Discurso de Lula da Silva (excerto)

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sexta-feira, 10 de julho de 2009

Tarantino e a pressão de Hollywood: um depoimento revelador


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Mike Fleming, blogueiro da Variety, publicou nesta quinta uma boa entrevista com Quentin Tarantino sobre a versão final de Bastardos Inglórios, o novo longa do diretor de À Prova de Morte, Kill Bill e Pulp Fiction. Como é uma entrevista da Variety, a discussão gira em torno mais da pressão do lançamento comercial e da expectativa de retorno financeiro por parte dos estúdios (Weinstein e Universal). E as respostas do cineasta são um interessante exemplo de como as coisas funcionam em Hollywood.

Por Leonardo Cruz, no blog Ilustrada no Cinema


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A seguir, os trechos mais interessantes da conversa, na tradução mambembe deste blogueiro. Para quem é fã de Tarantino, o fim de 2009 promete. Bastardos Inglórios deve estrear em 23 de outubro. E, se não for adiado pela milésima vez, À Prova de Morte, de 2007, entrará em cartaz em 13 de novembro.

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Sobre rumores de que teria recebido ordens para cortar o filme após a estreia no Festival de Cannes

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Ouvi esses rumores de que o estúdio teria me mandado cortar 40 minutos. É tudo mentira. O filme está um minuto mais longo em relação a Cannes. Tinha 2h28, sem créditos finais, e agora tem 2h29. Ou 2h32, com os créditos.

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Fico ofendido com a ideia de que esses caras (os produtores) ficariam mandando em mim. Ao contrário, não tenho do que reclamar. Você não tem que fazer nada sob pressão. É o seu filme, é você quem tem que viver com ele e sabe que não pode fazer julgamentos precipitados porque se arrependerá depois.

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Mas você fica mais inclinado a ouvir, porque não o estão forçando a nada. Harvey Weinstein (dono do estúdio) é um cara legal. Foi ótimo trabalhar com David Linde (da Universal). Eles tem coisas válidas a dizer. Com algumas eu concordei. Com outras, não. Sempre tentei as sugestões deles, porque eles têm muito dinheiro investido. Eles não estavam na sala (de montagem) quando tentei, e em metade das vezes eles estavam errados. Mas, algumas vezes, me peguei dizendo: “Diabos, Harvey está certo. É melhor deste jeito.”

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Sobre uma eventual “prequela” de Bastardos Inglórios

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Já escrevi metade (do roteiro). Tenho que terminá-lo, reunir os Bastardos de novo e inserir todo um outro grupo de personagens. Durante as filmagens, Brad Pitt e Eli Roth ficavam falando: “Prequela, pequela”. Brad dizia: “Vamos convencê-lo a fazer uma prequela”. Os caras adoram a ideia. Eu tenho a história. Mas (no passado) eu ia fazer todas aquelas prequelas de Kill Bill, em animação. E acabei não fazendo nenhuma delas.

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Sobre a pressão dos estúdios por um sucesso comercial

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É, os caras estão ansiosos, e eu sei de onde isso vem. Mas um filme é um filme. Eles leram o roteiro, sabiam no que estavam se enfiando. De tempos em tempos, nós conversávamos e eu dizia: “Ouço o que vocês dizem, mas não vou fazer o filme em nada diferente do que escrevi”. Pode parecer estranho quando digo que acrescentei um minuto, mas você pode acrescentar pequenas coisas e melhorar o ritmo. E nós estávamos muito atentos a manter um bom ritmo.

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Para acrescentar uma cena, eu reduzi pequenos trechos de algumas cenas. Conversava com os Weinstein e a Universal, e eles diziam: “Esta sequência está um pouco longa”. Eu respondia que o máximo que podia fazer era cortar uma linha aqui, outra ali. E eles concordavam. Aí você precisa achar essa linha. É cirurgia cosmética. Harvey queria que eu acrescentasse mais música, pediu para que eu voltasse à minha coleção de discos e escolhesse mais algumas músicas. Achei quatro. E uma delas é a música-tema do filme Os Mercenários, de Jack Cardiff, que eu sempre quis usar.

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Sobre o star system

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Tem havido escolhas seletivas de evidências para argumentar seu o star system ainda é confiável ou não. Se você se refere àquele filme do jornal com o Russel Crowe (Intrigas de Estado), que eu não vi, talvez o star system não tenha funcionado para aquele filme. Brad teve sucesso com Benjamin Button e acho que ele foi uma grande razão (desse sucesso). No passado, eu ouvia sugestões deste ou daquele ator e perguntava: “Por que você quer estas pessoas? Eles realmente levam gente ao cinema?” Olhava os filmes deles, e a resposta era não.

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Aprendi que a questão era menos sobre público e mais sobre marketing. Este cara é famoso, então podemos levá-lo no Leno, no Conan, no Letterman, conseguir uma capa de uma revista. Eu escolho o elenco que funciona melhor para o filme. Rosario Dawson era a garota mais famosa que usei em À Prova de Morte, e ela foi a todos os talk shows. Mas ela também era uma das melhores do filme. Ela é uma grande atriz, tem toneladas de carisma. Não vou contratar ninguém apenas para o pôster. E a integridade dos meus filmes fala por si.

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Sobre o impacto de Brad Pitt no desempenho comercial de Bastardos Inglórios

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Sempre confiei no meu nome na maior parte do tempo. Minha esperança agora é que eu vou atrair os meus fãs e ele vai atrair os dele. No exterior, a admiração por Brad é intensa, quase louca, mas por mim também. Espero que, conosco juntos, haja um empate. Mas posso dizer sinceramente que, se Pitt não fosse um astro e eu o tivesse encontrado na seleção de elenco, teria feito lobby para que o papel fosse dele.



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in Vermelho - 9 DE JULHO DE 2009 - 18h16
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