Discurso de Lula da Silva (excerto)

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sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Idosos, raça e desigualdades - Gilberto Pucca


Idosos, raça e desigualdades

Dezembro 7, 2009
 
por Gilberto Pucca*
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O que aconteceu, nas últimas décadas, em relação à população brasileira? Que mudanças fundamentais aconteceram e que podem determinar planejamentos e decisões em saúde pública?  Estes indicadores, que funcionam como uma espécie de mapa e bússola no momento de se encaminhar discussões e de se distinguir o que é importante de que é urgente, apontam alguns fatos inesperados e outros nem tanto.
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De uma maneira geral, porem, o estado atual da população brasileira, em relação a categorias como urbanização, educação e saneamento não são mais do que o resultado de processos históricos recentes e de uma seqüência de políticas que visam predominantemente  à manutenção de um sistema econômico-financeiro fechado em si mesmo, em detrimento de políticas de cunho social. Senão vejamos:
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Queda na natalidade e na fecundidade, o que implica, obviamente, numa diminuição do crescimento populacional.
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Aumento significativo da população idosa, aqui entendida enquanto pessoas com mais de 60 anos. Este grupo já constitui 8,7% da população total no Brasil. Este aumento constitui-se em fortes demandas ao sistema de saúde, que devem ser equacionadas o quanto antes. A tendência é que o sistema de saúde tenha que enfrentar problemas de doenças da Terceira Idade, e mais um grande contingente da chamada “velhice abandonada”. Pobreza e idosos caminham juntos nesse país.
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Na década de 80 e 90 houve um forte movimento de urbanização. Este fenômeno esta relacionado a três outros; à aceleração nas cidades de porte médio, à redução drástica da população rural e à menor pressão sobre as capitais, mas não sobre as cidades periféricas das regiões metropolitanas.
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No entanto são os indicadores econômicos que parecem constituir a espinha dorsal da situação brasileira., isto é, o que nos permite ver de maneira mais clara e panorâmica o estado em que as populações dos vários ‘brasis’ parecem viver, ou sobreviver. Três  aspectos saltam aos olhos, um em cada década antecedente; concentração de renda (década de 70); recessão sem distribuição (década de 80), estabilização da moeda e desemprego (década de 90).
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Este caminho histórico legou, naturalmente, o aumento das desigualdades territoriais e sociais, onde estão incluídas desigualdades de renda e serviços e gastos públicos entre regiões, o surgimento de estratos sociais e dicotomias bem marcadas – e profundamente desiguais – como ‘cidade e campo’ , ‘centro e periferia’.
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Quando ao saneamento, houve expansão da cobertura dos serviços de saneamento, particularmente da água.
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Os números da Educação não revelam muitas mudanças, apesar do alarde do Governo Federal: os índices de analfabetismo e baixa escolaridade permanecem elevados, e a única boa noticia é um pequeno aumento da escolaridade da população mais jovem. Sem se analisar a qualidade, por certo.
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Na Saúde, nota-se a expansão da cobertura da rede básica de saúde e assistência hospitalar, mas com qualidade ainda extremamente insatisfatória.
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A situação dos idosos no Brasil desvela as profundas desigualdades sociais no pais. É preciso revelar os mecanismo das desigualdades. Um exemplo disso é o estudo divulgado recentemente pelo Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA) mostrando a distorção entre o nível educacional de brancos e negros: a pesquisa revela que os índices são os mesmos do século XIX, isto é, que a grande diferença entre o nível educacional dos brancos e o dos negros não foi sequer atenuada. Dados indicam que irá demorar cerca de 20 anos para o negro igualar esse período. Isso se algo começar a ser feito hoje. Só isso.
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* Mestrado em Epidemiologia do Envelhecimento pela Escola Paulista de Medicina. Trabalha no Ministério da Saúde. Publicado na REA nº 15, agosto de 2002, disponível em 
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