Discurso de Lula da Silva (excerto)

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terça-feira, 24 de agosto de 2010

"A QUESTÃO DO PÃO NA CARICATURA PORTUGUESA"

BREADMATTERS

Conference, Forum and Exhibition

Conceived and Organised by INÊS AMADO

Sérgio Carvalho

Presentation at BreadMatters II, Lisboa, Portugal

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"A QUESTÃO DO PÃO NA CARICATURA PORTUGUESA"
    (DOS FINAIS DA MONARQUIA AO FIM DA 1ª REPÚBLICA)

1 - O tema

Lisboa
A partir das derradeiras décadas do século XIX a "Questão do Pão" ocupa as páginas dos jornais portugueses. O que é a "Questão do Pão"? Basicamente o problema do pão em Portugal tem duas vertentes: o seu preço e a sua carência. Este problema está sujeito a diversas conjunturas que, de forma diversa enquadram a "questão". Assim, num primeiro momento (desde o declinar da Monarquia até à 1ª Guerra), o problema principal é o do preço. Na medida em que o preço era rigorosamente tabelado para ser mantido baixo, as margens de lucro dos moageiros e padeiros era escassa. Os profissionais ultrapassavam esse problema falsificando a farinha, misturando-lhe cal, gesso ou serradura. Essa falsificação prejudicava, evidentemente, a qualidade do pão, mas permitia uma maior margem de lucro.
Lisboa
Num segundo momento, sobretudo a partir da 1ª Guerra (se bem que já haja sintomas ainda durante a Monarquia), é a questão da carência do próprio pão que condiciona o preço, aumentando-o necessariamente (a mera lei da oferta e da procura "torpedeia" os propósitos de tabelamento dos preços). Ao mesmo tempo, essa carência, com a consequente pressão da procura, mantêm, se não agrava, a falsificação da farinha.
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Fácil é deduzir que a pressão governamental para tabelar o preço do pão em baixa (medida tão social como política) choca com a pressão inflacionista resultante da sua carência crónina. Esta contradição nunca será resolvida pelos governos portugueses. Na verdade só um drástico aumento da produção frumentária permitia diminuir a pressão inflaccionista resultante da carência de cereais, e aliviar, consequentemente, a tendência do rigoroso tabelamento. Mas em Portugal, as carências frumentárias são constantes e crónicas.
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Tudo isto é alvo dos nossos caricaturistas. Por outro lado, a simbólica do pão, sua mitologia e imagética, está igualmente presente nas caricaturas políticas, já que muitos dos caricaturistas se servem do "Pão" e suas imagens para criticar o poder e a sociedade. Objecto/alimento familiar, o pão permite caricaturas facilmente entendíveis pelo burguês urbano ou pelo popular que as lessem.
O período escolhido corresponde a um período conturbado da vida política portuguesa, no qual a questão do pão se parece agravar, ou, pelo menos, tem maior visibilidade nos jornais humorísticos. Se os derradeiros 20 anos da monarquia marcam uma fase agitada, também a 1ª República não é "pacata". Paramos a nossa observação no final da República porque as caricaturas sobre este tema cessam. Não porque o problema desapareça; mas porque, em contrapartida, é a Censura que surge, trazida pelas espadas dos revoltosos do 28 de Maio.

Lisboa
Lisboa
Lisboa

2 - Autores e jornais

Uma plêiade de grandes caricaturistas e de jornais míticos dão o mote às caricaturas no período em causa. Nomes como os de Rafael Bordalo Pinheiro, Gustavo Bordalo Pinheiro (seu filho), Leal da Câmara, estão na primeira linha desta galeria, seguidos por outros que, se são menos ilustres, não desmerecem o nosso respeito.
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Depois, os jornais que são o seu campo de batalha: "A Paródia" (e seus sucessores, como "A Paródia, Comédia Portuguesa"), "Os Pontos nos iis", "O Século Cómico", "O Xuão", "A Marselheza", são bons exemplos.
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Serão estes nomes que serão alvo deste brevíssimo estudo.
Lisboa

3 - As caricaturas
Tendo em conta a exiguidade do espaço disponível, optámos por incluir quatro caricaturas que são, cada uma a seu modo, típicas:

- "Pão e Pau", caricatura de Rafael Bordalo Pinheiro no jornal "A Paródia", fins do século XIX, a propósito de falsificações do pão ocorridas no Porto, onde a farinha foi falsificada com serradura.

- "O que elles mereciam…", caricatura de Gustavo Bordalo Pinheiro no jornal "A Paródia", fins do século XIX, onde se "propõe" um castigo exemplar para os inimigos da sociedade, isto é, os falsificadores de pão.

- "A Padeira de Aljubarrota", de Silva e Souza, no jornal "O Pão", de 1910, onde o lider republicano Afonso Costa, qual "padeira de Aljubarrota", empurra para o forno da padaria os políticos monárquicos.

- "Um eco da última greve", caricatura de autor desconhecido, no jornal "Século Cómico" de finais da República, onde a instabilidade político-social é abordada, a propósito das greves dos padeiros.
©     Sérgio Carvalho - Setembro de 2003
Sérgio Carvalho is a Director of the 'Museu do Pão', in Seia, Portugal
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