Discurso de Lula da Silva (excerto)

___diegophc

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

A última entrevista a Sérgio Vilarigues


Diário de Notícias
por
Sónia Ferreira, Agência Lusa11 Fevereiro 2007


A entrevista, a última que concedeu à imprensa antes de morrer, foi pedida pela Lusa a propósito dos 70 anos sobre a partida do primeiro grupo de presos políticos para o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, a 29 de Outubro de 1936. Numa sala da sede central do PCP, Vilarigues recorreu a apontamentos que trazia no bolso, com datas e nomes que faria questão de referir, como o do médico do Tarrafal Esmeraldo Pais Prata, "o mais bandido de todos".
Foi preso muito novo, como é que aconteceu?
Fui preso em 1934 por andar a brincar à propaganda. Andava a pôr umas tarjetas na parede mais outros seis jovens. Começámos na Meia Laranja e fomos por ali abaixo. Quando demos por nós tínhamos pistolas encostadas à cabeça. Era a polícia. Era a inexperiência… ainda não tinha 20 anos feitos. Se fosse hoje não tinha feito assim. Pregava uma aqui e outra em Alguidares de Baixo (ri-se). Porque eles não tiveram trabalho nenhum para nos apanhar. Foi só seguir as tarjetas.
Como é que o trataram?
Oh, parecia aqueles filmes de bandidos americanos. Havia caixotes, máquinas de escrever apanhadas à CGT, a dos sindicatos livres, tinham lá uma espécie de divã todo esburacado. Depois começou o baile. Este rapazinho passados uns momentos estava rodeado de 16 matulões. Pontapé daqui, pontapé dacolá, eu andava já desmaiado no ar. A determinada altura caí, pronto. Tinha-se acabado a resistência física por momentos. Depois veio um balde de água fria e a incomunicabilidade numa esquadra da polícia para onde se passava. Em São Domingos de Benfica, se a memória não me falha. Lá perguntaram-me se eu queria almoçar, e eu respondi: farto de comer venho eu! (risos).
Chegou a ir a julgamento, como é que foi?
Fomos a tribunal passados uns tempos. O nosso advogado era o Magalhães Godinho. Ele perguntou-nos o que é que queríamos que ele dissesse porque ainda antes do julgamento começar já sabia a condenação de todos. Foi um tribunal especial militar... eu que nunca tinha sido militar (risos). A determinada altura lá puxaram da sentença. Fui condenado a 23 meses de prisão, a cumprir numa prisão do continente. Passado um mês lá estava em Angra do Heroísmo na fortaleza-prisão de São João Baptista que, que eu saiba, porque aprendi na instrução primária, não era no continente (risos). Mas um, que já tinha estado preso, foi condenado a quatro anos. E a mãe dele, que estava no tribunal, disse "vai preso quem nada fez". Olhe, foi o fim do mundo. Gritou-se "bandidos", "abaixo a ditadura" e "abaixo o Salazar". Isto no tribunal! É claro, evacuou-se a sala. Veio a tropa e lá fomos para o calabouço".
Esteve em Peniche, em Angra do Heroísmo e depois foi dos primeiros a ir para o Tarrafal...
E já tinha terminado a pena há três meses! Quando disseram que aquilo [o campo do Tarrafal] foi feito para os da revolta dos marinheiros eu fartei-me de rir. Nós já sabíamos em Angra que íamos para Cabo Verde. E que íamos mais os heróis dos nossos queridos camaradas anarquistas para trabalhos forçados com os capatazes de chicote na mão. Não me perguntem como. Quando chegámos ao porão do Luanda [que os levaria a Cabo Verde], meia hora depois já estávamos em comunicação com os que vinham do continente. Estive no Tarrafal 45 meses e depois fui amnistiado, mas com liberdade condicional. Tinha que me apresentar todos os meses na PIDE. Olhe, fui lá uma vez. Quando consegui arranjar uma roupita fui visitar a minha mãe e apresentei-me às autoridades na terra [em Viseu]. Claro, nunca mais lá fui... até hoje. Mergulhei na clandestinidade, que foi mais duro ainda.
Como eram as relações entre presos, havia várias tendências, organizavam-se de que maneira?
Estavam lá anarquistas, sindicalistas. Estava lá o Mário Castelhano que era o secretário-geral da CGT, dos sindicatos livres, que era o único com quem se podia conversar. E


Chegou a ir a julgamento, como é que foi?
Fomos a tribunal passados uns tempos. O nosso advogado era o Magalhães Godinho. Ele perguntou-nos o que é que queríamos que ele dissesse porque ainda antes do julgamento começar já sabia a condenação de todos. Foi um tribunal especial militar... eu que nunca tinha sido militar (risos). A determinada altura lá puxaram da sentença. Fui condenado a 23 meses de prisão, a cumprir numa prisão do continente. Passado um mês lá estava em Angra do Heroísmo na fortaleza-prisão de São João Baptista que, que eu saiba, porque aprendi na instrução primária, não era no continente (risos). Mas um, que já tinha estado preso, foi condenado a quatro anos. E a mãe dele, que estava no tribunal, disse "vai preso quem nada fez". Olhe, foi o fim do mundo. Gritou-se "bandidos", "abaixo a ditadura" e "abaixo o Salazar". Isto no tribunal! É claro, evacuou-se a sala. Veio a tropa e lá fomos para o calabouço". 



Sem comentários: