Discurso de Lula da Silva (excerto)

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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Comunidade de artistas berlinense Tacheles celebra 20 anos

 

Desde 1990, ruínas de prédio bombardeado durante a Segunda Guerra Mundial foram transformadas por artistas em atração turística no centro de Berlim. Em breve, artistas podem ser despejados para que prédio seja leiloado.

 
À luz da lâmpada fluorescente presa à parede, o artesão "Pepe" trabalha compenetrado atrás da mesa rústica repleta de objetos de metal e couro. Com as mãos calejadas, ele manuseia martelos, alicates e serras para produzir mais uma série de colares que, em breve, poderão estar sendo usados em qualquer parte do mundo.
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Há mais de um ano, expor e vender objetos decorativos a turistas faz parte do dia-a-dia do artesão, que é natural de Chiclayo, no norte do Peru. O salão amplo sem calefação e com paredes e tetos mal-acabados parece um típico ateliê, mas não é só isso. O grande cômodo do prédio de cinco andares também é, ao mesmo tempo, uma galeria e loja de artesanatos.
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O prédio se localiza na rua Oranienburger Strasse, em pleno centro de Berlim, e atrai aproximadamente 400 mil turistas por ano. Bombardeado durante a Segunda Guerra Mundial, o edifício em ruínas foi ocupado por artistas em fevereiro de 1990. Batizado de Tacheles, ele se tornou, com o passar dos anos, uma das principais atrações turísticas da cidade.
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"Estúdio latino"
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Artesão Pepe confecciona objetos decorativos 
 Artesão Pepe confecciona objetos decorativos 
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Para quem visita o local pela primeira vez, o mau cheiro nas escadas e a infinidade de mensagens rabiscadas ou coladas nas paredes podem ser um choque. A cada andar, a casa artística oferece uma nova surpresa. Ao todo, são 6 mil metros quadrados, com 30 estúdios, além de um cinema e bares. 
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Pepe e outros artistas da Argentina, Bolívia, Chile, Equador, México, Peru e Venezuela dividem um dos estúdios no terceiro andar, onde o som ambiente de Control Machete, Marcelo D2 e Cypress Hill evidenciam a presença latino-americana.
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Além da mesma língua, os artistas do "estúdio latino" têm também estilos e histórias de vida parecidas. Vários deles confeccionam bijuterias e pequenas esculturas de madeira, couro e metal. Muitos descobriram cedo que o artesanato lhes possibilitaria viajar mundo afora. Pepe, que começou a fazer isso há mais de 25 anos, lembra: "Era fácil porque eu colocava tudo numa mochila, fazia os objetos e os vendia num lugar, depois seguia para outro."
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Há alguns meses, o engenheiro mecânico chileno Jaime Leiva frequenta o lugar, onde passa a maior parte do tempo ao lado do amigo boliviano Federico Ballon. "O Tacheles é bom porque atrai muitos turistas de várias partes do mundo, o que permite que cada um aprenda técnicas diferentes com o outro", observa Leiva. Graças a esse contato com outros artistas, o engenheiro, que já fabricava saxofones andinos, possui hoje também o know-how para fazer outras peças de artesanato e vendê-las ali e em mercados de pulgas da cidade, enquanto sonha em estudar energias renováveis na capital alemã.
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Trabalhar fora do Tacheles é outra característica comum entre os latino-americanos. O mexicano "Chamín", por exemplo, costuma aproveitar o movimento turístico no verão, tocando música latina e rock com o violão nas ruas da cidade. Já o compatriota Alejandro Pelzer e o colombiano Henry Aguirre dividem o tempo entre o artesanato no Tacheles e outras atividades culturais na Werkstatt der Kulturen (oficina das culturas, em alemão), uma instituição berlinense voltada, sobretudo, à cultura de imigrantes na Alemanha.
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Jaime Leiva é engenheiro mecânico e aprende com artesãos 
Bildunterschrift: Jaime Leiva é engenheiro mecânico e aprende com artesãos
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Dificuldades
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Henry Aguirre está há mais de cinco anos estabelecido no Tacheles. Nesse período, acompanhou tanto o crescimento da comunidade artística latino-americana no prédio quanto as consequências da crise financeira nos últimos meses. "Com a crise, o mercado de artes está se enfraquecendo e o Tacheles está vivendo essa tendência mundial de proteger os artistas cada vez menos", opina o colombiano graduado em sociologia pela Universidade Nacional de Bogotá.
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De fato, as dificuldades mencionadas por Henry são compartilhadas pelos artistas plásticos em outros estúdios do mesmo edifício. Até mesmo o holandês Tim Roeloffs, cujos quadros despertam o interesse da maioria dos visitantes, comenta: "Você gostou dos meus quadros? Mas as pessoas não compram!"
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A pintora italiana Barbara Fragogna está acostumada a viver com pouco. "Tanto é que, quando vou a um apartamento que tem calefação, acho isso um luxo", conta. Desde 2008, Frogogna trabalha e expõe seus quadros expressionistas no quarto andar. Entretanto, ela diz valorizar mais a satisfação do trabalho como artista plástica do que o dinheiro. Por isso, a ex-ilustradora de campanhas publicitárias conclui que "tudo tem melhorado desde que entrou no Tacheles".
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Para Barbara, a maior satisfação é o reconhecimento de que goza pela primeira vez em Berlim. Depois de tentar em vão expor suas pinturas em galerias italianas durante 15 anos, ela teve seu trabalho reconhecido no Tacheles. Após organizar um intercâmbio entre artistas de Berlim e da cidade italiana de Pádua, ela foi convidada a prorrogar sua estadia por mais um ano – desta vez como curadora.
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Ônibus no pátio do Tacheles 
Bildunterschrift: Ônibus no pátio do Tacheles
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Estrutura
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Atualmente, Barbara organiza uma exposição fotográfica no quarto andar do Tacheles. Um piso acima, o pintor Alexandr Rodin, de Belarus, divide o enorme espaço que ocupou sozinho nos últimos meses com outros oito artistas de seu país, que expõem pinturas até o dia 15 de junho. Além desses eventos, a programação do Tacheles inclui também peças de teatro, apresentação musical, mostra de vídeos e até festas.
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Desde 1990, cerca de 10 mil artistas já passaram por lá. A estimativa é de Linda Cerna, organizadora da Associação Tacheles, entidade sem fins lucrativos que administra o local. Cerna e outras três pessoas foram contratadas pela instituição como funcionários em meio período. Voluntários e estagiários dão suporte à equipe administrativa.
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Para financiar e divulgar os projetos artísticos, a associação cobra aluguel pelos estúdios. "A princípio, queríamos que os estabelecimentos privados com fins lucrativos, como o cinema e os bares do térreo, financiassem a casa artística", explica Linda. Mas o plano não deu certo. "Por isso, os custos são divididos com os artistas", complementa. Segundo Linda, o aluguel mensal de um ateliê de 32 metros quadrados custa em média 260 euros.
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Próximo do fim?
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Pagar as despesas de eletricidade e a limpeza diária das escadas e corredores não é, todavia, a maior preocupação da entidade que coordena a casa artística no centro de Berlim. Em 2010, quando o Tacheles comemora duas décadas de existência, sua "comunidade" teme que este seja o último aniversário.
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Barbara Fragogna, artista e curadora do local 
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O Tacheles é apenas um dos 13 lotes contíguos que pertencem a um único proprietário. Até o final de 2008, a Associação Tacheles pagava ao grupo proprietário do prédio o valor simbólico de 50 centavos por mês. Depois disso, o contrato entre ambas expirou e não foi renovado. 
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De acordo com a organizadora do Tacheles, dificuldades financeiras do grupo levaram à cobrança de 17 mil euros pelo aluguel do edifício. Como a casa artística alega não ter condições para tal, o banco quer retomar o local para colocá-lo em leilão.
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Ao todo, a área de aproximadamente 25 mil metros quadrados tem valor estimado em 30 milhões de euros. As lojas elegantes de design, hotéis, restaurantes e edifícios renovados dos arredores combinam com os planos que o grupo tinha de construir um complexo luxuoso de hospedagem e entretenimento.
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"O que sugerimos é que apenas o Tacheles seja mantido por uma fundação e que os demais 12 lotes sejam vendidos e desenvolvidos", defende Linda. O banco, porém, alega que possíveis compradores do terreno só estariam interessados na área completa. "Isso é apenas especulação do banco", contesta a organizadora. "Os artistas salvaram o prédio em 1990 e fizeram dele algo conhecido mundialmente", afirma. "Queremos que haja uma discussão pública sobre o seu futuro", complementa.
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Autor: Elton Hubner
Revisão: Carlos Albuquerque
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