Discurso de Lula da Silva (excerto)

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terça-feira, 25 de maio de 2010

Joan Baez canta José Afonso relembrando-nos a fraternidade e a união como outrora fez em Espanha.

Luis desenha

 

quinta-feira, 8 de Abril de 2010



Joan Baez passou por cá em Março. Cantou esta canção de José Afonso, que foi senha para a revolução do 25 de Abril de 1974. Ela certamente viajou no tempo, recuando 30 anos, até quando esteve entre nós. Por outro lado estava bem no presente, sabendo que Abril se avizinhava, cantando o que se tornou num hino de libertação e esperança na fraternidade humana Joan Baez canta "Grândola, Vila Morena" (José Afonso) from angelanns on Vimeo.
Joan Baez que menos de um mês antes esteve cantando para o presidente dos Estados Unidos da América, seguiu após este concerto, para Madrid. Foi-lhe imposta a Ordem de las Artes y Letras de España pela ministra da cultura. A condecoração aprovada pelo parlamento espanhol traduz o reconhecimento e o agradecimento institucional a uma artista que relevou a cultura espanhola numa altura em que não era ainda um referencial. Estou falando de um disco que tomou o nome de uma canção de Violeta Parra, "Gracias a la Vida".O disco editado em 1974 apanha a queda da Ditadura Espanhola nascida da Guerra Civil de 1936-1939. Estive no sul de Espanha por essa altura, em 1978. O disco era tocado nas grandes superfícies comerciais, e a canção Gracias a la Vida era cantada nas ruas. Este facto aparentemente sem relevância, no meu entender, materializa a importância da arte na vida de cada um de nós.
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Cantando aquelas canções da identidade hispano americana, Joan Baez estava a chamar a atenção para a necessidade de voltar à raiz, ao que é básico e fundamental. Não pretendo ver aqui uma intencionalidade consciente da parte de Joan Baez, tenho mais a tendência a pensar que o seu espírito intuitivo a levou a gravar aquelas canções naquela altura.
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Quando o disco saiu em 1974 adivinhava-se já o fim da guerra do Vietname que terminou um ano depois. Esta guerra que causou tanta destruição, que tantas vítimas fez e ainda hoje faz nas pessoas que a viveram, nos seus descendentes e nos que habitam aquele espaço, também afectou a sociedade americana..
Em Portugal viviam-se tempos agitados de reacção aos excessos feitos em nome da revolução do 25 de Abril de 1974. -Os mais aguerridos revolucionários daquele tempo migraram entretanto no sentido oposto, basta ver o caso do Presidente da Comissão Europeia entre inúmeros outros.
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Nesse tempo a Grândola Vila Morena se fôsse cantada na rua entre pessoas que nessa altura se diziam de direita, do centro, da social-democracia e até do partido dito socialista recebia reacções de reprovação e até de agressão. Isso mesmo aconteceu comigo!
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Esta canção que apela à fraternidade, e em ultima análise à vontade do povo e à democracia, foi proíbida numa rádio ligada à Igreja Católica. Permaneceu assim vários anos, não sei se ainda hoje continua proibida. 
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Em Espanha entre 1975 e 1979 a democracia dava os primeiros passos e as trevas da ditadura e da guerra civil pairavam de novo. A Espanha apesar da repressão não consolidara ainda uma identidade nacional. Novamente se falavam as várias línguas nacionais que o estado totalitário banira das escolas e até impedira de serem faladas pelos seus naturais. A língua castelhana promovida a língua espanhola oficial e única, não espelhava a realidade social em mudança profunda, as clivagens nacionais forçavam o separatismo e ameaçavam poder desagregar o próprio Estado. Então que coisa melhor podia acontecer? Uma cantora americana de grande renome, conectada com ideias progressistas, com ascendência hispânica, cantava em castelhano-espanhol valores tradicionais e universais que se perpetuam até hoje. Melhor ainda, ao mesmo tempo essa cantora, ainda que involuntáriamente, remetia para o tempo em que a unidade espanhola frutificara num Império que reclamava como seu meio mundo incluindo Portugal, Brasil e todos esses territórios onde os portugueses faziam sua pátria. Com a sua arte relembrava a importância de agradecer à Vida a existência e tudo o que possuem os seres humanos por inerência a estarem vivos. Joan Baez apelava á valorização do que não valorizamos por acharmos ser nosso por direito garantido. A importância passava a residir no que é comum em substituiçao do que divide e causa ressentimento. Joan Baez sabia já nessa altura, como Violeta Parra, que agradecer à Vida pode ser também uma forma de consciência da morte e de afirmação do não Ser. A fraternidade e a união promovem a partilha. Isso pode ser uma forma de retorno a casa. 
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