Discurso de Lula da Silva (excerto)

___diegophc

sábado, 20 de agosto de 2011

Prostituição, do mercado livre á publicidade - Jaime Ramos




Prostituição, do mercado livre á publicidade

Não consumo sempre a mesma imprensa escrita. Diversifico ao longo das estações do ano.No verão desfolho o Publico, Correio da Manhã, Jornal de Negócios, Diário de Coimbra e o As Beiras. A falta de outras noticias acaba por me sensibilizar mais para os acidentes rodoviários, para o crime mais ou menos violento e, os cadernos de publicidade , para a prostituição.  È a publicidade escrita, que enche páginas dos jornais, repletas de fotografias de corpos femininos, e de ofertas sexuais, mais ou menos explicitas, que me conduziu a esta reflexão/proposta. Em Portugal a prostituição está de acordo com o nosso nacional porreirismo.Com frequência adoptamos uma ortodoxia moralista condimentada com uma permissividade desregrada.No meu livro “Não basta mudar as moscas…” afloro a questão da prostituição politica e da prostituição sexual, no capitulo 9 dedicado á “Justiça e Segurança”.
.
“Recentemente soubemos que uma figura pública recebeu milhões de uma empresa pública para almoçar com o Primeiro-ministro(Sócrates). Os que lhe ofereceram os milhões vão ser julgados por corrupção. Ele, que se prostituiu, não é arguido porque, coitadinho, não sabia que estava a lidar com uma empresa de capitais públicos, dinheiro nosso. Nem sabia que a prostituição não é uma actividade respeitável.Não sou um falso moralista. Não gosto de prostituição. Sexo por dinheiro fere a minha sensibilidade.Não desconheço que é a “mais velha profissão do mundo”. È uma realidade social, quase tão velha como a humanidade.Não me agrada a hipocrisia das sociedades que a condenam, preservando-a, como acontece em Portugal. Uma sociedade adulta, com carácter e com vergonha, pode lidar de três formas com a prostituição.Uma proibi-la, criminalizando todo o negócio associado, perseguindo quer a pessoa que se prostitui quer o comprador do prazerOutra legalizando-a, dando-lhe o estatuto de actividade económica, como acontece em Amesterdão, com as montras dos ateliês de “passe”.A terceira, mais recente, que desculpabiliza quem se prostitui e persegue e criminaliza quem paga.”

A prostituição é um negócio ligado á economia paralela e á marginalidade, que facilmente convive paredes meias com o mundo do crime, desde o tráfico humano, droga, lavagem de dinheiro, roubo, armas e violência. Em Portugal aparece , segundo algumas noticias, ligada ao fenómeno da corrupção desportiva. Há mesmo um conhecido protagonista que se gaba de transformar prostitutas em escritoras…Com frequência vemos alguma comunicação social pregar moralismo e desenvolver campanhas de combate ao crime, publicitando a prostituição favorecedora do trafico internacional de pessoas.A prostituição, na sua maioria feminina, constitui uma violenta descriminação para a “condição feminina”, dificilmente tolerável, a não ser por imensa hipocrisia , num país que investe na igualdade de género.
.
Como médico, quando era Deputado na década de setenta, inicio de oitenta, senti-me pessoalmente obrigado a legislar sobre a prevenção do tabagismo. Uma das medidas foi a proibição/restrição da publicidade para não se estimular o consumo. Na altura fui bastante pressionado, por diversos interesses, para aligeirar a proibição. Fui capaz de resistir, e consegui fazer aprovar na Assembleia da Republica uma lei importante para a promoção da saúde publica, que colocou Portugal na liderança internacional da prevenção do tabagismo.Portugal cresceria degraus civilizacionais se o poder politico tivesse a coragem de proibir a publicidade á prostituição.Não desconheço que esta publicidade é um negócio fácil para alguma imprensa escrita. Há interesses empresariais , com poder de influência, que não gostarão e combaterão esta proibição.
.
A Politica deve servir para defender o interesse publico, não para se vergar perante o dinheiro e as influências dos mais fortes.Tal como escrevi no livro :“Está na altura de nos confrontarmos com os problemas sociais, sem os varrer para debaixo do tapete. Este encontro de nós, com os nossos problemas, merece não só discussão como opções colectiva, que nos permitam funcionar melhor, de acordo com o que legislamos.”Não devemos manter a nossa nacional hipocrisia. Não podemos ser contra o tráfico de pessoas mas incentivar a prostituição nos jornais. Não podemos criar politicas de igualdade de género e manter a exploração da mulher, humilhando o “ser” feminino. Este é um problema politico mas também uma questão que deve motivar as organizações morais . 
Não estará na hora da Igreja se interessar e pressionar?
Sábado às 20:55
.

Sem comentários: