sempre próximas das manuscritas por se entender serem essas as que encaixam melhor no conteúdo da imagem. Raramente aparecem fontes serifadas e a assinatura do cartoonista é sempre um exemplo de destreza e individualidade, resumindo-se, muitas vezes, a um “ingénuo” grafismo.
O cartoon exige de nós – para apreender o conteúdo da mensagem – um conhecimento do mundo, dos seus problemas e preocupações, dos políticos que o governam, dos artistas que nos servem como referência ou dos desportistas de eleição. Exige de nós, em primeiro lugar, uma cultura ocidental clássica, onde certos ícones estão há muito enraizados. Só é possível ler completamente uma mensagem visual se os seus elementos sígnicos forem compreensíveis, onde o sucesso da comunicação assente – e o cartoon apoia-se muito nesse facto – no “trocadilho visual”.
Repare-se no seguinte cartoon (que intensionalmente não se mostra para que o possamos imaginar): “observe-se um homem, apoiada de joelhos e mãos sobre uma mesa, com o tronco em ponte. Veste roupa (algo) clássica, mas sem gravata. Sob a figura surgem dois bebés para quem os bolsos, que pendem de ambos os lados do casaco, brancos e vazios, são tetas que tentam abocanhar (cartoon “crise” do bielorrusso Zemia). A analogia à escultura romana, da loba, que dá de mamar aos irmãos Rómulo e Remo é imediata. Sem esse conhecimento e enquadramento cultural, a objectividade do cartoon saía fortemente diminuída.
No caso de um cartoon baseado numa personalidade conhecida, só é possível fazer uma interação comunicacional visual se formos detentores de um anterior conhecimento que nos permita fazer a ponte entre a pessoa e a caricatura. Não faria qualquer sentido representar, Michael Jackson, Berlusconi ou o Papa Bento XVI, se não tivéssemos antecipadamente conhecimento de quem são, do que fazem ou fizeram, quais os seus interesses ou desventuras. Para apreciarmos melhor uma caricatura de Edgar Allan Poe, de testa ampla e cabelo desalinhado, com um corvo numa das mãos, é obrigatório conhecermos um retrato seu. Não sendo assim, apreciaremos apenas, o virtuosismo do traço do seu autor e pouco mais. O cartoon exige, por isso, uma cultura visual multidireccional e ampla.
- Quanto ao modo de leitura.
O normal é a leitura da mensagem fazer-se, ou ser sugerida, da esquerda para a direita e de cima para baixo, mas é igualmente previsível que essa primeira regra possa ser quebrada se o desenhador assim o entender, contudo não é observável uma leitura que seja ascendente.
O sucesso da comunicação assenta na fiabilidade, embora exagerada, ou “expressionista”, do cartoonista aplicada ao seu modelo ou à oportunidade do seu conteúdo.
Onomatopeias – figuras da linguagem na qual se reproduzem sons com um fonema ou palavra
Balões – convenção gráfica que permite espaços de diálogo
Gags – situações cómicas inventadas para produzir humor
A oportunidade, ou objectividade, do conteúdo da mensagem do cartoon assenta na cultura pessoal e na informação de que o desenhador/cartoonista dispõe no momento, e do seu sentido crítico/humorístico. Em boa parte, assenta na sua capacidade de síntese. Da junção destes factores saem mensagens eficazes, carregadas de sentido crítico e objectividade política, de questões de moral, religião, pensamento cívico, etc.
4. CARTOONISMO EM PORTUGUÊS
Quando falamos de cartoon em português surge à cabeça, a figura de Rafael Bordalo Pinheiro e do seu “Zé Povinho”, representado no teatro da política portuguesa no dealbar do sec. XX. Lembremos o semanário burlesco e não político, que através dos desenhos satíricos de Francisco Augusto Nogueira da Silva, “Asmodeu”, que em 9 de Fevereiro de 1856, deu início à publicação da sátira ilustrada na imprensa nacional.
Em França, Charles Phillipon e em Inglaterra com John Leech, são os percursores do cartoonismo. Por cá, cabe o pioneirismo, a Nogueira da Silva.
Dai até aos nossos dias «milhares de páginas de jornais diários, semanários, revistas e álbuns patenteiam a intensa atividade dos ilustradores portugueses do género que, manifestaram na expressão crítica das suas criações, a rebeldia contra o absolutismo, a corrupção e a má governação» (…) «cada um deles, à sua maneira narra esta parcela do tempo português testemunhando acontecimentos políticos, sociais e culturais sublinhando o grotesco, o ridículo, o ambíguo que julga encontrar no quotidiano experimentado que transmite a expressão contemporânea do comportamento e feição cultural de um povo.» (…) «… a habilidade dos cartoonistas em penetrar até à essência, ao sublinhar e fixar as características importantes e diferenciadoras de uma pessoa ou pessoas, atua como corretor visual dos nossos gostos e aversões (e com as nossas consciências)»
Em 1868 é publicado “O Calcanhar de Aquiles”, de Rafael Bordalo Pinheiro. As caricaturas do jovem desenhador andavam, com sucesso, de mão-em-mão pelas tertúlias da época. “A Berlinda” – 1870, “Apontamentos sobre a Picaresca viagem do Imperador do Brasil pela Europa” – 1872, o jornal “O Binóculo” – 1873, publica ilustrações suas. De 1874 a 1907, fez uma série de publicações (“O Almanaque de Caricaturas”, “A Lanterna Mágica”, “António Maria”, “A Paródia”, “A Paródia – Comédia Portuguesa”). De forma caricatural, Bordalo Pinheiro, pretendeu que nos víssemos – nós portugueses – “tal e qual somos” e a ele cabem as honras do maior ilustrador satírico português.
Cândido da Silva, Almada Negreiros, Jorge Barradas, Carlos Botelho, Bernardo Marques e outros dificilmente resistiam ao apelo sedutor da caricatura e da sátira, tínhamos entrado em pleno no sec. XX.
(Rodrigues, Paulo Madeira, “Tesouros da Caricatura Portuguesa 1856/1928, Circulo de Leitores)
Na época do Estado Novo, a caricatura para ser publicada, tinha de passar pelo crivo imposto pela censura e usar o conteúdo de forma subliminar.
Depois da Revolução de Abril, uma das figuras incontornáveis da caricatura como arma de arremesso é João Abel Manta. A ele são atribuídas algumas das mais singulares, elaboradas e históricas – porque não – ilustrações ou desenhos caricaturais. (MFA POVO, POVO MFA)
Da história do cartoon contemporâneo, fazem parte, entre outros autores, o Sam (Samuel, “pai” do Guarda Ricardo), o Augusto Cid (a quem se deve um olhar fresco sobre os “valentes” da festa brava), o incontornável António (que um belo dia se lembrou de criticar a atitude da Igreja perante o uso do preservativo), de António Maia (com as suas plácidas figuras cheias de ruralidade e verdade – autor de quem falaremos mais à frente), doLuís Afonso, impagável na sátira desportiva (com o seu barba e cabelo), entre outros, fazem do cartoon português uma arte, tão boa como as demais.
Não podemos deixar de destacar (e louvar) a importância que os certames “PortoCartoon”(13ª edição)-(Porto/Santa Maria da Feira) e o ”World Press Cartoon”, segundo eles, “OWorld Press Cartoon Sintra 2011 é a mais importante exposição internacional de desenho de imprensa em todo o mundo”, e do que isso representa na divulgação desta modalidade jornalística.
5. O CARTOON COMO GERADOR DE CONTROVÉRSIA
O cartoonismo é essencialmente destrutivo, daí não merecer a simpatia dos ditadores, que, sensíveis ao poder e força da caricatura, «fazem tombar o cartoon de entre as primeiras vítimas da censura».
Digamos que, «a história da caricatura e do cartoon está intimamente ligada na forma como uma classe olha outra».
# 1 – OBAMA no New York Post
O diário “New York Post” publicou, esta quarta-feira, (20/Fev/2009 – 15h27) um cartoon envolvendo um polícia que após matar a tiro um chimpanzé questiona: “Será necessário encontrar alguém para escrever o próximo plano de estímulo económico?” Centenas de pessoas já se manifestaram alegando que o desenho contém uma mensagem racista.
Os manifestantes acreditam que o cartoon é uma alusão ao novo presidente dos Estados Unidos da América, Barack Obama, responsável pelo plano de estímulo económico que foi recentemente aprovado no Congresso, e à morte de um chimpanzé, que atacou uma mulher na última segunda-feira em Stamford, Connecticut.
O diretor do “New York Post”, Col Allan, afirma num comunicado que “o cartoon é uma sátira de um acontecimento da atualidade, tal como o tiroteio contra um chimpanzé violento”. Acrescentou ainda que os desenhos “ironizam os esforços de Washington para estimular a economia” e que não existe nenhum conteúdo racista.
Outra opinião tem Al Sharpton, ativista e líder da manifestação que se desenrola em frente ao edifício da sede do referido jornal. Sharpton acredita que o cartoon “cheira a discriminação racial, porque compara intencionalmente o presidente dos EUA com um chimpanzé”.
Mesmo com a explicação oficial, os ânimos da manifestação não acalmaram, principalmente entre a comunidade afro-americana de Nova Iorque. O governador da cidade, David Paterson, de origem africana, também pediu explicações ao periódico e garantiu que as associações entre os afro-americanos e os primatas “alimentam de forma negativa e estereotipada o pensamento das pessoas”.
“New York Post” já pediu desculpas. Contudo, o periódico acredita que a polémica foi desencadeada pela concorrência, com o propósito de, apenas, difamar e prejudicar a empresa. Assim, o pedido de desculpas é somente dirigido a quem se sentiu ofendido, excluindo neste pedido, os responsáveis que iniciaram esta polémica (20/Fev./2009 http://www.publico.pt/Mundo/new-york-post-pede-desculpa-por-cartoon polemico_1365992)
# 2 – MAOMÉ antropomórfico
Jornal sueco publica polémico ‘cartoon’ de Maomé. Depois do dinamarquês, agora é a vez de um jornal sueco fazer polémica pela publicação de um cartoon do profeta Maomé, que a comunidade muçulmana caracteriza como ofensivo.
O Irão convocou o representante diplomático da Suécia no país para protestar contra a publicação de uma ilustração«desrespeitosa» do profeta Maomé no jornal sueco Nerikes Allehanda, disse a imprensa estatal iraniana.
O cartoon em causa era constituído pela cabeça do profeta muçulmano num corpo de cão, e foi publicado a 18 de Agosto para reforçar a liberdade editorial e religiosa do jornal.
A embaixada sueca em Teerão confirmou ter recebido uma manifestação de protesto durante uma reunião no Ministério das Relações Exteriores do Irão, por causa da ilustração feita pelo artista sueco Lars Vilks.
O jornal argumentou ‘liberdade de expressão’ para justificar a decisão de publicar a ilustração, mas a medida provocou a realização de uma pequena manifestação diante de sua sede, na sexta-feira.
Galerias de arte suecas decidiram não expor as ilustrações do artista sobre o mesmo tema, alegando correr o risco de irritar os muçulmanos.
No início de 2006, uma onda de protestos causou tumultos no mundo inteiro por causa de caricaturas do profeta Maomé publicadas no jornal dinamarquês Jyllands-Posten e depois republicadas por outros periódicos europeus. (“Sol” 27 de agosto de 2007 http://canais.sol.pt/paginainicial/vida/interior.aspx?content_id=52642)
3 – OBAMA no “The New Yorker”
Obama não achou piada à brincadeira
Barack Obama vestido de muçulmano com um turbante na cabeça, acompanhado pela mulher Michelle, que enverga roupas de guerrilheira e com uma metralhadora AK-47 ao ombro. Foi com este cartoon que a revista ‘The New Yorker’ fez capa na sua última edição, intitulada “Campanha do Medo”, causando a ira dos apoiantes do candidato democrata (atual presidente dos Estados Unidos) que já considerou o trabalho como “ofensivo e de mau gosto”.
Na ilustração Obama e a esposa aparecem a fazer um cumprimento em sinal de vitória, na sala oval da Casa Branca, onde uma bandeira norte-americana está a ser queimada na lareira e na parede está um quadro do líder fundamentalista islâmico Osama bin Laden.
Num comunicado, a revista explica que a intenção era “satirizar as tácticas do medo e de desinformação usadas na eleição para destabilizar a campanha de Barack Obama”. O cartoonista responsável pela imagem também deu as suas explicações: “Rotular Obama como antipatriótico é absurdo. Achei que retratar essa ideia mostraria o quão ridículos são esses boatos”, concluiu Barry Blitt. O cartoonista referia-se aos rumores que começaram a surgir da Internet em Fevereiro sobre o candidato presidencial democrata ser um muçulmano.
# 4 – MAOMÉ e a bomba no turbante
O autor dinamarquês de 75 anos, que desenhou o profeta Maomé com uma bomba no turbante, e que criou uma enorme polémica no mundo muçulmano, esteve num simpósio sobre Liberdade que decorreu em Outubro do ano passado em Santa Maria da Feira. Kurt Westergaar, não vive sem guarda-costas e as ameaças são constantes.
Se fosse hoje voltaria a fazer o mesmo cartoon? Ao que responde que; o que está feito está feito, mas que a polémica resulta da fricção cultural.
O cartoon foi publicado no jornal dinamarquês, ”Jyllands-Posten”, em 30 de Setembro de 2005
Mas, a 14 Fevereiro 2008,
O cartoon representando o profeta Maomé volta às bancas, como reação ao possível plano de assassínio do cartoonista dinamarquês.
Os cinco principais diários dinamarqueses republicaram, ontem, o cartoon que representava de forma polémica o profeta Maomé. O desenho apareceu pela primeira vez em Setembro de 2005.
As publicações reagiram desta forma à prisão de três suspeitos de planear a morte do cartoonista Kurt Westergaar, noticia a Reuters. Na sua representação, o profeta Maomé aparecia com uma bomba na cabeça, em substituição do tradicional turbante.
Na altura, os cartoons desencadearam protestos violentos por parte da comunidade muçulmana. A lei islâmica proíbe qualquer tipo de representação gráfica do profeta, mesmo positiva, temendo que isso conduza à idolatria.
Seguiu-se um período de acalmia e os próprios dinamarqueses consideravam que o acontecimento estava ultrapassado. Mas, na terça-feira, a polícia dinamarquesa anunciou a prisão de três suspeitos de planear o assassinato do cartoonista que fez o desenho mais polémico de Maomé.
# 5 – JOÃO PAULO II, a igreja e o preservativo
Em 1993, António vê-se envolvido naquela que seria a maior polémica da sua carreira: o Preservativo Papal.
Ainda nesse ano o Expresso assinalava os seus 20 anos com a edição dos 20 melhores trabalhos de António numa antologia com tiragem limitada.
A polémica gerada pela imagem de João Paulo II de preservativo pendurado no nariz, trouxe à baila a posição da igreja quanto à contracepção, contestada pelos grupos menos conservadores da sociedade civil.
Foi, porventura, este o cartoon mais polémico editado em Portugal, e passados quase duas décadas sobre a sua publicação, o assunto, que a própria Igreja Católica tem vindo a ajustar ao longo dos tempos, está praticamente esquecido, sobrando, pouco mais, do que os traços virtuosos do seu autor.
«… não se aprende a ser António, como não se aprende o génio. (Clara Ferreira Alves “O Expresso” ,pp 13 – 1994)
7 – A PALAVRA AO CARTOONISTA
Não só por uma questão de proximidade geográfica ou facilidade de contacto, mas mais pela qualidade e importância do seu trabalho no panorama atual do cartoon em português, decidimos colocar algumas questões a António Maia, que gentil e incondicionalmente, aceitou responder.
Pela objectividade e pertinência associadas às questões colocadas ao autor, julgamos ter sintetizado ao máximo as perguntas, que abaixo se transcreve na íntegra:
Caro Mário (Rui e Fernando)
(Desculpe o atraso às suas questões, às quais respondo com todo o gosto.)
1 – Qual a importância/papel dos Cartoons na imprensa escrita?
AM – Os cartoons políticos de imprensa têm grande importância na imprensa escrita, formando uma especialidade, digamos, dentro das várias vertentes que jornalismo apresenta. O cartoonista tem que se apresentar como um bom jornalista e bom artista plástico para que o seu trabalho tenha forte expressão plástica e uma aguçada e sintética expressão escrita. Desta conjugação, nasce o tiro que tem que acertar no alvo certo. O cartoon é de fácil leitura, por isso de mais rápido efeito. Além disso, muitas das vezes, alia à mensagem o humor. Assim, e concluindo, o cartoon de imprensa reforça a sua importância nesta sociedade de certa forma chantageada por falsas liberdades. A independência do traço e do humor garantem-lhe o futuro.
2 – Com a tendência dos jornais online, os Cartoons continuam a fazer sentido?
AM – O cartoon, mesmo online, continua a fazer todo o sentido. Ele não depende do suporte em que chega ao público, pois vale como obra singular de opinião de um determinado autor. Costumo dizer que desenho um artigo quase todos os dias. O importante é que, para ter efeito, ele chegue às pessoas, seja em papel, online, em mármore ou em papiro.
3 – Qual o seu autor de referência?
AM – Não tenho um só autor de referência. Tenho, sim, escolas de referência: a francesa e a inglesa. Tem autores óptimos que trabalham a ironia e o nonsense com carinho e cuidado. Grande pena tenho eu em não ter uma classe política culta e com sentido de humor. Tudo seria diferente!
Abraço
António Maia
António Maia
2 de Maio de 2011
MAIA, reside e trabalha no Ribatejo. Com vasta obra publicada, assina com regularidade a publicação de um cartoon no semanário regionalista “O Ribatejo”.
.António Calado da Maia, de 60 anos, conhecido por Maia, estudou Direito, Sociologia e História de Arte, mas é a fazer humor “como quem faz renda de bilros” que ganha a vida e se sente “um produtor de bens não essenciais, mas úteis para a felicidade“.
(retirado da entrevista de Rita Ferro, revista “Caras” – 8Nov. 2009)
8 – ANÁLISE DE 2 CARTOONS
Análise dos cartoons
1 – (autor David Rowe – Austrália)
Julien Assange, encoberto pelo pano da boca de cena que usa as cores da bandeira americana, abre a público um espetáculo burlesco. Põe a nú a figura principal, que representa um embaraçado e anedótico Tio Sam, fragilizado e exposto ao mundo. A oportunidade do tema surge com as recentes revelações publicadas na Wikilieaks, sobre as comunicações secretas americanas. Muitas destas informações, trocadas com países “amigos”, colocaram a nu muitas posições e acções controversas entre pessoas e nações. Na assistência, esparramados nas suas cadeiras, uma plateia de pequenos e grandes ditadores, habituais inimigos da América (Kim Jong -Il, Kadafi, Le Pen, Mahmoud Ahmadinejad, entre outros) que assistem (alguns) com algum enfado e sem grande admiração, ao triste espetáculo da revelação perante o mundo, desmontando os mitos das grandes potências.
2 – (autor Plantu – França)
Trata-se de analisar as armas de cada um. Neste espectro, três grandes armas estão por detrás de cada um deles, como se da sua sombra se tratasse. A militarização global, a força do fundamentalismo islâmico e o jornalismo, competem entre sí, todos com armas poderosíssimas. Decididamente, o jornalismo é uma arma, que nesta representação aparece como uma ameaça aos outros dois poderes instalados, qual deles o mais importante.
O poder militar (que se associa à América) aqui na figura de um soldado fortemente armado, e o poder religioso islâmico (que neste caso se associa a um minarete), representado por um “soldado de deus” na sua cruzada interminável – de AK 47 na mão – contra os infiéis, olham com desconfiança e algum incómodo, a concentração no trabalho da jovem jornalista e do poder da informação contida na ponta do seu aparo. Em primeiro plano, um rato lendo um jornal, porventura representando o povo, leitor anónimo e informado, que facilmente é influenciado pelo imenso poder dos media.
9 - WEBGRAFIA / BIBLIOGRAFIA
- (Rodrigues, Paulo Madeira, “Tesouros da Caricatura Portuguesa 1856/1928, Circulo de Leitores)
- Henrique Monteiro, Director do Jornal Expresso – “Os Autores – World Press Cartoon – Sintra 2010
– Wikipédia, encicoplédia on-line
- Priberam, Dicionário on-line
- http://abrapinheiros.wordpreess.com/ 2010/06/01/o que é cartoon)
- Carlos de Sousa Rocha, Mário Marcelo Nogueira, Design Gráfico – Plátano Edições Técnicas
- António Maia, entrevista de Rita Ferro, revista “Caras” – 8 Nov . 2009 http://aeiou.caras.pt/maia-explica-o-papel-do-cartoonista
- PortoCartoon2010 http://porto24.pt/vida/04042011/
- World Press Cartonn | Sintra 2011 – www.worldpresscartoon.com/
Grupo de trabalho
Discentes
ECM PL – ano lectivo 2010|2011
Rui Bexiga 014 – Fernando Veríssimo 012 – Mário Cláudio 011
Maio de 2011
http://havemosdelachegar.wordpress.com/2011/06/23/o-cartoon-na-imprensa-escrita/
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