Discurso de Lula da Silva (excerto)

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terça-feira, 26 de julho de 2011

Cinema Neo-Realista [Itália]

SEXTA-FEIRA, JULHO 15, 2005


Cinema Neo-Realista - Parte I

Título Original:
"Roma, Città Aperta" (2002)

Realização:
Roberto Rossellini

Argumento:
Sergio Amidei & Federico Fellini

Actores:
Aldo Fabrizi - Don Pietro Pellegrini
Anna Magnani – Pina
Marcello Pagliero - Luigi Ferrari/Giorgio Manfredi


Durante três semanas vou fazer algo distinto do que tem sido habitual e apresentar-vos uma pequena descrição e análise do movimento Neo-Realista. Para ilustrar este trabalho colocarei sempre um filme, com sua devida pontuação e ficha técnica, no início cobrindo assim três dos mais brilhantes filmes integrados neste movimento. Com esperanças que tal venha a ser do vosso agrado inicio assim este “conto” de 3 capítulos...

A data que marca o nascimento do neo-realismo é um pouco confusa de delimitar precisamente mas, a verdade é que pensa-se que foi o montador Mario Serandrei aquando da montagem da primeira longa metragem de Luchino Visconti, Ossessione, que inventou o termo, daí que de um certo ponto de vista, este filme é o percursor deste movimento até mesmo pelas suas características cinematográficas. Apesar de assim se pensar, a verdade é que quando se fala do neo-realismo, pensa-se no movimento de ideias surgidas no seio do grupo comunista de Cinema, uma revista onde trabalhavam inúmeros intelectuais de esquerda e até membros do partido comunista clandestino e cuja importância no surgimento do movimento neo-realista foi muito grande, que levou à criação do cinema italiano do pós-guerra com, Rossellini, De Sica, Zavattini, etc.. O grande período é o que cobre 1944, 1945, 1946, em que surgem algumas das maiores obras primas deste movimento: Roma, cidade abertaPaisa e outros.

Mas o nascimento do cinema neo-realista não foi de nada simples e fácil, muito pelo contrário. Quem administra Roma por altura de 1944 é o almirante Stone que tinha ideias bem definidas sobre o cinema. Transforma a Cinecittá num campo de refugiados afirmando que: “O pretenso cinema italiano foi inventado pelos fascistas. Logo, deve ser suprimido. E com ele os instrumentos que deram corpo a essa invenção . Incluindo a Cinecittá. Nunca houve indústria do cinema em Itália, nunca houve industriais do cinema. Quem eram eles? Especuladores, aventureiros, mais nada! De resto, a Itália é um país agrícola, que necessidade tem de um cinema?”. Este discurso arrogante e infeliz de um almirante americano acabou por ser uma espécie de castigo ao orgulho inchado dos Estados Unidos da América, pois o movimento neo-realista tornou-se uma realidade que acabou por ensinar cinema à Europa e à América; possui alguns dos mais inesquecíveis filmes de todos os tempos e o mais irónico é que nasce num país completamente devastado pela grande guerra.

O cinema neo-realista, além de todas as características únicas que possuía e que viriam a instruir outros países produtores de cinema, era a expressão mais elevada e famosa dos sofrimentos, sonhos, esperanças e dramas da Itália pós-guerra; quase, se não todos os filmes inseridos neste movimento souberam narrar, de uma forma aparentemente objectiva os acontecimentos capazes de suscitar uma adesão colectiva imediata, através da criação de figuras exemplares, em que toda uma geração de espectadores se pôde reconhecer. Esta identificação imediata da parte do público adjacente aos temas retractados pelos filmes neo-realistas virá eventualmente a ser um ponto fraco do movimento como mais tarde falarei.

Resumindo, vemos que em termos históricos, o cinema neo-realista nasce no desolado cenário pós-guerra que era Itália e com alguma oposição dos ditos salvadores americanos. Com o país em dificuldades e praticamente destruído, os temas a retractar neste movimento eram a pobreza, problemas sociais, os terrores da guerra, etc., focando a assim realidade da altura. Em termos de correntes teóricas, este movimento vai de um certo ponto de vista ao encontro das teorias de Lumière e contra as teorias de Méliès, como defenderia o famoso teorizador André Bazin, ou seja, em traços gerais o que importa no cinema para os neo-realistas é a passagem da forma mais natural e realística possível da realidade para a ficção, a ficção quase como que espelho da realidade. Esta teoria não é por mim aceite na perspectiva de que é da minha opinião que não se pode ser tão categórico em algo tão subjectivo e variado como o cinema. Mas mais à frente irei melhor defender e mostrar o porquê da minha opinião.
® Bruno Sá



SEXTA-FEIRA, JULHO 22, 2005


Cinema Neo-Realista - Parte II

Título Original:
"Ladri di biciclette" (1948)

Realização:
Vittorio De Sica

Argumento:
Luigi Bartolini & Cesare Zavattini

Actores:
Lamberto Maggiorani - Antonio Ricci
Enzo Staiola – Bruno
Lianella Carell - Maria


O cinema neo-realista era um movimento com características muito próprias. Os grandes expoentes deste cinema tinham em comum além dos temas, imensas características técnicas muito bem definidas. O objectivo destas características era conferirem aos filmes um maior realismo reduzindo assim a fronteira entre a realidade como a conhecemos e a ficção por nós visionada num filme. Entre as características próprias do cinema tipicamente neo-realista destacam-se:

- Recusa de efeitos especiais, na medida que estes não são normalmente algo quotidiano da vida real;
- Montagem simples, para que a intervenção de técnicos, realizador, etc. fosse quase nula de modo a haver uma maior naturalidade e simplicidade nos filmes havendo um certo aspecto de documentário nestes;
- Rodagem em cenários naturais, para maior identificação do espaço em que se desenrola a acção;
- Utilização de actores não profissionais, havendo assim a redução da atmosfera cinéfila que rodeia um filme aquando da utilização de um actor/actriz conhecido/a;
- Improvisação nas filmagens, sobressaindo uma maior naturalidade na actuação dos protagonistas.

Em conclusão, no fundo, o uso de todas estas e outras características tinha apenas um único grande objectivo: a obtenção do mais fiel retracto possível num filme da realidade.

Neste movimento alguns realizadores e correspondentes filmes merecem especial destaque. Começarei por falar em Roberto Rossellini que, dentro deste, foi provavelmente o mais fiel e exímio no uso das características neo-realistas. O filme Roma, Città Aperta é talvez um dos mais marcantes filmes da época inicial do movimento. O filme retracta a acção e um grupo de resistentes do qual fazem parte dois amigos que têm apoio de um padre e da mulher de um deles. Os fascistas e nazis acabam por encontra-los e acabam todos por morrer, acabando o filme com as crianças a caminharam para a destruída e caótica cidade de Roma deixando no ar uma mensagem de esperança. Logo as primeiras imagens deste filme são imagens reais captadas por Rossellini com uma câmara oculta. O filme acabaria por ser um grande sucesso e foi talvez o primeiro grande filme neo-realista de todos os tempos, com quase todas as características deste movimento a serem aqui usadas com um domínio perfeito destas.

Outro cineasta que deve ser referido quando falando do movimento neo-realista é o realizador Vitorio De Sica. O seu filme Ladri Di Biciclette correu o mundo e é ainda hoje considerado por muitos como o melhor filme de todos os tempos. De uma beleza e simplicidade apaixonantes, o filme retracta a vida de um operário desempregado que consegue arranjar um emprego que necessita obrigatoriamente de uma bicicleta. Após um grande sacrifício feito em casa, a venda dos lençóis que possuíam, consegue comprar a bicicleta mas esta é-lhe roubada pouco depois, sendo o resto do filme a procura da bicicleta pelo operário e seu filho. O filme acaba de uma forma tipicamente neo-realista: o homem não consegue encontrar a bicicleta e acaba assim como começou no filme, desempregado. A crueldade patente neste filme e os acontecimentos retractados vão completamente ao encontro dos temas actuais na Itália da altura; o uso de actores não profissionais, mas com uma capacidade de actuação digna de registo tornam este filme num dos mais realistas e dramáticos dentro do movimento.

Acabaria de falar nos filmes e realizadores neo-realistas com Luchino Visconti. Apesar de serem muitos os realizadores e filmes importantes deste movimento, a verdade é que Visconti acabou por possuir um papel deveras interessante dentro deste contexto. Se por um lado foi com o seu filmeOssessione que o termo neo-realismo surge, será com um outro filme seu La terra trema que o movimento atingiu segundo alguns críticos e investigadores (para Paul-Lois Thirard por exemplo) o seu ponto culminante e, ao mesmo tempo, o prenúncio de um fim mais ou menos próximo. O protagonista do filme é ‘Ntoni Valastro, jovem pescador de uma pequena aldeia. Os pescadores vêem o seu trabalho ser explorado pelos grossistas do peixe, que fazem os preços. Na sequência do confronto entre pescadores e grossistas, ‘Ntoni consegue convencer a família a estabelecer-se por conta própria, na pesca e na comercialização. O capital é assegurado por um empréstimo sob hipoteca. Mas as coisas correm mal, e a ruína atinge a família Valastro. O irmão de ‘Ntoni, Cola, torna-se contrabandista; o casamento de Mara, a irmã mais velha, desfaz-se; a irmã mais nova, Lucia, é desonrada pelo chefe dos carabineiros, Salvatore. Por fim, ‘Ntoni recusa retomar seu trabalho nas condições anteriores. A história, mais uma vez, tem o típico drama e fim “mau” dos filmes neo-realistas. Mais uma vez, características como a rodagem em cenários naturais, uso de não actores... estão presentes. O filme acaba por vir a ser o princípio do fim do movimento pois por esta altura, factores políticos, económicos e sociais acabam por assim o ditar. Por um lado, começava a guerra fria, tudo o que era comunista era mau. A direita ganha as eleições, os problemas focados pelos filmes neo-realistas começam ficar estagnados e ultrapassados, ou seja, tudo começa a contribuir para o fim do movimento...

® Bruno Sá


SEXTA-FEIRA, JULHO 29, 2005


Cinema Neo-Realista - Parte III

Título Original:
"La Terra Trema: Episodio Del Mare" (1948)

Realização:
Luchino Visconti

Argumento:
Antonio Pietrangeli

Actores:
Maria Micale - La Madre
Sebastiano Valastro – Il Padre
Antonino Micale - Vanni

É defendido que tudo tem um fim e assim aconteceu com o movimento neo-realista. A contribuir para a queda do neo-realismo autores como Fellini ou Antonioni entre outros começaram a direccionar seus filmes num sentido que quebrava as barreiras neo-realistas: começaria então o pós neo-realismo. O que agora sobrava do neo-realismo eram as documentações feitas por André Bazin por exemplo, grande teorizador do cinema que abordou intensamente o movimento e filmes, filmes belos, intemporais que possuíam temas que se encontravam gastos e desactuais, daí a eventual perda de interesse dos espectadores ( o já referido ponto negativo que trouxe a inicial imediata identificação com os temas que eram apresentados): a fome e miséria tornaram-se temas desgastados, a resistência e a libertação tornou-se algo do passado. Claro que, a chegada do fim obriga a reflexões acerca do que foi o movimento e o que trouxe de bom e mau.

O facto de usar-se técnicas cinemáticas diferente das que até agora se tinham usado apenas trouxe vantagens. Abriu novos horizontes e permitiu aos cineastas aprenderem que com orçamentos reduzidos e muito amor ao que se fazia era possível atingir milagres, fazer bom cinema. É de ressalvar que os cineastas italianos desta altura não tinham grandes meios. Havia falta de fita virgem, não havia dinheiro para contratar actores famosos, os meios eram pobres mas, a verdade é que até os estúdios de Hollywood aprenderam algumas coisas com este movimento, como por exemplo o aproveitamento de cenários naturais que na altura não era usado: o estúdio era o local sagrado de filmagens. Por outro lado, há a obrigação de reflectir sobre o que o cinema neo-realista defendia e, até que ponto os objectivos deste foram atingidos. Na sua grande maioria, este movimento atingiu grande parte dos seus intuitos, criaram filmes realistas, dentro dos possíveis, contribuíram para o enriquecimento da linguagem cinematográfica, ou seja verificou-se o act du parole que veio a tornar-se act du langue, criou filmes que são ainda hoje considerados clássicos e extraordinários sem esquecer que a partir deste movimento, muitos dos realizadores que aqui começaram a dar os seus primeiros passos acabaram por tornar-se grandes figuras emblemáticas do cinema: Fellini, Visconti...
O único ponto no movimento que na minha opinião falha é no fundo o cerne deste: a tentativa de aproximar ao máximo a realidade da ficção. Penso que defender esta minha teoria é subjectivo mas acima de tudo é a opinião pessoal de cada um que está por detrás de todas as teorias apresentadas num campo como o do cinema, logo, tudo é subjectivo. Num universo tão pessoal como este, qualquer um que apresente uma teoria está automaticamente sujeito a ser refutado, principalmente se analisa a obra de outrém. No fundo, o que tento explicar é que o cinema nunca poderá ser uma realidade, ou seja, ao escolherem um veículo como o cinema, nomeadamente o filme, qualquer autor está a afastar-se de uma representação verídica e realista do que se passa à nossa volta, aquilo que definimos como realidade, a nossa realidade. Este é outro ponto que é necessário ter em conta, cada pessoa percepciona a realidade à sua maneira, logo, por muito neutro que o realizador neo-realista tente ser e evite intervir no filme, será sempre a sua representação de realidade que é apresentada e nunca uma realidade dita neutra que é analisada e vista pelo espectador conforme acontece no dia a dia. Neste aspecto o movimento sofre, na minha opinião, de uma rigidez e extremidade imensa e que é impossível de atingir. Claro que esta minha opinião não denegride ou tira algum do valor que este movimento tem para a história do cinema, muito pelo contrário. Penso ser de valorizar tal iniciativa, tão nova, nobre e difícil, senão impossível.
O mundo está em constante evolução e só assim consegue-se avançar e atingir pontos cada vez mais altos e valorizados. No cinema nem sempre tal tem acontecido e hoje em dia assiste-se a uma infeliz estagnação deste meio. Talvez o que esteja em falta nos dias que correm é a uma maior valorização de tudo o que temos à nossa disposição, que pensámos que é tão nosso que nem lhe damos o devido valor. A vida é cada vez mais facilitada e conceitos como o engenho humano, a imaginação já pouco ou nada dizem a ninguém. Movimentos como o neo-realista são um óptimo meio de perceber como é que em condições precárias, no meio de fome, desilusão, pobreza e terror foi possível nascer algo que tem o valor que hoje em dia ainda tem; algo que conseguiu inspirar gerações que posteriormente vieram.
O maior trunfo do neo-realismo e razão pela qual ainda hoje se mantém actual na minha opinião é a questão que veio colocar quando cuidadosamente analisado e, que ainda hoje perdura: qual a barreira que separa realidade de ficção, o real do ilusório. Afinal de contas, quem pode afirmar que o que temos dado como real é realmente real?

® Bruno Sá


Neorrealismo italiano

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Neorrealismo italiano foi um movimento cultural surgido na Itália ao final da segunda guerra mundial, cujas maiores expressões ocorreram no cinema. Seus maiores expoentes foram Roberto RosseliniVittorio De Sica e Luchino Visconti, todos fortemente influenciados pelos filmes da escola do realismo poético francês.
O cinema neorrealista italiano caracterizou-se pelo uso de elementos da realidade numa peça de ficção, aproximando-se até certo ponto, em algumas cenas, das características do filme documentário. Ao contrário do cinema tradicional de ficção, o neo-realismo buscou representar a realidade social e econômica de uma época.

Índice

 
Origem
O marco inicial do movimento é o lançamento do filme de RosselliniRoma, città aperta (1944-1945), rodado logo após a libertação de Roma, nitidamente influenciado pelo realismo poético francês. A "paternidade do termo" é de dúbia possibilidade: a primeira diz que seria de Umberto Barbaro quando chamou de "neorrealístico" o filme Ossessione , do qual havia sido montador; e a outra possibilidade atribui o termo a Mario Serandrei, quando este usou o termo em uma resenha do filme Quai des Brumes.
Apesar de Roma... ter marcado o início do movimento, o primeiro filme daqueles dias é o documentário Giorni di Gloria, deGiuseppe de SantisMarcello PaglieroMario Serandrei e Luchino Visconti), que traz cenas reais alternadas com cenas reconstituídas da ocupação nazi-fascista. Porém o filme foi exibido depois de Roma....


Características
O Neorrealismo italiano, por características comuns entre as obras e por uma ideologia difundida entre seus realizadores, tanto estética quanto política, constitui um "estilo de época" do Cinema. Teve lugar e tempo na Itália do final da Segunda Grande Guerra, em processo de "libertação" do regime fascista, como veículo estético-ideológico da resistência. Hasteava a bandeira da representação objetiva da realidade social como forma de comprometimento político. Seu período mais produtivo e significativo ocorreu entre 1945 e 1948.
Seus temas protagonizados por pessoas da classe operária imersas em um ambiente injusto e fatalista, sempre encontrando a frustração na eterna busca por melhores condições de vida, foram trazidos por influência do realismo poético francês.
Apesar de haver um certo consenso quanto às suas características, não existe uma delimitação exata quanto ao período de duração do movimento. Seguindo o paradigma observado na maior parte dos estilos estéticos da História da Arte e doCinema, o nascimento dessa corrente aconteceu gradualmente, levando algum tempo até que se observasse o aparecimento de um filme genuinamente neo-realista. E, da mesma forma, sofreu uma decadência paulatina, sem um ponto delimitado de começo ou fim.


Neo-realismo como contraponto à estética fascista
Certamente, no entanto, não seria possível falar de Neorrealismo na Itália antes da decadência do regime fascista, que vigorou de 1922 a 1945. Esta, porém, não se limitava apenas a transformações de aspecto político, mas tinha também um projeto estético abrangente e definido. O Fascismo, muito além de puro fenômeno político, trazia consigo uma ideologia estética profundamente fincada em seus valores morais e sociais — e esta era, aliás, uma característica comum às manifestações de ideologias totalitárias.
Entre as várias propriedades dessa ideologia estética, estava a representação da sociedade por meio de uma óticamoralista/positivista, muito mais adequada à legitimação do regime do que à realidade das massas. Conseqüência direta dessa visão de mundo foi a produção em larga escala (estimulada e apreciada pelo governo) de filmes melodramáticos, épicos, romanceados, construindo na tela uma representação um tanto distante da vida cotidiana da sociedade italiana.
Um dos objetivos da geração neo-realista, posteriormente, seria a maior aproximação daquilo que acreditava ser a realidade do povo, para contrapor a essa "falsa imagem" da sociedade; os neo-realistas queriam apresentá-la, e não representá-la.
O que essa vanguarda pretende colocar na tela é um registro da vida das pessoas, no momento atual, contemporâneo à produção. Não interessava mais falar de tempos passados ou das tragédias folhetinescas. O cineasta neo-realista filmará afavela, a vila de pescadores, as ruas cheias de gente nos centros das cidades. A preocupação é com o "hic et nunc", num dos momentos mais críticos da História da Itália, e os jovens diretores acreditam no cinema como forma de expor os problemas — para que sejam resolvidos.
Esse comprometimento com o "retrato da verdade" faz com que a geração que desponta a partir da invasão aliada, em1944/45 seja identificada como um movimento que os críticos Pietrangeli e Barbaro apelidam de Verismo (do it. vero, verdadeiro). O Neo-Realismo é percebido e nomeado enquanto os filmes estão sendo feitos, ou seja, o estilo é identificado no mesmo momento de sua produção artística, e não posteriormente. No mínimo, isso significa que a Itália notou que algo de diferente estava sendo feito.


Principais autores e obras
Luchino Visconti, com seu filme "Ossessione", de 1942, lançou a primeira pá na construção desse movimento. Adaptando o romance "The Postman Always Rings Twice" ("O Carteiro sempre toca duas vezes"), do norte-americano James Cain, o diretor conseguiu retratar um país de contrastes, que destoava da representação estilizada então dominante. Isso chocou os censores que, mesmo tendo aprovado anteriormente o roteiro, engavetaram a produção, até que o próprio Duce o tivesse visto — e apreciado!
Roberto Rossellini, ainda durante a guerra — e, mais especificamente, no próprio campo de batalha — filma "Roma, Città Aperta" (1945), inserindo registros de combates verdadeiros junto à dramatização. Rodado clandestinamente, como a própria resistência dos Partisans, o filme situa-se num limiar entre encenação e documento histórico. E, ainda, peça de propaganda contra o regime agonizante. No ano seguinte, realiza "Paisà", cujos 6 episódios acompanham o trajeto dos "libertadores", do sul para o norte, retratando a convivência entre italianos e aliados estrangeiros (com pessoas atuando nos papéis delas mesmas), com seus conflitos e choques inevitáveis.
Em "Germania, Anno Zero" (1947), Rosselini visita a outra nação derrotada (e destroçada), a Alemanha, para mostrar uma realidade muito semelhante à da Itália. Submetidos novamente a uma ocupação, a restrições e a toda sorte de privações, os alemães violam os valores éticos mais primários por causa da fome, e Rossellini espelha neles a própria crise italiana. Além desses, a "base teórica" do movimento deveu muito ainda a Cesare Zavattini, que adaptou e roteirizou vários dos filmes ("I Bambini Ci Guardano", 1944) ("Sciuscià", 1946) (Umberto D.1952) e ao produtor/diretor Giuseppe Amato, que saiu da produção ativa do período fascista para patrocinar as experiências ousadas da geração Neo-Realista.
Mas é com Vittorio De Sica que o Neo-Realismo produz uma das obras mais expressivas e emblemáticas de sua estética. O filme Ladri di biciclette (1948) contém os principais elementos do filme Neo-Realista: a temática dos problemas sociais, a criança, os atores iniciantes ou desconhecidos, a ambientação in loco, a ausência de apelos técnicos ou dramatúrgicos e ao mesmo tempo um intenso conflito na trama (também escrita por Zavattini). Pela história do homem recém-empregado que tem seu instrumento de trabalho — a bicicleta — roubado, e assim ameaçado de perder o emprego, De Sica emoldura um quadro da classe trabalhadora urbana de então, assombrada pelo desemprego.

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Ramificação e decadência
O mesmo ano de 1948 vê o aparecimento de vertentes distintas do mesmo movimento, que de certo modo significam estágios paralelos de desenvolvimento.
Em "La Terra Trema" (1948, de Visconti (Francesco Rosi e Franco Zeffirelli são os assistentes de direção), pescadores daSicília interpretam eles próprios, num filme rodado de maneira semi-documental e crua - mais, talvez, do que "Ladri di Biciclette". Mas o apelativo "Riso Amaro", de Giuseppe DeSantis, constitui-se em outra face do movimento, ainda que se situe dentro da maleável fronteira do "estilo" Neo-Realista. Para muitos críticos, porém, observa-se nesse filme o início do declínio do movimento. A estética engajada comprometida em desnudar as contradições da sociedade acaba por se submeter à "exploração comercial", o que provoca "o começo do fim do movimento que havia trazido ao cinema italiano a vitalidade artística e significação social" (Ephraim Katz).
A chamada geração neo-realista— que ainda teve diretores menos significativos como Pietro GermiAldo VerganoAlberto LattuadaLuciano EmmerRenato Castellani e Luigi Zampa — acaba, então, sucumbindo às circunstâncias.
Na década de 1950, o cenário já é outro, o quadro de crise econômica e social parece ter sido amenizado, a televisão ganha cada vez mais espaço como mídia e, para enfrentá-la, os produtores passam a investir no cinema do puro entretenimento escapista. Um pouco mais tarde, Federico Fellini e Michelangelo Antonioni, que tinham participado do Neo-Realismo, afastam-se do Verismo ortodoxo e vão apelar à farsa exuberante ou ao drama existencial para redesenhar a Itáliae suas novas questões.


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