Discurso de Lula da Silva (excerto)

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terça-feira, 30 de junho de 2009

«Quando a Tróia era do Povo» é best-seller em Setúbal


Segunda-feira, 29 de Junho de 2009 | 10:31

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O livro «Quando a Tróia era do Povo», que recolhe dezenas de testemunhos sobre as vivências populares naquela península nos anos 50, 60 e 70, esgotou três edições em um mês, só na cidade de Setúbal.
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Para Jaime Pinho e Maria José Simas, que participam no projecto com outros cinco professores e com um colectivo de alunos do 9º ano da Escola Secundária D. João II, em Setúbal, o livro captou a frustração da população da cidade, que se sente excluída face ao empreendimento Tróia Resort, da Sonae Turismo.

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«O livro chegou num momento particularmente sentido pela população de Setúbal, que finalmente vê o que aconteceu em Tróia neste último ano», contou Jaime Pinho, professor de História, à agência Lusa, recordando que, em meados do século XX, «o espaço era um autêntico paraíso para a comunidade setubalense e não só, também para a comunidade da região e do país».

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«Sobretudo nos anos 50, 60 e 70, Tróia acolhia dezenas de milhar de pessoas que, em grande percentagem, acampavam ali durante os três meses de Verão. Mesmo quando iam para as aulas ou para o trabalho, mantinham as suas tendas e barracas e voltavam para dormir», contou.

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Referindo-se à transformação da península pelo projecto Tróia Resort como «uma viragem muito grave» e «brutal», o docente explicou que a população sente «um misto de nostalgia e de revolta» pela «humilhação» que Setúbal está a viver.

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Ao verem o livro, há nas pessoas «um brilho nos olhos, o prazer de reverem os tempos que lá passaram e, por outro lado, uma revolta por serem praticamente impedidas de voltar», afirmou, assinalando «uma grande comoção na comunidade setubalense» face a uma mudança que acontece «perante os nossos olhos e a nossa impotência».

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«Tróia está aqui mesmo à nossa frente mas, simultaneamente, longe. E as pessoas, agora, só podem ver Tróia por um canudo», declarou à Lusa, descrevendo uma visita recente à praia.
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«Na quarta-feira, seis elementos da equipa - dois entrevistados, dois alunos e dois professores - foram a Tróia e o que vimos é triste: uma autêntica cidade mas sem pessoas. Nada da azáfama, da intensidade, das brincadeiras das crianças, do ambiente de libertação e de prazer de outrora», declarou.

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Uma impressão partilhada por Maria José Simas, professora de Inglês e Alemão e também participante no livro, publicado com chancela da Escola D. João II a 25 de Maio e que, desde então, esgotou três edições (3.200 exemplares) na cidade de Setúbal, único local onde está à venda.

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«Quem é de Setúbal, quem aqui vive, sabe que as filas para Tróia eram imensas. As famílias iam para a praia a pé, com os seus farnéis e sombrinhas», recordou, falando numa mudança de cenário «agora que o cais de desembarque dos 'ferry-boats' foi deslocado para lá da Caldeira e os bilhetes custam dois euros por viagem».
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Face a esta alteração com que a população de Setúbal se viu confrontada, a docente diz não estar surpreendida com o sucesso do livro, que esta semana terá a sua quarta edição.

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«Frequento os locais populares: vou à mercearia, ando de autocarro e oiço as pessoas. Por isso, sabia que existe, em Setúbal, uma frustração latente em relação ao destino de Tróia. Não sabia é que essa frustração era uma saudade tão sentida e tão comovida», reconheceu.

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Maria José Simas espantou-se, contudo, por o livro «transmitir esse sentimento de forma tão vívida» e por pessoas de diversas idades e zonas da cidade utilizarem «um discurso tão próximo para falarem das suas memórias».

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De acordo com a professora, o livro «não é uma obra literária» mas «um registo de memórias, de vivências colectivas, comunitárias» e qualquer pessoa pode lê-lo e compreendê-lo.
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O projecto de «Quando a Tróia era do Povo» teve início em Setembro de 2008 e decorreu até Maio passado, mobilizando os estudantes para a preparação das entrevistas e a recolha dos testemunhos junto de «avós, tios e vizinhos, que ficaram encantados por poderem partilhar as suas memórias».

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Em relação ao nome do livro, a professora assegurou que «não é nenhum recado, apenas dá voz a um sentimento colectivo», tendo sido escolhido pelos alunos entre outras propostas de título colocadas à sua consideração.

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Na sua opinião, ao início, as pessoas não estavam contra o Tróia Resort, «mas ficaram desiludidas ao ver a construção em altura, que é um tipo de ocupação do espaço que destrói a sua história», havendo muita gente «que até tem medo de lá ir, tem medo do que vai encontrar».
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No âmbito desta iniciativa, os docentes manifestaram-se ainda orgulhosos com o trabalho desenvolvido pelos alunos, «que mostraram ser capazes de produzir algo muito válido para o público», nas palavras de Jaime Pinho.

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Por seu lado, Maria José Simas destacou que este tipo de projectos «valoriza o saber e a cultura familiares e devolve aos miúdos um certo orgulho pelas famílias, pelo seu valor documental, mesmo quando são iletradas».

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«Quando a Tróia era do Povo» aborda as vivências, divertimentos e convívios em Tróia e detém-se em aspectos como as características do vestuário, as práticas alimentares e de higiene ou as festividades religiosas, traçando uma espécie de quadro sociológico animado por dúzia e meia de fotos da época, algumas provenientes do Arquivo Fotográfico Américo Ribeiro e outras de colecções particulares.
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O volume, vendido a cinco euros, é o quarto de uma colecção que integra «A Vida e o Trabalho em Setúbal no Tempo dos Nossos Avós», de 1986, «Mano Preto Mano Branco - Direitos Humanos em Angola e Moçambique (1950-1974)», publicado em 2003, com prefácio do autor angolano Pepetela, e «De Sol a Sol - O Alentejo dos Nossos Avós», lançado em 2006, com prefácio do jovem escritor José Luís Peixoto. Os dois últimos tiveram três edições.

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Diário Digital / Lusa
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