Discurso de Lula da Silva (excerto)

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quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Bairro Alto - O bairro mais trendy de Portugal faz anos hoje


Bairro Alto viveu momentos altos e baixos, hoje é uma marca de Lisboa PEDRO CUNHA
Por Victor Ferreira
Quase cinco séculos depois, o Bairro Alto está como quando nasceu: atrai todo o tipo de gente

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Faz hoje 497 anos que nasceu aquilo que hoje é o Bairro Alto, em Lisboa. A associação de comerciantes propôs assinalar a data e organizou, com as juntas de freguesia e a câmara municipal, um inédito programa de aniversário.

Há razões para isso? O Bairro Alto é um somatório de "acontecimentos curiosos e histórias interessantes, que merecem ser lembrados", diz José Sarmento de Matos, investigador e divulgador da história de Lisboa. "É evidente que é um bairro com problemas, como em todo o lado", acrescenta, mas esses devem ser a preocupação para o futuro, defende a presidente da Junta da Encarnação, Alexandra Figueira, eleita pelo PS. A autarca tem os problemas do Bairro Alto na ponta da língua, mas refere que a iniciativa de hoje destina-se a "salientar o aspecto cultural do Bairro Alto, que não se resume aos bares, às festas, à moda".

E que problemas são esses? Tem casas vazias e a necessitar de obras, tem ruas barulhentas à noite e sujas de manhã, tem "dificuldade em fixar uma população sempre flutuante", salienta Alexandra Figueira.

Lotes pagos com galinhas
Nisso, o actual Bairro Alto tem algo em comum com a Vila Nova de Andrade, o bairro que ali começou a ser concebido a 15 de Dezembro de 1513, dia em que uma família rica de origem galega, os Andrade, obtiveram autorização para um loteamento privado junto à muralha de Lisboa.

Seria o primeiro bairro feito do lado de fora da muralha e rapidamente se tornou o primeiro "bairro integrado", assinala Sarmento de Matos, referindo-se à diversidade social que ali se fixou, num tempo em que Lisboa fervilhava. A aristocracia, o clero, mas também o povo, com os seus marinheiros e outros trabalhadores, aproveitaram a oferta de casas, que era escassa numa cidade cuja população duplicaria num ápice. um lote de terreno na primeira rua aberta no bairro, a Rua do Norte, é vendido por "800 réis mais quatro ga- linhas", garante Dejanirah Couto, no livro História de Lisboa (Gótica, 2008, 11.ª edição)

Quase cinco séculos depois, o que lá se vê é o bairro mais trendy (na moda) de Portugal. A ser assim, a fasquia está elevada. E sabe-se que o Bairro Alto gosta é de altos e baixos, que foi por onde andou de facto, muitos anos, com o rótulo de zona "de má fama", conta Sarmento de Matos. "Nem toda a gente ia lá. Havia prostituição, era uma zona insegura", acrescenta.

Hoje, o Bairro Alto "não é inseguro, é desordenado", garante Alexandra Figueira. "Precisa de cumprir ser orde- nado, de cumprir as regras de trânsito, de licenciamento comercial e residencial e algum acompanhamento policial. Mas precisa sobretudo de ter ocupantes sensibilizados para a cultura, e por isso aderimos de imediato a este programa de aniversário", acrescenta a autarca do PS, que admite, porém, haver feridas que precisam de ser tratadas. "Se nada for feito no combate aos problemas, voltaremos a ter um Bairro Alto com má fama", adverte. Defende que a sobrevivência passa por manter as casas de fado, os "bons restaurantes", as "lojas alternativas", as galerias, e arranjar mais moradores.

Bom para fugir à peste
As décadas de 1970 e 1980 foram tempos de reviravolta. Dois projectos de Manuel Reis, a abertura do Frágil e da loja da Atalaia foram decisivos para mudar o ambiente psicológico do Bairro Alto, salienta Sarmento de Matos. A imagem volta a ser positiva, como no início, quando a zona era desejada por ter "bom ar", o que ajudava os moradores a fugirem à peste. Noutros tempos doentios, os da censura do Estado Novo, tornou-se num bairro de jornais, que ali se instalaram em catadupa. Os jornais foram saindo ou morreram. O Bairro Alto sobrevive, nos dias bons em clima de festa.
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