Discurso de Lula da Silva (excerto)

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terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O que o exílio fez a Chagall


Chagall - Promenade

Cultura

Vermelho - 16 de Dezembro de 2009 - 16h10

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Apesar da aclamação, Marc Chagall morreu insatisfeito. Ele era consciente de que suas pinturas perderam a originalidade e o rigor após ter abandonado definitivamente, nos anos 1920, a sua cidade natal, Vitebsk, na Rússia.

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O pintor passou a sentir uma baita insegurança - o reconhecimento teria a ver com uma avaliação superestimada. Na velhice, ele perguntava: "Você ama o Chagall?". Essas revelações estão em "Chagall" (tradução de Maria Silvia Mourão Netto, Globo, 735 págs., R$ 89), biografia de Jackie Wullschlanger, crítica de arte do "Financial Times".
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Por ser tão evidente o divisor de águas representado pela expatriação, Jackie concebeu o livro em dois capítulos, Rússia e Exílio. Para ela, a inspiração do pintor se originou toda ela no ambiente "triste e jovial" de Vitebsk. Jackie admira a capacidade de sobrevivência de Chagall, um indivíduo dependente das mulheres. O pintor considerava a sua primeira esposa, Bella Rosenfeld, coautora de suas obras.
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O fato é que ela foi essencial para o artista penetrar os círculos intelectuais de Berlim e Paris. O sexo oposto, segundo Jackie, é tão importante quanto o judaísmo e a espiritualidade para entender o processo criativo de Marc Chagall (1887-1985). Leia mais a seguir.
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Efeitos do exílio
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"A exemplo de outros pintores e escritores russos, a inspiração de Chagall secou lentamente no exílio. Os artistas russos têm um relacionamento intenso com a terra natal, de certo modo o assunto de todos eles - mesmo Malevich e Kandinsky - é a vida espiritual e moral da Rússia. A arte de Chagall será sempre associada às imagens da vida em sua pequena cidade - como provam as cabanas de madeira, as cúpulas da igreja, os camponeses, os animais, os violinistas e os rabinos. Aqueles que conheceram esse mundo particular se surpreenderam com o fato de ele ter transformado algo tão trivial em algo poético, permeado por amor. Após Chagall se separar fisicamente de sua terra, os seus modelos diretos desaparecem - e a sua resposta emocional se coloriu de nostalgia. Com isso, o seu trabalho perdeu intensidade e rigor."
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As mulheres
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"A proximidade de Chagall com a mãe é característica definidora de sua personalidade. Essa relação se transformou em uma dependência das mulheres, como se vê com Bella, a primeira esposa, Virginia, sua companheira meses depois da morte de Bella, e Vava, a terceira esposa. A arte de Chagall depende da ligação materna - a cidade natal de sua progenitora é o seu tema principal. Os retratos de Bella, que ele classificava de coautora do seu universo artístico, estão entre os seus melhores trabalhos."
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Herança do judaísmo
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"Ele pertenceu a uma geração de judeus de famílias ortodoxas que se tornaram seculares. Essa experiência familiar lhe emprestou a espiritualidade e a crença na arte. Isso não se verifica na iconografia, embora Chagall tenha pintado de modo brilhante quadros com judeus orando, mas na prática de injetar sentido à existência."
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Reinvenções
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"Me impressiona a inabalável capacidade de sobrevivência e reinvenção de si mesmo de Chagall. Ele se adaptou a diferentes culturas, a francesa, a alemã e a norte-americana. Ao mesmo tempo, as memórias maternas e religiosas - a Bíblia inspirou os seus últimos trabalhos - serviram como alimento, dando-lhe otimismo em meio ao sofrimento Em uma crise pessoal, após ter desistido da religião, ele escreveu: ‘Eu continuo acreditando em Deus, que não desejaria que minha vida terminasse na amargura’."
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Fonte: Agência Estado

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Chagall - Land The Village
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