Discurso de Lula da Silva (excerto)

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terça-feira, 18 de maio de 2010

Museu de Arte Popular - O regresso do museu que se recusou a morrer




Museu de Arte Popular
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17.05.2010 - 11:55 Por Alexandra Prado Coelho
Criado no Estado Novo, mal-amado quase desde o início, pior amado depois do 25 de Abril, o Museu de Arte Popular fechou, esteve para acabar e transformar-se no Museu da Língua. Afinal, voltou como Arte Popular. Esta terça-feira abre as portas por um dia para mostrar porque é valeu a pena ter sobrevivido.
 
 (Daniel Rocha)
Há quatro anos, estávamos nesta sala a assistir ao fim do Museu de Arte Popular (MAP). A então ministra da Cultura, Isabel Pires de Lima, chamou os jornalistas e comunicou-lhes que o espaço, que se encontrava encerrado, iria ser transformado no novo Museu do Mar da Língua.

Havia já um projecto de arquitectura que previa que as pinturas murais fossem emparedadas - quem quisesse vê-las teria que se encolher e espreitar por detrás das paredes falsas. Dificilmente alguém acreditaria que aquele não era o fim do museu inaugurado em 1948 por António Ferro, director do Secretariado de Propaganda Nacional (SPN) e com que o Estado Novo quisera celebrar a cultura popular.

Mas, contra tudo e contra todos, o museu conseguiu expulsar a Língua e as paredes falsas, e reabre agora as portas para uma inauguração antecipada de um dia. Só será verdadeiramente inaugurado no último trimestre do ano, mas, amanhã, Dia dos Museus, o MAP vai mostrar-se de novo à cidade (entre as 10h e as 18h, com visitas guiadas, oficinas de artesanato e teatro).

Estamos de volta à mesma sala e o que se vê são técnicas da Fundação Ricardo Espírito Santo, no cimo de andaimes, a trabalhar no restauro das pinturas murais. Afastada a ameaça de emparedamento, os grandes painéis que decoram as paredes das várias salas são, num museu que ainda não recuperou a sua colecção (guardada temporariamente no Museu de Etnologia, mas pronta a regressar), o centro das atenções.

Há o painel de Lisboa, em tons de amarelo e azul, com peixeiras, manjericos, Santo António e fado (pintura de Paulo Ferreira, 1948), há, do mesmo autor, Terra Saloia, permanente romaria da Estremadura, Ribatejo, arte popular da bravura, e Nazaré, ex-voto do Mar Português. Tomás de Mello (Tom) e Manuel Lapa pintaram, logo na primeira sala, Minho, caixa de brinquedos de Portugal. As Beiras couberam a Carlos Botelho, o Alentejo a Estrela Faria, Trás-os-Montes a Eduardo Anahory, a Tom e a Manuel Lapa, e o Algarve novamente aos dois últimos.

"Como é que passou pela cabeça de alguém que era possível ocultar estas pinturas?", indigna-se o crítico de arte Alexandre Pomar, um dos activos defensores da continuação do MAP (juntamente com a historiadora de arte Raquel Henriques da Silva, a empresária Catarina Portas, e as artistas Joana Vasconcelos e Rosa Pomar, que chegaram a ir bordar para a porta do museu como protesto), e que no seu blogue (alexandrepomar.typepad.com) tem reunido uma enorme quantidade de informação sobre a história do museu.

"Não têm a componente política de serem artistas da oposição, mas não são menos valiosos por isso", defende, referindo-se à equipa de pintores modernistas reunida por Ferro. "São representantes de um compromisso dos pintores modernistas, uma modernidade pacificada. Este é o momento que melhor sobreviveu do trabalho dessa equipa que se destacou na Exposição do Mundo Português em 1940 [para a qual foi construído o primeiro pavilhão, o da Vida Popular, que viria a ser adaptado para o MAP pelo arquitecto Jorge Segurado] e em exposições internacionais", como a das Artes e Técnicas da Vida Moderna, em 1937, em Paris.

O capitão Henrique Galvão [que viria a celebrizar-se pelo afastamento do regime e o assalto ao paquete "Santa Maria"] "atacou ferozmente aqueles pintores, acusando-os de um cosmopolitanismo europeu quando a arte portuguesa devia desenvolver a sua relação com o Ultramar", explica Pomar.

"Esse apelo que Ferro faz à estética modernista em conjunto com a valorização da arte popular tem muito a ver com o seu contacto, logo desde os anos 20, com o movimento modernista, nomeadamente na Semana da Arte Moderna, em 1922 em São Paulo", sublinha Vera Marques Alves, antropóloga e autora da tese Camponeses Estetas no Estado Novo.

"Ele faz essa afirmação da identidade nacional através da reinvenção da estética popular já na [revista] Ilustração Portuguesa [início dos anos 20] e em 1921 fala na criação de bailados portugueses que recuperem o folclore, ideia que mais tarde leva à criação do Grupo de Bailado Verde Gaio." É uma alternativa à História dos grandes feitos e heróis, e "a estética contemporânea é uma forma de mostrar a arte popular como afirmação de uma nação plena de vitalidade no presente" e não a viver de glórias passadas.

O que é o "popular" hoje?

O MAP "é um projecto que vem de 1936, altura em que é completamente contemporâneo", explica Vera Alves. Mas sofre atrasos e em 1948, quando abre, "já está um bocadinho fora do tempo". É sobretudo um projecto de Ferro, diz a investigadora, e "nunca é muito acarinhado pelo regime". Sofre sempre de problemas estruturais, só tem electricidade em 1952, nos anos 60 corre o risco de fechar, mas o seu exterior serve de palco, no final dessa década, ao Mercado da Primavera, que, depois do 25 de Abril, se transforma no Mercado do Povo.

Mas, ao contrário dos outros museus do seu tempo, o MAP sobreviveu, congelado, praticamente esquecido. Chegou "intacto até hoje e é isso que o torna um caso único", defende o antropólogo João Leal. "É raro encontrar exemplos de museus que tenham sobrevivido tanto ligados ao seu projecto inicial."

O que se faz hoje de um museu assim? "É importante mostrá-lo como produto de um determinado discurso que teve a sua época e que pode ser desconstruído", diz João Leal. E abri-lo às expressões das culturas populares de hoje. "Durante muito tempo, elas eram valorizadas como testemunho de um mundo em extinção. Procurava-se o que era autêntico, legítimo, o menos tocado pelas culturas urbanas."

Hoje sabe-se que nunca nada esteve nesse estado puro e que as culturas populares foram sempre híbridas e inseridas em dinâmicas históricas. É possível "pôr em diálogo o popular e o erudito", assumir a hibridização do popular, afirma Leal, lembrando as queens (rainhas) das festas do Espírito Santo, nos Açores, uma influência dos emigrantes que foram para os Estados Unidos e o Canadá.

É a Andreia Galvão, directora do MAP e autora de uma tese sobre o arquitecto Segurado, que cabe a tarefa de "descongelar" o museu. Como? Primeiro, assumindo este museu-documento como uma cenografia que ele sempre foi (Segurado falava na arquitectura como cartaz, lembra Galvão), nesse conjunto "indissociável" entre arquitectura, pinturas murais (com as frases que as acompanham, que terão sido inventadas pela poeta Fernanda de Castro, mulher de Ferro) e a colecção.

Para já, o MAP, com uma equipa ainda pequena mas com um "corpo de voluntariado notável", será um "museu em obra", aberto a quem queira ver como vai nascendo - isso acontecerá no site que será apresentado amanhã, e no qual será possível marcar visitas guiadas ou fazer inscrições nos ateliers de Verão. O exterior, que está degradado, vai também ser recuperado.

Haverá núcleos de memórias. "Estamos a trabalhar com a Cinemateca, teremos filmes de época, sobre a Exposição do Mundo Português e não só, vamos recorrer a muitos documentos da época. Com o Museu do Traje estamos a estudar a possibilidade de trazer o núcleo ligado ao Grupo de Bailado do Verde Gaio", explica a directora. A colecção de fotografias do "povo português" em trajes tradicionais, que estava nas paredes do museu e foi guardada no CCB quando ele fechou, já está de volta e vai ser recuperada.

A colecção só regressará do Museu de Etnologia para a reabertura definitiva, mas para já será possível ver o mobiliário expositivo da época, de Jorge Segurado e Tom, que está a ser recuperado.

Haverá também núcleos interpretativos temáticos ligados aos diferentes espaços no museu. E, claro, a ligação à contemporaneidade: "Vamos explorar o conceito de contemporâneo na arte popular, trabalhar coisas como a reutilização de materiais orgânicos ou a investigação tecnológica no ramo das técnicas tradicionais." O MAP será ainda "uma embaixada do país em Lisboa" aberto às comunidades "para mostrarem o melhor que tenham, da gastronomia às festas".

Só muito poucos acreditaram que seria possível. Mas amanhã o MAP vai provar que há museus que se recusam a morrer.

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Comentário + votado

É costume gastar tudo em foguetes...

Será que alguem pensou alguma vez em integrar o museu de arte popular no museu nacional de ...
joão Pereira
18.05.2010 12:31

Comentários 1 a 10 de 10




  1. joão Pereira , Madrid espanha. 18.05.2010 12:31

    É costume gastar tudo em foguetes...

    Será que alguem pensou alguma vez em integrar o museu de arte popular no museu nacional de etnologia? tinha todo o sentido e poupava-se o cargo de director e correspondente salário. não sei se repararam que estamos em crise. E já agora despedimos a ministra e ficamos outra vez só com secretaria da cultura mas que se utilizasse o dinheiro poupado para comprar obras de arte para os museus. É que entre um ministro da cultura e um Rembrand para o Museu Nacional de Arte Antiga eu prefiro o Rembrand. Que o Museu de arte popular é ele próprio um exemplar museológico da história da museologia ninguém tem duvidas mas portugal não tem dinheiro para fazer um museu da museologia, conservando museus absoletos só porque são interessantes na sua absolescência. Pura e simplesmente não há dinheiro. O museu de arte popular integrado no Museu Nacional de etnologia permitia este onde dedicar na sua programação uma área considerável de espaço äs colecções originárias de portugal e o espaço do Restelo ao resto do mundo. Um projecto de museologia inteligente permitia ver o novo e ao mesmo tempo ver o objecto museológico MAP que estava de contentor.



  2. Anónimo , Lisboa. 18.05.2010 10:17

    Triste canavilhas

    A Canavilhas é péssima. Todos sabem na comunidade museológica. Não se tem na sua equipa as pessoas certas o que faz com que não tome as decisões certas. Acontece frequentemente aos governantes. E esta Sra não deixará marca... é melhor passar rapidamente e dar o lugar ou então ter melhores acessores (sec de estado incluído já que a direcção do IMC é um pau mandado e nem tem voto na matéria).



  3. Anónimo , Lisboa. 17.05.2010 19:24

    Resposta a: Anónimo , Port. 17.05.2010 16:41

    Desculpe? Tem todo o direito á sua opinião mas quanto a mim esta ministra da cultura não se fica muito atrás da Sra. Isabel Pires de Lima, entre elas venha o diabo e escolha!. Quanto ao Sr. Pinto Ribeiro, merece pouca da minha consideração porque se esquece que quem ocupa cargos públicos tem o dever de dar explicações sobre situações pouco claras ocorridas quando ocupou o cargo mas nem isso faz, acho que merece o prémio de pior ministro da cultura desde que tenho memória! A Sra. Canavilhas aparece-me como uma pessoa pouco informada sobre o ministério onde está, sobre o que lá se faz, basta ver o que se tem passado em relação ao Museu Berardo, tenho muitas dúvidas quanto aos seus reais conhecimentos sobre o a situação que se vive nos museus em Portugal, pergunto-me até se ja terá visitado o Museu Nacional de Arqueologia (parece que nem conhece a natureza dos artefactos guardados nesse museu) ou o Museu da Marinha. As escolhas que fez para cargos de topo foram tudo menos fundamentadas. Repare que é ministra há pouco tempo, não sei como pode falar em "melhor ministra", parece-me que se contenta com muito pouco! Sou "outro" anónimo e nunca trabalhei nesse ministério.



  4. Francesco Sinibaldi , Italy. 17.05.2010 17:19

    El drapeado del sol.

    El vientoregresa regalandola rima de una triste armonía,el sueño describe el perfil de la noche. Francesco Sinibaldi



  5. Anónimo , Port. 17.05.2010 16:41

    Este anónimo...

    Este anónimo (umas vezes MP, outras anónimo, outras o q lhe vem à cabeça) não terá mais q fazer q vir aqui todos os dias, com diversos anonimatos e diversas msgs, caluniar e tentar ofender a ministra? A quem é q ficamos a dever a reabertura do museu, hem? Os q fizeram barulho ajudaram a sensibilizar, naturalmente, mas a quem devemos a decisão? É preciso ter lata e ser muito brega para exalar todo este ódio. Deve ter sido corrido por incompetencia de algum lugarzinho... Eu até apostava donde... O curioso é q, até estes ataques constantes, por tão ordinários e difamantes, só me fazem defender cada vez mais quem se está a tornar na melhor ministra da cultura que Portugal já teve desde 74. E como eu, toda a gente com quem falo.



  6. MP , LX. 17.05.2010 15:37

    O próximo assalto é ao CCB

    O próximo assalto é ao CCB, pois prepara-se para correr com o Mega Ferreira e restante administração, consta que tem tres amigos para la colocar e o mes de setembro esta ai não tarda



  7. Anónimo , LX. 17.05.2010 15:35

    Temos de correr com a canavilhas

    Se o povo não conseguir correr com a canavilhas a cultura estara desgraçada, a tipa alem de incompetente é cega e so tem uma preocupação colocar os amigos nos lugares de gestão, pois assim conseguirá encobrir a má gestão e a falta de preparação para o cargo, sugiro que as forças culturais que ainda tem algum peso criem e ponham a circular uma petição online para correr com a gaja do ministério, isto é a vergonha do pais



  8. perverso , país de analfabetos funcionais. 17.05.2010 12:41

    Sempre a mesma coisa

    A ansia de destruir tudo o que o Estado novo pode ter feito, ou destruir tudo o que o Estado novo pode ter apregoado é tanta, que não se para para pensar que algumas coisas podem ter sido bem feitas e têm a sua razão de existir. Porra pá, só porque apoiam uma coisa que foi criada pelo estado novo, não vos faz fascistas. Se foi bem criada e é útil à sociedade, deixem-na estar quieta. Já é altura de ultrapassarmos esse complexo.



  9. RR , Oeiras. 17.05.2010 12:19

    Qual Estado Novo....

    Foi no Regime Fascista!!!!!!!!!!!!!Pena demorarem tanto tempo para fazer o que quer seja no que toca a cultura neste país... Se fosse um estádio ou uma auto-estrada já estava feito há anos.Miséria de país...



  10. Anónimo , Lisboa. 17.05.2010 12:13

    Prabéns MAP! Ministério da cultura tenta destruir

    É bom ver que os políticos e os seus jogos de interesses nem tudo conseguem. Parabéns ao MAP que não ficou destruído. Espero que o mesmo aconteça ao Museu de Arqueologia que só mude para melhor e não para a cordoaria contra a opinião de todos (que era o que iria acontecer ao MAP). Os políticos não podem tudo. É necessário ouvir a opinião dos técnicos.

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