Discurso de Lula da Silva (excerto)

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segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Tapetes de Arraiolos - A tradição está a morrer?


São autênticas cópias que chegam a Portugal, vindas da China ou do Brasil, semelhantes aos originais e vendidos a preços mais baratos. Os genuínos tapetes de Arraiolos podem ter os dias contados. Em causa está a manutenção de uma arte e tradição seculares. O Centro de Apoio às Tapeteiras de Arraiolos luta por inverter um caminho de extinção.

Ana Clara | segunda-feira, 25 de Janeiro de 2010
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O tapete de Arraiolos, um dos símbolos da cultura alentejana, pode ter os dias contados. Sofre a concorrência de espaços comerciais que vendem produtos semelhantes, a preços mais baixos e com um sucesso no mercado por vezes superior aos das unidades que fabricam tapetes autênticos. Por outro lado, a lei que regula a certificação dos tapetes de Arraiolos está há oito anos para sair.
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A verdade é que a tradição que bordou o primeiro tapete no século XVI, se vê corrompida até no berço dos Arraiolos. Na vila alentejana já se vendem tapetes feitos à máquina. Prova disso é que, se o cliente precisar de uma medida específica, há logo 20 ou 30 exemplares com essa dimensão - coisa que é difícil quando são mãos de bordadeira a fazer as peças.
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Por outro lado aguarda-se há anos uma certificação que distinga os verdadeiros tapetes das falsificações. A crise abalou o sector mas a óbvia necessidade de manter a tradição e garantir direitos às tapeteiras levou o Centro de Apoio às Tapeteiras de Arraiolos (CATA) a desenvolver um certificado de origem com um selo de controlo por tapete para despistar imitações.
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Avelino Pé-Leve, do CATA, recorda ao Café Portugal que a lei 7/2002 dos Tapetes de Arraiolos, aprovada na Assembleia da República, «está para sair há oito anos», acrescentando que «a Certificação do CATA já está em vigor há dois anos» e só certifica, como foi dito atrás, tapetes manufacturados por tapeteiras da região de Arraiolos.
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Quanto aos tapetes falsos, quer os vindos da China ou do Brasil, quer os feitos à máquina, «são parecidos com os originais e vendidos muito mais baratos». «Por este facto se vendem muito e os originais muito pouco. Logo, as tapeteiras da região de origem ficam sem trabalho, acabam os verdadeiros tapetes de Arraiolos e desaparece a tradição de os fazer com as verdadeiras técnicas da zona que os viu nascer», afirma Avelino Pé-Leve.
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Aquele responsável reafirma, também, que a crise neste sector já existe há pelo menos 15 anos, ou seja, «desde que começaram em Arraiolos a vender tapetes chineses». «Mais tarde surgem os tapetes com origem no Brasil e agora até os feitos à máquina. Factos que abalaram o sector em mais de 90%. Só para ter uma ideia há 20 anos cerca de 90% do sector feminino desta região vivia desta arte secular. Agora nem 10%», lamenta.

Avelino P.é-Leve realça que os direitos das tapeteiras deveriam estar garantidos, mas não é o que acontece. «Elas não têm força para fazer valer os seus interesses e as entidades oficiais não fazem nada para isso. É evidente que há pessoas de bem, que se preocupam com elas, eis porque apareceu um movimento de pessoas que criaram o CATA no sentido de evitar que o seu trabalho acabasse, criando uma certificação de Origem. Mas verdade seja dita, a Organização beneficia de apoio logístico da autarquia local, mas em relação à sua promoção e divulgação pouco», critica.
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Sublinha, por isso, que as tapeteiras de Arraiolos «mereciam mais consideração das entidades oficiais» e que o CATA «tem feito o que pode, mas não chega para garantir a continuidade desta Arte». «É pena, porque elas estragaram a sua coluna a coser anos e anos nas cadeiras baixinhas como é tradição, para levar a várias partes do Mundo o nome de Arraiolos; e agora vêem desaparecer o seu esforço e a sua fonte de rendimento, que embora fraca, dava bastante jeito ao orçamento familiar».
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A história
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Arraiolos é conhecida, sobretudo, pelos seus tapetes que se encontram dispersos por museus e casas particulares por todo mundo. Esta vila alentejana, orgulha-se de ter criado uma das mais preciosas obras do artesanato português. O tapete de Arraiolos é, por norma, bordado em lã, com ponto de costura com o mesmo nome, sobre uma tela de juta, algodão ou linho.
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O processo de fazer um tapete de Arraiolos começa por escolher um desenho e saber as dimensões pretendidas. Na actual produção industrial artesanal os desenhos são conservados ou criados em papel quadriculado que serve de cópia para se fazer o tapete.
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Quase todos os tapetes são baseados em desenhos antigos, mas também é possível fazer um tapete a partir duma fotografia ou outra imagem. Quando se faz o desenho as cores são outro aspecto importante. A este processo designa-se «matizar» e é talvez a parte mais importante de todo processo.
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A escolha das cores consegue fazer a diferença entre um tapete razoável e um tapete deslumbrante. Depois o matizar a tela é cortada nas dimensões pretendidas e a bordadora pode começar a cozer. De recordar ainda que uma característica clássica de todos os tipos de tapete de Arraiolos é a do tapete se compor de um centro, um campo, uma barra e uma franja.
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Autarca de Arraiolos alerta para a necessidade de certificação dos tapetes

Certificar o do tapete de Arraiolos, produto histórico e secular alentejano, é uma necessidade urgente, há pelo menos oito anos. O presidente da Câmara Municipal de Arraiolos, Jerónimo Loios, fala da polémica que parece não ter fim à vista. A certificação é uma necessidade, assim como o registo nacional e internacional. Em causa está a salvaguarda face às falsas indicaçõesde origem.

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Ana Clara | quinta-feira, 28 de Janeiro de 2010
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Jerónimo Loios, autarca da vila alentejana de Arraiolos afirma em declarações ao Café Portugal que a certificação dos históricos tapetes é «uma necessidade a que as entidades competentes deviam dar seguimento dentro daquilo que foi o espírito que presidiu à aprovação, por unanimidade, na Assembleia da República (AR) da Lei 7/2002 de 31 de Janeiro».
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Esta Lei da AR criou o Centro para a Promoção e Valorização do Tapete de Arraiolos, o qual prevê a certificação dentro de parâmetros definidos na sua produção, susceptível de denominação de origem ou indicação geográfica, atendendo aos usos, história e cultura locais, bem como aos interesses da economia local, regional e nacional.
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A Câmara Municipal de Arraiolos, salienta o autarca, «tem insistido junto do Governo para dar cumprimento à Lei 7/2002 e instituir o Centro para a Promoção e Valorização do Tapete de Arraiolos». E acrescenta: «a Comissão Instaladora do Centro prevista na Lei 7/2002, em Novembro de 2003 enviou ao Sr. Secretário de Estado do Trabalho a versão final do Projecto de Estatutos. A Câmara Municipal fez, ao longo destes anos, vários pedidos de informação, solicitou mesmo a realização de uma reunião ao Sr. Primeiro-Ministro, mas não obtivemos resposta. É evidente que a não aprovação dos estatutos do Centro para a Promoção e Valorização do Tapete de Arraiolos e a não concretização das medidas previstas na Lei 7/2002 pelo Governo, são a razão do atraso».
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Sobre a falsificação dos tapetes, Jerónimo Loios realça que a questão da importação, com várias origens, de Arraiolos, «são um modo de concorrência desleal». «Sempre procuramos defender, conjuntamente com os produtores e com as tapeteiras a criação de mecanismos de protecção e combate à entrada, generalizada no País, de tapetes com nome de Arraiolos e provenientes de outros países, cujo caso mais conhecido é o da China», refere.
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Por essa razão, frisa que «seria muito importante proceder ao registo nacional e internacional do Tapete de Arraiolos e salvaguarda-lo de falsas indicações de origem, considerando que se trata duma actividade artesanal das mais conhecidas em todo o mundo, com origem em Arraiolos num período, eventualmente, anterior ao século XV». O edil diz que a Câmara procura com os meios que tem ao seu dispor promover o Tapete de Arraiolos e dar estímulo à produção local, nomeadamente, através de iniciativas como «O Tapete está na Rua» ou a «Feira do Tapete de Arraiolos». Noutro plano, o município continua a desenvolver o projecto do Centro Interpretativo do Tapete de Arraiolos, como local de memória viva, onde se valoriza a vertente histórica e cultural ligada ao modo de produção do «Tapete de Arraiolos».
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«Estas acções são um contributo determinante para que a tradição se mantenha viva, sendo que o sector produtivo, necessita muito da certificação, porque o Tapete de Arraiolos é importante para a vida económica do concelho, sobretudo na área do turismo, tal como a gastronomia ou património histórico e cultural», sustenta.
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Sobre a crise que abala o sector, o autarca lembra que em Novembro de 1997, numa reunião realizada na autarquia de Arraiolos estiveram 22 empresas que enviaram ao Ministério da Economia uma deliberação sobre a defesa e valorização do Tapete de Arraiolos e que em 2009, na iniciativa «O Tapete Está na Rua» participaram apenas onze empresas. «O desaparecimento de 50% de empresas neste período diz tudo quanto ao impacto da crise e da não concretização de medidas para defesa do tapete de Arraiolos», constata.
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Com o desaparecimento de empresas e as dificuldades naquelas que tem resistido, a realidade, nua e crua, é que centenas de tapeteiras perderam o emprego. E, conclui, dizendo que «os direitos das tapeteiras só estarão garantidos com uma valorização e certificação do Tapete de Arraiolos». «Não podemos esquecer que foi através de gerações e gerações de tapeteiras que este artesanato genuíno chegou até aos nossos dias», finaliza Jerónimo Loios.
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