Discurso de Lula da Silva (excerto)

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segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

KILL - Once upon a time in America - Quentin Tarantino




Digestivo nº 172 >>> Battles Without Honor and Humanity
Se os anos 70 e a cultura pop não tivessem servido para nada, ainda assim, teriam produzido Quentin Tarantino e “Kill Bill” (que justificam tanto uma coisa quanto outra plenamente). Afinal, temos assistido, desde os anos 90, a um cansativo “revival” dos anos 70 – que só consegue ser caricato, superficial e desinteressante em suas imitações e modismos. A novidade no caso de Tarantino e de sua primeira realização cinematográfica desde “Jackie Brown” (1997) é que o diretor é um “erudito” nos assuntos que aborda, a saber: artes marciais chinesas (o kung fu dos filmes e seriados de TV); “filosofia” samurai japonesa (à maneira de Sonny Chiba, que participa da fita); e “ideologia” de faroeste italiano (base de seu roteiro e inspiração para a trilha sonora). Outro ponto que merece destaque é que Quentin Tarantino não se resume a uma homenagem nostálgica e estéril (como é comum): ele, na verdade, “cria” uma outra “realidade” a partir desses elementos – e por isso seu “cinema” (podemos chamá-lo assim) é tão original, rico e ainda influente. Como o próprio diz, no material de divulgação, se “Cães de Aluguel” (1992), “Pulp Fiction” (1994) e outros guardam fortes ligações com o tempo atual, “Kill Bill” transita num novo universo (único e exclusivo de Tarantino) – e, portanto (a conclusão é por nossa conta), trata-se de uma obra-prima. Pois o longa tem “vida”; é perfeitamente coerente em sua “forma”; encerra um “todo” e dá margem a inúmeras “interpretações” – como, aliás, toda grande obra. Há um “quê” de vibrante que sacode o espectador desde a primeira cena, e que gera um forte vínculo de cumplicidade (reconhecível a cada “parada”, a cada detalhe, a cada vinheta). Só um artista em pleno domínio de sua técnica consegue produzir esse efeito. Funciona como uma espécie de hipnotismo e o público é totalmente comandado (responde a comandos) do primeiro ao último “take”. (Mesmo quem for apenas para “observar”, vai se deixar contagiar.) É impressionante que, depois de 7 anos (5 contando o início das filmagens), Quentin Tarantino ainda esteja “em plena forma”: não tenha perdido a “mão” e tenha, pelo contrário, usado seu instrumento como nunca antes. “Kill Bill” é um banho de sétima arte – principalmente para quem achava que os grandes mestres tinham acabado.
>>> Kill Bill




Digestivo nº 199 >>> Once upon a time in America

Se a cultura americana não tivesse servido para nada, teria servido ainda para produzir Quentin Tarantino. (Eu acho que já disse isso a propósito de Kill Bill 1; se disse, volto a repetir a propósito de Kill Bill 2.) Tarantino, para dizer o óbvio, é o maior cineasta americano em atividade hoje; e, para ir além, talvez seja o mais genuíno, desde as últimas décadas do último século. Pois, ao emergir da cultura (considerada subcultura) pop, propõe a maior representação da alma americana no período. Se Altman, por exemplo, sofreu injunções do cinema europeu e os Irmãos Cohen, outro exemplo, tendem a estetizar, com pinta de alta cultura, o american way, Tarantino expõe as vísceras de sua sociedade, mas ao contrário do realismo apelativo que temos visto, o faz com requintes de grande arte – e de grande artista. Kill Bill é seu épico, seu testamento e sua homenagem ao cinema. Tudo isso provavelmente já foi dito, mas de outra maneira. E a consagração, finalmente, veio, com o encerramento da saga, recentemente, nos cinemas. É estranho que a “ficha” tenha demorado tanto a “cair”, para o público e para a crítica – já que ambos permaneceram praticamente cegos para a beleza e para o poder que emanava, igualmente, de Kill Bill 1. Precisaram de Kill Bill 2, tanto para entender quanto para incensar Tarantino – sem, no entanto, notar que são duas partes de um mesmo filme, editado por imposição do estúdio, e do mercado. Tanto os enquadramentos inusitados, quanto os diálogos incrivelmente bem escritos, quanto as reviravoltas no roteiro, quanto a trilha sonora imperdível, para dizer o mínimo, já estão todos em Kill Bill 1 – mas ninguém viu ou ouviu até Kill Bill 2. (Enfim: é melhor do que se não tivesse nunca visto ou ouvido; e deixado Tarantino a ver navios...) Se já sobrava muito pouca revolução, em matéria de sétima arte, depois de Pulp Fiction (1994), agora sobra menos ainda. Seguindo esse raciocínio, é quase natural que tenham crucificado Tarantino em Jackie Brown (1997) e que o crucifiquem, também, no próximo filme. Pois, o que poderá, no sentido “tarantinesco” do termo, superar Kill Bill? Muito pouca coisa. Faltaria fôlego, a Tarantino, seu casting e sua produção, para algo “maior” que Kill Bill. Talvez, para sermos conformistas, ele nem precise. Talvez Kill Bill nos entretenha pelos próximos 10 anos, como Pulp Fiction. E isso, para quem decretava a extinção dos grandes diretores, é um alento e uma sobrevida.
>>> Kill Bill 2


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